Rota das especiarias – Wikipédia, a enciclopédia livre

As importantes rotas comerciais terrestres (vermelho) e marítimas (azul) bloqueadas pelo Império Otomano em 1453 após a queda de Constantinopla.

As rotas das especiarias foram rotas comerciais geradas pelo comércio de especiarias provenientes da Ásia. Estas rotas remontam à antiguidade greco-romana interligando diversos povos ao longo do tempo, da Europa à Ásia. Ligando importantes pontos comerciais e cruzando grande parte do mundo então conhecido, as rotas de especiarias para a Europa foram sucessivamente dominadas por mercadores do norte de e do Médio Oriente, pela República de Veneza no Mediterrâneo e, mais tarde, pelos portugueses que, com a descoberta do caminho marítimo para a Índia iniciariam uma rota marítima alternativa. A rota do Cabo, contornando África, viria a ser explorada também pelos Holandeses, entre outras potências europeias.As rotas das especiarias passavam por vários intermediários antes de serem revendidos na europa medieval

Rotas antigas[editar | editar código-fonte]

O comércio de especiarias da Índia atraiu a atenção da dinastia ptolomaica, e, posteriormente, do Império romano.

As civilizações asiáticas desenvolveram o comércio de especiarias desde a antiguidade, e o mundo greco-romano deu-lhe continuidade, comerciando ao longo das chamadas "rota do incenso" e "rota romana da índia".[1]

As rotas romanas da Índia beneficiaram da tecnologia marítima desenvolvida pela potência comercial do Reino de Axum (c. 400 a.C. a 1000 d.C.), pioneira na rota do Mar Vermelho antes do século I. Roma viria a relacionar-se com esta civilização em c. 30 a.C., partilhando o conhecimento até meados do século VII, quando os muçulmanos bloquearam as rotas terrestres de caravanas através do Egipto e do Suez, impedindo o acesso dos mercadores europeus a Axum e à Índia. Finalmente, os mercadores árabes assumiram o transporte de mercadorias para a Europa, através do Levante e dos comerciantes venezianos, até que, em 1453, a queda de Constantinopla provocou novo bloqueio da rota de comércio - agora, pelos turcos otomanos - o que aumentaria o custo já elevado das especiarias.

Um mercador de Lisboa descreve a rota das especiarias, antes da descoberta do caminho marítimo para a Índia:

«Desta terra de Calecute vai a especiaria que se come em Portugal e em todas as províncias do Mundo; vão também desta cidade muitas pedras preciosas de toda a sorte. Aqui carregam as naus de Meca a especiaria e a levam a uma cidade que está em Meca que se chama Judeia. E pagam ao grande sultão o seu direito. E dali a tornam a carregar em outras naus mais pequenas e a levam pelo Mar Ruivo a um lugar que está junto com Santa Catarina do Monte Sinai que se chama Tunis e também aqui pagam outro direito. Aqui carregam os mercadores esta especiaria em camelos alugados a quatro cruzados cada camelo e a levam ao Cairo em dez dias; e aqui pagam outro direito. E neste caminho para o Cairo muitas vezes os salteiam os ladrões que há naquela terra, os quais são alarves e outros.
«Aqui tornam a carregá-la outra vez em umas naus, que andam num rio que se chama o Nilo, que vem da terra do Preste João, da Índia Baixa; e vão por este rio dois dias, até que chegam a um lugar que se chama Roxete; e aqui pagam outro direito. E tornam outra vez a carregá-la em camelos e a levam, em uma jornada, a uma cidade que se chama Alexandria, a qual é porto de mar. A esta cidade de Alexandria vêm as galés de Veneza e de Génova buscar esta especiaria, da qual se acha que há o grande sultão 600 000 cruzados; dos quais dá, em cada ano, a um rei que se chama Cidadim 100 000 para que faça guerra ao Preste João."

Dos mercados de Veneza e Génova, eram espalhadas para toda a Europa estas especiarias, acrescidas imensamente no seu custo, e sem chegada garantida

Rota marítima do Cabo[editar | editar código-fonte]

Datas e primeiros contactos dos portugueses de 1415-1543 e rotas no Oceano Índico (azul)

As rotas terrestres iniciais viriam a ser substituídas por rotas marítimas, dando um enorme impulso no crescimento do comércio.[2] Durante a Idade Média comerciantes muçulmanos dominaram as rotas marítimas de especiarias no oceano Índico, dominando áreas chave e enviando as especiarias da Índia para ocidente, através do Golfo Pérsico e do mar Vermelho, a partir de onde seguiam por terra para a Europa com enormes custos.

O comércio de especiarias seria um importante fator para o início Era dos Descobrimentos.[3][4] Face ao custo das rotas convencionais, o proveito dos portugueses em estabelecer uma rota marítima - praticamente isenta de assaltos, apesar dos perigos no mar - mostrava-se recompensador e prometia um grande rendimento à Coroa. Portugal, que vinha avançando nos seus descobrimentos marítimos, iria ligar directamente as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados na Europa. A rota marítima para a Índia contornando África, pelo Cabo da Boa Esperança, foi descoberta em 1497 por Vasco da Gama, e transformou-se em uma nova rota de comércio.

Este comércio - que moveria a economia mundial desde o fim da Idade Média até aos tempos modernos[4] - marcaria a era de domínio europeu no Oriente.

Canais, como a Baía de Bengala, serviram de pontes para trocas culturais e comerciais entre diferentes culturas[5] à medida que diferentes países procuraram ganhar controlo do comércio ao longo das muitas rotas.[2] As rotas portuguesas foram limitadas pelos percursos, portos e nações difíceis de dominar. Mais tarde, os holandeses viriam a se tornar dominantes, conquistando território aos portugueses e fazendo a navegação directa desde o Cabo da Boa Esperança até ao estreito de Sunda, na Indonésia.

Notas[editar | editar código-fonte]

  1. Fage, John Donnelly; et al. (1975). The Cambridge History of Africa. Cambridge University Press. ISBN 0521215927-p.164
  2. a b "spice trade". Encyclopedia Britannica. Encyclopædia Britannica. 2002.
  3. Donkin, Robin A.
  4. a b Corn, Charles; Glasserman, Debbie (March 1999). The Scents of Eden: A History of the Spice Trade. Prólogo.
  5. Donkin, Robin A. (August 2003). Between East and West: The Moluccas and the Traffic in Spices Up to the Arrival of Europeans.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • "spice trade". Encyclopedia Britannica. Encyclopædia Britannica. 2002.
  • Donkin, Robin A. (August 2003). Between East and West: The Moluccas and the Traffic in Spices Up to the Arrival of Europeans. Diane Publishing Company. ISBN 0871692481.
  • Corn, Charles; Glasserman, Debbie (March 1999). The Scents of Eden: A History of the Spice Trade. Kodansha America. ISBN 1568362498.
  • Collingham, Lizzie (December 2005). Curry: A Tale of Cooks and Conquerors. Oxford University Press. ISBN 0195172418.
  • Rawlinson, Hugh George (2001). Intercourse Between India and the Western World: From the Earliest Times of the Fall of Rome. Asian Educational Services. ISBN 8120615492.
  • Fage, John Donnelly; et al. (1975). The Cambridge History of África. Cambridge University Press. ISBN 0521215927.
  • Ray, Himanshu Prabha (2003). The Archaeology of Seafaring in Ancient South Asia. Cambridge University Press. ISBN 0521011094.
  • Crone, Patricia (2004). Meccan Trade And The Rise Of Islam. Gorgias Press LLC. ISBN 1593331029.
  • Shaw, Ian (2003). The Oxford History of Ancient Egypt. Oxford University Press. ISBN 0192804588.
  • Ball, Warwick (2000). Rome in the East: The Transformation of an Empire. Routledge. ISBN 0415113768.
  • Lach, Donald Frederick (1994). Asia in the Making of Europe: The Century of Discovery. Book 1.. University of Chicago Press. ISBN 0226467317.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]