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Corina Freire
Corina Freire
Corina Freire na década de 1920 (Augusto Bobone, Museu Nacional do Teatro e da Dança)
Nome completo Corina Carlos Freire
Nascimento 14 de dezembro de 1897
Silves, Faro, Reino de Portugal
Nacionalidade português
Morte 5 de outubro de 1986 (88 anos)
Lisboa, Portugal
Ocupação Cantora lírica soprano, atriz e professora de canto
Cartaz do filme A Canção do Berço (1930) produzido pela Paramount Pictures e realizada pelo cineasta brasileiro Alberto Cavalcanti, com interpretações de Corina Freire, Esther Leão e Alexandre de Azevedo (versão adaptada do filme norte-americano Sarah and Son).

Corina Freire (Silves, 14 de dezembro de 1897Lisboa, 5 de outubro de 1986) foi uma cantora lírica soprano, atriz, professora de canto, compositora de marchas populares e empresária teatral portuguesa.[1][2][3]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascida Corina Carlos Freire a 14 de dezembro de 1897 em Silves, no Algarve, era filha de João José Freire, farmacêutico e proprietário de terras, e de Bazília Nunes de Sousa, sendo apenas legitimada após estes se casarem a 19 de agosto de 1905.[1][4] Crescendo no seio de uma família abastada, onde prevalecia o gosto pelas artes, foi-lhe permitido desenvolver, desde criança, a aprendizagem e o gosto pelo canto e pela música, sendo todos os seis filhos do casal Freire exímios violoncelistas, violinistas, guitarristas e pianistas. Com dez anos de idade, Corina integrou, como pianista, um grupo de música de câmara formado pelos seus irmãos e organizado pelo seu pai, que tocava rabecão, ingressando poucos anos depois no curso de piano do mestre Vianna da Mota no Conservatório de Música,[5] tal como a sua irmã Albertina Freire, que concluiu os cursos de violino e piano com 20 valores em ambos os instrumentos.[6]

Com apenas 17 anos de idade casou-se em Portimão, deixando temporariamente suspensos os seus planos de fazer carreira artística. Três anos depois, em 1921, findo o seu casamento, rumou a Lisboa, onde trabalhou como pianista e cantora na Casa Valentim de Carvalho.[1][7] Descoberta por Alfredo Ferreira dos Anjos, 1º Conde de Fontalva, foi convidada para atuar como cantora lírica em recitais,[8] onde cantava lied acompanhada pelo violinista espanhol Francisco Benetó e os pianistas Lourenço Varela Cid e Vianna da Mota.[9]

Em 1927 estreou-se no teatro de revista com o vaudeville "Rosas de Portugal" da autoria de Silva Tavares, António Carneiro e José Romano, no Cine-Teatro Éden, integrando depois o elenco de várias peças, tais como "O Manjerico", "Fogo de Vista" e "Feira da Alegria" no Teatro da Avenida, ou "Chá de Parreira", "Balancé", "Arca de Noé", "Pega-me ao Colo" e "Rua da Paz", entre outras. A sua última aparição neste género foi em 1939 com a peça teatral "O Mar também tem amantes", cujos figurinos e cenários estavam a cargo do artista plástico António José Pinto de Campos.[10]

Devido ao sucesso da sua performance na canção "Camélias de Sintra" da peça "A Rambóia" (1928),[11] com a introdução do cinema sonoro em Portugal, Corina Freire foi convidada pela Paramount Pictures para viajar a Paris e ser a protagonista do primeiro filme sonoro português, uma versão portuguesa do filme de "Sarah and Son" (1930), sendo titulado "A Canção do Berço" (1930),[12] contando no elenco com as performances de Raul de Carvalho, Esther Leão, Alves da Costa e Alexandre de Azevedo. Durante a mesma estadia, Corina Freire interpretou ainda o papel de protagonista na versão portuguesa de "The Laughing Lady" (1931) de Victor Schertzinger, conhecida como "A Dama que Ri", com realização de Jorge Infante (1931) e o mesmo elenco.[13][14]

Em 1931, como empresária teatral, em parceria com António Macedo, lançou a peça de teatro de revista "O Mexilhão", no Teatro das Variedades, tornando-se famoso o dueto com Beatriz Costa, acompanhado pelo bailarino Francis Graça.[15] Produziu ainda as revistas "A bola" (1931), "Pato marreco" (1931), com Beatriz Costa e Ema de Oliveira no elenco principal, e "Pirilau" (1932).[16]

Disfrutando do seu sucesso e notoriedade, viajou pela Europa, onde em França, foi a vencedora do concurso Le plus beau sourire de Paris (O mais belo sorriso de Paris) em 1935, recebeu um contrato pelo Casino de Paris para representar e integrar o espetáculo "Parade du Monde", ao lado de Maurice Chevalier, e tornou-se na primeira portuguesa a atuar no Olympia de Paris.[17] Durante esse período, começou uma relação amorosa com a escultora portuguesa Ana de Gonta Colaço, tendo viajado em conjunto para Tânger e Inglaterra, onde cantou, em 1936, para a corte inglesa e Eduardo VIII, Príncipe de Gales, depois duque de Windsor.[7] Partiu depois para o Brasil, onde viveu durante seis meses e fez diversas digressões pelo país. Em 1947 viajou novamente para o Brasil para atuar na rádio e na televisão.

Após se retirar dos palcos, por volta de 1940, em Portugal, dedicou-se à composição de marchas populares,[18] sendo a autora da música "Lisboa Enamorada".[19] Reconhecida com o segundo prémio no concurso Novos Compositores da Emissora Nacional, tornou-se também professora de canto ao dar aulas particulares, nomeadamente ao seu sobrinho-neto, António Calvário,[7][20] e aos cantores Marco Paulo e Tonicha, entre outros.[21]

Faleceu a 5 de outubro de 1986, em Lisboa, aos 88 anos, sendo sepultada no talhão dos artistas do Cemitério dos Prazeres, na mesma cidade.[2]

Filmografia[editar | editar código-fonte]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

O seu nome faz parte da toponímia da cidade de Faro.[22]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. a b c Mariz, Paulo (5 de dezembro de 2019). «Corina Freire (1897-1975)». Consultado em 15 de janeiro de 2021 
  2. a b «Corina Freire». Casa Comum. Diário de Lisboa: 24. 6 de outubro de 1986 
  3. Nery, Rui Vieira (1991). History of Music (em inglês). [S.l.]: Europália 
  4. «Corina Freire (1897-1975) Registo de Baptismo». Arquivo Distrital de Faro. 5 de dezembro de 2019. Consultado em 29 de julho de 2023 
  5. Ritmo (em espanhol). [S.l.: s.n.] 1949 
  6. Leiria, César (1946). Arquivo musical portugués. [S.l.]: ill. 
  7. a b c Marreiros, Glória (2000). Quem foi Quem? "00 Algarvios do século XX. Lisboa: Edições Colibri. pp. 213–216. ISBN 972-772-192-3 
  8. Coelho, José Dias (1999). Leiria entre 1920 e 1940: sociabilidade e vida quotidiana. [S.l.]: Ediçõ Magno 
  9. Notícias. [S.l.]: A Comissão. 1998 
  10. Santos, Graça Dos (8 de dezembro de 2020). Le spectacle dénaturé: Le théâtre portugais sous le règne de Salazar (1933-1968) (em francês). [S.l.]: CNRS Éditions via OpenEdition 
  11. Dix, Steffen (5 de julho de 2017). Portuguese Modernisms: Multiple Perspectives in Literature and the Visual Arts (em inglês). [S.l.]: Routledge 
  12. Hollywood Quarterly (em inglês). [S.l.]: University of California Press. 1955 
  13. Waldman, Harry (2000). Missing Reels: Lost Films of American and European Cinema (em inglês). [S.l.]: McFarland 
  14. Cruz, José de Matos (1998). Cinema português: o dia do século. [S.l.]: Grifo 
  15. Castro, Maria João (22 de fevereiro de 2022). O Essencial sobre os Ballets Russes em Lisboa. [S.l.]: INCM 
  16. «Pirilau: revista em 2 actos e 17 quadros -». pesquisa.adporto.arquivos.pt. Consultado em 23 de abril de 2024 
  17. Crowninshield, Frank (1931). Vanity Fair (em inglês). [S.l.]: University Microfilms 
  18. Office, Library of Congress Copyright (1961). Catalog of Copyright Entries: Third series (em inglês). [S.l.: s.n.] 
  19. Marreiros, Glória (2001). Quem foi quem?: 200 algarvios do Séc. XX. [S.l.]: Edições Colibri 
  20. Carvalho Ferreira, Catarina (7 de dezembro de 2018). «António Calvário "As admiradoras escreviam: 'Se não estiver comigo, é porque é maricas'"». Notícias ao Minuto. Consultado em 29 de julho de 2023 
  21. «Corina Freire». Meloteca - Plataforma Digital para a Preservação da Memória Musical Portuguesa. Consultado em 29 de julho de 2023 
  22. «Recordamos hoje, no dia em passa mais um aniversário do seu nascimento, a Cantora Lírica, Corina Freire.». Ruas com história. 14 de dezembro de 2018. Consultado em 29 de julho de 2023