Abuso político da psiquiatria na União Soviética – Wikipédia, a enciclopédia livre

Instituto Central de Investigação de Psiquiatria Forense Serbsky, também denominado Instituto Serbsky (uma parte do seu prédio em Moscow)

Na União Soviética, ocorreu um abuso político sistemático da psiquiatria[1] e se baseava na interpretação de que a dissidência política se tratava de um problema psiquiátrico.[2] Era chamado de "mecanismos psicopatológicos" da dissidência.[3]

Durante a liderança do secretário-geral Leonid Brezhnev, a psiquiatria foi usada como uma ferramenta para eliminar adversários políticos ("dissidentes") que expressavam abertamente crenças contrárias ao dogma oficial.[4]O termo "intoxicação filosófica" foi muito utilizado para diagnosticar transtornos mentais em casos onde pessoas discordavam da ideologia vigente ou faziam críticas ao governo.[4] O artigo 58-10 do Código Penal de Stalin — cujo artigo 70 fora movido para o Código Penal da RSFSR de 1962 — e o artigo 190-1 do Código Penal da RSFSR, junto com o sistema de diagnóstico de doença mental desenvolvido pelo acadêmico Andrei Snezhnevsky, criaram as condições necessárias sob as quais crenças fora da normalidade poderiam ser facilmente transformadas em processos criminais, e isto, por sua vez, em diagnósticos psiquiátricos.[5] Dentro dos limites da categoria diagnóstica, os sintomas de pessimismo, má adaptação social e conflito com as autoridades foram, por si só, suficientes para um diagnóstico formal de "esquizofrenia progressiva".[6]

A fé religiosa de presidiários, incluindo ex-ateus bem-educados que adotaram uma religião, foi considerada uma forma de doença mental e que precisava ser curada.[7]Documentos altamente classificados, publicados após a dissolução da União Soviética, demonstram formalmente que as autoridades usaram a psiquiatria como uma ferramenta para reprimir a dissidência.[8][9][10][11][12]

Mesmo após a caída da União Soviética, o abuso da psiquiatria na Rússia ainda continua[13] e ameaça ativistas dos direitos humanos com diagnósticos psiquiátricos.[14]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. British Medical Association. Medicine betrayed: the participation of doctors in human rights abuses. Zed Books; 1992. ISBN 1-85649-104-8.
  2. Bloch, Sidney; Reddaway, Peter. Russia's political hospitals: The abuse of psychiatry in the Soviet Union. Victor Gollancz Ltd; 1977. ISBN 0-575-02318-X.
  3. Kondratev, Fedor [Фёдор Кондратьев]. Судьбы больных шизофренией: клинико-социальный и судебно-психиатрический аспекты [The fates of the ill with schizophrenia: clinico-social and forensico-psychiatric aspects]. Moscow: ЗАО Юстицинформ [Closed joint-stock company Justitsinform]; 2010. Russian. ISBN 978-5-9977-0014-9.
  4. a b Korolenko, Caesar; Dmitrieva, Nina [Цезарь Короленко, Нина Дмитриева]. Социодинамическая психиатрия [Sociodynamic Psychiatry]. Moscow: Академический проект [Academic Project]; 2000. Russian. ISBN 5829100150.
  5. Kovalyov, Andrei [Андрей Ковалёв]. Взгляд очевидца на предысторию принятия закона о психиатрической помощи [View of the eyewitness to the backstory of the adoption of the Mental Health Law]. Nezavisimiy Psikhiatricheskiy Zhurnal [The Independent Psychiatric Journal]. 2007 [cited 28 February 2014];(№ 3):82–90. Russian.
  6. Ougrin, Dennis; Gluzman, Semyon; Dratcu, Luiz. Psychiatry in post-communist Ukraine: dismantling the past, paving the way for the future. The Psychiatrist. 2006;30(12):456–459. doi:10.1192/pb.30.12.456.
  7. Pospielovsky, Dimitry. Soviet Anti-Religious Campaigns and Persecutions: Vol. 2 of A History of Soviet Atheism in Theory and Practice, and the Believer. New York: St Martin's Press; 1988. ISBN 0312009054. p. 36, 140, 156, 178–181.
  8. Gluzman, Semyon [Семён Глузман]. Украинское лицо судебной психиатрии [The Ukrainian face of forensic psychiatry]. Новости медицины и фармации [Medicine and Pharmacy News]. 2009a;15(289). Russian.
  9. Gluzman, Semyon [Семён Глузман]. История психиатрических репрессий [The history of psychiatric repression]. Вестник Ассоциации психиатров Украины [The Herald of the Ukrainian Psychiatric Association]. 2013a;(2). Russian.
  10. Voren, Robert van. Psychiatry as a tool of coercion in post-Soviet countries. The European Parliament; 2013a. doi:10.2861/28281. ISBN 978-92-823-4595-5. Russian text: Voren, Robert van [Роберт ван Ворен]. Психиатрия как средство репрессий в советских и постсоветских странах [Psychiatry as a tool of coercion in post-Soviet countries]. Вестник Ассоциации психиатров Украины [The Herald of the Ukrainian Psychiatric Association]. 2013;(5). Russian.
  11. Fedenko, Pavel [Павел Феденко]. The BBC Russian Service. Был бы человек, а диагноз найдется [A diagnosis is quickly found to attribute a person with]; 9 October 2009.
  12. Soviet Archives, collected by Vladimir Bukovsky. Выписка из протокола № 151 заседания Политбюро ЦК КПСС от 22 января 1970 года [The extract from the minutes No. 151 of the meeting of the Politburo of the Central Committee of the Communist Party of the Soviet Union of 22 January 1970]; 22 January 1970 [archived 14 May 2012; citado em 6 March 2014]. Russian.
  13. Voren, Robert van. Psychiatry as a tool of coercion in post-Soviet countries. The European Parliament; 2013a. doi:10.2861/28281. ISBN 978-92-823-4595-5. p. 16–18. Russian text: Voren, Robert van [Роберт ван Ворен]. Психиатрия как средство репрессий в советских и постсоветских странах [Psychiatry as a tool of coercion in post-Soviet countries]. Вестник Ассоциации психиатров Украины [The Herald of the Ukrainian Psychiatric Association]. 2013;(5). Russian.
  14. 15 лет Независимому психиатрическому журналу [15th anniversary of the Independent Psychiatric Journal]. Nezavisimiy Psikhiatricheskiy Zhurnal [The Independent Psychiatric Journal]. 2005 [cited 24 July 2011];(4). Russian.