Bacharel de Cananeia – Wikipédia, a enciclopédia livre
Bacharel de Cananeia | |
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Nome completo | Desconhecido |
Outros nomes |
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Nascimento | 14?? Portugal |
Morte | 15?? Capitania de São Vicente, (Possivelmente Iguape) |
Residência | Cananeia |
Nacionalidade | português |
Profissão | traficante de escravos, intérprete, guia de navegação |
O Bacharel de Cananeia ou Cosme Fernandes (Portugal, 14?? — Capitania de São Vicente, 15??) foi um degredado português e posteriormente traficante de escravos, intérprete e guia de navegação. Foi levado para o Brasil, no litoral sul do atual estado de São Paulo em algum momento no começo do século XVI, onde passou a viver entre os indígenas carijós da área.[1]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Primeiros anos de Degredo
[editar | editar código-fonte]Muito pouco se sabe sobre a vida pregressa do bacharel, o que se sabe é que provavelmente desembarcou na América do Sul em algum momento do início do século XVI, possivelmente nas primeiras viagens de Américo Vespúcio.[2] Depois disso passou alguns anos vivendo sozinho entre os indígenas antes de se juntar a Francisco de Chaves, possível sobrevivente da expedição de Aleixo Garcia ao Império Inca, e mais alguns castelhanos também possíveis sobreviventes dessa expedição.[2][3]
A primeira menção ao bacharel depois disso data de por volta de 1526 ou 1527, quando foi abordado por Diogo Garcia, a quem o ele forneceu mantimentos e um genro para servir de intérprete aos navegadores.[2]
Encontro com Martim Afonso de Sousa
[editar | editar código-fonte]No dia 12 de agosto de 1531, Pero Lopes e Martim Afonso de Sousa atracam perto do arquipélago de Cananéia e enviam Pedro Annes, o piloto da expedição, terra adentro. Cinco dias depois, o piloto retorna com Francisco de Chaves, 5 ou 6 castelhanos e o Bacharel. Os degredados conversaram, então, com o capitão-mor e esse ordena que Pero Lobo Pinheiro, parta com Chaves e mais 80 homens para o interior do continente, visto que ele havia prometido que, em dez meses, retornaria com quatrocentos escravizados carregados de prata e ouro. Essa expedição, que partiu no dia 1 de setembro daquele ano, nunca mais retornou a São Vicente, tendo, supostamente, sido dizimado pelos indígenas.[4][5][6]
Participação na Guerra de Iguape
[editar | editar código-fonte]Algum tempo depois - dois anos, segundo Ruy Dias de Guzmán, que o identifica como sendo Duarte Perez - o bacharel passou a viver com sua família e criados junto de alguns refugiados espanhóis que tinham se assentado na região de Iguape, liderados por Ruy Garcia Mosquera. O capitão-mor da capitania de São Vicente, Pero de Góis, exige que os espanhóis se apresentem em São Vicente para jurar lealdade a Portugal, ao seu rei, e a Martim Afonso de Sousa.[7] O Bacharel acata essa intimação, mas Mosquera não, que começa a se preparar para um confronto contra os portugueses em São Vicente.[8] Os vicentinos acabam sendo emboscados pelos espanhóis, que, subsequentemente, saqueiam a vila portuguesa antes de se retirarem rumo ao sul, primeiro para a Ilha de Santa Catarina e depois para o Rio da Prata.[2][7][8][9]
Final de Vida
[editar | editar código-fonte]Depois disso as fontes a respeito do Bacharel começam a rarear. Possivelmente passou certo tempo em São Vicente antes de retornar para Cananéia, onde foi requerido pela rainha da Espanha para que ajudasse o navegador Gregorio de Pesquera Rosa em carta traduzida por Afonso d'Escragnolle Taunay. Essa viagem, entretanto, nunca chegou a ser realizada.[10]
De acordo com escritura pública, o Bacharel tomou propriedade por intermédio do padre Gonçalo Monteiro das instalações de estaleiros, arsenais e arredores do Porto das Naus (atual região de São Vicente),[11] recebendo uma das primeiras sesmarias da colônia.[12]
Foi, possivelmente, morto pelos indígenas carijós em 1537.[carece de fontes] Porém, segundo o historiador Ernesto Young, o bacharel teria falecido em Iguape.[13]
Possíveis identidades
[editar | editar código-fonte]Cosme Fernandes
[editar | editar código-fonte]Alguns historiadores, como Ernesto Young,[3] acreditam que o verdadeiro nome do bacharel era Cosme Fernandes, ou Cosme Fernandes Pessoa - por vezes chamado de Mestre Cosme - um degredado que teria sido deixado por aquelas terras por volta do ano de 1501 e que, após a sua morte, teria dado de herança as suas terras aos seus descendentes, Na escritura lavrada por segundo capitão-mor de São Vicente, em 25 de maio de 1542 em favor de Perro Correia, nota-se a menção a um "Mestre Cosme, bacharel" como proprietário de terras defronte ao Tumiaru, onde estavam instalados os estaleiros ou arsenais e o Porto das Naus.[14][13]. Segundo o historiador, ainda, Cosme Fernandes teria falecido em Iguape alguns anos depois de ter se retirado de São Vicente.
Duarte Peres
[editar | editar código-fonte]No entanto, Ruy Díaz de Guzmán, em La Argentina de 1612 afirma que o nome do bacharel teria sido Duarte Perez.[7] Essa hipótese é corroborada pelo historiador português Jaime Cortesão, que afirma em seu livro Descobrimentos Portugueses[15] que a personagem teria sido trazido em uma expedição não oficial de Bartolomeu Dias em 1499. Ernesto Young, no entanto, argumenta que esse seria outra pessoa devido a falta de evidências.[16]
Outras identidades
[editar | editar código-fonte]Segundo Theodoro Sampaio, em artigo publicado no volume 7 da revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, alguns autores estariam hipotetizando que o bacharel seria o português João Ramalho, fundador da Vila de Santo André da Borda do Campo, e genro do chefe tupiniquim, Tibiriçá. Sampaio, no entanto, afasta essa possibilidade, atestando que Ramalho era analfabeto.[14]
Além disso, se aventou, erroneamente, a ideia de que o bacharel seria judeu devido ao nome que deu a sua povoação, o que, atualmente, é uma noção desconsiderada pela falta de evidência e, provavelmente, advinda de uma compreensão rasa da religião judaica.[17]
Ver também
[editar | editar código-fonte]Referências
- ↑ São Vicente Primeiros Tempos, Carlos Fabra, edição 2010
- ↑ a b c d Young, Ernesto Guilherme. «Esboço histórico da fundação da cidade de Iguape». Typographia Aurora. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (v. 2): 49 - 151
- ↑ a b c Young, Ernesto Guilherme (1903). «História de Iguape». Typographia do "Diário Oficial". Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (v. 8): 222 - 235. Consultado em 2 de outubro de 2023
- ↑ Sousa, Pero Lopes (1927). Diario da navegação de Pero Lopes de Sousa, 1530-1532 : Documentos e mapas : Vol. II. Rio de Janeiro: Typographia Leuzinger. pp. 203 – 206
- ↑ Vilar, Leandro (17 de março de 2013). «Seguindo os passos da História». Consultado em 14 de outubro de 2020
- ↑ Cervantes, Biblioteca Virtual Miguel de. «Historia general y natural de las Indias, islas y tierra-firme del mar océano. Tomo primero de la segunda parte, segundo de la obra». Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes (em espanhol). p. 188. Consultado em 30 de setembro de 2023
- ↑ a b c Tieffemberg, Silvia (2012). Argentina : historia del descubrimiento y conquista del Río de la Plata de Ruy Díaz de Guzmán. Buenos Aires: Editorial de la Facultad de Filosofia y Letras Universidad de Buenos Aires. p. 118. ISBN 9789871785551
- ↑ a b J. J. Machado d'. Oliveira (1864). Quadro historico da provincia de São Paulo. unknown library. [S.l.]: Typographia Imparcial de J.R.A. Marques
- ↑ Varhagen, Francisco Adolfo de (1877). História Geral do Brasil. Rio de Janeiro: Em casa de E. e H. Laemmert. pp. 165 – 166
- ↑ Almeida, Antônio Paulino de (29 de março de 1962). «Memória histórica de Cananéia (IV)». Revista de História (49): 205–243. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1962.121600. Consultado em 1 de outubro de 2023
- ↑ «PORTO DAS NAUS: 1º SÍTIO HISTÓRICO DA COLONIZAÇÃO BRASILEIRA - São Vicente Alternativa». www.saovicentealternativa.com.br. Consultado em 1 de outubro de 2021
- ↑ Fabra, Carlos (2010). 1. São Vicente - Primeiros Tempos. São Paulo: Edição 2010
- ↑ a b São Vicente Primeiros Tempos Texto – Grupo de coordenação do trabalho; saovicente.sp.gov.br (PDF)
- ↑ a b Sampaio, Theodoro (1902). «Quem era o bacharel degradado em Cananéa?». Typographia do "Diario Oficial". Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (v. 7): 280 - 285. Consultado em 16 de outubro de 2023
- ↑ Cortesão, Jaime (1990). Os descobrimentos portugueses, Volume 3. [S.l.]: Imprensa Nacional-Casa da Moeda. pp. 717–723. ISBN 9722704222
- ↑ Young, Ernesto Guilherme (2 de outubro de 2023). «Subsídios para a história de Iguape: Seus fundadores». Typographia do "Diário Oficial". Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo (v. 7): 286 - 297
- ↑ Falbel, Nachman (1999). «Sobre a presença dos cristãos-novos na Capitania de São Vicente e a formação da etnia paulista». Universidade de São Paulo. Revista USP (41): 112 - 119. Consultado em 16 de outubro de 2023
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Arquivo do Estado de São Paulo (AESP), Ofícios Diversos de Iguape.
- VILAR, Leandro. Seguindo os Passos da História: As entradas de Martim Afonso de Sousa, quarto e quinto parágrafos.
- Cartório da Cidade de Iguape (Prefeitura Municipal) - http://www.cartorioiguape.com.br/conheca-nossa-cidade/
- BARRETO, Aníbal (Cel.). Fortificações no Brasil (Resumo Histórico). Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1958. p. 368.
- BUENO, Eduardo. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. p. 288 il. ISBN 8573022523
- DONATO, Hernâni. Dicionário das batalhas brasileiras. São Paulo: Ibrasa, 1987.
- FORTES, Roberto. Iguape… Nossa história. Vol. I. Iguape: edição do autor, 2000.
- Luz Soriano, Simão José da. Historia da Guerra Civil e do estabelecimento do governo parlamentar em Portugal, comprehedendo a historia diplomatica, militar e politica d'este reino desde 1777 até 1834. Lisboa, Impr. Nacional, vol IV, 1870 p. 497.
- PEREIRA JUNIOR, Carlos Alberto. IGUAPE: Conto, canto e encanto com a minha história. São Paulo: Noovha America, 2005. 128 p. il. color. ISBN 85-7673-044-8
- YOUNG, Ernesto G. Apontamentos Genealógicos de Famílias Iguapenses. Revista do IHGSP, vol X, São Paulo, 1905 pp. 3–28.
- YOUNG, Ernesto G. Esboço Histórico da Fundação da cidade de Iguape. Revista do IHGSP, vol II, São Paulo, 1896 pp. 49–151.
- YOUNG, Ernesto G. História de Iguape. Revista do IHGSP, vol VIII, São Paulo, 1903 pp. 222–375.
- YOUNG, Ernesto G. História de Iguape. Revista do IHGSP, vol IX, São Paulo, 1904 pp. 108–326.
- YOUNG, Ernesto G. Subsídios para a História de Iguape e seus Fundadores. Revista do IHGSP, vol VII, São Paulo, 1902 pp. 286–298.
- YOUNG, Ernesto G. Subsídios para a Historia de Iguape - Mineração de Ouro. Revista do IHGSP, vol VI, São Paulo, 1902 pp. 400–435.