Cidade murada de Kowloon – Wikipédia, a enciclopédia livre

A cidade murada: um grande bloco sólido de edifícios em ruínas, variando em altura, com muitos edifícios mais altos e alguns morros ao fundo.

Cidade murada de Kowloon era uma área densamente povoada, com cerca de 1.270.000 hab/km², degradada e sem governo, localizada em Kowloon, Hong Kong. Originalmente uma fortaleza militar chinesa, a cidade murada se tornou um enclave após os Novos Territórios terem sido arrendados para o Reino Unido em 1898. Sua população aumentou drasticamente após a ocupação de Hong Kong pelo Império do Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1987, a cidade murada tinha cerca de 33 mil residentes dentro de seu território de apenas 26 mil metros quadrados, sendo considerada a área de maior densidade demográfica de toda a história da Terra. [1][2] De 1950 até a década de 1970, foi controlada por tríades e tinha altos índices de prostituição, jogos de azar e uso de drogas.

Em janeiro de 1987, o governo de Hong Kong anunciou planos para demolir a cidade. Depois de um árduo processo de despejo, a demolição começou em março de 1993 e foi concluída em abril de 1994. O Parque da cidade murada de Kowloon foi inaugurado em dezembro de 1995 e ocupa a área da antiga cidade murada. Alguns artefatos históricos do local, incluindo construções yamen e restos de seu portão sul, foram preservados. Foi considerada a maior favela vertical da história.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Kowloon em 1898.

As origens da cidadela remontam a meados do século XIX, tendo o complexo se originado de uma fortificação militar, construída sobre as ruínas de um antigo posto de observação na Península de Kowloon.

Após a cessão da Ilha de Hong Kong para os britânicos em 1842 (Tratado de Nanquim), as autoridades imperiais chinesas julgaram necessário estabelecer um posto de observação militar para dominar a península e verificar periodicamente a eventual expansão da influência inglesa na área.

Em 1898, celebrou-se uma Convenção que cedeu outras porções do território chinês de Hong Kong para os ingleses, por 99 anos adicionais. A Convenção excluiu a Cidadela de Kowloon (então com população de cerca de 700 pessoas), que permaneceu no domínio da China, podendo esta manter tropas na península, desde que não interferissem nas atividades inglesas.

A Coroa inglesa logo desconsiderou esta parte do acordo, atacando Kowloon em 1899, mas encontrando-a completamente deserta. Nada foi feito com a Cidadela e a questão de sua propriedade foi deixada em segundo plano.

Uma das ruas da antiga cidade

Por volta de 1940, a Cidadela se converteu em uma vizinhança altamente populosa, toda concentrada dentro das suas muralhas. O enclave permaneceu como parte do território chinês a despeito das intensas mudanças políticas da China (queda da Dinastia Qing, estabelecimento da República e, finalmente, advento do Comunismo)

A cidadela permaneceu como uma curiosidade e uma atração turística para colonos e turistas ingleses, que podiam sentir, visitando suas vielas, como era a China dos tempos antigos.

Com a ocupação de Hong Kong em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, o Império do Japão evacuou a cidadela e a demoliu quase completamente (incluindo suas muralhas), para obter materiais de construção para obras militares.

Depois da rendição japonesa, a cidadela resistiu a diversas investidas inglesas, até 1948, para que a desocupassem. Sem muralhas para protegê-la, Kowloon tornou-se um refúgio certo para bandidos, salteadores e viciados em ópio, pois a polícia de Hong Kong não tinha direito de entrar na Cidadela e a China continental recusava-se a cuidar da questão.

Com o estabelecimento definitivo do Comunismo chinês, em 1949, milhares de refugiados (predominantemente de Cantão) emigraram para Kowloon. A Coroa inglesa já estava farta e passou a adotar um posicionamento mais interventivo na Cidadela. Um assassinato no interior das muralhas, em 1959, acendeu uma pequena crise diplomática e as duas nações ficaram tentando imputar uma a outra a responsabilidade pelo território, então completamente dominado pelas Tríades anti-Manchúria (o sindicato do crime organizado de Hong Kong).

O domínio das Tríades Chinesas durou até meados dos anos 1970, quando no biênio 1973-1974, cerca de 3.000 investidas policiais ocorreram na Cidadela de Kowloon, enfraquecendo brutalmente o poder de tais organizações criminosas.

Demolição[editar | editar código-fonte]

Maquete da antiga cidade murada.
Vista aérea da cidade murada de Kowloon no ano de 1989

Com o tempo, tanto o governo britânico quanto o chinês começaram a ver a cidade cada vez mais como um problema intolerável, apesar da baixa taxa de criminalidade relatada.[carece de fontes?] A qualidade de vida da cidade, em particular na área de condições sanitárias, estava muito aquém da do resto de Hong Kong. A Declaração Conjunta Sino-Britânica, em 1984, lançou as bases para a demolição da cidade. A decisão mútua para derrubar a cidade murada foi anunciado em 14 de Janeiro de 1987.[1]

O governo gastou cerca de US$ 350 milhões em compensação para os cerca de 33.000 moradores e empresas em um plano elaborado por uma comissão especial de Autoridade de Habitação de Hong Kong.[4] Alguns moradores não ficaram satisfeitos com a compensação e foram despejados à força entre novembro de 1991 e julho de 1992.[5] [6] Após quatro meses de planejamento,[7] a demolição da cidade murada começou em 23 de março de 1993[8] e concluída em abril de 1994. As obras de construção do Parque da Cidade Murada de Kowloon começaram no mês seguinte.[9]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b Goddard, Charles. «The Clearance». In City of Darkness: Life in Kowloon Walled City. [S.l.: s.n.] pp. 208–11 
  2. «Conheça a cidade que teve a maior densidade demográfica da terra». Catraca Livre. 24 de setembro de 2013. Consultado em 3 de agosto de 2021 
  3. vivercidades.org.br Arquivado em 12 de dezembro de 2010, no Wayback Machine. Especial: KOWLOON - A MAIOR FAVELA VERTICAL DO MUNDOAcessado em 28/02/2012.
  4. Lau, Esme (10 de dezembro de 1987). «$2.7 billion package for residents of Walled City» (PDF). Hong Kong Standard. (pede subscrição (ajuda)) 
  5. «Families evicted from slum city». Toronto Star. 28 de novembro de 1991. p. A3. Consultado em 25 de novembro de 2009. (pede subscrição (ajuda)) 
  6. Jonathan, Braude (3 de julho de 1992). «Last squatters evicted in Kowloon». The Times. Consultado em 25 de novembro de 2009 
  7. Kang-Chung, Ng (19 de março de 1993). «Work to start on slum area». South China Morning Post. p. 4. Consultado em 25 de novembro de 2009 
  8. Vines, Stephen (24 de março de 1993). «Demolition begins on HK's Walled City». Business Times. p. 4. Consultado em 25 de novembro de 2009 
  9. «Kowloon Walled City Park – History/Background». Leisure and Cultural Services Department. 21 de outubro de 2004. Consultado em 6 de novembro de 2013. Arquivado do original em 13 de janeiro de 2013 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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