Ana Eurídice Eufrosina de Barandas – Wikipédia, a enciclopédia livre

Ana Eurídice Eufrosina de Barandas
Nascimento Ana Belmira da Fonseca Barandas
8 de setembro de 1806
Porto Alegre, Capitania de Rio Grande de São Pedro, Estado do Brasil, Reino de Portugal
Morte 23 de junho de 1863 (56 anos)
Paraíba do Sul, Província do Rio de Janeiro, Império do Brasil
Ocupação escritora, romancista e poetisa

Ana Belmira da Fonseca Barandas (Porto Alegre, 8 de setembro de 1806Paraíba do Sul, 23 de junho de 1863), mais conhecida pelo seu nome literário Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, foi uma escritora brasileira, uma pioneira da literatura feminina e feminista no país.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Era filha de Joaquim da Fonseca Barandas, natural do Morgado de Carapito, Bispado do Pinhal, em Portugal, e Ana Felícia do Nascimento. Ambos vinham de casamentos anteriores. O pai, um cirurgião culto, havia se radicado em Porto Alegre, no Brasil, onde adquiriu considerável cabedal imobiliário, e exerceu forte influência na educação da filha favorita, possivelmente ministrando-lhe pessoalmente as primeiras letras e introduzindo-a no conhecimento da literatura clássica. Ana Eurídice também deve ter recebido educação musical, pois a família organizava saraus onde o pai tocava instrumentos e a mãe cantava.[1]

Casou-se em 23 de março de 1822 com o advogado português José Joaquim Pena Penalta. O casal passou temporadas alternadamente no Rio de Janeiro e Porto Alegre. José Joaquim foi cônsul de Portugal para as províncias de Rio Grande e Santa Catarina mas aparentemente vivia uma vida irregular, envolveu-se em um escândalo e foi preso no Rio, e em 8 de agosto de 1843 Ana Eurídice divorciou-se do marido. Depois da morte do pai, em 1850, assumiu a chefia da família. O casal gerou Aurora Augusta (07/03/1823 — ?), Eurídice Eufrosina (02/01/1831 — ?), José (07/03/1834 – 05/01/1835), Corina Thalia (? — depois de 1872) e possivelmente Eugênia.[1][2]

Pode ter conhecido pessoalmente Nísia Floresta, e mantinha ideias feministas semelhantes, advogando a igualdade entre os gêneros e a participação da mulher na política e na mudança social. Durante a Revolução Farroupilha posicionou-se publicamente a favor do Império e contra o separatismo dos revolucionários.[3] Deixou publicados os volumes Filósofa por amor (1845), com crônicas, poemas e contos,[4] e O ramalhete, ou flores escolhidas no jardim da imaginação (1845), contendo nove sonetos, uma ode, dezesseis quadras sobre a morte do seu cão Apolo, um poema de duas quadras, uma glosa com uma quadra e uma sextilha, endechas e quatro textos em prosa: Eugênia ou a filósofa apaixonada, Uma lembrança saudosa, A queda de Safo ou O Cinco de Maio e Diálogos,[2] tematizando o amor, suas alegrias e desilusões, a experiência da guerra, o patriotismo e o fracasso de seu casamento; canta, filosofa e faz crítica social.[1] Hilda Flores reeditou O ramalhete em 1990, lançado pela Editora Nova Dimensão/EDIPUCRS.[2]

Segundo Hilda Flores, "até prova em contrário, [ela é] a primeira mulher poetisa-cronista-novelista do país".[1] Maria Helena de Bairros disse que ela "foi uma das introdutoras da forma narrativa na literatura sulina e brasileira, através da publicação de contos e crônicas",[5] e segundo Sérgio Barcellos Ximenes, "Eugênia ou a filósofa apaixonada é a primeira história de ficção de escritora brasileira, e Diálogos, o primeiro texto feminista do teatro nacional".[2] Para Flores, "ao retratar fatos e acontecimentos pessoais ou de sua época [...] Ana Eurídice confere à sua obra um duplo valor: literário e histórico, imaginário e real, nascido da criação mas expressando valores factuais das primeiras décadas oitocentistas",[1] e na leitura de Bairros,

Registra-se na obra de Ana Eurídice um certo grau de erudição e um desejo de filiar-se a uma tradição pelo fato de ter invocado figuras mitológicas para traduzir a fatalidade das situações e dos atos humanos como, por exemplo, paixões e desejos. Culturalmente mais ilustrada do que Delfina [ Delfina Benigna da Cunha ], Ana deixou transparecer um certo conhecimento da tradição literária, através do apuro formal e do tipo de rimas escolhidas. A utilização de imagens clássicas tradicionais sedimentou, na poesia de Ana Eurídice, uma espécie de adesão à estética árcade. [...] Na obra de Ana, o amor vai perdendo o conteúdo passional e a impulsividade para se transformar num jogo de galanteios. Os sentimentos passam a ser declarados de maneira elegante e discreta, porque as regras desse jogo exigiam, à época, comedimento, sobretudo, porque o amor, quando expresso por uma mulher, deveria ser visto apenas uma espécie de exercício lúdico ou fingimento literário".[6]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e Flores, Hilda Agnes Hübner. "Ana Eurídice Eufrosina de Barandas". In: Travessia — Revista de Literatura Brasileira, 1991 (23): 15-36
  2. a b c d Ximenes, Sérgio Barcellos. "Ana Eurídice Eufrosina de Barandas, a desconhecida pioneira da ficção nacional". A Arte Literária, 16/04/2019
  3. Del Priore, Mary. História das mulheres no Brasil. UNESP, 2004, pp. 406-407
  4. Bairros, Maria Helena Campos de. A produção de poesia lírica das mulheres sul-rio-grandenses: uma escrita amarfanhada. Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2004, p. 75
  5. Bairros, p. 103
  6. Bairros, pp. 103-105