Ambrósio Bonalume – Wikipédia, a enciclopédia livre

Ambrósio Bonalume
Ambrósio Bonalume
Nascimento 1862
Monza
Morte 5 de fevereiro de 1945
Caxias do Sul
Cidadania Brasil, Reino de Itália

Ambrósio Bonalume (Monza, 1862 — Caxias do Sul, 5 de fevereiro de 1945) foi um comerciante e industrial ítalo-brasileiro, ativo em Caxias do Sul, onde deixou importante marca de sua passagem, sendo reconhecido como líder católico, cidadão benemérito, um dos fundadores da cidade e um destacado promotor da indústria do vinho.

Vida[editar | editar código-fonte]

Nascido em Monza, na Itália, emigrou com seus pais Angelo Bonalume e Luigia Berti, mais seu irmão Giuseppe, chegando em Caxias em 1º de outubro de 1876. A família se fixou primeiramente no lote nº 15 do Travessão Umberto I da VI Légua, na zona rural, dedicando-se à agricultura de subsistência.[1] Ao crescer, Ambrósio iniciou sua vida profissional como curtidor de couro e seleiro, e pouco depois abriu uma bodega e um comércio generalista.[2]

No final do século já começava a projetar-se na comunidade. Em 1897 ingressou na comissão de obras da Igreja Matriz,[3] e nela permaneceria até 1917, quando foi elogiado pelos relevantes serviços prestados às atividades da Igreja.[4] Em 1898 era presidente da Exposição Agro-Industrial e presidente-geral da Federação das Associações Católicas, numa época de intensas disputas entre o poder civil e os maçons contra a Igreja, liderada pelo padre Pietro Nosadini, cura da Matriz, sendo um dos acusados de planejar o atentado ao intendente José Cândido de Campos Júnior, um caso famoso na história da cidade, sob os protestos do padre, que qualificou a acusação de "uma infame calúnia, pois que [Bonalume] pertence a uma honrada e honesta família, goza da estima das pessoas honestas, quer em Caxias, quer em Porto Alegre".[5][2]

Em 1914 lançou-se à indústria do vinho, instalando uma grande cantina na Praça Dante Alighieri, estabelecida como o vultoso capital de 250 contos de réis.[6] Foi um dos pioneiros na difusão da variedade de uva Barbera,[7] e o principal produto da sua cantina, com a marca Elefante, era muito apreciado, exportando cinco mil barris anuais.[2][6]

Fazia doações para atividades beneficentes[8][9][10][11] e em 1925, quando foram celebrados os 50 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, Bonalume já havia ganhado geral estima e respeito, sendo inscrito como um dos fundadores da cidade num Livro de Ouro criado pela Municipalidade.[12] No mesmo ano recebeu destaque de página inteira em importante álbum comemorativo publicado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul em parceria com o Governo da Itália, onde foram-lhe endereçados muitos elogios, chamado de "pioneiro infatigável", "cidadão e chefe de família modelo", de "modéstia superlativa e bonomia singela e tranquila", qualidades que traduziam "infalivelmente um caráter benigno e um ânimo bom" e enalteciam "o homem tanto quanto os talentos e outros atributos que conquistou, dando-lhe a classe para ostentar um nome honrado, que decora a ele, a família, a sociedade e a pátria, que confia a todos, indistintamente, seus filhos no estrangeiro, uma alta missão de operosidade, de retidão, de civismo".[6]

Deixou sua contribuição mais marcante como um dos fundadores e dirigentes do Sindicato Viti-Vinícola do Rio Grande do Sul, entidade criada em 1928 que definiria os rumos do setor do vinho em termos econômicos e também em termos técnicos e normativos, colocando a produção sob o controle do Estado, estabelecendo parâmetros de qualidade técnicos e sanitários e regras para a instalação e funcionamento das cantinas, introduzindo inovações tecnológicas, regulando o mercado, desenvolvendo estirpes de videiras mais adaptadas ao clima local, e passando a exigir exames laboratoriais do produto antes que fosse colocado à venda. O braço industrial e comercial do Sindicato foi organizado em 1929 como a Sociedade Vinícola Rio-Grandense, de cuja fundação e diretoria Bonalume também fez parte, uma organização que na década de 1950 se tornara a mais importante do Brasil em seu gênero, produzindo 32 milhões de litros de vinho anuais e exportando um terço do total.[13][14][15]

Ao falecer em 5 de fevereiro de 1945, "estimado em toda a cidade", foi saudado como benemérito a quem Caxias muito devia, pelas "suas raras qualidades de coragem, bondade e operosidade".[1] Em 1950, nas comemorações dos 75 anos da imigração, voltou a receber destaque de página inteira em outro grande álbum publicado pela Festa da Uva, e mais uma vez a louvação à sua pessoa teve tom grandiloquente, enaltecendo o seu valor, sua bondade e sua compreensão humana, "o alto relevo de inteligência capaz de iluminar a trajetória duma existência", e a "máxima confiança que sempre teve no progresso de Caxias", sendo um dos "intrépidos pioneiros" cujo trabalho muito contribuiu para esse progresso.[2] Em 2015 seu espírito empreendedor foi lembrado outra vez por Rodrigo Lopes na coluna "Memória" do jornal Pioneiro, chamando-o de "um desbravador no processo de industrialização de Caxias do Sul".[16] Hoje Ambrósio Bonalume é nome de uma rua.

Descendência[editar | editar código-fonte]

Ambrósio Bonalume foi casado com Carolina Sartori, uma das fundadoras e conselheira da Associação Damas de Caridade, entidade mantenedora do Hospital Nossa Senhora de Pompéia,[17] filha de Salvador Sartori e Angela Zancaner. O casal teve os seguintes filhos:

  • Eleonora.
  • Guilhermina, professora municipal de português,[18] casada com Antônio Chiaradia Neto, ourives e relojoeiro,[19] presidente da Sociedade Príncipe de Nápoles,[20] um dos fundadores e presidente do Recreio da Juventude,[21][22] um dos fundadores e primeiro presidente do Esporte Clube Juventude.[23]
  • Alfredo, um dos fundadores do Recreio da Juventude.[21]
  • Adelino, um dos fundadores do Recreio da Juventude.[21] comerciante e hoteleiro,[24] casado com Rosalba Pieruccini.
  • Ricardo, um dos fundadores do Recreio da Juventude,[21] comerciante.
  • Salvador, casado com Elza, um dos fundadores do Esporte Clube Ideal, o primeiro time de futebol da cidade,[25] um dos fundadores da Sociedade Vinícola Rio-Grandense e depois membro da diretoria do Instituto Riograndense do Vinho, sucessor do Sindicato,[15] conselheiro da Associação dos Comerciantes,[26] presidente do Esporte Clube Juventude e conselheiro do Recreio da Juventude.[27]
  • Dosolina, casada com o coronel Fioravante Pieruccini, "egrégio industrialista" de "distintíssima família", filho do industrial Antonio Pieruccini.[28]

Referências

  1. a b Gardelin, Mario & Costa, Rovílio. Os Povoadores da Colônia Caxias. Escola Superior de Teologia / Folha de Hoje, 1992, p. 113
  2. a b c d Festa da Uva. Álbum Comemorativo do 75º Aniversário da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, 1950, p. 168
  3. Brandalise, Ernesto. Paróquia Santa Teresa - Cem Anos de Fé e História (1884-1984). EDUCS, 1985
  4. "Fabriqueria da Igreja Matriz de Caxias". Città di Caxias, 22/01/1917
  5. Costamilan, Angelo Ricardo. Homens e Mitos na História de Caxias. Pozenato Arte & Cultura, 1989, pp. 205-225
  6. a b c Cichero, Lorenzo (org.). Cinquantenario della Colonizzazione Italiana nel Rio Grande del Sud, 1875-1925. Governo do Estado do Rio Grande do Sul / Consulado da Itália, 1925, p. 65
  7. "Perbacco: Il Brasile in bottiglia". In: Cronache di Gusto, giornale di enogastronomia, 2007 (24)
  8. "Comitato Italiano Pro-Patria". Città di Caxias, 28/06/1915
  9. "Pro-terremoto dell'Italia". Città di Caxias, 15/02/1915
  10. "Pró escadaria da Igreja". O Brazil, 30/08/1911
  11. "Cooperativa Ideal". O Brazil, 25/03/1922
  12. Município de Caxias. A Municipalidade de Caxias em Memória de seus Pioneiros no Primeiro Cinquentenário de sua Fundação 1875-1925
  13. Jalfim, Anete. "Elementos para o estudo da agroindústria vinícola: uma abordagem da indústria vinícola rio-grandense". In: Ensaios FEE, 1991; 12 (1):229-247
  14. Valduga, Vander. "O Rol da Vitivinicultura e do Turismo na Evolução Identitária da Região Uva e Vinho (Rio Grande do Sul): Uma Proposta de Estudos". In: Anais do VI Seminário de Pesquisa em Turismo no Mercosul: Saberes e Fazeres no Turismo: Interfaces. UCS, 09-10/07/2010
  15. a b Antunes, Duminiense Paranhos (org). Documentário Histórico do Município de Caxias do Sul 1875-1950, Comemorativo do 75º Aniversário da Colonização. Associação Comercial / Biblioteca Pública / Câmara dos Vereadores / Prefeitura de Caxias do Sul, 1950, pp. 256-257
  16. Lopes, Rodrigo. "Majestosos prédios na Praça Dante Alighieri". Pioneiro, 26/02/2015
  17. "Associação Damas de Caridade: quarenta anos de existência". A Época, 13/08/1953
  18. Soares, Eliana Maria Sacramento & Luchese, Terciane Ângela. "A sala de aula no presente-passado: dois olhares, uma reflexão". In: Revista Intersaberes, 2015;10 (21):493-508
  19. "Os srs. Reynaldo Kochenborgen e Antonio Chiaradia". O Brazil, 29/10/1910
  20. "Ieri l'operosa corporazione". Città di Caxias, 04/05/1914
  21. a b c d Recreio da Juventude. Histórico.
  22. Recreio da Juventude. Galeria dos Presidentes do Conselho Executivo Arquivado em 9 de outubro de 2016, no Wayback Machine..
  23. "O Esporte Clube Juventude completou 36 anos de existência". O Momento, 02/06/1949
  24. "Hotel Dante". O Brazil, 29/10/1921
  25. Cruz, Priscilla Postali et al. "O futebol e a italianidade brasileira: a emergência da prática futebolística em Caxias do Sul". In: Revista Didática Sistêmica, Edição Especial - Evento Extremos do Sul
  26. "Reeleita a Diretoria da Associação Comercial de Caxias". A Época, 01/01/1949
  27. "Esporte Clube Juventude". A Época, 08/01/1939
  28. "Nel mezzo della settimana scorsa". Città di Caxias, 06/04/1914