Chaimite (veículo blindado) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados de Chaimite, veja Chaimite (desambiguação).
Viaturas Chaimite V-600 (versão porta-morteiro), pertencentes à Escola Prática de Cavalaria, no desfile militar do 25 de Abril de 2004 em Lisboa (Pedro Monteiro).
Viatura Chaimite V-200 do Exército Português e Helicóptero OH-58 Kiowa do Exército dos EUA em manobras militares na Bósnia.

O VBTP Chaimite foi uma viatura blindada ligeira de transporte de tropas com tracção 4x4, desenvolvida e fabricada em Portugal. Esta foi a primeira viatura blindada produzida em série no país[1] e foi posteriormente vendida ao Peru, Filipinas, Líbia e Líbano.

História[editar | editar código-fonte]

O projecto começou a ser desenvolvido no final da década de 1960 pela Bravia - Sociedade Luso-Brasileira de Veículos e Equipamentos, SARL para as Forças Armadas Portuguesas.[1]. As Forças Armadas Portuguesas encontravam-se então envolvidas na Guerra do Ultramar que necessitavam de mais blindados para levar a cabo missões de escolta, reconhecimento e apoio - de facto, em 1964, o número de blindados em África não ia além dos 57 veículos e os que existiam eram inadequados ou obsoletos[1]

Em 1965, Portugal tenta adquirir 50 blindados Commando V-100 mas os Estados Unidos insistem que as mesmos não podem ser usados em África.[1]. Contudo, a empresa Bravia consegue, em 1967, trazer para Portugal uma equipa de técnicos que tinham trabalhado na Cadillac Gage e inclusive uma viatura Commando V-100 para assim criar a Chaimite[1]. O Exército aprova, em 1967, a aquisição do primeiro lote de 28 blindados Chaimite seguido, em 1968, de um lote de mais 56[1]

Como a Bravia não possuía uma unidade fabril, recorria à subcontratação: os primeiros cascos das Chaimite foram feitos na Sorefame da Amadora e a montagem final era feita nas OGME - Oficinas Gerais de Material de Engenharia de Belém, um estabelecimento fabril do Exército português. Posteriormente, a produção passou para a nova fábrica da Bravia, em Samora Correia, na região de Porto Alto.

As primeiras unidades foram entregues já em 1970, e um primeiro lote é enviado para a Guiné-Bissau, em janeiro de 1971[2].

Quando da eclosão da Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974), estes blindados assumiram posição no largo do Carmo, em Lisboa.[3]

Características básicas[editar | editar código-fonte]

  • Motor: Diesel, 6 cilindros em V; 155 CV a 3300 rpm
  • Velocidade máxima: 99 km/h
  • Autonomia: 800 km
  • Comprimento: 5,6 m
  • Largura: 2,26 m
  • Altura: 2,39 m
  • Peso: Dependente da versão

Utilização[editar | editar código-fonte]

Exército Português[editar | editar código-fonte]

O principal utilizador do Chaimite, foi o Exército Português que o começou a empregar na Escola Prática de Cavalaria e nas unidades de reconhecimento em operações na Guiné, Angola e Moçambique.[1] A sua utilização pela Escola Prática de Cavalaria ficou famosa, sobretudo pela sua participação nas operações do 25 de abril de 1974. Nesta revolução, foi num veículo Chaimite que o Presidente do Conselho Marcello Caetano foi transportado do Quartel do Carmo para o avião que o levaria ao exílio.

A seguir à revolução, o Chaimite equipou unidades politicamente antagónicas no PREC. Em pleno Verão Quente, em Julho de 1975, o Regimento de Comandos da Amadora soma 42 blindados enquanto, do lado da extrema-esquerda, o Regimento de Polícia Militar e o Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS) somam sete blindados cada.[1]. Posteriormente o Chaimite passou a equipar apenas as unidades de cavalaria vocacionadas para o reconhecimento. A partir de 1985, o Exército renova 82 viaturas, usando componentes desenvolvidos pela Cadillac Gage para o programa LAV, incluindo um novo motor a gasóleo Cummins V6 de 155 cavalos[1]

Nos anos 90, o Chaimite serviu também para equipar as forças portuguesas destacadas para a Bósnia e para o Kosovo, tendo ainda cumprido uma missão na Lituânia.[1] O modelo conta hoje com quase quatro décadas de serviço operacional, tendo sido, em parte, subtituído pelos novos blindados Pandur II[1]

Marinha Portuguesa[editar | editar código-fonte]

Outro utilizador do Chaimite em Portugal, foi o Corpo de Fuzileiros da Marinha Portuguesa. Este corpo utilizou quatro viaturas Chaimite durante a década de 1970 e a década de 1980.[1] Os fuzileiros dispunham mesmo de uma versão especial própria, denominada Armada 90, equipada com um lança-foguetes de 88,9 mm (cf., Motor Clássico nº 23).

Outros utilizadores[editar | editar código-fonte]

Além de Portugal, o Chaimite é, ou foi, utilizado pelo Peru (fuzileiros navais), Líbia (guarda presidencial), Líbano, Filipinas e, segundo algumas fontes, Palestina. Segundo o autor Pedro Manuel Monteiro, a Bravia "exportou os primeiros veículos militares nacionais, sendo bem-sucedida em mercados distantes e nada óbvios".[1]. A lista de países que consideraram a compra da Chaimite é longa e inclui, por exemplo, a África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, Chipre, Congo, Equador, Gana, Grécia, Espanha, Irão, Iraque, Myanmar, Nigéria, Paquistão, Tailândia e Venezuela[1]. No caso da Malásia, chegou a ser testada, no país, a versão V-400 armada com uma peça de 90mm[1]

Projecto e Versões[editar | editar código-fonte]

O Chaimite foi desenvolvido como uma família base, com várias versões. Foram desenvolvidas desde a versão simples de transporte até à versão antiaérea. Das versões projectadas, a maioria não saíu do protótipo. Posteriormente, a Bravia projectou os Chaimites Mk II e Mk III, versões respectivamente de seis e oito rodas que nunca foram produzidas.

Versão Função Observações
V-200 transporte de pessoal Versão básica de transporte de tropas. Uma subvariante, em serviço nos fuzileiros portugueses era o Armada 60, com um lança-foguetes múltiplo de 60 mm.
V-300 apoio de fogo ligeiro Versão capaz de suportar torres armadas com calibres reduzidos, incluindo armas antiaéreas. A Bravia desenvolveu para esta versão, uma torre com um canhão de 20 mm e uma metralhadora de 7,62 mm.
V-400 apoio de fogo pesado Versão capaz de suportar torres armadas com armas de calibre elevado, nomeadamente de 90 mm. Para esta versão foi experimentada com sucesso a torre do blindado francês hispano-suiza Lynx 90.
V-500 comando e comunicações
V-600 porta-morteiro Versão equipada com um morteiro de 81 mm ou um de 120 mm.
V-700 lança-mísseis anticarro Versão equipada com um lançador duplo de mísseis anticarro SS-10 Swingfire operada pelo Exército Português na década de 80. Alternativamente podia ser equipada com um lançador HOT.
V-800 ambulância
V-900 recuperação Versão de socorro a veículos acidentados.
V-1000 antimotim Versão destinada às forças de segurança, dotada de um canhão de água e prancha antibarricada.

Referências adicionais[editar | editar código-fonte]

Alguns artigos que abordam (parcialmente ou na sua totalidade) a produção e/ou operação da Chaimite:

Monteiro, Pedro Manuel (2018). Os Berliet,Chaimite e UMM: Grandes Veículos Militares Nacionais In Contra a Corrente - [1]
Monteiro, P. (n.d.). Blindados de Portugal. In Tecnologia & Defesa nº94
Monteiro, P. (2005). Blindado Chaimite 4x4 In UFJF Defesa - [2]
Monteiro, P. (2005). Nuevos blindados portugueses. In Fuerzas Militares del Mundo nº30
Monteiro, P. (2008, Dezembro). Chaimite (I): O nascimento de um blindado português. In Motor Clássico nº 22
Monteiro, P. (2009, Janeiro). Chaimite (II): Entre a guerra e a paz. In Motor Clássico nº 23
Paulo, J. M. (2006). Elefante Dundum: Missão, testemunho e reconhecimento. Lisboa: edição de Autor.
Machado, Miguel Silva (2009). Chaimite V-200 Parte I. In http://www.operacional.pt/chaimite-v-200-parte-i/
Machado, Miguel Silva (2009). Chaimite V-200 Parte II. In http://www.operacional.pt/chaimite-v-200-parte-ii-conclusao/
Machado, Miguel Silva (2009, Janeiro). Chaimite, o primeiro blindado português. In Jornal do Exército, nº580
Machado, Miguel Silva (2008, Novembro). Páras despedem-se das Chaimites. In Segurança & Defesa (Brasil), n.º 92
Machado, Miguel Silva (2007, Setembro). Páras despedem-se das Chaimites no Kosovo. In Revista Páras, n.º 2
Machado, Miguel Silva (2007, Julho). Kosovo, a última missão da Chaimite. In Jornal do Exército, nº 564 e http://www.operacional.pt/kosovo-a-ultima-missao-da-chaimite/
Machado, Miguel Silva (1996,Julho). Tensão sobre a IEBL. In Jornal do Exército, nº 436 e http://www.operacional.pt/tensao-sobre-a-iebl/
Machado, Miguel Silva (1996, Janeiro/Março)Rumo à Bósnia. In Revista Boina Verde nº 176
Machado, Miguel Silva (1996, Abril/Junho) Sarajevo-Gorazde. In Revista Boina Verde nº 177
Brito, Villa de; Machado, Miguel Silva (2007, Julho). Bósnia 96 ISBN 972-97408-0-1
Costa, Luís (1992, Novembro). Viatura blindada de transporte de pessoal Chaimite V200 7,3 Ton 4x4 m/1967 (Parte I). In Jornal do Exército nº 395
Costa, Luís (1992, Dezembro). Viatura blindada de transporte de pessoal Chaimite V200 7,3 Ton 4x4 m/1967 (Parte II). In Jornal do Exército nº 396
Costa, Luís (1993, Janeiro). Viatura blindada de transporte de pessoal Chaimite V200 7,3 Ton 4x4 m/1967 (Parte III). In Jornal do Exército nº 397
Costa, Luís (1993, Fevereiro). Viatura blindada de transporte de pessoal Chaimite V200 7,3 Ton 4x4 m/1967 (Parte III). In Jornal do Exército nº 398
Machado, Miguel Silva (2009, Julho/Agosto) Quando a Força Aérea quis comprar ...Chaimites!. In n.º 380 da Revista "Mais Alto" da Força Aérea Portuguesa
Machado, Miguel Silva (04,Novembro). Chaimite, o começo esteve para ser... na Força Aérea. In Operacional http://www.operacional.pt/chaimite-o-comeco-esteve-para-ser-na-forca-aerea/

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n o Monteiro, Pedro Manuel (2018). Berliet, Chaimite e UMM: Os Grandes Veículos Militares Nacionais. Lisboa: Contra a Corrente. pp. 26 a 55 
  2. Mendes Paulo, João Luiz (2006). Elefante Dundum: Missão, Testemunho e Reconhecimento. Lisboa: Edição de Autor 
  3. Luís Almeida d'Eça. "E depois do adeus". Agenda Cultural Lisboa, abril 2011, nº 245. Câmara Municipal de Lisboa. p. 9.

Equipamento do Exército Português

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