Afonso Pedro de Bragança – Wikipédia, a enciclopédia livre

Nota: Não confundir com Pedro Afonso de Bragança, irmão mais novo de Afonso e que também morreu prematuramente.
Afonso
Príncipe Imperial do Brasil
Afonso Pedro de Bragança
Retrato por Johann Moritz Rugendas, 1846
Príncipe Imperial do Brasil
Período 23 de fevereiro de 1845
a 11 de junho de 1847
Antecessor(a) Januária
Sucessor(a) Isabel
 
Nascimento 23 de fevereiro de 1845
  Palácio de São Cristóvão, Rio de Janeiro, Brasil
Morte 11 de junho de 1847 (2 anos)
  Palácio de São Cristóvão, Rio de Janeiro, Brasil
Sepultado em Convento de Santo Antônio, Rio de Janeiro, Brasil
Nome completo  
Afonso Pedro de Alcântara Cristiano Leopoldo Felipe Eugênio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga
Casa Bragança
Pai Pedro II do Brasil
Mãe Teresa Cristina das Duas Sicílias
Brasão

Afonso de Bragança[1] (Rio de Janeiro, 23 de fevereiro de 1845 — Rio de Janeiro, 11 de junho de 1847), foi o Príncipe Imperial e herdeiro aparente do Império do Brasil de seu nascimento até sua morte prematura. Era o filho primogênito do imperador Pedro II do Brasil, e da imperatriz consorte Teresa Cristina das Duas Sicílias e, portanto, membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança.

Dom Afonso morreu em consequência de epilepsia aos dois anos de idade, arrasando o imperador.[2] Após a subsequente perda de seu outro filho, Dom Pedro Afonso, as dúvidas sobre o futuro do sistema monárquico cresceram na mente de Dom Pedro II. Este ainda tinha uma herdeira em sua filha Dona Isabel, mas ele não estava convencido de que uma mulher viria a ser uma sucessão plenamente aceita pela classe política e pela opinião pública.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascimento e infância[editar | editar código-fonte]

Afonso nasceu em 23 de fevereiro de 1845, no Palácio de São Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, na época a capital do Brasil.[1] Através de seu pai, o imperador Dom Pedro II do Brasil, era membro do ramo brasileiro da Casa de Bragança, tendo recebido o prefixo honorífico de Dom desde o nascimento.[3] Dom Afonso era neto do imperador Dom Pedro I do Brasil, que também reinou brevemente em Portugal, como Pedro IV - e de sua esposa, a arquiduquesa Maria Leopoldina da Áustria, sendo assim sobrinho da rainha Dona Maria II de Portugal.[4] Através de sua mãe, a princesa Teresa Cristina das Duas Sicílias, ele era neto do rei Francisco I e de sua esposa, a infanta Maria Isabel da Espanha, e sobrinho do rei Fernando II, ambos reis das Duas Sicílias.[5]

Com o nascimento de seu filho, o inseguro e tímido imperador, que na época tinha 19 anos de idade, tornou-se mais maduro e resoluto.[6] A chegada de Afonso também promoveu uma relação mais estreita e mais harmoniosa entre seus pais, que haviam se casado devido a um arranjo político.[7][8]

Como era de costume dentro da Casa de Bragança, o nascimento de Dom Afonso foi um evento formal que contou com a presença da corte real.[9] Dom Pedro II imediatamente apresentou o recém-nascido para a multidão reunida no palácio, anunciando: "Senhores, aqui está um príncipe a quem Deus..." —tomado pela emoção, o imperador não conseguiu terminar a frase.[10][11] Luís Alves de Lima e Silva (então Barão e mais tarde Duque de Caxias) escreveu a seu pai: "Ninguém ficou mais feliz do que eu com a notícia [do nascimento do príncipe]".[12]

Retrato do príncipe Dom Afonso (Claude Joseph Barandier, c. 1845)

Dom Afonso era saudável e, na condição de primogênito varão de Dom Pedro II, era o herdeiro aparente ao trono, recebendo o título de Príncipe Imperial do Brasil.[10][11] O jovem príncipe possuía traços semelhantes aos de seu pai, especialmente no tocante aos cabelos, olhos e no formato do rosto.[13] Por causa de seu gênero e de sua posição de herdeiro, ele tornou-se o centro das atenções, particularmente para Dom Pedro II.[14] Em uma carta escrita pelo imperador para sua irmã mais velha, a rainha Dona Maria II de Portugal, poucos meses depois do nascimento de seu segundo filho (uma menina que recebeu o nome de Isabel), ele demonstrou sua felicidade:

" De cá nenhuma nova lhe tenho a comunicar a não ser as da boa saúde minha, da Imperatriz e dos pequenos, que se tornam cada vez mais bonitos, principalmente Afonsinho, que já anda e diz muitas palavras ainda meio ininteligíveis, o que ainda mais graça tem."[15]

Morte prematura[editar | editar código-fonte]

Medalha de 1848 sobre a morte do príncipe.

No dia 11 de junho de 1847, o pequeno herdeiro estava brincando na biblioteca do palácio, quando subitamente começou a sofrer uma série de convulsões e faleceu prematuramente, com apenas dois anos, três meses e dezenove dias de idade.[16] Sua morte revelou que Afonso sofria de epilepsia, assim como seu pai.[17]

Palácio de São Cristóvão, onde Afonso viveu. Fotografia tirada em 1862, cerca de 15 anos após sua morte

A dor do casal imperial foi enorme, havendo temor de que o choque emocional pudesse afetar a saúde de Dona Teresa Cristina, que no momento encontrava-se em sua terceira gravidez. Felizmente, a imperatriz deu à luz, no dia 13 de julho e sem maiores complicações, uma menina que foi batizada Leopoldina. O monarca registrou a morte do filho em carta datada de 11 de julho de 1847 e endereçada à imperatriz-viúva Dona Amélia de Leuchtenberg, sua madrasta: "Com a mais pungente dor, participo-lhe que meu caro Afonsinho, seu afilhado, morreu desgraçadamente de convulsões, que lhe duraram cinco horas sem interrupção, no dia 4[nota 1] do [mês] passado, e que há poucos dias Isabelinha se achou no perigo d'um forte ataque de convulsões que muito me assustou."[14]

Um grande funeral de Estado —não visto desde a morte da irmã de Dom Pedro II, a princesa Dona Paula Mariana, em 1833— foi realizado em homenagem ao príncipe às 7 horas, três dias depois de seu falecimento. Dom Afonso foi enterrado ao lado de outros membros da família imperial (entre os quais seus tios Dom João Carlos, Príncipe da Beira e o infante D. Miguel e sua tia Paula) no mausoléu do Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro.[16]

Túmulo de Dom Afonso no mausoléu do Convento de Santo Antônio.

Legado[editar | editar código-fonte]

Princesa Isabel presta juramento perante o Senado do Brasil como Regente do Império (Victor Meirelles, 1875). As mortes dos dois filhos de Dom Pedro II soaram como um presságio do fim da monarquia, já que este tinha pouca confiança na possibilidade de uma mulher governar o país.[18]

A morte precoce do príncipe (e mais tarde a morte de seu irmão mais novo, Dom Pedro Afonso) teve um enorme impacto sobre Dom Pedro II: em um nível pessoal, como pai, e no Império. Na visão dele, as mortes de seus filhos apenas pareciam pressagiar o fim do sistema monárquico.[19][20] Apesar de sua afeição por suas filhas, ele não acreditava que a princesa Isabel, sua herdeira legal, teria qualquer chance real de prosperar no trono. Ele acreditava que o seu sucessor precisava ser um homem para que a monarquia fosse viável.[18] O monarca passou cada vez mais a enxergar o sistema imperial como inexoravelmente preso a si, que não sobreviveria a sua morte.[21] Isabel e sua irmã receberam uma educação excepcional,[22] apesar de não terem sido preparadas para governar sobre a nação. Dom Pedro II excluía deliberadamente Isabel da participação nos negócios e decisões de governo.[23]

Pedro de Alcântara foi proclamado imperador em 23 de julho de 1840, aos quinze anos de idade, com o Decreto da Maioridade, que tornou o jovem herdeiro apto a assumir o trono brasileiro.[2][24] Dom Pedro II iniciou se governo como uma figura que conseguiu manter a unidade de um reino que esteve à beira da desintegração durante o período regencial.[25][26] Ele rapidamente amadureceu e conduziu o Império com sucesso por várias crises profundas. Na época da morte de Afonso, o país estava entrando em uma era sem precedentes de desenvolvimento, prosperidade e estabilidade econômica. Mesmo com os sucessos políticos do imperador, a falta de um herdeiro do sexo masculino levou-o a perder a motivação para promover o gabinete imperial como uma posição a ser exercida por seus descendentes. Pedro II afastou-se dos laços familiares e pessoais, focando em políticas que promoveram a modernização e o avanço social e, em 15 de novembro de 1889, foi deposto por um golpe de Estado que proclamou a República no Brasil.[18][27]

Títulos e honras[editar | editar código-fonte]

Títulos e estilos[editar | editar código-fonte]

Estilo imperial de tratamento de
Afonso, Príncipe Imperial do Brasil
Estilo imperial Sua Alteza Imperial
Tratamento direto Vossa Alteza Imperial
Estilo alternativo Senhor

Honrarias[editar | editar código-fonte]

Ancestrais[editar | editar código-fonte]

Notas e referências[editar | editar código-fonte]

Ouça o artigo (info)

noicon
Este áudio foi criado a partir da revisão datada de 16 de janeiro de 2013 e pode não refletir mudanças posteriores ao artigo (ajuda).

Notas de rodapé

  1. O imperador enganou-se quanto à data de falecimento do filho, na realidade ocorrida no dia 11 de junho.[14]

Referências

  1. a b Laemmert 1847, p. 35.
  2. a b Bueno 2003, p. 194.
  3. Barman 1999, p. 424.
  4. Schwarcz 1998, p. 47.
  5. Calmon 1975, p. 210.
  6. Barman 1999, p. 74.
  7. Barman 1999, p. 93.
  8. Calmon 1975, p. 239.
  9. Barman 1999, p. 110.
  10. a b Calmon 1975, p. 274.
  11. a b Lira 1977, p. 139.
  12. Calmon 1975, p. 276.
  13. Diener 2002, p. 79.
  14. a b c Barman 2005, p. 43.
  15. Barman 2005, pp. 42.
  16. a b Calmon 1975, p. 317.
  17. Barman 1999, p. 48.
  18. a b c Barman 1999, pp. 129–130.
  19. Carvalho 2007, p. 52.
  20. Vainfas 2002, p. 200.
  21. Barman 1999, p. 130.
  22. Barman 1999, p. 151.
  23. Barman 1999, p. 152.
  24. Carvalho 2007, p. 40.
  25. Schwarcz 1998, p. 53.
  26. Barman 1999, p. 317.
  27. Barman 1999, p. 360.
  28. Rodrigues 1863, p. 95.
  29. a b c d e Laemmert 1849, p. 24; 26.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Barman, Roderick J (1999). Citizen Emperor: Pedro II and the Making of Brazil, 1825–1891. Stanford: Stanford University Press. ISBN 9780804735100 
  • Barman, Roderick J (2005). Princesa Isabel do Brasil: gênero e poder no século XIX. Traduzido por Luiz Antônio Oliveira Araújo. São Paulo: UNESP. ISBN 8571395985 
  • Bueno, Eduardo (2003). Brasil: uma História. São Paulo: Ática. ISBN 850808952X 
  • Calmon, Pedro (1975). História de D. Pedro II. 5. Rio de Janeiro: J. Olympio 
  • Carvalho, José Murilo de (2007). D. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras. ISBN 9788535909692 
  • Diener, Pablo; Costa, Maria de Fátima (2002). Rugendas e o Brasil. São Paulo: Capivara. ISBN 9788589063081 
  • IHGB (1847). Oblação do Instituto Historico e Geographico Brasileiro Á Memoria de seu presidente honorario O Senhor Dom Affonso augusto primogenito De Suas Magestades Imperiaes. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert. 88 páginas 
  • Laemmert, Eduardo (1847). Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial (Almanaque Laemmert). Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert & C. 
  • Laemmert, Eduardo (1849). Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial (Almanaque Laemmert). Rio de Janeiro: Eduardo e Henrique Laemmert & C. 
  • Lira, Heitor (1977). História de Dom Pedro II (1825–1891): Ascensão (1825–1870). 1. Belo Horizonte: Itatiaia 
  • Rodrigues, José Carlos (1863). Constituição política do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert 
  • Schwarcz, Lilia Moritz (1998). As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos 2 ed. São Paulo: Companhia das Letras. ISBN 9788571648371 
  • Vainfas, Ronaldo (2002). Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva. ISBN 8573024410 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Dom Afonso Pedro, Príncipe Imperial do Brasil
Afonso Pedro de Alcântara de Bragança
Casa de Bragança
Ramo da Casa de Avis
23 de fevereiro de 1845 – 11 de junho de 1847
Precedido por
D. Januária Maria

Príncipe Imperial do Brasil
23 de fevereiro de 1845 – 11 de junho de 1847
Sucedido por
D. Pedro Afonso