CS Guaporé (G-1) – Wikipédia, a enciclopédia livre

CS Guaporé (G-1)
 Brasil
Fabricante Defoe Boat and Motor Works, Bay City, Michigan.
Homônimo Rio Guaporé, rio da América do Sul, que separa o Brasil da Bolívia.
Construção 1942
Lançamento 30 de abril de 1942
Comissionamento 5 de junho de 1942
(US Navy);
24 de setembro de 1942
(Marinha do Brasil)
Estado desmanchado em 1958
Características gerais
Classe PC 461
Tonelagem 280 ton (padrão),
450 ton. (carregado)
Largura 7,01 metros
Maquinário 2 motores Diesel GM 16-258S, de 16 cilindros
Comprimento 52,73 metros
Calado 3,04 metros
Propulsão 2 hélices de três pás.
Velocidade 20 nós
Armamento 1 canhão de 3 pol.;
1 canhão Bofors L/60 de 40 mm;
3 metralhadoras Oerlikon de 20 mm;
2 lançadores de granada de 7.2 pol.;
2 calhas de cargas de profundidade Mk 3;
2 projetores laterais para cargas de profundidade Mk 6 ou Mk 9.
Blindagem casco de aço sem blindagem
Aeronaves não dispunha
Equipamentos especializados 1 radar de vigilância de superfície tipo SF ou SL;
1 sonar de casco.
Tripulação 65 homens

O CS Guaporé (G-1) foi um navio da Marinha do Brasil, da Classe PC-461 (depois Classe G, no Brasil), que exerceu a função de navio-patrulha e de caça-submarino durante a Segunda Guerra Mundial.

Construído nos Estados Unidos, em 1942, foi entregue à Marinha brasileira em 24 de setembro daquele ano, em função dos acordos de cooperação mútua entre os dois países durante o conflito.

Serviu à Marinha de Guerra até 1958, ano em que foi descomissionado e, em seguida, desmanchado.

Características técnicas[editar | editar código-fonte]

O Guaporé foi construído pelo estaleiro Defoe Boat and Motor Works, em Bay City, Michigan, fruto da produção em massa de navios similares em pequenos estaleiros americanos. Com efeito, sua construção demorou pouco mais de dois meses: o batimento de quilha se deu em 24 de março e o seu lançamento ocorreu em 30 de abril de 1942.

Dimensões[editar | editar código-fonte]

Possuía um deslocamento padrão de 280 toneladas de arqueação e 450 toneladas carregado, com um comprimento de 52,73 metros (173 pés), largura de 7,01 metros e calado de altura total de 9,6 metros. Seu casco era feito de ferro, sem qualquer blindagem especial, tendo em vista a urgência com que foram construídos.

Os navios da classe foram apelidados no Brasil de "caça-ferro", devido ao material de sua construção, em contraposição aos outros navios patrulha recebidos construídos com casco de madeira, denominados "caça-pau". Sua tripulação era de 65 homens, sendo 5 oficiais graduados.

Os alojamentos eram confortáveis e com boa ventilação; cada homem dispunha de um beliche e um armário de alumínio, pequeno, mas muito prático. Por ante-à-ré do passadiço ficava a estação de rádio bem aparelhada e, logo depois a praça de armas, tudo no convés principal. A coberta do rancho da guarnição era localizada a ré, ao lado da cozinha.[1]

Autonomia[editar | editar código-fonte]

O barco era movimentado por dois motores diesel, da General Motors, modelo 16-258S, cada um deles com 16 cilindros, com potência de 2 x 2.000 hp e nominal de 2 x 2.880[1], acoplados a dois eixos com hélices de três pás.

Esses eixos, acoplados hidraulicamente aos motores principais, davam ao navio, ao fim de 30 segundos, inicialmente a velocidade de 7 nós, indo depois até 18 nós, podendo alcançar a máxima de 20 nós. O fato de levar algum tempo para o acoplamento e arrancar já nos 7 nós, quando se dava a partida nos motores, causava certa dificuldade no momento das atracações e outras manobras. No mar alto, era porém um navio muito ágil, pois apesar de baixo, os seus dois lemes faziam o navio girar muito rapidamente, condição essencial para a sua função principal de combater submarinos imersos.[1]

Os tanques de diesel tinham a capacidade para receber 60 toneladas de combustível[1], conferindo à embarcação uma autonomia de 3.000 milhas náuticas a 12 nós.

Armamento[editar | editar código-fonte]

Os caça submarinos da classe G eram relativamente bem armados, com um canhão de 3 pol (76.2 mm/50) na proa; a meia-nau existia um canhão Bofors L/60 de 40 mm, em um reparo Mk3, mesmo tipo daqueles fornecidos pelos EUA à URSS, durante a guerra.

Além disso, possuía três metralhadoras Oerlikon de 20 mm em reparos singelos Mk4; 2 lançadores óctuplos de bomba granada A/S (LBG) de 7.2 pol. Mousetrap Mk 20 na proa; e, no ataque anti-submarino, duas calhas duplas de doze foguetes, dois morteiros do tipo K Mk6 de bombas de profundidade Mk6 ou Mk9, em ambos os bordos e finalmente, duas calhas de bombas de profundidade Mk3 na popa. As calhas de bombas apenas deixavam cair os petrechos, mas os morteiros em K podiam variar a distância, conforme a carga de projeção usada.

A terceira metralhadora ficava instalada no tijupá (o convés logo acima do passadiço), além daquelas que ficavam nos bordos. Não obstante as fichas técnicas das embarcações constarem duas metralhadoras como padrão, sabe-se que, dos oito navios da classe, pelo menos quatro possuíam esse arranjo diferenciado com três armas: O Guaporé, o Gurupi, o Grajáu e o Graúna.[2] Todo armamento era de duplo uso, de superfície e antiaéreo, embora, na Marinha do Brasil nunca tivessem sido disparados contra aviões.[1]

Relativamente aos sensores, o Guaporé possuía um radar de vigilância de superfície tipo SF ou SL e um sonar de casco.

História[editar | editar código-fonte]

Foi incorporado à Marinha dos EUA em 5 de junho, sob a denominação USS PC 544. Junto com o CS Gurupi, foi um dos primeiros navios de guerra transferidos pelos EUA, e incorporados à Marinha do Brasil após a declaração de guerra aos países do Eixo, a 31 de agosto daquele ano. Em 24 de setembro, foi formalmente incorporado à Marinha do Brasil, em cerimônia realizada na Base Naval de Natal (RN). Naquela ocasião, assumiu o comando, o Capitão-Tenente Dário Camillo Monteiro.

O Guaporé, que, em tupi-guarani, significa vale deserto, foi o segundo navio a ostentar esse nome na marinha brasileira, em homenagem ao rio homônimo situado na fronteira do Brasil com a Bolívia. O custo de aquisição dos caça-submarinos dessa classe em 1942-43 foi de US$ 1,7 milhões.

A oficialidade do Guaporé cursou a primeira turma da Fleet Sound School em Key West, Flórida.

Iniciou sua vida operacional sendo utilizado junto com o CS Gurupi, como navio de treinamento para às futuras guarnições dos outros caça-submarinos da classe G que viriam a ser entregues pelos Estados Unidos.

Comandantes[editar | editar código-fonte]

Em seus dezesseis anos de serviço, o navio teve seis comandantes, dos quais, cinco deles, o comandaram durante a Segunda Guerra.

Comandante Período
Dario Camillo Monteiro 24 de setembro de 1942 — data não disponível
João Faria de Lima período não disponível
Manoel João de Araújo Neto 1944 - data não disponível
Paulo Bracy Gama da Silva período não disponível
Newton Tornaghi 1945-1954
João Carlos Gonçalves Caminha 1954-1958

Operações[editar | editar código-fonte]

Subordinação[editar | editar código-fonte]

Em 5 de outubro de 1942, passou à subordinação da Força Naval do Nordeste (FNNE), criada pelo Aviso n.º 1661, do mesmo dia, para substituir a Divisão de Cruzadores, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra, e subordinada ao Comandante da 4ª Esquadra Norte-Americana e das Forças Navais do Atlântico Sul, Contra-Almirante (USN) Jonas H. Ingram.

A Força Naval do Nordeste era originalmente composta pelos cruzadorRio Grande do Sul e Bahia, os navios mineiros Carioca, Cabedelo, Caravelas e Camaquã e pelo caça submarino CS Gurupi (G-2). Essa força foi depois acrescida de outros navios adquiridos nos Estados Unidos, além dos submarinos classe T, do tender Belmonte, e dos contratorpedeiros da classe M, constituindo assim Força-Tarefa 46, da Força Naval do Atlântico Sul, sendo dissolvida apenas no final da guerra.

Em 16 de março de 1945, sob o Comando do CT Newton Tornaghi, foi subordinado ao o Grupo de Ataque 46.8, composto pelos CTE's Bertioga, Babitonga, e pelos CS Goiana (G-6), para uma comissão de caça e destruição , deslocando-se para área compreendida entre os paralelos de 05ºS e 08ºW e meridianos 26ºW e 22ºW, com o objetivo de destruir dois submarinos lá avistados, os quais não foram encontrados.

Em abril, com a redução da ameaça submarina passou a fazer parte do Grupo de Ataque 27.6.8, sob o comando do CF Alberto Jorge Carvalhal, composto pelos CTE's Bertioga, Babitonga, e pelo CS Goiana.

Patrulhas[editar | editar código-fonte]

Participação do Guaporé na 2ª Guerra Mundial, em relação aos comandantes:

Comandante Milhas navegadas Dias de mar Navios comboiados Comboios
Dario Camillo Monteiro 25.604 94 99 25
João Faria de Lima 35.775 142,5 182 18
Manoel João de Araújo Neto 10.048 34,5 30 3
Paulo Bracy Gama da Silva 4.533 16 18 3
Newton Tornaghi 38.269 140 63 13

Participação total de comissões de escolta de comboios regulares durante a 2ª Guerra Mundial.

Comboios Comissões
Recife/Salvador 5
Salvador/Recife 4
Recife/Trinidad (JT) 12
Trinidad/Recife (TJ) 12
Outros comboios 12
Total 45

Missões em destaque[editar | editar código-fonte]

Participou, sob o Comando do Capitão-Tenente João Faria de Lima, do serviço de escolta ao navio lançador de cabo Cambria, que fazia a manutenção dos cabos submarinos de comunicação entre os Estados Unidos - Brasil - Europa, em um serviço que consistia girar em torno do Cambria por quatro horas em um sentido, alternado em outras quatro horas no sentido contrário, pois o navio em sua tarefa de inspeção de cabos, que passavam através de roldanas por seu convés, navegava vagarosamente, constituindo em um alvo precioso para os submarinos inimigos.

Em 23 de julho de 1943, obteve um contato submarino positivo de sonar, lançando suas cargas de profundidade na posição 00º28'S e 45º54'W.

Em 17 de abril de 1944, por volta das 17 horas, sob o comando do CT Manuel João de Araújo Neto localizou uma mina à deriva na posição 02º20'N e 49º10' W, efetuando disparos para destruí-la, sem êxito.

Entre 8 e 19 de outubro, participou da escolta do comboio Recife - Trinidad - JT 46[nota 1] sendo a primeira escolta de comboio composta exclusivamente por unidades brasileiras, sendo formado assim o GT 46.8, que incluía os CTE's Bertioga (capitânia), Beberibe e dos CS Guaíba (G-3), CS Guajará (G-5), e Goiana.

Entre 21 de dezembro e 2 de janeiro de 1945, participou da escolta do comboio Trinidad - Recife (TJ) - TJ 55, sendo o primeiro navio a participar de uma escolta de comboio no sentido TJ exclusivamente brasileira.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Os comboios eram conhecidos por letras e algarismos. A primeira letra indicava o porto de saída e a segunda o porto de chegada; o número indicava a seqüência dos comboios. Antes, os comboios eram genericamente chamados de TS - “S” querendo dizer “sul”. O Rio de Janeiro era conhecido pela letra “J”; quando os comboios de Trinidad foram estendidos ao Rio, passaram a ser denominados de TJ e JT.

Referências

  1. a b c d e Alm. Rubens José Rodrigues de Mattos. «A Vida nos Caça-Ferro». 1978 (original). Navios de Guerra Brasileiros (1822-hoje).Publicado originariamente na Revista do Clube Naval, nº 252, maio de 1978. Consultado em 12 de março de 2011 
  2. Alex Galante (29 de abril de 2010). «Sobre o armamento secundário dos Caça-Ferro». Poder Naval. Consultado em 12 de março de 2011 

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Mendonça, Mário F. e Vasconcelos, Alberto. Repositório de Nomes dos Navios da Esquadra Brasileira. 3ª edição. Rio de Janeiro. SDGM. 1959.
  • Gama, Arthur Oscar Saldanha da. A Marinha do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro. CAPEMI Editora e Gráfica Ltda., 1982.