Aécio (eunuco) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados, veja Aécio.
Aécio
Nacionalidade Império Bizantino
Ocupação Primeiro-ministro
General
Religião ortodoxia oriental

Aécio (em grego: Ἀέτιος; romaniz.:Aétios) foi um eunuco bizantino e um dos conselheiros mais confiáveis da imperatriz Irene de Atenas (r. 797–802). Depois que Irene ascendeu sozinha ao poder, Aécio desenvolveu uma intensa rivalidade com o primeiro-ministro dela, Estaurácio, outro eunuco. Depois da morte dele, Aécio tornou-se o homem de liderança do Estado bizantino, conspirando para elevar ao trono seu irmão, Leão, mas perdeu tudo quando Irene foi deposta em 802.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Anos inicias e a rivalidade com Estaurácio[editar | editar código-fonte]

A imperatriz Irene e seu filho, que ela assassinaria com a ajuda de Estaurácio, Constantino VI

Aécio aparece pela primeira vez em 790, quando era protoespatário e confidente de Irene, a então imperatriz-mãe e regente por seu filho, o imperador Constantino VI (r. 780–797). No outono daquele ano, ela tentou afastar seu filho do trono e tomá-lo para si. A tentativa de golpe, contudo, causou um motim do exército em favor do jovem imperador e Constantino foi instalado como imperador único. Irene foi confinada no palácio em Constantinopla e seus eunucos protegidos, incluindo Aécio, foram exilados.[1][2]

Aécio foi restaurado em sua posição juntamente com os outros eunucos quando Irene foi reposta como co-governante em 792.[3] Em agosto de 797, a imperatriz e seu poderoso ministro eunuco Estaurácio conseguiram derrubar e cegar (e possivelmente também matar) Constantino, assumindo finalmente o governo. Contudo, os tios do imperador deposto, filhos sobreviventes do imperador Constantino V Coprônimo (r. 741–775) que tinham no passado se envolvido em conspirações contra Irene, ainda eram uma ameaça em potencial. Eles foram persuadidos por simpatizantes a buscarem refúgio na basílica de Santa Sofia, onde a população da capital supostamente uniria-se a eles declarando um deles como imperador. Este apoio não se materializou e, ao invés disso, foram todos exilados para Atenas.[1][4]

Irene agora dividia seus favores entre Estaurácio, seu ministro-chefe, e Aécio, o que iniciou um período de intensa rivalidade entre os dois e seus respectivos aliados no qual ambos colocaram seus parentes em posições de poder para assegurar controle do Império Bizantino após a eventual morte de Irene.[5] A competição veio à tona em 797/798 e intensificou-se em maio de 799 quando a saúde da imperatriz se deteriorou. Aécio, que tinha ganhado o apoio de Nicetas Trifílio, o comandante das escolas palatinas, acusou Estaurácio, diante da imperatriz, de conspiração para usurpar o trono. Irene, obedientemente, convocou um concílio no palácio de Hieria no qual seu ministro favorito terminou severamente repreendido, mas Estaurácio escapou com um pedido de desculpas.[6][7]

Estaurácio, paralelamente, distribuiu subornos entre os homens e oficiais mais baixos dos regimentos das escolas (scholai) e dos excubitores tentando ganhar-lhes o apoio para um eventual golpe de Estado. Aécio novamente foi até Irene, que, em fevereiro de 800, proibiu que Estaurácio tivesse qualquer contato com o exército. Juntamente com a nomeação de Aécio para o poderoso posto de estratego do tema da Anatólia, restaurou-se um equilíbrio precário entre os dois campos. Pouco tempo depois, Estaurácio ficaria muito doente, mas continuou a conspirar contra Aécio, instigando uma revolta contra ele na Capadócia antes de morrer em junho de 800.[6][7]

Supremacia e queda de Aécio[editar | editar código-fonte]

Soldo de ouro representando a imperatriz Irene quando reinou sozinha

A revolta foi rápida e brutalmente suprimida e, com a morte de seus rivais, Aécio ficou em uma posição suprema entre os membros da corte da imperatriz Irene. Ele provavelmente sucedeu a Estaurácio como logóteta do dromo, e manteve o controle dos anatólios e, adicionando ainda ao seu comando o tema Opsiciano. Em 800 obteve uma vitória contra os árabes, seguida, contudo, por uma derrota em 801. Em 801/802, Aécio apontou seu irmão Leão como monoestratego para os temas da Trácia e Macedônia. Controlando, assim, os exércitos mais próximos de Constantinopla, que compreendiam cerca de um terço das forças militares do Império Bizantino, Aécio estava bem colocado para fazer Leão imperador. Nas palavras do cronista Teófanes, o Confessor, ele "reinou ao lado [de Irene] e estava usurpando o poder em benefício de seu irmão." Consequentemente, em 802, Aécio teve um papel determinante na rejeição de uma proposta de casamento com Carlos Magno, que Irene tinha aparentemente considerado seriamente.[1][8][9]

Os planos de Aécio para a elevação de seu irmão vacilaram com a oposição de outros cortesões, que se ressentiam de sua influência e a maneira insultuosa como ele tratava-os. Entre os líderes adversários, destacava-se Nicéforo, ministro das finanças de Irene (logóteta geral), mas também Nicetas Trifílio, antigo aliado de Aécio, e Leão Sarantápeco, um parente da imperatriz. Temendo um golpe iminente por Aécio, os conspiradores entraram no Grande Palácio de Constantinopla na manhã de 31 de outubro de 802 e aclamaram Nicéforo imperador. Irene foi deposta e recebeu permissão para retirar-se para um convento.[10] Não se sabe o que aconteceu com Aécio depois disso, mas ele provavelmente perdeu poder após a ascensão de Nicéforo. Contudo, pode ser ele o patrício de nome "Aécio" que foi morto, juntamente com o próprio Nicéforo, na batalha de Plisca contra os búlgaros em 26 de julho de 811.[1]

Notas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d Kazhdan 1991, p. 30.
  2. Garland 1999, p. 82.
  3. Garland 1999, p. 83.
  4. Garland 1999, p. 86-87.
  5. Kazhdan 1991, p. 30; 1945.
  6. a b Garland 1999, p. 88.
  7. a b Treadgold 1997, p. 423.
  8. Garland 1999, p. 89.
  9. Treadgold 1997, p. 424.
  10. Garland 1999, p. 89-90.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Garland, Lynda (1999). Byzantine Empresses: Women and Power in Byzantium, AD 527–1204 (em inglês). Nova Iorque e Londres: Routledge. ISBN 978-0-415-14688-3 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Treadgold, Warren (1997). A History of the Byzantine State and Society (em inglês). Stanford, Califórnia: Stanford University Press. ISBN 0-8047-2630-2