Constantino Lecapeno – Wikipédia, a enciclopédia livre

Constantino Lecapeno
Coimperador bizantino
Constantino Lecapeno
Miliarésio de 931-944 com busto Romano I numa cruz no anverso e os nomes de Romano e seus coimperadores Constantino VII, Estêvão e Constantino Lecapeno no reverso.
Reinado fl. 924-945
Morte entre 946-948
Dinastia Macedônica
Pai Romano I Lecapeno
Mãe Teodora
Religião Cristianismo

Constantino Lecapeno (em grego: Κωνσταντίνος Λακαπηνός; romaniz.:Ko̱nstantínos Lekapi̱nós) foi o terceiro varão do imperador bizantino Romano I Lecapeno (r. 920–944) com Teodora, e coimperador de 924 a 945. Junto com seu irmão mais velho Estêvão, depôs Romano I em dezembro de 944, apenas para serem derrubados e exilados pelo imperador legítimo Constantino VII (r. 913–959) poucas semanas depois. Constantino foi exilado na ilha de Samotrácia, onde foi morto enquanto tentou escapar em algum momento entre 946 e 948.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Família[editar | editar código-fonte]

Constantino foi um dos filhos mais jovens de Romano I e sua esposa Teodora. Teófanes Continuado menciona-o como o filho mais jovem do casal imperial, enquanto o cronista do século XI Jorge Codino menciona-o como o terceiro dos quatro varões conhecidos. Seus irmãos mais velhos foram Cristóvão Lecapeno (coimperador em 921–931) e Estêvão Lecapeno (coimperador em 924–945). É incerto se Teofilacto (patriarca de Constantinopla em 933–956) foi seu irmão mais novo ou um pouco mais velho. Suas irmãs incluem Helena, casada com Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959), e Ágata, que casou-se com Romano Argiro. Ele provavelmente também teve ao menos duas irmãs de nome desconhecido, conhecidas apenas devido ao casamento delas com os magistros Romano Mosele e Romano Saronita.[1][2]

Reinado[editar | editar código-fonte]

Fólis com o busto de Romano no anverso
Soldo de Romano II (r. 959–963) e Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959)

Romano Lecapeno ascendeu ao poder em 919, quando conseguiu nomear-se regente sobre o jovem Constantino VII e casar sua filha Helena com ele. Dentro de um ano, ascendeu sucessivamente de basileopátor para césar, e foi finalmente coroado imperador sênior em 17 de dezembro de 920.[3] Para consolidar sua permanência no poder, e com o objetivo de suplantar a reinante dinastia macedônica com sua própria família, ascendeu seu filho mais velho Cristóvão como coimperador em maio de 921. Constantino e seu irmão Estêvão foram proclamados coimperadores em 25 de dezembro de 924.[4][5]

Após a morte prematura de Cristóvão em 931, e dado a marginalização de Constantino VII, Estêvão e Constantino assumiram um maior destaque, embora formalmente ainda classificaram seu cunhado no colégio dos imperadores.[6] Em 939, Constantino casou-se com sua primeira esposa Helena, uma filha do patrício Adriano, um armênio.[7] Simeão Magistro registra a morte de Helena em 14 de janeiro de 940, e em 2 de fevereiro do mesmo ano, Constantino casou-se com sua segunda esposa, Teófano Mamas. Ele teve um filho, chamado Romano, mas não é registrado de qual de suas esposas.[8][9] Este Romano foi castrado em 945, após os Lecapenos perderem o poder, para evitar que reivindicasse o trono imperial. Ele, no entanto, seguiu uma carreira na corte, posteriormente alcançando o posto de patrício e eparca de Constantinopla.[10]

Constantino e Estêvão Lecapeno vieram a tona em 943, quando opuseram-se ao casamento dinástico do sobrinho deles, Romano II. O pai deles queria ter seu neto mais velho sobrevivente casado com Eufrósine, uma filha do general bem sucedido João Curcuas. Embora tal iniciativa efetivamente cimentasse a lealdade do exército, isso também fortaleceria a posição da legítima linha macedônica, representada por Romano II e seu pai Constantino VII, sobre as reivindicações dos próprios filhos de Romano.[11][12][13] Preventivamente, Estêvão e Constantino opuseram-se à decisão, e prevaleceram sob seu pai, que a esta altura estava doente e velho, demitindo Curcuas no outono de 944.[14][15] Romano II como alternativa casou-se com Berta, uma filha ilegítima de Hugo de Arles, rei da Itália, que mudou seu nome para Eudóxia após o casamento.[4][16]

Grande Palácio de Constantinopla
Soldo de ouro de Constantino VII Porfirogênito (r. 913–959)

Com Romano I se aproximando do fim da vida, a questão de sua sucessão tornou-se urgente. Em 943, Romano elaborou um testamento que deixava Constantino VII como o imperador sênior após sua morte. Isto perturbou enormemente os dois irmãos, que temiam que o cunhado deles iria depô-los e forçá-los a tomar votos monásticos. Motivados, na opinião de Steven Runciman, parcialmente pela auto-preservação e parcialmente por ambição genuína, eles começaram a planejar tomar o poder através dum golpe de Estado, com Estêvão aparentemente como líder e Constantino um parceiro relutante.[17]

Dentre seus companheiros estavam Mariano Argiro, o protoespatário Basílio Petino, Manuel Curcita, o estratego Diógenes, Clado, e Filipe. Cedreno, contudo, considera Petino como um agente a mando de Constantino VII. Em 20 de dezembro de 944, os conspiradores definiram seu plano em movimento. Os dois irmãos passaram clandestinamente seus apoiantes no Grande Palácio de Constantinopla durante a pausa das atividades do meio-dia. Eles então lideraram seus homens para o aposento de Romano I, onde facilmente capturaram o "homem velho e doente". Foram capazes de transportá-lo para o porto mais próximo e de lá para Prote, uma das ilhas dos Príncipes e um lugar de exílio popular. Lá, Romano concordou em tomar votos monásticos e retirar-se do trono.[18]

Tendo conseguido depor calmamente seu pai, os irmãos agora tinham que lidar com Constantino VII. Infelizmente para eles, rumores logo se espalharam por Constantinopla, no sentido de que, após a deposição de Romano, a vida de Constantino VII estava em perigo. Em pouco tempo, multidões se reuniram diante do palácio, exigindo ver o imperador em pessoa. O historiador lombardo contemporâneo Liuprando de Cremona nota que os embaixadores e enviados de Amalfi, Gaeta, Roma e Provença presentes na capital também apoiaram Constantino VII. Estêvão e seu irmão haviam sucumbido ao inevitável, reconhecendo seu cunhado como o imperador sênior.[19] O novo triunvirato durou cerca de 40 dias. Os três imperadores logo nomearam novos líderes para os serviços militares. Bardas Focas, o Velho foi nomeado como o novo doméstico das escolas, Constantino Gongila como chefe da marinha bizantina. Petino tornou-se patrício e grande heteriarca, Argiro foi nomeado conde do estábulo, Curcita um patrício e drungário da guarda.[20] Em 26 de janeiro de 945, contudo, por insistência de sua irmã, a augusta Helena, outro golpe removeu os dois Lecapenos do poder e restaurou a autoridade imperial única de Constantino VII.[21][22]

Exílio[editar | editar código-fonte]

Inicialmente, os dois irmãos foram enviados para Prote. Os cronistas bizantinos têm que o pai deles os recebeu citando uma passagem do Livro de Isaías, especialmente Capítulo 1.2: "Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra, porque fala Jeová: Nutri e fiz crescer filhos, mas eles se rebelaram contra mim".[23] Liuprando de Cremona, contudo, faz um relato ligeiramente diferente, afirmando que Romano recebeu seus filhos com um sarcasmo amargo, agradecendo-os por não esquecerem-se dele e desculpando os monges pela ignorância deles em receber imperadores adequadamente.[21] Constantino foi logo transportado para Tênedos, e então para Samotrácia. Ele acabou por ser morto enquanto tentou escapar da ilha. A data exata é desconhecida, mas desde que Teófanes Continuado afirma que o exilado Romano I teve um pesadelo com a descida de seu filho para o Inferno no momento da morte de Constantino, ela pode ser colocada entre 946 e a morte de Romano em 948.[24]

Referências

  1. Kazhdan 1991, p. 1204.
  2. «ROMANOS Lekapenos» (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2014 
  3. Runciman 1988, p. 59–62.
  4. a b Kazhdan 1991, p. 1806.
  5. Runciman 1988, p. 64–67.
  6. Runciman 1988, p. 78–79.
  7. Charanis 1963, Chapter II, p. 43.
  8. «Konstantinos Lekapenos» (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2014 
  9. Runciman 1988, p. 78.
  10. Runciman 1988, p. 234.
  11. Runciman 1988, p. 230–231.
  12. Treadgold 1997, p. 484–485.
  13. Holmes 2005, p. 131–132.
  14. Runciman 1988, p. 146.
  15. Treadgold 1997, p. 485.
  16. «ROMANOS» (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2014 
  17. Runciman 1988, p. 231–232.
  18. Runciman 1988, p. 232.
  19. Runciman 1988, p. 232–233.
  20. Runciman 1988, p. 233.
  21. a b Runciman 1988, p. 234.
  22. Treadgold 1997, p. 486.
  23. «Tradução Brasileira da Bíblia/Isaías/I» (em inglês). Consultado em 9 de maio de 2014 
  24. Runciman 1988, p. 234–235.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Charanis, Peter (1963). The Armenians in the Byzantine Empire. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian 
  • Holmes, Catherine (2005). Basil II and the Governance of Empire (976–1025). Oxford: Oxford University Press. ISBN 978-0-19-927968-5 
  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Runciman, Steven (1988). The Emperor Romanus Lecapenus and His Reign: A Study of Tenth-Century Byzantium (em inglês). Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 0-521-35722-5 
  • Treadgold, Warren (1997). A History of the Byzantine State and Society (em inglês). Stanford, Califórnia: Stanford University Press. ISBN 0-8047-2630-2