Carne de sol – Wikipédia, a enciclopédia livre

Carne de sol maturada
Fazendeiro preparando carne de sol

A carne de sol,[1] denominada também carne de vento e carne do sertão,[2] é um método de conservar alimentos de origem animal salgando-se e secando-se, em local coberto e bem ventilado, peças de carne, em geral bovina, típica do nordeste brasileiro. Apesar do nome, não é exposta aos raios solares.[3]

Diferenças em relação à carne-seca e ao charque[editar | editar código-fonte]

É, normalmente, confundida com a carne-seca. Apesar de possuírem processos parecidos, há uma grande diferença no sabor. A carne de sol é ligeiramente salgada e, depois, colocada para secar e desidratar em local coberto e ventilado. O processo de secagem é rápido e o interior da carne fica úmido e macio. Já a carne-seca leva mais sal e é empilhada em locais secos para sua desidratação. Após a secagem da carne, ela é estendida em varal ao sol para completar sua desidratação. A carne-seca é bem mais salgada se comparada com a carne de sol.

Outro processo de desidratação bem conhecido é o charque, originário também do nordeste, mas que posteriormente, em razão da seca e da consequente diminuição dos rebanhos, teve sua produção em escala comercial deslocada para a região sul do Brasil. Embora o nordeste nunca tenha deixado de se manter firme como produtor e consumidor de charque. O processo é bem parecido com o da carne-seca. O diferencial é que leva mais sal. É portanto um equivoco muito comum, à afirmação de que o charque é típico do sul do país, pois, no sul, foi apenas onde a produção de charque em larga escala se mostrou mais viável.

História[editar | editar código-fonte]

Prato com carne de sol, macaxeira e cebola em restaurante de cozinha nordestina no Rio de Janeiro

É pouco provável que a cultura brasileira tenha herdado essa técnica de produção de grupos indígenas, pois não é hábito dessas culturas conservar alimentos em sal. Já os portugueses tinham tradição de conservar alimentos salgando-os (a exemplo do bacalhau). Provavelmente, no litoral do Nordeste do Brasil (onde o sal e o sol eram abundantes), nos primeiros séculos da colonização portuguesa, os pescadores passaram o processo dos peixes às carnes.[4][5]

Na atualidade[editar | editar código-fonte]

Hoje em dia, no Brasil, carnes salgadas típicas podem ser resumidas em carne de sol, carne-seca, charque e frescal.

A carne de sol é um produto tradicional de produção artesanal e mais comercializado nas duas maiores regiões territoriais do Brasil (norte e nordeste). Mesmo com o avanço da refrigeração, a carne de sol não está fadada a desaparecer, pois garantiu, ao longo de décadas, consumidores fiéis às suas características peculiares.

De produto consumido regionalmente e usado em poucas receitas, a carne de sol, hoje, alcançou grande visibilidade, sendo consumido praticamente em todo o território brasileiro em inúmeras receitas. Em Minas Gerais, o município de Mirabela é reputado produtor de excelente carne de sol.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Dicionário escolar da língua portuguesa/Academia Brasileira de Letras. 2ª edição. São Paulo. Companhia Editora Nacional. 2008. 270.
  2. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 355.
  3. «Qual é a diferença entre carne-de-sol e carne-seca?». Superinteressante. Consultado em 13 de maio de 2019 
  4. Dossie Técnico - Fabricação de produtos de carne Rede de Tecnologia da Bahia – RETEC/BA - acessado em 28 de abril de 2019
  5. Livro História da alimentação no Brasil, de Luís da Câmara Cascudo Google Books - acessado em 28 de abril de 2019

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • CASCUDO, Câmara Luís da. História da alimentação no Brasil. São Paulo: Global, 2004. 954 p. (1ª ed.: Companhia Editora Nacional, 1967).
  • Della Monica, Laura. Turismo e folclore: um binômio a ser cultuado. São Paulo: Global, 1999 – Coleção Global Universitária.
  • JAPIASSU, Moacir. Danado de Bom!: o Melhor da Cozinha Nordestina. São Paulo: Nova Alexandria, 2004. 112 p.