Cerco da Lapa – Wikipédia, a enciclopédia livre

Cerco da Lapa
Revolução Federalista

O Coronel Gomes Carneiro e os heróis da Lapa
Data 14 de janeiro – 11 de fevereiro de 1894[1]
Local Lapa, Paraná
Desfecho Vitória pírrica federalista
Beligerantes
Rebeldes Maragatos Brasil Brasil
Comandantes
Gumercindo Saraiva Antônio Ernesto Gomes Carneiro 
Forças
± 3000 combatentes[1] 938 tropas regulares Voluntários civis

O Cerco da Lapa foi um episódio militar envolvendo o Exército Brasileiro, a Guarda Nacional, a Polícia Militar do Paraná e voluntários, que ocorreu durante a Revolução Federalista no início de 1894, quando a cidade de Lapa tornou-se arena de um sangrento confronto entre as tropas republicanas, os chamados pica-paus (legalistas), e os maragatos (federalistas), contrários ao sistema presidencialista de governo. Os legalistas resistiram ao cerco por 26 dias, mas sucumbiram pela falta de munição e comida.[2]

A batalha deu ao Marechal Floriano Peixoto, chefe da República, tempo suficiente para reunir forças e deter as tropas federalistas. Ao todo foram 938 homens entre forças regulares e civis voluntários, lutando contra as forças revolucionárias formadas por três mil combatentes. Os restos mortais do General Carneiro, assim como de muitos outros que tombaram durante a resistência, estão sepultados no Panteão dos Heróis.

Contexto histórico[editar | editar código-fonte]

O Panteão dos Heróis é uma estrutura alta, com colunas na fachada bege, e paredes interiores de pedra.
Panteão dos Heróis, onde jazem os corpos dos legalistas que combateram no Cerco da Lapa

Os meios da política do Paraná não se sentiram com entusiasmo a partir do princípio pela ideia da república. O manifesto republicano de 1870, favorável ao regime republicano, divulgado na província paulista, mais precisamente na Convenção de Itu, não era grandemente repercutido na província paranaense.[3]

As ideias da república só ganharam força em 1888, na época em que um líder local de prestígio, Vicente Machado da Silva Lima, fez sua adesão estardalhaçando maiormente a causa da república, pregando ser necessária a descentralização da administração pública para proporcionar maior autonomia às províncias. Os meios de comunicação que difundiam as ideias da república foram o jornal A República, o Clube Republicano de Curitiba, fundado em 1885, e o Clube Republicano de Paranaguá, em 1887.[3]

Diversos fatores foram favoráveis à difusão das ideias da república: a terceira idade do Imperador do Brasil Dom Pedro II; o isolamento do Império do Brasil, única monarquia na parte meridional da América Latina; e a atitude indiferente com que os fazendeiros passaram a tratar o regime monárquico depois de 13 de maio de 1888, data de assinatura da abolição da escravatura, que lhes trouxe prejuízo com sensibilidade.[3]

Assim se explica a inexistência prática de qualquer reação popular à nova forma de governo: a população do Paraná continuou com indiferença, recebendo o regime republicano sem se manifestar, e estranha a tudo o que mudava na política.[3]

Situação paranaense[editar | editar código-fonte]

Cerco da Lapa.

O número de deputados que defendiam o desejo pela república no Paraná era de apenas um, dos 20 monarquistas de que era composta a antiga Assembleia Provincial.[4]

Ambos os maiores partidos políticos que existiram em tempos imperiais, o Partido Liberal e o Partido Conservador, foram adaptados às novas condições circunstanciais. O Partido Conservador, cujo líder era Ildefonso Pereira Correia, o futuro Barão do Cerro Azul, este autorizando depois a chefia por desejo de seu colega Vicente Machado da Silva Lima, foi transformado no Partido Republicano Federal, e os antigos liberais, cujo chefe era Generoso Marques dos Santos, foram os fundadores do Partido Republicano Paranaense. Os antigos liberais, que receberam afastamento do governo em 1889 com a Proclamação da República no Brasil, voltaram ao poder nas eleições estaduais no Paraná em 1891, em que se elegeu como presidente do Estado o doutor Generoso Marques dos Santos, substituindo a junta de governo dirigente estadual que esteve no poder a partir de 15 de novembro. Mas seu governo durou pouco tempo, por causa da mudança que ocorreu na política do Brasil, quando Manuel Deodoro da Fonseca renunciou, após o golpe de Estado que não teve êxito. De qualquer maneira, este governo que durou pouco tempo, deu assinatura à primeira constituição do Paraná, em 1891.[4]

Reviravolta de Floriano[editar | editar código-fonte]

O então vice-presidente Floriano Peixoto, que assumiu o cargo de presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, como era assessor do então presidente Manuel Deodoro da Fonseca, deu afastamento do poder aos poderes executivo e legislativo de todos os 20 estados brasileiros da época que tinham apoiado a Proclamação da República. O estado paranaense foi administrado pela segunda vez por uma junta militar. Esta tinha a intenção de convocar segundas eleições de acordo com novas regras de eleição, com características bem marcantes da república:[4]

  1. As mesas de eleição receberiam fiscalização dos partidos políticos que tivessem interesse.[4]
  2. O governador venceria as eleições por voto direto.
  3. Os grupos minoritários seriam representados no poder legislativo estadual, por meio de um terço dos representantes no estado.[4]

A nova administração, tanto governadoria como Assembleia Legislativa, tomou posse no mês de fevereiro do ano de 1892. Deste modo, passou a chefiar no poder o Partido Republicano Federal, do qual se elegeu governador o doutor Francisco Xavier da Silva, cujo vice foi o doutor Vicente Machado da Silva Lima, este o líder de maior prestígio do estado na época.[4]

Partidários do Partido Federalista do Rio Grande do Sul em território gaúcho[editar | editar código-fonte]

O então presidente da República dos Estados Unidos do Brasil Floriano Peixoto desconfiava das tendências da política da monarquia imperial e do sistema parlamentar de governo de Silveira Martins, embora Castilhos tenha apoiado o ex-presidente Manuel Deodoro da Fonseca.[5]

Nas eleições estaduais no Rio Grande do Sul, em 1893, foi eleito governador, com a maioria absoluta dos votos válidos, o jornalista Júlio de Castilhos. Os partidários do Partido Federalista do Rio Grande do Sul, liderados por Gaspar Silveira Martins, que estiveram insatisfeitos com a derrota, resolveram invadir o Paraná em 1893, com tropas que vieram do Uruguai, onde se organizaram.[5]

Então começou a Revolução Federalista, a mais bárbara já ocorrida em território brasileiro, que se ensanguentou por muito tempo em diversas unidades federativas do Brasil.[5]

Dia Nacional do Cerco da Lapa[editar | editar código-fonte]

Em 21 de dezembro de 2017, foi sancionado pelo Presidente Michel Temer o projeto de Lei que criou o Dia Nacional do Cerco da Lapa (Lei 13.570, de 21 de dezembro de 2017) a ser comemorado todo dia 9 de fevereiro.[6]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Revolução Federalista». Website da Polícia Militar do Paraná. Consultado em 25 de março de 2021 
  2. - Os 120 anos do Cerco da Lapa e o preço da consolidação da República - Jornal Paranaense - Gazeta do Povo
  3. a b c d Wachowicz 1995, p. 157
  4. a b c d e f Wachowicz 1995, p. 158
  5. a b c Wachowicz 1995, p. 159
  6. LEI Nº 13.570, DE 21 DE DEZEMBRO DE 2017 Site da Presidência da República - acessado em 1 de março de 2018

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • WACHOWICZ, Ruy Christovam (1995). História do Paraná 7ª ed. Curitiba, PR: Vicentina 
  • Lacerda, Francisco Brito de (1985). Cerco da Lapa: do começo ao fim. Curitiba, PR: Lítero-Técnica. 157 páginas 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]