Cidade Eclética – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Cidade Eclética é uma comunidade religiosa da Fraternidade Eclética Espiritualista Universal situada em Santo Antônio do Descoberto no Estado de Goiás.

O fundador e a fundação[editar | editar código-fonte]

Oceano de Sá, nasceu em Alagoas, em 23 de fevereiro de 1911. Teve 14 irmãos. Foi militar no Batalhão de Caçadores de Mato Grosso, onde se casou aos 18 anos e teve dois filhos.

Em 1932, participou da Revolução Constitucionalista. Viajou por outros países para fazer cursos ligados à aviação. No início da década de 1940, encontrava-se no Rio de Janeiro, onde participava da "Ordem Mística Esotérica", que tentava unificar a Umbanda. Depois se tornou um dissidente e fundou outro grupo denominado "Ecléticos Voadores", assim denominado, pois como era um grupo sem sede própria que se reunia onde a ocasião permitia.

Em 1944,sofreu um acidente com a queda do avião. Seu copiloto morreu e Oceano ficou internado em um hospital com muitos ferimentos. Três meses, desapareceu.

Entre 1945 e 1946, Oceano ressurgiu e começou a pregar a união das religiões em vários logradouros do subúrbio do Rio de Janeiro. Ele era um homem de altura mediana, com a pele tostada pelo sol, com barba e cabelos longos, veste clara e longa à semelhança de Jesus de Nazaré, que utilizava um cajado na mão, que se autodenominava como Mestre Yokaanam, o profeta que seria uma reencarnação de Elias e de João Batista. Oceano agia sozinho, razão pela qual iria futuramente se denominar como "O Solitário".

Antes do início das pregações solitárias, Oceano tinha participado de grupos que pregavam a pureza da Umbanda, e foi entre adeptos desses grupos, que Oceano conseguiu seus primeiros companheiros. O grupo começou a realizar reuniões de mediunidades, curas e pregações. Em 27 de março de 1946 a instituição foi oficialmente estabelecida com o nome de Fraternidade Eclética Espiritualista Universal, na Avenida Presidente Vargas.

Yokaanam, que havia se separado de sua esposa , para se dedicar completamente à sua obra, passou a morar na sede da Fraternidade juntamente com alguns discípulos e suas famílias. Entre os meses de novembro e dezembro, o grupo distribuía alimentos, remédios e roupas entre os necessitados. Em 1947, o grupo fundou o jornal "O Nosso".

Em 1949, a primeira constituição estatutária do grupo foi registrada no Cartório Oficial de Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro.

Em 1956, o grupo adquiriu terras a nove quilômetros de Santo Antônio do Descoberto, que na época era um distrito de Luziânia, a vinte e sete quilômetros de Brasília para construir a Cidade Eclética.

Em 31 de outubro de 1956, 300 famílias deixaram o Rio de Janeiro para construir a Cidade Eclética em um movimento que foi denominado como "O Êxodo". Nos primeiros dias os integrantes da Cidade Eclética, que se autodenominam como fraternários, moravam em barracas.

A Comunidade conta com uma parte externa, acessível aos visitantes, onde fica a Avenida São João, que é a principal rua do lugar, que também conta com um cemitério, uma cooperativa, uma padaria, uma prefeitura social, uma sapataria, um hospital, um templo e um hotel. Além da parte externa, existe a zona residencial proibida a estranhos onde o acesso é permitido somente aos seguidores sócios da comunidade.

Na parte interna existem residências construídas em alvenaria, a cozinha comum, um colégio, onde órfãos das cidades vizinhas podiam ser alojados, oficinas, uma lavanderia, uma creche, um rádio amador, a administração, um campo de futebol e um aeroporto. Perto do templo, existe uma barraca de lona que servia como moradia simples e despojada para Oceano[1].

A Comunidade na Década de 1970[editar | editar código-fonte]

Na década de 1970 a comunidade contava com cerca de 1.000 integrantes, a maioria oriunda do meio rural ou de pequenas cidades e com um baixo nível educacional. Alguns adeptos diziam que se juntaram ao grupo após terem sido curados. A comunidade produzia arroz, feijão, mandioca, tinha uma granja para produção de ovos e frangos, porcos e um pequeno rebanho de gado. Outras fontes de renda vinham:

  1. do pequeno comércio instalado na parte externa da cidade (farmácia, lanchonete, mercadinho, hospital, alfaiataria, oficina mecânica, barbearia, sapataria, padaria, posto de gasolina e o hotel) que tinha como clientes as pessoas que vinham visitar o templo em dias de culto. O número visitantes era estimado em cerca de 900 por semana;
  2. da ajuda de adeptos que desenvolviam atividades no Rio de Janeiro, em Anápolis, Formosa (Goiás), Unaí, Paracatu (Minas Gerais) e no Paraguai;
  3. do rendimento de internos aposentados ou que eram servidores públicos não concursados que trabalhavam no colégio e no hospital instalados na parte externa da cidade e que atendiam também pessoas que viviam nas vizinhanças;
  4. verba pública recebida para manter um orfanato que abrigava entre 250 e 300 órfãos.

O uso do dinheiro era proibido entre os internos. Quando os filhos dos internos completavam 18 anos, podiam deixar a comunidade, mas maioria permanecia ligado às suas famílias. O namoro era permitido a partir dos 18 anos para rapazes e aos 16 para as moças. Antes do início do namoro, o rapaz deveria requerer por escrito autorização para o pai da moça. Depois o pedido deveria ser aprovado também pelo Chefe do Gabinete da Família e pelo Mestre. Quando a autorização era concedida, essa era publicada no Boletim Interno e os jovens eram autorizados a se encontrar por uma hora 3 vezes por semana sob o controle dos pais do casal. Depois de seis meses o namoro poderia ser convertido em noivado, com as mesmas autorizações requeridas para o namoro.

Os jovens tinham atividades de lazer como tênis de mesa, futebol, natação, acampamentos, banhos nos riachos, dois ou três bailes por ano. Os adultos passavam o tempo livre se visitando ou batendo papo. Não havia aparelhos de televisão e poucas famílias tinham rádio.

É proibido o consumo do tabaco e de bebidas alcoólicas, as mulheres não utilizam maquiagem.[1].

Aspectos Religiosos[editar | editar código-fonte]

Oceano acreditava que "o Cristianismo reúne... não divide!" e que todas as religiões são boas e iguais perante Deus, razão pela qual se deveria buscar a unificação em uma doutrina Eclética que seria como centro neutral de gravidade incondicional e pacífica de todas as religiões e escolas do mundo, o cumprimento fidelíssimo e restaurador da Boa Nova, para a realização definitiva da sonhada Fraternidade Universal que era o propósito da nova religião.

O eixo principal da religião Eclética era Kardecista e Umbandista de linha oriental. Os rituais Umbandistas de linha oriental são desprovidos de muitos apetrechos, são mais esotéricos e com um cunho kardecista mais acentuado. Deus é concebido como o Ser Supremo, nomeado como Adonay, o Grande Arquiteto (influência maçônica) do Universo; a pessoa de Jesus Cristo é invocada como Mestre dos Mestres e nunca como Filho de Deus; é nosso irmão maior, filho de José, o carpinteiro e de Maria de Nazaré. É defendida a prática da caridade mediante sua forma assistencial, a reencarnação como teoria, a comunicação com os espíritos, a mediunidade, o passe, o livros do codificador Allan Kardec, o Evangelho segundo o Espiritismo. O linguajar religioso fala de incorporação, chamamento do guia, corrente magnética, Mestre Quatro Luas (São Jerônimo) como guia espiritual da Cidade. O principal livro da doutrina é "Evangelho de Umbanda Eclética". Os rituais de quarta-feira e domingo são mais próximo da Umbanda, os de sexta-feira são rituais Kardecistas, que se desenvolvem ao redor de uma mesa.

Alguns aspectos do catolicismo foram incorporados: como celebração do Natal, da Semana Santa, de uma missa de Ação de Graças nos domingos pela manhã com rituais diferentes dos da Igreja Católica, mas bastante semelhantes.

Também existe a influência de religiões orientais: são encontrados quadros de Krishna; com frases orientais incentivando à oração e à contemplação; e com símbolos maçônicos. Se referiam ao Templo como Santuário Essênio do Brasil e das Américas.

Em 1976 foi publicada uma coletânea de máximas, intitulada: "Fundamentos da Doutrina Eclética".

Diversos pesquisadores afirmaram que o grupo tinha características messiânicas e milenaristas[1].

A Comunidade após a morte de seu fundador[editar | editar código-fonte]

A partir da morte de Oceano, em 21 de abril de 1985[2]. A comunidade passou a ser dirigida por um Conselho Espiritual Administrativo composto por 3 titulares e 3 suplentes. Após a morte do fundador o grupo perdeu suas características messiânicas e milenaristas. Também houve uma redução no número de fraternários que, em 2005, seriam cerca de 200[1].

Referências

  1. a b c d CIDADE ECLÉTICA: MESSIANISMO, CARISMA E ROTINIZAÇÃO Arquivado em 3 de março de 2016, no Wayback Machine., acesso em 24 de outubro de 2015.
  2. CRISTÃOS ECLÉTICOS E A NOVA JERUSALEM NO PLANALTO GOIANO, acesso em 25 de outubro de 2015.