Crioulos da Luisiana – Wikipédia, a enciclopédia livre

Mapa mostrando os territórios da França 1534-1763

O termo crioulo da Luisiana designa o habitante francófono da região do atual estado norte-americano da Luisiana e áreas adjacentes. Também designa o crioulo francês da Luisiana, língua forjada da mescla do francês com outros idiomas e a cultura local.[1]

Definição de crioulo francês[editar | editar código-fonte]

Na acepção lusófona, o termo crioulo se referia ao escravo negro nascido nas Américas e, atualmente, carrega uma conotação pejorativa. No mundo francófono, todavia, o termo crioulo (créole em francês) designava, inicialmente, os colonos brancos, de ascendência francesa e/ou espanhola da Luisiana. Posteriormente, o termo também passou a abranger os negros, mulatos e índios aculturados pela cultura de origem francesa da região.[1]

História[editar | editar código-fonte]

A região acadiana da Luisiana em vermelho

A Nova França (em francês: La Nouvelle-France) foi uma área colonizada pela França na América do Norte durante um período, que começa desde a exploração do Rio São Lourenço, pelo explorador francês Jacques Cartier, em 1534, até 1763, quando a região norte da Nova França foi cedida pelos franceses ao Império Britânico. Após 1712, o território foi dividido em cinco distintas colônias, cada uma com administração própria: Canadá, Acádia, Terras de Rupert, Terra Nova e Labrador - essas quatro cedidas aos britânicos em 1763 - e a Louisiana, cedida aos espanhóis e aos britânicos em 1763. A porção cedida aos espanhóis seria recuperada pela França em 1800, mas vendida por Napoleão Bonaparte aos americanos em 1803.[2]

Sociedade[editar | editar código-fonte]

A sociedade crioula compunha um rico mosaico cultural. Às diversas tribos indígenas da região, somou-se apreciável número de colonos franceses. O primeiro grupo chegou ainda no século XVII, vindo da região do Quebec, declarando toda a região do Rio Mississipi como subordinada à Coroa Francesa. Em 1718, Nova Orleães foi fundada. Posteriormente, chegaram colonos da região da Acádia (hoje a região de Nova Escócia e de Nova Brunswick, no Canadá). Os acadianos formavam um grupo étnico a parte dos franceses do Quebec, pois falavam um dialeto próprio, distinto do francês. Quando expulsos do Canadá, muitos migraram para o sul dos Estados Unidos, formando a comunidade cajun. Ainda hoje, é possível encontrar resquícios da cultura cajun no extremo sul da Luisiana.[3]

No século XVIII, começaram a chegar os franceses oriundos das colônias do Caribe, sobretudo de Martinica e do Haiti. Aos escravos oeste-africanos que já tinham sido trazidos anteriormente, se juntaram centenas de escravos caribenhos, agregando um importante elemento da cultura local. No âmbito religioso, por exemplo, ainda hoje é possível encontrar na região de Nova Orleães praticantes do Voodoo da Louisiana, herança dos escravos do Haiti.[4] No fim do século, sob domínio espanhol, a região também recebeu colonos hispânicos. No século XIX, chegaram alemães, irlandeses e italianos.[1]

A sociedade crioula, então, se forjou de uma cultura francófona dominante, patriarcal, católica e escravagista.[1] Havia uma relativa mobilidade social entre os escravos, inclusive com grande número de mulatos livres que possuíam escravos. Os negros da Luisiana se distinguiam dos demais negros americanos, pois constituíam famílias organizadas, um número apreciável era educado e a segregação não era tão intensa. Essa maior liberdade entre a população de origem africana veio a diminuir já como território americano, através da segregação racial e sob leis como One-drop rule.[1][5]

Língua[editar | editar código-fonte]

O francês falado na Luisiana inclui o francês tradicional, o francês cajun (variação do francês acadiano) e o francês negro. O uso do idioma entrou em franco declínio no fim do século XIX, quando chegou grande número de migrantes americanos, suplantando o francês em detrimento do inglês como língua dominante.[5]

Português Crioulo da Luisiana Francês
Olá. Bonjou. Bonjour.
Como vão as coisas? Konmen lé-z'affè Comment vont les affaires?
Como vai? Konmen to yê? Comment allez-vous? Comment vas-tu? Comment ça va?
Estou bem, obrigado. C'est bon, mèsi. Ça va bien, merci.
Vejo você depois. Wa toi pli tar. Vois-toi plus tard. (À plus tard.)
Eu te amo. Mo laime toi. Je t'aime.
Cuide-se. Swinye-toi. Soigne-toi. (Prends soin de toi.)
Bom dia. Bonjou. Bonjour.
boa tarde Bonswa. Bonsoir.
Boa noite (despedida). Bonswa. Bonne nuit.

Declínio cultural[editar | editar código-fonte]

O carnaval de Nova Orleães (Mardi Gras) é legado francês.[6]

No censo de 2007, 18,7% da população da Luisiana declarou ser de ascendência francesa ou franco-canadense. No sul do estado, as porcentagens são maiores, em torno de 40% em certos municípios.[7][8]

Outros 32,5% declararam ser de ascendência afro-americana ou franco-africana. O censo não distingue os afro-americanos oriundos de família de fala inglesa daqueles de fala francesa, portanto, não se sabe o número de crioulos entre a porcentagem afro-americana, embora os dois grupos tenham identidades culturais distintas. Outros 10% declararam ascendência americana, que pode ou não ser francesa.[9]

A cultura crioula no sul dos Estados Unidos começou a declinar sobretudo no século XIX. Com a integração do território aos Estados Unidos em 1803 e a chegada de muitos migrantes falantes de inglês às cidades crioulas no fim do século XIX, muitos foram aculturados, perderam seus costumes e idioma. No censo de 2005, apenas 4,7% dos habitantes do estado declararam falar francês, crioulo de francês ou cajun.[10]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e «French Creoles in Louisiana: An American Tale». Yale-New Haven Teachers Institute. 2008. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  2. «Louisiana Purchase». 2008. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  3. Carl A. Brasseaux, Acadian to Cajun: Transformation of a People. Jackson, Miss.: University Press of Mississippi, 1992.
  4. «Voodoo in New Orleans - Investigative files - Louisiana». Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  5. a b «The Creole City». The Creole City. 2008. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  6. «Nova Orleans, cidade da diversidade». Embaixada Americana no Brasil. 2000. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  7. «Selected Social Characteristics in the United States: 2007». U.S. Census Bureau. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  8. «Ancestry Map of French Communities». Epodunk.com. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  9. «Ancestry: 2000» (PDF). Ancestry:2000. 2000. Consultado em 8 de dezembro de 2008 
  10. «Cópia arquivada». Consultado em 13 de setembro de 2008. Arquivado do original em 15 de agosto de 2013