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Ailton Krenak
Ailton Krenak
Krenak, 2010 (foto: Garapa - Coletivo Multimídia)
Nome completo Ailton Alves Lacerda Krenak
Nascimento 29 de setembro de 1953 (70 anos)
Mantena,[nota 1] Minas Gerais
Nacionalidade brasileiro
Ocupação escritor
líder indígena
ambientalista
Principais trabalhos Ideias Para Adiar o Fim do Mundo
O Amanhã Não Está à Venda
A Vida Não é Útil
Página oficial
http://selvagemciclo.com.br

Ailton Alves Lacerda Krenak OMC, mais conhecido como Ailton Krenak (Mantena,[nota 1] 29 de setembro de 1953), é um líder indígena, ambientalista, filósofo, poeta, escritor brasileiro da etnia indígena krenaque e Imortal da Academia Brasileira de Letras. Ailton é também professor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e é considerado uma das maiores lideranças do movimento indígena brasileiro, possuindo reconhecimento internacional.[1][2][3][4]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nasceu em 1953 no município de Itabirinha, no estado de Minas Gerais, na região do Médio Rio Doce. Aos dezessete anos de idade, mudou-se com sua família para o estado do Paraná, onde se alfabetizou e se tornou produtor gráfico e jornalista. Na década de 1980, passou a dedicar-se exclusivamente ao movimento indígena. Em 1985, fundou a organização não governamental Núcleo de Cultura Indígena, que visa a promover a cultura indígena. Teve emenda popular assegurando sua participação no Congresso Nacional do Brasil para o processo constituinte em 1986.[5]

Participou da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Brasileira de 1988, na qual protagonizou uma das cenas mais marcantes da mesma: em discurso na tribuna, pintou o rosto com a tinta preta do jenipapo, segundo o tradicional costume indígena brasileiro, para protestar contra o que considerava um retrocesso na luta pelos direitos dos povos indígenas brasileiros.[6]

Em 1988, participou da fundação da União dos Povos Indígenas, organização que visa a representar os interesses indígenas dentro do cenário nacional. No ano seguinte, participou da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visava ao estabelecimento de reservas naturais na Amazônia onde fosse possível a subsistência econômica através da extração do látex da seringueira, bem como da coleta de outros produtos da floresta. Retornou a Minas Gerais, onde passou a se dedicar ao Núcleo de Cultura Indígena. Desde 1998, a organização realiza, na região da Serra do Cipó, em Minas Gerais, um festival idealizado por Ailton: o Festival de Dança e Cultura Indígena, que visa a promover a integração entre as diferentes etnias indígenas brasileiras. Em 1999, sua obra O Eterno Retorno do Encontro foi publicado no livro A Outra Margem do Ocidente,[7] organizado por Adauto Novaes.[8]

Nos anos de 2007 e 2008 Ailton concedeu entrevista para o Museu da Pessoa, quando compartilhou em detalhes memórias sobre a sua infância junto aos seus parentes e sobre as sucessivas migrações que passaram com o processo de invasão e ocupação do território por eles habitado, por empreendedores, madeireiras, serrarias, colonos, criadores de gado, entre outros.[9] Na entrevista disse que no período da infância naquela terra "a gente estava tão pleno de vida, que tudo quanto injeção que a gente pegou da vida ali, potencializou pra gente viver em qualquer lugar do mundo".

No ano de 2014, Ailton foi um dos palestrantes do seminário internacional intitulado Os Mil Nomes de Gaia, ocorrido no Rio de Janeiro sob organização de Eduardo Viveiros de Castro, antropólogo do Museu Nacional, e Deborah Danowski, filósofa da PUC-Rio. Em abril de 2015, durante a Mobilização Nacional Indígena, convocada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – Apib, foi lançado um livro da coleção Encontros,[10] da Azougue Editorial, com seu nome que reúne diversas entrevistas concedidas por Ailton Krenak, entre 1984 e 2013. Os textos foram organizados pelo editor Sérgio Cohn e contam com apresentação do antropólogo Eduardo Viveiros de Castro.[11][12]

No dia 18 de fevereiro de 2016, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) concedeu, a Krenak, o título de Professor Doutor Honoris Causa, um reconhecimento pela sua importância na luta pelos direitos dos povos indígenas e pelas causas ambientais no país. Nesta mesma universidade, Krenak leciona as disciplinas "Cultura e História dos Povos Indígenas" e "Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais", ambos em cursos de especialização.[3]

Em novembro de 2016, o Instituto Socioambiental (ISA) publicou em sua página oficial na web uma entrevista realizada em setembro do mesmo ano, com Ailton Krenak sobre os impactos no território Krenak ocasionados pela rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco/BHP Billiton, da Vale em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), o maior crime socioambiental já registrado no Brasil, ocorrido em novembro de 2015. Na entrevista, Krenak defende que o ocorrido é melhor entendido não como um acidente, mas, sim, um incidente. Em sua palavra: "Não foi um acidente. Quando eu ouço perguntarem sobre ‘o acidente’ de Mariana, eu reajo dizendo que não foi um acidente. Foi um incidente, no sentido da omissão e da negligência do sistema de licenciamento, supervisão, controle, renovação das licenças, autorização de exploração". Muitos indígenas foram afetados pelo desastre, uma vez que o Rio Doce é utilizado para pesca por indígenas e o leste mineiro, por onde corre o Rio Doce, abriga tribos indígenas.[13]

Sobre o modo capitalista de exploração dos recursos naturais, em especial, do rio Doce, tomando o caso em Mariana como discussão, Ailton Krenak expõe que tem dificuldade de falar sem se indignar. De acordo com ele, ainda em fala concedida ao ISA, em 2016: "Watu, que é como nós chamamos aquele rio, é uma entidade; tem personalidade. Ele não é um ‘recurso’ [...] O rio está em coma. De certa maneira, essa prontidão que as pessoas estão vivendo na margem do rio agora deixa elas no mesmo estado simbólico de coma em que o corpo do rio está. Eu vejo isso como uma coisa tão assustadora, que tenho dificuldade de falar no Watu sem me revoltar". A entrevista completa realizada com Krenak faz parte do livro Povos Indígenas no Brasil 2011-2015,[14] publicado pelo ISA. Nele, Krenak fala sobre a luta pelo reconhecimento de terras indígenas em Minas Gerais, a política dos "brancos" para o Brasil, e ataques aos direitos dos índios.[15]

Entrevista com Ailton Krenak

Foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas de 2003 a 2010. Atualmente se encontra na Serra do Cipó (MG), onde está envolvido na ONG Núcleo de Cultura Indígena.[16] Realiza trabalhos na linha da temática indígena, aborda questões sobre a relação do índio com o meio ambiente, bem como com sua cultura local, lutando contra a sua discriminação pela sociedade. Realiza um trabalho sobre a sistematização dos primeiros contatos dos indígenas com os europeus e sua relação com a contemporaneidade, sendo um balanço entre passado e presente. Nessa lógica, o balanço se dá pelo fato, de que nos dias atuais, há expedições desconhecidas que ocupam determinados locais habitados por índios, sem se preocupar com o próximo.[carece de fontes?]

Ailton Krenak participou de uma série na Netflix chamada Guerras do Brasil produzida em 2018, que relata com detalhes a formação do Brasil ao longo de séculos de conflito armado, começando com os primeiros conquistadores até a violência na atualidade.[17]

Em 2000 protagonizou o documentário Índios no Brasil produzido pela TV Escola que, dividido em dez partes, aborda a identidade, línguas, costumes, tradições, a colonização e o contato com o branco, a briga pela terra, a integração com a natureza e os direitos conquistados dos indígenas até fins do século XX. Sendo o narrador principal, Ailton Krenak dialoga constantemente com o interlocutor no decorrer do documentário.[18]

Em 2021, lançou o livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo,[19] uma das obras mais vendidas das livrarias brasileiras, com versões lançadas em inglês, francês e alemão.[20]

Em março de 2023 assumiu a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras, tornando-se o primeiro indígena a ingressar na instituição.[21][22]

Em 5 de outubro de 2023 foi eleito para a cadeira de número 5 da Academia Brasileira de Letras, sucedendo José Murilo de Carvalho e tornando-se o primeiro imortal de origem indígena.[23]

Crenças e Filosofia[editar | editar código-fonte]

Ailton Krenak é renomado pela sua defesa dos direitos indígenas e ativismo no movimento socioambiental, ele fundamenta suas crenças e filosofias na interação com o momento presente e nas experiências compartilhadas com a gente ao seu redor. Em suas próprias palavras faz uma denúncia a construção do Brasil em cima de cemitérios indígenas, ressaltando o conflito entre concepções diferentes de civilização e do deslocamento do ser humano da natureza. [24]

Krenak destaca a importância do recolhimento da silência como oportunidades para reflexão, especialmente contra uma crise global: a pandemia do Coronavírus. Ele acredita que esta tragédia evidencia as falhas da sociedade contemporânea que prioriza interesses corporativos em detrimento da conexão com a terra. Para ele, essa corporativização da vida não só deshumaniza alguém considerado "inútil" (ou, não é produtivo o suficiente) também tira a individualidade das culturas diversas e tira a criatividade dos indivíduos.[25]

Prêmios e reconhecimentos[editar | editar código-fonte]

Relato de história de vida de Ailton Krenak, no Museu da Pessoa.

Obras[editar | editar código-fonte]

Filmografia:

Participação no documentário Guerras do Brasil[28]

Participação no TEDTalks: Life, Always: Aílton Krenak at TEDxVilaMadá[29]

Publicações:

  • Ailton Krenak (Encontros). Organização de Sergio Cohn. Rio de Janeiro: Azougue, 2015[12]
  • Ideias para Adiar o Fim do Mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.[30]
  • O Amanhã Não está à Venda. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.[31]
  • A Vida Não é Útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.[32][33]
  • Lugares de Origem, com Yussef Campos. Editora Jandaíra, 2021[34][35]
  • Futuro Ancestral. São Paulo: Companhia das Letras, 2022.[36]
  • O sistema e o antissistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo, 2021.[37]
  • O lugar onde a terra descansa, 2000.[38]
  • Firmando o pé no território, 2020.[39]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Notas

  1. a b A localidade onde Ailton nasceu é a atual cidade de Itabirinha, mas no ano de seu nascimento (1953), Itabirinha era um distrito da cidade de Mantena, vindo a se emancipar nove anos após o seu nascimento, pela lei estadual n.º 2764, de 30 de dezembro de 1962. Fonte: IBGE

Referências

  1. a b «Eleito intelectual do ano, Aílton Krenak ensina: "A vida não é útil"». Uol - Ecoa. Consultado em 22 de novembro de 2020 
  2. «Ailton Alves Lacerda Krenak». Museu da Pessoa. Consultado em 22 de novembro de 2020 
  3. a b «Ailton Krenak recebe hoje à noite título de professor Honoris Causa concedido pela UFJF – CEAD/UFJF – Centro de Educação a Distância». Consultado em 21 de abril de 2021 
  4. Maciel', 'Nahima (3 de setembro de 2019). «Questões de sobrevivência definem ideias do escritor Ailton Krenak». Correio Braziliense. Consultado em 5 de agosto de 2021 
  5. «Constituição de 1988 (1) - História do Brasil - UOL Educação». educacao.uol.com.br 
  6. «O tradutor do pensamento mágico». Revista Cult. Consultado em 22 de novembro de 2020 
  7. A outra margem do ocidente. Adauto Novaes, Fundação Nacional de Arte. [Brasília, Brazil]: Minc, FUNARTE. 1999. OCLC 45264385 
  8. «Ailton Krenak». ailtonkrenak.blogspot.com 
  9. «História». Museu da Pessoa. Consultado em 16 de dezembro de 2022 
  10. Krenak, Ailton (2015). Ailton Krenak. Sergio Cohn, Eduardo Batalha Viveiros de Castro. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.] OCLC 928631175 
  11. CartaCapital, Redação (10 de abril de 2015). «"Se o bicho avançar, vamos encarar de pé", diz Ailton Krenak» 
  12. a b Krenak, Ailton (2015). Ailton Krenak. Sergio Cohn, Eduardo Batalha Viveiros de Castro. Rio de Janeiro, RJ: [s.n.] OCLC 928631175 
  13. «Narrativa Krenak: O eterno retorno do encontro - Geledés». www.geledes.org.br. Consultado em 18 de junho de 2018 
  14. Povos indígenas no Brasil, 2011/2016. Beto Ricardo, Fany Ricardo, Instituto Socioambiental. São Paulo: [s.n.] 2017. OCLC 992175592 
  15. «Notícias Direto do ISA». ISA - Instituto Socioambiental 
  16. «Narrativa Krenak: O eterno retorno do encontro - Geledés». www.geledes.org.br. Consultado em 5 de maio de 2018 
  17. «Guerras do Brasil.doc». Netflix. Consultado em 13 de abril de 2021 
  18. «"Índios no Brasil":». site-antigo.socioambiental.org. Consultado em 17 de maio de 2018 [ligação inativa] 
  19. Krenak, Ailton (2020). «Ideias para adiar o fim do mundo» 2.ª ed. São Paulo. OCLC 1280702626 
  20. «"Humanidade vive divórcio da vida na Terra", diz o filósofo indígena Ailton Krenak». domtotal.com. 29 de março de 2021. Consultado em 13 de abril de 2021 
  21. «Ailton Krenak ingressa na AML». Diário do Comércio. 1 de março de 2023. Consultado em 25 de março de 2024 
  22. «Ailton Krenak». Academia Mineira de Letras. Consultado em 25 de março de 2024 
  23. «Ailton Krenak é 1º indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras». G1. 5 de outubro de 2023. Consultado em 25 de março de 2024 
  24. Ailton Krenak (PDF). [S.l.: s.n.] 
  25. Minas, Estado de (3 de abril de 2020). «"O modo de funcionamento da humanidade entrou em crise", opina Ailton Krenak». Estado de Minas. Consultado em 26 de março de 2024 
  26. "Líder indígena Ailton Krenak vence prêmio Juca Pato de intelectual do ano". Diário de Pernambuco, 22/09/2020
  27. «2022 Impact Awards Announcement». Prince Claus Fund (em inglês). Consultado em 15 de março de 2024 
  28. «Guerras do Brasil.doc». Opera Mundi. Consultado em 22 de novembro de 2020 
  29. Life, always: Aílton Krenak at TEDxVilaMadá, consultado em 21 de abril de 2021 
  30. Krenak, Ailton (2020). Ideias para adiar o fim do mundo 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras. ISBN 9788535933581. OCLC 1176182666 
  31. Krenak, Ailton (18 de abril de 2020). O amanhã não está à venda. [S.l.]: Companhia das Letras 
  32. Krenak, Ailton (2020). A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras. ISBN 9788535933697. OCLC 1206417079 
  33. «A Vida Não é Útil - Livro - WOOK». www.wook.pt. Consultado em 21 de abril de 2021 
  34. Krenak, Ailton (2021). Lugares de origem. Yussef Daibert Salomão de Campos. São Paulo, SP: Jandaíra. ISBN 9786587113692. OCLC 1296257800 
  35. Lugares de Origem: livro de Ailton Krenak e Yussef Campos é um mergulho ancestral
  36. Krenak, Ailton (2022). Futuro Ancestral. São Paulo: Companhia das Letras. ISBN 9786557827468 
  37. Guerini, Cristina. «O Sistema e o Antissistema. Três Ensaios, Três Mundos no Mesmo Mundo». www.ihu.unisinos.br. Consultado em 30 de agosto de 2023 
  38. «O lugar onde a terra descansa. | Acervo | ISA». acervo.socioambiental.org. Consultado em 30 de agosto de 2023 
  39. «Firmando o Pé no Território». Pachamama Editora. Consultado em 30 de agosto de 2023 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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