Clonagem humana – Wikipédia, a enciclopédia livre

Representação de uma clonagem humana

Clonagem humana é o processo de produzir uma cópia geneticamente idêntica de um ser humano. O termo é empregado para se referir à clonagem de humanos produzida artificialmente, sendo que ele não é empregado para se referir ao nascimento de gêmeos idênticos, cultura de tecidos ou a cultura de células humanas.

Existem dois tipos comumente discutidos da clonagem humana: a clonagem terapêutica e a clonagem reprodutiva. A clonagem terapêutica envolve a clonagem de células de um adulto para uso em medicina e é uma área ativa de pesquisa, enquanto a clonagem reprodutiva implicaria fazer clones humanos. Clonagem reprodutiva ainda não foi realizada e é ilegal em muitos países.

Em maio de 2013, uma equipe de cientistas norte-americanos da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon, sob a coordenação do Dr. Shoukhrat Mitalipov, conseguiu pela primeira vez clonar embriões humanos e obter células tronco embrionárias,[1] através de uma técnica chamada de transferência nuclear, que deu origem no passado à ovelha Dolly e outros animais.[2] O feito, publicado na revista "Cell", poderá ajudar no tratamento do Mal de Parkinson e da diabetes.[3]

História[editar | editar código-fonte]

Apesar de a possibilidade da clonagem humana ter sido objeto de especulação por grande parte do século XX, cientistas e políticos começaram a tomar o assunto a sério por volta da década 60. O vencedor do Prêmio Nobel e geneticista Joshua Lederberg defendeu a clonagem e a engenharia genética em um artigo no American Naturalist em 1966 e, novamente, no ano seguinte, no Washington Post.[4] Essa discussão acendeu um debate com o bioeticista conservador Leon Kass, que escreveu na época em que "a reprodução programada do homem o desumaniza". Outro prêmio Nobel, James D. Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA, discutiu o potencial e os perigos da clonagem em um artigo de 1971.[5]

Atualmente, a tecnologia da clonagem de mamíferos, embora longe de ser confiável, chegou a um patamar no qual muitos cientistas são conhecedores das técnicas envolvidas, a literatura é acessível, e a aplicação das técnicas não são tão difíceis e caras quanto no passado. Por esse motivo, D. Lewis Eigen argumentou que as tentativas de clonagem humana serão realizadas nos próximos anos e que talvez algumas já podem até terem sido iniciadas.[6]

Tentativas de clonagem humana[editar | editar código-fonte]

  • Dr. Panayiotis Zavos, um médico de fertilidade norte-americano, revelou em 17 de janeiro de 2004 em uma conferência de imprensa em Londres que ele havia transferido um embrião recém-clonado para uma mulher de 35 anos de idade. Em 4 de fevereiro de 2004, verificou-se que a tentativa não funcionou e que a mulher não havia engravidado.[7][8]
  • Severino Antinori anunciou em 2006 ter feito em 2003 três clones humanos.[9]

Implicações éticas[editar | editar código-fonte]

Defensores da clonagem terapêutica acreditam que a prática poderia fornecer células geneticamente idênticas para a medicina regenerativa, e tecidos e órgãos para transplante. Essas células, tecidos e órgãos não provocariam uma resposta imune, não necessitando, assim, o uso de drogas imunossupressoras,[10] e também auxiliariam no tratamento de doenças graves como cancro, doença cardíaca e diabetes, bem como melhorias no tratamento de queimaduras e na cirurgia plástica reconstrutiva.[11]

Com relação com a clonagem com fins reprodutivos, alguns proponentes da área alegam que ela poderia auxiliar casais inférteis a ter filhos com pelo menos uma parte de seu DNA.[12]

Legislação atual[editar | editar código-fonte]

Nações Unidas[editar | editar código-fonte]

Em 17 de dezembro de 2001, a Assembleia Geral da ONU começou a elaborar uma convenção internacional contra a clonagem reprodutiva dos seres humanos. Uma ampla coalizão de países, incluindo Espanha, Itália, Filipinas, Estados Unidos, Costa Rica e a Santa Sé, procurou estender o debate a proibição de todas as formas de clonagem humana, pois na sua opinião, a clonagem terapêutica humana viola a dignidade humana. Como não foi possível chegar a um consenso, em Março de 2005, foi adotada a Declaração das Nações Unidas sobre a Clonagem Humana[13] a qual pedia pela proibição de todas as formas de clonagem humana, mas essa declaração não é obrigatória aos países membros.

Austrália[editar | editar código-fonte]

A Austrália havia proibido a clonagem humana.[14] Entretanto, em dezembro de 2006, um projeto de lei legalizando a clonagem terapêutica e a criação de embriões humanos para pesquisas com células-tronco foi aprovada pela Câmara dos Deputados. A clonagem terapêutica agora é legal em algumas partes da Austrália, dentro de certos limites e sujeito aos efeitos da legislação estadual.

União Europeia[editar | editar código-fonte]

A Convenção Europeia dos Direitos do Homem e a Biomedicina proíbe a clonagem humana em um de seus protocolos adicionais, mas este protocolo só foi ratificado pela Grécia, Espanha e Portugal. A Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, proíbe expressamente a clonagem humana reprodutiva. A carta é compulsória para todos os países e instituições membros da União Europeia.

Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Várias tentativas foram feitas para banir todo o tipo de clonagem humana (em 1998, 2001, 2004 e 2007), mas divisões políticas internas impediram que as propostas se tornassem lei. Em Março de 2010, foi introduzido um projeto de lei que proibia o financiamento federal para a clonagem humana.[15] Essa lei não impede a investigação em instituições privadas, como as universidades, que recebem verbas tanto do setor privado quanto do público. Atualmente, não existem leis federais que proíbam a clonagem, mas existem alguns estados que o fazem.[16]

Reino Unido[editar | editar código-fonte]

Em janeiro de 2001, foi aprovada a lei de Fertilização Humana e Embriologia a qual permite a utilização de embriões na investigação em torno de células-tronco, permitindo assim a clonagem terapêutica. No entanto, em 15 de novembro de 2001, um grupo pró-vida ganhou uma apelação na Suprema Corte do Reino Unido que derrubou a regulamentação e efetivamente deixou todas as formas de clonagem não regulamentadas. Eles esperavam que o Parlamento preenchesse esta lacuna com uma legislação proibitiva.[17][18] O resultado disso é que o Parlamento foi rápido ao passar o Ato sobre Clonagem Reprodutiva Humana, que proíbe explicitamente a clonagem reprodutiva. A lacuna legislativa remanescente em relação à clonagem terapêutica foi fechada quando os tribunais de apelação reverteram a decisão anterior da Suprema Corte.[19]

A primeira licença foi concedida em 11 de agosto de 2004 para investigadores da Universidade de Newcastle, que lhes permitam investigar tratamentos para diabetes, doença de Parkinson e doença de Alzheimer.[20]

Na cultura popular[editar | editar código-fonte]

A clonagem é um tema recorrente na ficção científica. Exemplos incluem os romances Os Meninos do Brasil, de Ira Levin e Um Desfile de Espelhos e Reflexões de Anatoly Kudryavitsky. No teatro, a peça R.U.R. (1920) de Karel Čapek, obra onde a palavra "robô" (criada por seu irmão Josef, ver: Irmãos Čapek)[21] surge pela primeira vez e, onde os "robôs" não eram mecânicos e sim, "orgânico-sintéticos" (mais assemelhados com os clones humanos).[22] Na televisão, a animação Star Wars: The Clone Wars, a série canadense Orphan Black , Kyle XY e a telenovela brasileira O Clone, de 2001, abordaram o tema. No cinema, filmes como Replicant, A Ilha, Æon Flux. A franquia de videogames Metal Gear Solid também gira em torno do conceito de clonagem e modificação genética. Não apenas a clonagem genética, mas também a cópia de todas as memórias da mente do clonado para a do clone, são abordadas nos filmes de ficção científica como é o caso de O Sexto Dia, de 2000, com Arnold Schwarzenegger. Blade Runner de 1982, apresenta o replicante, que é mais próximo do clone humano do que o robô (mecânico) atual.

Objeções religiosas[editar | editar código-fonte]

A Igreja Católica Romana, sob o papado de Francisco, condenou a prática da clonagem humana, afirmando que ela representa uma "grave ofensa à dignidade da pessoa, bem como à igualdade fundamental de todos os povos".

Os muçulmanos sunitas consideram que clonagem humana é proibida pelo Islã.[23]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. «Cientistas americanos conseguem clonar embriões humanos». O Globo. Consultado em 15 de maio de 2013 
  2. «Embryonic stem cells: Advance in medical human cloning». BBC News. Consultado em 15 de maio de 2013 
  3. «Cientistas obtêm células-tronco de embrião humano clonado». Folha de S Paulo. Consultado em 15 de maio de 2013 
  4. Joshua Lederberg. (1966). Experimental Genetics and Human Evolution. The American Naturalist 100, 915, pp. 519-531..
  5. Watson, James. "Moving Toward a Clonal Man: Is This What We Want?" The Atlantic Monthly (1971)
  6. Lewis D. Eigen (2010). «Scriptamus, Human Clones May Be Among Us Now! Who Is Ready?» 
  7. «Human clone attempt fails». Daily Mail. London 
  8. «Human cloning attempt has failed». BBC News. 4 de fevereiro de 2004 
  9. Agencia Estado (11 de novembro de 2006). «Médico diz que três clones humanos "vivem bem" na Europa». Arquivado do original em 19 de abril de 2013 
  10. Lanza RP, Chung HY, Yoo JJ; et al. (2002). «Generation of histocompatible tissues using nuclear transplantation». Nat. Biotechnol. 20 (7): 689–96. PMID 12089553. doi:10.1038/nbt703 
  11. [https://web.archive.org/web/20130502125744/http://www.ornl.gov/sci/techresources/Human_Genome/elsi/cloning.shtml#organsQ Arquivado em 2 de maio de 2013, no Wayback Machine. Cloning Fact Sheet
  12. Scientists Prepare To Clone a Human; Experiment Aims to Help Infertile. Washington Post, March 10, 2001
  13. [|url=http://www.un.org/law/cloning/]
  14. Prohibition of Human Cloning for Reproduction Act 2002 Arquivado em 7 de junho de 2009, no Wayback Machine. National Health and Medical Research Council, 12 June 2007
  15. «H. R. 4808 Stem Cell Research Advancement Act of 2009 -- SEC. 498F. Prohibition Against Funding For Human Cloning». 10 de março de 2010 
  16. «Human Cloning Laws». National Conference of State Legislatures (NCSL). Janeiro de 2008 
  17. SD Pattinson (2006). «Medical Law and Ethics». Sweet & Maxwell. ISBN 9780421889507 
  18. «Campaigners win cloning challenge». London: BBC News. 15 de novembro de 2001. Consultado em 6 de setembro de 2008 
  19. «Lords uphold cloning law». BBC News Online. London. 13 de março de 2003 
  20. «HFEA grants the first therapeutic cloning licence for research». HFEA. 11 de agosto de 2004. Consultado em 6 de setembro de 2008. Arquivado do original em 13 de janeiro de 2009 
  21. Alan David Kaye, Richard D. Urman (17 de agosto de 2017). «Perioperative Management in Robotic Surgery». Cambridge University Press, (em inglês). Consultado em 29 de agosto de 2020 
  22. Kate Devlin (18 de outubro de 2018). «Turned On: Science, Sex and Robots». Bloomsbury Publishing (Google Livros) (em inglês). Consultado em 29 de agosto de 2020 
  23. «Cópia arquivada». Consultado em 29 de março de 2019. Arquivado do original em 27 de abril de 2006 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]