Annibale Carracci – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Annibale Carracci
Annibale Carracci
Annibale Carracci, Auto-retrato (1590-1600), Galleria degli Uffizi
Nascimento 3 de novembro de 1560
Bolonha
Morte 15 de julho de 1609 (48 anos)
Roma
Nacionalidade Italiano
Ocupação Pintor
Movimento estético barroco
Assinatura

Annibale Carracci (Bolonha, 3 de novembro de 1560Roma, 15 de julho de 1609) foi um pintor italiano da família Carracci.

Início da carreira[editar | editar código-fonte]

Annibale Carracci nasceu em Bolonha, e muito provavelmente iniciou seu aprendizado com a família, os Carracci. Em 1582, Annibale, seu irmão Agostino e seu primo, Ludovico Carracci, abriram um estúdio de pintura inicialmente chamado por alguns de Accademia dei Desiderosi ("desejoso de fama e de aprendizagem") e em seguida chamada Accademia degli Incamminati (progressistas; literalmente "aqueles que abrem novo caminho").

Embora os Carracci enfatizassem o esboço linear tipicamente florentino, como exemplificado por Rafael Sanzio e Andrea del Sarto, seus interesses pelas cores cintilantes e contornos sutis dos objetos eram derivados dos pintores venezianos, notavelmente do trabalho do artista Ticiano, o qual foi estudado por Annibale e Agostino durante viagens pela Itália em 1580-81, a mando do ancião Caracci Lodovico. Esse ecletismo se tornaria a característica que definiria os artistas do “Barroque Emilian” ou “Escola Bolonhesa”.

Em muitas das primeiras obras de Bolonha, é difícil distinguir as contribuições individuais de cada Carracci. Por exemplo, os afrescos sobre as Histórias de Jasão e Medeia para o Palazzo Fava (1583-1584) carregam a assinatura Carracci, o que sugere que todos eles contribuíram. Em 1585, Annibale concluiu o retábulo do Batismo de Cristo para a igreja de São Gregório, em Bolonha. Em 1587, ele pintou A Assunção para a igreja de San Rocco, em Reggio Emilia.

Em 1587-88, Annibale viajou para Parma e, em seguida, Veneza, onde se reuniu com seu irmão Agostino. A partir de 1589-92, os três Carracci pintaram os afrescos sobre Histórias da fundação de Roma para o Palazzo Magnani, em Bolonha. Até 1593, Annibale havia completado o retábulo Virgem no Trono com São João e Santa Catarina, trabalhando em colaboração com Lucio Massari. Sua Ressurreição de Cristo também data de 1593. Em 1592, ele pintou a Assunção para a capela Bonasoni, em San Francesco. Durante 1593-1594, os três Carracci estavam trabalhando em afrescos no Palazzo Sampieri, em Bolonha.

Assunção da Virgem (1600-̈01), Annibale Carracci, Santa Maria del Popolo, Roma

Afrescos no Palazzo Farnese[editar | editar código-fonte]

Tendo como base os afrescos prolíficos e magistrais realizados pelos Carracci em Bolonha, o Duque de Parma, Rainúncio I Farnésio, recomendou Anibale a seu irmão, o cardeal Odoardo Farnese, que desejava decorar o piano nobile do Palazzo Farnese, em Roma. Entre novembro e dezembro de 1595, Anibale e Agostino viajaram para Roma para começar a decorar o Camerino com histórias de Hércules, adequadas, uma vez que a sala abrigava a famosa escultura da antiguidade greco-romana conhecida como Hércules Farnese.

Enquanto isso, Anibale desenvolveu centenas de esboços preparatórios para o produto principal, onde ele liderou uma equipe na pintura de afrescos no teto do grande salão com os quadri riportati seculares de Os Amores dos Deuses, ou, como o biógrafo Giovanni Bellori descreveu, O Amor dos Humanos regido pelo Amor Celestial. Ainda que o teto seja ritualmente rico em elementos ilusionistas, as narrativas são emolduradas no rígido classicismo de decoração da alta Renascença. Seu trabalho inspiraria, mais tarde, a corrente livre do ilusionismo Barroco e a energia que iria emergir dos grandes afrescos de Cortona, Lanfranco e, em décadas posteriores, Andrea Pozzo e Gaulli.

Durante os séculs XVII e XVIII, o teto de Forense era considerado a obra prima incomparável dos afrescos de sua época. A obra era não só considerada um livro modelo do desenho de figuras históricas, como também um exemplo de procedimento técnico. As centenas de esboços preparatórios feitos pr Annibale passaram a ser um passo fundamental para composição de qualquer pintura histórica ambiciosa.

Contraste com Caravaggio[editar | editar código-fonte]

"Domine, Quo Vadis?" de Carracci.

No século XVII, o crítico Giovanni Bellori, em seu estudo intitulado Idea, elogiou Carracci como o padrão supremo de pintor italiano, aquele que havia fomentado a "renascença" da grande tradição de Rafael e Michelangelo. Por outro lado, embora admitindo os talentos de Caravaggio como pintor, Bellori lamentava seu estilo excessivamente naturalista, se não sua própria moral turbulenta e persona. Assim, via o estilo Caravaggista com o mesmo desânimo sombrio. Pintores foram instados a retratar o ideal platônico de beleza, não os transeuntes de Roma. Ainda assim, os patronos e pupilos de Carracci e Caravaggio não caírem eram em todos os campos inconciliáveis. Patronos contemporâneos, tais como Marquês Vincenzo Giustiniani, achou que ambos mostravam excelência em maneira e modelagem.[1]

No nosso século, os observadores têm aquiescido para o rebelde mito de Caravaggio, e, muitas vezes, ignoram a profunda influência sobre a arte que teve Carracci. Caravaggio quase nunca trabalhou em afrescos, considerados como o teste de um grande pintor de valor. Por outro lado, os melhores trabalhos de Carracci estão em afrescos. Assim, as sombrias telas de Caravaggio, são adequadas aos altares contemplativos, mas não a paredes ou tetos bem iluminados como os de Farnese. Wittkower ficou surpreso ao ver que um cardeal de Farnese se cercava de afrescos com temas libidinosos, indicadores de um "relaxamento considerável da moralidade contra-reformatória". Essa escolha temática sugere que Carracci pode ter sido mais rebelde, quando comparado com a paixão frequentemente solene das telas de Caravaggio. Wittkower afirma que "os afrescos de Carracci transmitem a impressão de uma tremenda alegria de viver, um novo florescimento de vitalidade e de uma energia por muito tempo reprimida".

Hoje, infelizmente, a maioria dos conhecedores que fazem a peregrinação à Capela Cerasi em Santa Maria del Popolo ignoram o retábulo Assunção da Virgem de Carracci (1600-1601), se concentrando somente nos deslumbrantes trabalhos orlados de Caravaggio, "Conversão no Caminho de Damasco" e "Crucificação de São Pedro". É instrutivo comparar as diferenças teológicas e artísticas entre a Assunção[2] de Carracci e A Morte da Virgem de Caravaggio. Entre os primeiros contemporâneos, Carracci teria sido um inovador. Ele reanimou o vocabulário visual de afrescos de Michelangelo e postulou uma paisagem pictórica muscular e vividamente brilhante, que vinha se tornando progressivamente incapacitada por um emaranhado de maneirismos. Enquanto Michelangelo era capaz de curvar e contorcer o corpo humano em qualquer perspectiva possível, Carracci, nos afrescos de Farnese, mostrou como fazê-lo dançar. As fronteiras do "teto", grandes extensões de parede a serem decoradas, durante as décadas posteriores seriam preenchidas pelo brilhantismo monumental dos seguidores de Carracci, e não pelos seguidores de Caravaggio.

Paisagens, gênero de arte e desenhos[editar | editar código-fonte]

A Fuga para o Egito (1603).

Em 8 de Julho de 1595, Anibale Carraci completou a pintura San Rocco Distribuindo Esmolas, atualmente na Dresden Gemäldegalerie. Outros trabalhos significativos pintados em Roma incluem Domine, Quo Vadis?, que revela uma forte economia na composição da figura, além da força e precisão de gesto que influenciou Poussin e, por meio dele, a linguagem de gesto na pintura.

Carracci tem uma temática incrivelmente eclética, pintando paisagens, cenas e retratos, incluindo uma série de auto-retratos através do tempo. Foi um dos primeiros pintores italianos a produzir telas nas quais a paisagem tinha prioridade sobre as figuras, como no seu magistral A Fuga para o Egito. Nesse gênero, Carracci foi seguido por Domenichino (seu pupilo favorito) e Lorraine.

A arte de Carracci também tem um lado menos formal, que aparece em suas caricaturas (gênero cuja invenção costuma ser a ele acreditada) e em suas primeiras pinturas de gênero, que são notáveis pela observação animada e manipulação livre, como a obra Açougue e a pintura O Comedor de Feijão. Ele é descrito pelos biógrafos como desatento às vestimentas e obcecado pelo trabalho. Seus auto-retratos variam em sua representação.[3]

Sob humor melancólico[editar | editar código-fonte]

Não se sabe ao certo quanto trabalho Annibale completou após o término da galeria principal do Palazzo Farnese. Em 1606, Annibale assina uma Virgem da Bacia. Entretanto, em uma carta de abril de 1606, o cardeal Odoarde Farnese lamenta que um "pesado humor melancólico" impede que Annibale pinte para ele. Durante 1607, Annibale é incapaz de completar uma encomenda de Natal do Duque de Módena. Há uma note de 1608 na qual Annibale estipula a um aluno que passe ao menos duas horas por dia em seu estúdio.

Há pouca ou nenhuma documentação que explique por que seus pincéis se calaram, apesar de muitas especulações.

Em 1609, Annibale falece e é enterrado de acordo com seu desejo, próximo a Raphael no Panteão de Roma. Pode-se medir suas realizações pelo fato de artistas tão diversos quanto Bernini, Poussin, e Rubens haverem elogiado seu trabalho. Muitos de seus assistentes e alunos que participaram do projeto do Palazzo Farnese e da Capela Herrera figuraram entre os artistas preeminente das décadas seguintes, incluindo Domenichino, Francesco Albani, Giovanni Lanfranco, Domenico Viola, Guido Reni, Sisto Badalocchio, e outros.

Galeria[editar | editar código-fonte]

Cronologia da obra[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Annibale Carracci
  • «Catholic Encyclopedia: Carracci» 
  • Wittkower, Rudolph (1993). «Art and Architecture Italy, 1600-1750». Pelican History of Art. 1980. [S.l.]: Penguin Books Ltd. pp. 57–71 
  • Gianfranco, Malafarina (1976). L' opera completa di Annibale Carracci', preface by Patrick J. Cooney. [S.l.]: Rizzoli Editore, Milão 
  • H. Keazor: "Distruggere la maniera?": die Carracci-Postille, Freiburg im Breisgau 2002.
  • C. Dempsey: Annibale Carracci and the beginnings of baroque style, prima ed. Harvard 1977, segunda ed. Fiesole 2000.
  • A. W. A. Boschloo: Annibale Carracci em Bologna: visible reality in art after the Council of Trent, 's-Gravenhage 1974.
  • C. Goldstein: Visual fact over verbal fiction: a study of the Carracci and the criticism, theory, and practice of art in Renaissance and baroque Italy, Cambridge 1988.
  • D. Posner: Annibale Carracci: a study in the reform of Italian painting around 1590, 2 vol., Nova York 1971.
  • S. Ginzburg: Annibale Carracci a Roma: gli affreschi di Palazzo Farnese, Roma 2000.
  • C. Loisel: Inventaire général des dessins italiens. Tome 7ème: Ludovico, Agostino, Annibale Carracci, Musée du Louvre, Cabinet des Dessins, Paris 2004.
  • B. Bohn: Ludovico Carracci and the art of drawing, Londres 2004.
  • Annibale Carracci, catalogo della mostra a cura di D. Benati, E. Riccomini, Bologna-Roma 2006-2007.
  • M. C. Terzaghi: Caravaggio, Annibale Carracci, Guido Reni tra le ricevute del Banco Herrera & Costa, Roma 2007.
  • Henry Keazor: "Il vero modo". Die Malereireform der Carracci (= Neue Frankfurter Forschungen zur Kunst; Bd. 5), Berlim: Mann Verlag 2007, 343 S.
  • C. Robertson: The Invention of Annibale Carracci (Studi della Bibliotheca Hertziana, 4), Milão 2008.
  • Keazor, Henry (2007). Il vero modo. Die Malereireform der Carracci. 2007. [S.l.]: Gebrueder Mann Verlag 

Referências

  1. Wittkover, p. 57
  2. see the more adept altarpiece at the Prado [1].
  3. «see mostra». Consultado em 2 de março de 2010. Arquivado do original em 14 de janeiro de 2007 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]