Crítica de cinema – Wikipédia, a enciclopédia livre

Debate entre os críticos de cinema Jeffrey Lyons e Scott Mantz, mediado pelo repórter Ben Lyons, no Festival Internacional de Filmes de San Diego, em 2016.

Crítica de cinema é o exame de um filme, feito de modo a estabelecer um valor comparado a um objetivo final, como a verdade, o belo etc..[1]

É uma modalidade de análise da obra cinematográfica que possui características discursivas próprias,[2] e que, segundo Fernão Ramos, evoluiu de modo empírico, no sentido de uma busca de respostas aos questionamentos "com base em evidências disponíveis fora dos limites da mente do observador" e "formulam suas interpretações a partir de evidência intersubjetivamente disponível no texto".[3]

Ramos cita a visão de uma teórica, onde "a crítica é uma arte, não uma ciência".[3] Já o professor Vitor A. Melo acentua que sua relação de espectador com um filme tem início antes mesmo da ida ao cinema, com a leitura da crítica especializada publicada em jornais. Após refletir sobre a obra, este volta à crítica, a fim de estabelecer um "diálogo com o que foi escrito".[4]

Tipos de crítica cinematográfica[editar | editar código-fonte]

A crítica pode ser de dois tipos: externa, quando compara o filme nos seus contextos de produção e de recepção; ou pode ser interna ou imanente, quando avalia a obra em si mesma. O termo também se estende aos juízos e comentários, bem como à pessoa que os produz.[1]

A crítica difere da análise; nela, existe uma junção de juízo de valor com informação, ao passo que a análise tem a proposta de interpretar a obra e também esclarecer o seu funcionamento.[1]

Crítica acadêmica de filmes[editar | editar código-fonte]

Na disciplina de filmologia, os críticos exploram o cinema além dos limites das críticas de jornal. Eles procuram explicar por que os filmes funcionam, como eles operam esteticamente e politicamente, o que significam, e quais os seus efeitos sobre a população. Em vez de publicações de massa, seus artigos costumam ser publicados em jornais acadêmicos de editoras universitárias.

A crítica acadêmica de filmes costuma apresentar um resumo do enredo do filme. Logo em seguida, costuma haver uma discussão do contexto cultural do filme e de seus temas principais, bem como de seu legado para a sociedade.[5]

Alguns notáveis críticos acadêmicos de filmes foram André Bazin, Jean-Luc Godard e François Truffaut (todos eles escreveram para a revista Cadernos do cinema), Kristin Thompson, David Bordwell e Sergei Eisenstein. Godard, Truffaut e Eisenstein também foram diretores de cinema.

História[editar | editar código-fonte]

O cinema surgiu no final do século XIX. As primeiras críticas de cinema surgiram no início do século XX. O primeiro jornal a publicar uma crítica de cinema foi o "A lanterna ótica e jornal de cinematógrafo", seguido pelo Bioscope em 1908.[6] O cinema é uma forma relativamente nova de arte, em comparação à música, literatura e pintura, que já existem desde os tempos antigos. Os primeiros escritos sobre filmes procuravam defender a ideia de que os filmes eram uma forma de arte. Em 1911, Ricciotto Canudo escreveu um manifesto proclamando que o cinema era a "sexta arte" (posteriormente, "sétima arte").[7] Nas décadas seguintes, o cinema continuaria a ser tratado como uma forma menor de arte.[8]

Na década de 1920, os críticos analisavam os filmes mais por seu mérito do que pelo mero entretenimento. A crescente popularidade do cinema fez com que os jornais passassem a contratar críticos de cinema.[6] Na década de 1930, a indústria do cinema desenvolveu o conceito de astro de cinema. Concomitantemente, também ocorreu um aumento da importância dos críticos de cinema.

Na década de 1940, as críticas de cinema passaram a defender as ideias do crítico com charme e estilo, aumentando a importância da crítica de cinema nos jornais e revistas.[6]

Críticos[editar | editar código-fonte]

Os críticos de cinema raramente são jornalistas formados. Entre eles, duas modalidades existem, conforme o meio para o qual escrevem: os que se dedicam aos jornais têm, no conteúdo informativo, a tônica principal, ao passo que aqueles que escrevem para revistas fazem um trabalho próximo ao do crítico de arte ou do analista.[1]

Grandes críticos também foram teóricos do cinema, como André Bazin, Barthélemy Amengual, James Agee, Gilbert Seldes e Umberto Barbaro; outros também procuravam emitir sua opinião pessoal, emitindo um juízo de valor, como Jean Duchet e Manny Farbet.[1] No Brasil, destacaram-se Wilson Cunha[9] e Rubens Ewald Filho.[10]

Crítica de cinema e internet[editar | editar código-fonte]

Nos Estados Unidos, havia programas de televisão célebres dedicados à crítica cinematográfica, que, ao fim da primeira década do século XXI, foram deixando de ser exibidos. O editor Clarence Page, do Chicago Tribune, reputa o advento da internet como o responsável pelo fim, em agosto de 2009, do programa específico da ABC-Disney, e o anúncio feito, em abril de 2010, do encerramento do antigo programa apresentado por Roger Ebert.[11]

Page lamenta o fim dos grandes críticos, que, segundo ele, não são competitivos em relação à massa de informações "idiotas" da rede mundial de computadores.[11]

Agregador de críticas[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Agregador de críticas

Alguns sites, como o Metacritic, Rotten Tomatoes e RateTheFilm, mostram como melhorar a utilidade de resenhas de filmes, compilando-as e atribuindo uma pontuação para cada filme, a fim de avaliar a recepção geral que um filme recebe. Outros sites, como Spill.com, possuem classificações de como "alugá-lo", para dizer, ao espectador, em qual configuração assistir ao filme, em vez de uma pontuação numérica. Alguns vão tão longe a ponto de recomendar o número de cervejas que você precisa para desfrutar de um filme, como MovieBoozer.[12]

O Online Film Critics Society, uma associação profissional internacional de revisores de cinema baseados na Internet, é composta por escritores de todo o mundo, e é considerado o maior prêmio da crítica na Internet.[13] Para sites de filmes independentes, há o IndyRed, feito para comentar títulos de filmes independentes amadores e, em seguida, contar com redes sociais para espalhar as revisões.[14] Sites como este estão preenchendo a lacuna entre Hollywood e cineastas independentes. Uma série de sites permite que os usuários da internet enviem críticas de filmes e pontuações para permitir uma revisão de consenso amplo de um filme.

Mais específicos[editar | editar código-fonte]

Alguns sites são especializados em aspectos estreitos de revisão. Por exemplo, os que se concentram nos avisos de conteúdo específico para os pais, para avaliar a adequação de um filme para crianças, por exemplo, o Screen it! (em português: tela-o!).[15] Outros se concentram em uma perspectiva religiosa (por exemplo, o CAP - ChildCare Action Project).[16] Outros, ainda, destacam os assuntos mais esotéricos, como a representação de filmes de ficção científicaː um exemplo é o "Física do filme insultuosamente estúpido", do Intuitor.[17] O site Everyone's a Critic (a sigla EaC), permite que qualquer pessoa publique resenhas de filmes e comente-as.[18] Existem até mesmo sites de grupos de interesses especiais, tais como o site cristão de revisão, o Movieguide.[19]

Curva ondulatória de deslocamento de expectativas[editar | editar código-fonte]

A curva ondulatória de deslocamento de expectativas (undulating curve of shifting expectations, UCoSE) refere-se tanto ao título de uma característica da indústria de entretenimento recorrente na New York Magazine pelo crítico cultural Adam Sternbergh, como a um conceito de análise de mídia codesenvolvido pela escritora Emily Nussbaum.[20][21]

Em termos simples, UCoSE refere-se à tensão dinâmica entre pré-lançamento, esforços promocionais e reações do público subsequentes na mídia de entretenimento.

"... O que a UCoSE faz é fornecer-nos uma forma de analisar a trajetória de produtos de entretenimento, como eles transformaram seu caminho através de uma teoria de sete estágios gráficos de crescimento: pré-zumbido, zumbido, comentários delirantes, ponto de saturação, exageros, folga, e finalmente, folga para a folga."[22]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e Aumont, Jacques; Michel Marie. «verbete: Crítica». In: Papirus. Dicionário Teórico e Crítico de Cinema. 2006. tradução: Eloísa Araújo Ribeiro 2ª ed. Campinas: [s.n.] pp. 68–69. ISBN 85-308-0703-0 
  2. «Crítica de cinema na leitura e produção escrita no ensino fundamental» (pdf). Unital. 2003. Consultado em 14 de maio de 2010  |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  3. a b RAMOS, Fernão. Editora Senac, ed. Teoria Contemporâ̂nea do Cinema: Pós-estruturalismo e filosofia analítica (ISBN2 : 8573594225). 2005. I. [S.l.: s.n.] 433 páginas. ISBN 9788573594225 
  4. MELO, Vitor Andrade de. «A Análise da Produção Cinematográfica, o Lazer e a Animação Cultural» (pdf). UFRJ. Consultado em 14 de maio de 2010 
  5. Hantke, Steffen (2007). "Academic Film Criticism, the Rhetoric of Crisis, and the Current State of American Horror Cinema: Thoughts on Canonicity and Academic Anxiety". College Literature. 34 (4): 191–202. doi:10.2307/25115464. JSTOR 25115464. [S.l.: s.n.] 
  6. a b c James Battaglia (maio de 2010). «Everyone 's a Critic: Film Criticism Through History and Into the Digital Age». Consultado em 2 de novembro de 2019  line feed character character in |título= at position 9 (ajuda)
  7. Giovanni Dotoli (1999). Ricciotto Canudo ou le cinéma comme art. [S.l.]: Schena-Didier Érudition 
  8. KATIE KILKENNY (27 de dezembro de 2015). «Why Are So Few Film Critics Female?». Consultado em 2 de novembro de 2019 
  9. «Wilson Cunha». Consultado em 6 de novembro de 2019 
  10. «Morre o crítico de cinema Rubens Ewald Filho, aos 74 anos». 19 de junho de 2019. Consultado em 6 de novembro de 2019 
  11. a b Page, Clarence (14 de abril de 2010). «One very big thumbs down: Balcony closed, idiot floodgates open». Chicago Tribune (em inglês). Chicago. Consultado em 15 de maio de 2010 
  12. «Movieboozer - WE RATE MOVIES BY BEER!» (em inglês). movieboozer.com. Consultado em 7 de maio de 2014 
  13. «Annual Online Film Critics Society» (em inglês). ofcs.org. Consultado em 7 de maio de 2014 [ligação inativa]
  14. «indyred - IndyRed independent film reviews» (em inglês). www.indyred.com. Consultado em 7 de maio de 2014 
  15. «Screen it!» (em inglês). screenit.com. Consultado em 7 de maio de 2014 
  16. «ChildCare Action Project (CAP): Christian Analysis of American Ulture» (em inglês). capalert.com. Consultado em 7 de maio de 2014 
  17. «Intuitor Insultingly Stupid Movie Physics» (em inglês). intuitor.com. Consultado em 7 de maio de 2014 
  18. «Everyone's a Critic (EaC)» (em inglês). everyonesacritic.net. Consultado em 7 de maio de 2014 
  19. «Movieguide - The Family Guide to Movie Reviews» (em inglês). movieguide.org. Consultado em 7 de maio de 2014 
  20. «When it Ok Spoil» (em inglês). onthemedia.org. Consultado em 7 de maio de 2014. Arquivado do original em 20 de setembro de 2013 
  21. «The Mathemagical World of New York Magazine» (em inglês). mediabistro.com. Consultado em 7 de maio de 2014 
  22. «Comes out in Support of Lana del Rey the Music Industrys most Criticized Female» (em inglês). VH1.com. Consultado em 7 de maio de 2014