Artrite reumatoide – Wikipédia, a enciclopédia livre

Artrite reumatoide
Artrite reumatoide
Mão afetada por estádio avançado de artrite reumatoide. Com os atuais tratamentos, geralmente a doença não progride para este grau de deformação
Especialidade Reumatologia
Sintomas Dor, inchaço e sensação de calor nas articulações[1]
Complicações Anemia, inflamação em redor dos pulmões, inflamação em redor do coração[1]
Início habitual Meia-idade[1]
Duração Crónica[1]
Causas Desconhecidas[1]
Método de diagnóstico Baseados nos sintomas, exames imagiológicos, análises ao sangue[1][2]
Condições semelhantes Lúpus eritematoso sistémico, artrite psoriática, fibromialgia[2]
Medicação Analgésicos, esteroides, anti-inflamatórios não esteroides, medicamentos antirreumáticos modificadores da doença[1]
Frequência 0,5–1% (adultos em países desenvolvidos)[3]
Mortes 30 000 (2015)[4]
Classificação e recursos externos
CID-10 M06.9
CID-9 714.0
CID-11 576319925
OMIM 180300
DiseasesDB 11506
MedlinePlus 000431
eMedicine 331715, 1266195, 305417, 401271, 335186, 808419
MeSH D001172
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Artrite reumatoide é uma doença autoimune de longa duração que provoca dor e inflamação nas articulações sinoviais. A dor e rigidez muitas vezes agravam-se a seguir ao descanso. É mais comum nas articulações do pulso e das mãos, afetando geralmente as mesmas articulações dos dois lados do corpo. A doença pode também afetar outras partes do corpo e causar diminuição do número de glóbulos vermelhos, inflamação à volta dos pulmões e inflamação à volta do coração. Pode também verificar-se febre e falta de energia.[1] Muitas vezes os sintomas começam-se a manifestar gradualmente ao longo de semanas ou meses.[2]

Embora a causa de artrite reumatoide não seja ainda clara, acredita-se que tenha origem numa combinação de fatores genéticos e ambientais. O mecanismo subjacente envolve o ataque das articulações por parte do sistema imunitário. Isto causa inflamação e rigidez da membrana sinovial e afeta o osso e cartilagem próximos.[1] O diagnóstico tem por base os sinais e sintomas da pessoa.[2] As radiografias e análises laboratoriais podem apoiar o diagnóstico ou excluir outras doenças com sintomas semelhantes.[1] Entre as doenças com sintomas semelhantes estão o lúpus eritematoso sistémico, artrite psoriática e fibromialgia, entre outras.[2]

O objetivo do tratamento é diminuir a dor, diminuir a inflamação e melhorar a mobilidade geral da pessoa. Podem ser recomendadas medidas como o equilíbrio entre descanso e exercício e o uso de ortóteses ou de outros aparelhos de apoio. São frequentemente prescritos medicamentos para o alívio de sintomas, como analgésicos, esteroides e anti-inflamatórios não esteroides. Para atrasar a progressão da doença pode ser administrado um grupo de medicamentos denominado medicamentos antirreumáticos modificadores da doença (DMARDs). Entre este grupo estão medicamentos como a hidroxicloroquina e o metotrexato.[1] Os DMARDs biológicos são usados nos casos em que a doença não responde a outros tratamentos,[3] uma vez que apresentam uma proporção significativa de efeitos adversos.[5] Em algumas situações pode ser necessária cirurgia para reparar, substituir ou fundir articulações.[1] Não há evidências que apoiem a eficácia de maior parte dos tratamentos de medicina alternativa.[6][7]

A artrite reumatoide afeta entre 0,5 e 1% dos adultos nos países desenvolvidos, onde em cada ano entre 5 e 50 por cada 100 000 pessoas desenvolvem a doença.[3] O aparecimento da doença é mais frequente durante a meia idade e prevalência é 2,5 vezes maior entre as mulheres.[1] Em 2013 foi a causa de 38 000 mortes em todo o mundo, um aumento em relação às 28 000 de 1990.[8] A primeira descrição conhecida da doença foi feita em 1800 pelo cirurgião francês Augustin Jacob Landré-Beauvais.[9] O termo artrite reumatoide tem origem nos termos gregos para articulações aquosas e inflamadas.[10]

Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]

Mãos acometidas por lesões da artrite reumatoide

Frequentemente acomete inúmeras articulações tais como punhos, mãos, cotovelos, ombros, e pescoço; podendo levar à deformidades e limitações de movimento permanentes. É geralmente simétrica e as articulações afetadas podem apresentar sinais inflamatórios intensos, tais como: edema, calor, rubor e dor, além de rigidez matinal. Os sintomas extra-articulares mais comuns são: anemia, cansaço extremo, perda de apetite, perda de peso, pericardite, pleurite e nódulos subcutâneos.

Fisiopatologia[editar | editar código-fonte]

Existem várias hipóteses para seu surgimento (infecciosa, hereditária, endócrina, imunológica, psicogênica…) porém sua verdadeira origem permanece polêmica. Provavelmente existem fatores genéticos pois há um risco 6 vezes maior em parentes de primeiro grau e 30 vezes maior em gêmeos monozigóticos comparado com o resto da população (~1%). A hipótese infecciosa aponta o efeito cronificador que a rubéola, a hepatite B e arbovírus e a quantidade elevada de antígenos de Epstein-Barr nos portadores. Essa doença é resultado do autoataque das células imunológicas que entram nos tecidos, e no líquido sinovial causando um intenso processo inflamatório e produzindo enzimas, citocinas e anticorpos.

Diagnóstico[editar | editar código-fonte]

O diagnóstico tem por base os sinais e sintomas da pessoa.[2] As radiografias e análises laboratoriais podem apoiar o diagnóstico ou excluir outras doenças com sintomas semelhantes.[1]

A aparição dos sintomas normalmente é gradual, pacientes normalmente apresentam apenas um pequeno número de juntas com algum inchaço, sensação de rigidez pela manhã, e sintomas semelhantes aos da gripe. O envolvimento de juntas no início da doença pode ser assintomático. Esses fatores tornam o diagnóstico inicial desafiador, diagnóstico este que, aliado a tratamento nos estágios iniciais da doença, tem forte correlação com a probabilidade de remissão da doença - alguns estudos apontam uma janela de oportunidade de 3 ou 6 meses a partir da aparição dos sintomas.[11]

Para se fazer o diagnóstico de artrite reumatoide é necessário que estejam presentes quatro ou mais dos seguintes critérios.[carece de fontes?]

  • Rigidez matinal (dificuldade de movimentação ao acordar)com duração superior a uma hora por dia.
  • Artrite de três ou mais áreas, com sinais inflamatórios
  • Artrite das articulações das mãos ou punhos (Pelo menos 1 área com edema em punho, metacarpofalangeana ou interfalangeana proximal)
  • Artrite simétrica - Envolvimento simultâneo bilateral (para as metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais, não precisa haver simetria perfeita)
  • Nódulos reumatoides
  • Fator reumatoide sérico positivo
  • Alterações radiográficas, tais como: erosões ou descalcificações articulares.

Para que os 4 primeiros critérios sejam válidos, é necessário que perdurem por, no mínimo, 6 semanas.[carece de fontes?]

Tratamento[editar | editar código-fonte]

O tratamento tem maior efeito quando instituído precocemente, nos primeiros meses de aparecimento dos sintomas, para impedir a progressão da doença evitando assim possíveis deformidades permanentes. Os objetivos do tratamento geralmente são: prevenir lesões articulares, melhorar a qualidade de vida e diminuição da dor.[11]

O tratamento medicamentoso baseia-se no uso de medicamentos para alívios dos sintomas e as drogas que modificam o curso da doença, as chamadas DMARDs. Com relação aos primeiros é possível citar os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e os corticoides, e no segundo caso: hidroxicloroquina, cloroquina, sulfasalazina, metotrexato, leflunomide, azatioprina, ciclosporina e outros.[11]

O diagnóstico e a instituição de um tratamento precoce sob a orientação de profissionais capacitados permite que o paciente tenha uma vida normal e sem limitações na grande maioria dos casos.[11]

Cirurgias podem ser feitas mesmo nos estágios iniciais da doença. Tem por objetivos principais alívio da dor e recuperação da funcionalidade.

Tratamento fisioterapêutico[editar | editar código-fonte]

Diversos recursos da Fisioterapia podem ser utilizados como a termoterapia, a eletroterapia, a cinesioterapia (principalmente exercícios e alongamentos) A hidroterapia é um dos principais recursos utilizados, através de diversas modalidades como o Método Bad Ragaz, a balneoterapia e a talassoterapia. Terapias manuais aliviam a dor e proporcionam bem estar ao paciente. A indicação de órteses pelo fisioterapeuta é importante para manter a funcionalidade e alinhar corretamente as estruturas acometidas.

Tratamento terapêutico ocupacional[editar | editar código-fonte]

O terapeuta ocupacional pode utilizar técnicas cinesioterápicas, associadas as atividades funcionais e intencionais (cinesioatividades) para melhorar a autonomia do paciente com artrite. Esse tratamento tem como objetivo a manutenção e/ou o aumento da mobilidade articular, aumento da força muscular e das habilidades funcionais para o desempenho de atividades da cotidianas, destacando a integração dos elementos: motor, cognitivo, psíquico, sensitivo e perceptivo. Proporcionando ações intencionais, reais e aprendidas, que favorecem a consciência e domínio corporal. Esse tratamento é baseado nas necessidades de cada indivíduo, o que diferencia a prática e conduta do profissional.

Terapeutas ocupacionais podem avaliar, prescrever e treinar o uso de órteses e adaptações, que podem ser de alta ou de baixa tecnologia dependendo da necessidade e de questões financeiras. O treino e uso de órteses tem como objetivo a manutenção ou melhoramento da condição funcional (autonomia no dia-a-dia), corrigir a postura, alinhar a estrutura comprometida, prevenir deformidades e diminuir a dor.[1]

Prognóstico[editar | editar código-fonte]

Fatores relacionados a mau prognóstico:

  • Idade precoce de início
  • Altos títulos do Fator reumatoide e anti-CCP
  • Provas de função inflamatória elevadas persistentemente
  • Artrite em mais de vinte articulações
  • Comprometimento extra-articular: nódulos reumatoides, síndrome de Sjogren, episclerite, esclerite, doença pulmonar intersticial, pericardite, vasculite sistêmica
  • Erosões detectáveis radiograficamente já nos dois primeiros anos de actividade da doença

Epidemiologia[editar | editar código-fonte]

A artrite reumatoide é uma doença que acomete mais os indivíduos do sexo feminino (de 3 a 5 vezes mais do que os do sexo masculino). E tem seu pico de incidência entre 40 e 70 anos. Afeta de 0,6% a 2% dos adultos representando entre 90% e 100% dentre as artrites.[carece de fontes?]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n «Handout on Health: Rheumatoid Arthritis». National Institute of Arthritis and Musculoskeletal and Skin Diseases. Agosto de 2014. Consultado em 2 de julho de 2015 
  2. a b c d e f Majithia V, Geraci SA (2007). «Rheumatoid arthritis: diagnosis and management». Am. J. Med. 120 (11): 936–9. PMID 17976416. doi:10.1016/j.amjmed.2007.04.005 
  3. a b c Scott DL, Wolfe F, Huizinga TW (25 de setembro de 2010). «Rheumatoid arthritis». Lancet. 376 (9746): 1094–108. PMID 20870100. doi:10.1016/S0140-6736(10)60826-4 
  4. Wang H, Naghavi M, Allen C, Barber RM, Bhutta ZA, Carter A, et al. (outubro de 2016). GBD 2015 Mortality and Causes of Death Collaborators. «Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980-2015: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015». Lancet. 388 (10053): 1459–1544. PMC 5388903Acessível livremente. PMID 27733281. doi:10.1016/S0140-6736(16)31012-1 
  5. Singh, JA; Wells, GA; Christensen, R; Tanjong Ghogomu, E; Maxwell, L; Macdonald, JK; Filippini, G; Skoetz, N; Francis, D; Lopes, LC; Guyatt, GH; Schmitt, J; La Mantia, L; Weberschock, T; Roos, JF; Siebert, H; Hershan, S; Lunn, MP; Tugwell, P; Buchbinder, R (16 de fevereiro de 2011). «Adverse effects of biologics: a network meta-analysis and Cochrane overview.». The Cochrane database of systematic reviews (2): CD008794. PMID 21328309. doi:10.1002/14651858.CD008794.pub2 
  6. Efthimiou P, Kukar M (2010). «Complementary and alternative medicine use in rheumatoid arthritis: proposed mechanism of action and efficacy of commonly used modalities». Rheumatology international. 30 (5): 571–86. PMID 19876631. doi:10.1007/s00296-009-1206-y 
  7. «Rheumatoid Arthritis and Complementary Health Approaches». National Center for Complementary and Integrative Health. Consultado em 1 de julho de 2015 
  8. GBD 2013 Mortality and Causes of Death, Collaborators (17 de dezembro de 2014). «Global, regional, and national age-sex specific all-cause and cause-specific mortality for 240 causes of death, 1990-2013: a systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013.». Lancet. 385 (9963): 117–71. PMC 4340604Acessível livremente. PMID 25530442. doi:10.1016/S0140-6736(14)61682-2 
  9. Landré-Beauvais AJ (1800). La goutte asthénique primitive (doctoral thesis). Paris: [s.n.]  reproduced in Landré-Beauvais AJ (2001). «The first description of rheumatoid arthritis. Unabridged text of the doctoral dissertation presented in 1800». Joint Bone spine. 68 (2): 130–43. PMID 11324929. doi:10.1016/S1297-319X(00)00247-5 
  10. Paget, Stephen A.; Lockshin, Michael D.; Loebl, Suzanne (2002). The Hospital for Special Surgery Rheumatoid Arthritis Handbook Everything You Need to Know. New York: John Wiley & Sons. p. 32. ISBN 9780471223344 
  11. a b c d Burmester, Gerd R (10 de junho de 2017). «Novel treatment strategies in rheumatoid arthritis». The Lancet. 389: 2238-48. doi:10.1016/S0140-6736(17)31491-5. Consultado em 20 de novembro de 2022 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]