Incêndios florestais em Portugal – Wikipédia, a enciclopédia livre

Portugal visto do espaço reconhecendo-se o fumo de alguns grandes fogos no Verão de 2003

Os incêndios florestais em Portugal são numerosos e são uma emergência que se atende hoje em dia mediante os planos de emergências para incêndios florestais. Informação geral sobre os incêndios florestais pode ser consultada na página oficial do Ministério do Ambiente.[1]

Este artigo pretende estabelecer uma cronologia dos incêndios florestais que assolam Portugal todos os anos, especialmente durante o Verão.

Caraterização[editar | editar código-fonte]

São das catástrofes naturais mais graves em Portugal, não só pela elevada frequência com que acontecem e dimensão que alcançam, como pelos efeitos destruidores que causam. Para além dos prejuízos económicos e ambientais, podem criar uma fonte de perigo para as populações e bens.

Os incêndios florestais são considerados catástrofes naturais, mais pelo facto de se desenvolverem na natureza e por a sua possibilidade de acontecimento e características de divulgação dependerem de fatores naturais, do que por serem causados por fenómenos naturais. A intervenção humana pode desempenhar um papel decisivo na sua origem e na limitação do seu desenvolvimento. A importância da ação humana nestes fenómenos diferencia os incêndios florestais das restantes catástrofes naturais.

Os anos de 2003 e 2005 foram os anos mais trágicos em Portugal, arderam 425 839 e 339 089 ha respetivamente. Em 2014, por contraste, arderam somente 19 930 ha. Em 2016, os incêndios voltaram a Portugal com grande intensidade, após um ano chuvoso, devido às condições climatéricas extremas (temperaturas acima dos 40 °C em todo o país).[1] Até, 12 de agosto de 2016 já tinham ardido mais de 100 000 ha, uma área superior a metade de toda a área ardida na Europa nesse ano.[2]

Floresta queimada no Algarve, Portugal

Vários estudos apontam para que as causas humanas sejam prevalecentes. No estudo efetuado em 2012, que analisa as causas de incêndios florestais em Portugal continental, entre 1996 e 2010, verifica-se que 90% dos casos "tem origem em atos humanos, negligentes e intencionais". Observa-se que o "incendiarismo" (885) e o acidente/negligência"[2] (866) são apontados como responsáveis pelo mesmo número de ocorrências, nos fogos cuja causa foi determinada. Contudo, a amostragem não é aleatória dado que todos os incêndios com suspeita de origem criminosa têm prioridade na investigação. Assim, os autores do estudo concluem que a "origem criminosa" enquanto causa de incêndios florestais está empolada.

Contudo, e numa base opinativa, o presidente da Liga dos Bombeiros, em 2015, afirmava que cerca de 75% dos incêndios florestais em Portugal são de origem criminosa e os restantes 25% são devidos a casos de negligência.[3]

1966[editar | editar código-fonte]

Em 6 de Setembro de 1966 um fogo na serra de Sintra causou a morte de 25 militares do Regimento de Artilharia AntiAérea Fixa de Queluz, quando tentavam combater as chamas.[4]

1985[editar | editar código-fonte]

Em 8 de setembro de 1985, em Armamar um incêndio matou 14 bombeiros.[5]

1986[editar | editar código-fonte]

Na noite de 14 de junho de 1986, num incêndio em Águeda perderam a vida 16 pessoas: 13 Bombeiros das Corporações de Bombeiros Voluntários de Águeda e de Anadia e três Civis da região de Águeda.[6]

Campanha de prevenção (2007)[editar | editar código-fonte]

Portugal sem fogos depende de todos é uma campanha lançada em 2007 para lutar contra os fogos em Portugal.

Até 30 de Setembro,[7] em zonas florestais é absolutamente proibido:

  • Fumar ou fazer lume de qualquer tipo
  • Lançar foguetes ou balões de mecha acesa
  • Realizar queimadas para renovação de pastagens
  • Queimar sobrantes agrícolas ou florestais

Porque Portugal sem fogos depende mesmo de todos, foi recentemente aprovado um Despacho Conjunto, da responsabilidade dos Ministérios da Administração Interna e do Trabalho e Solidariedade Social, que permite o recrutamento de cidadãos em situação de desemprego para trabalhos de prevenção e detecção de incêndios florestais.

Evolução da área florestal ardida anualmente em Portugal[editar | editar código-fonte]

2008 foi o ano em que a área ardida foi menor desde 1980. O pior ano foi 2017[8]. O gráfico apresenta a evolução da área de floresta ardida em virtude de incêndios florestais em território nacional desde 1980.

2004[editar | editar código-fonte]

Data Duração Zonas afectadas Unidades de combate Área
ardida
Fonte
Homens Veículos Meios aéreos Outros
25 de Julho de 2004 Serra de Montaria, Viana do Castelo 44 13 1 1 [3]
18 de Julho Vila Seca, Tábua 68 17 4 [4]
27 de Junho algumas horas Covão, em Colares 36 11 0
até 25 de Julho Évora 52 16 [5]

2005[editar | editar código-fonte]

Data Duração Zonas afectadas Unidades de combate Área
ardida
Fonte
Homens Veículos Meios aéreos Outros
Julho Vários dias Albergaria-a-Velha ? ? ? ? 1201 ha
~17.07 Casais Velhos (Montemor-o-Velho) 14 4 4 - [6]
~17.07 Ferrugenta (Figueira da Foz) 52 17 - - [7]
~17.07 Alvega (Ourém) 43 11 2 - [8]
~17.07 Muge (Salvaterra de Magos) 86 26 - - [9]
~17.07 Lavegada (Tomar) 24 6 - - [10]
~17.07 Sabugal 51 11 - - [11]
~17.07 Paços (Sabrosa) 20 4 - - [12]
~05.08 Valongo 22 6 - [13]
~05.08 Paredes 40 11 - - [14]
~05.08 Arouca 60 20 - - [15]
~05.08 Vale de Cambra 118 31 - - [16]
~05.08 Oliveira de Azeméis 20 5 - - [17]
~05.08 Vagos 46 14 - - [18]
~05.08 Sever do Vouga 30 7 - - [19]
~05.08 Cantanhede 126 31 - - [20]
~05.08 Almagreira (Pombal) 28 8 - - [21]
~05.08 Chão de Gaia (Pombal) 21 5 - - [22]
~05.08 Leiria 1 1 3 - [23]
~05.08 Baião 11 3 - - [24]
~05.08 Ponte de Lima 47 14 - - [25]
~05.08 Amial (Castro Daire) 20 6 - - [26]
~05.08 Farejinhas (Castro Daire) 65 20 - - [27]
~05.08 Antas (Penalva do Castelo) 65 20 - - [28]
~05.08 Campina (Penalva do Castelo) 67 16 - - [29]
~05.08 Castelo Novo, Fundão 47 11 1* - [30]
~05.08 Cavernães (Viseu) 39 12 - - [31]
~05.08 Tomar 15 5 - - [32]
~05.08 Marvão 137 39 1 - [33]
~05.08 Olival (Ourém) 84 25 - - [34]
~05.08 Resouro (Ourém) 136 38 - - [35]
~05.08 Alcanena 144 43 - - [36]

Distrito do Porto[editar | editar código-fonte]

A 18 de Julho de 2005 a zona mais atingida por incêndios é o distrito do Porto, com 527 incêndios, 2902 fogachos e 3890 ha de zona ardida.

Período Nº de fogos Área ardida (ha) Detalhes
1987 7705 76 268 Povoamentos: 49 848 ha, Mato: 26 420 ha
1988 6131 22 434 Povoamentos: 8 627 ha, Mato: 13 807 ha
1989 21896 126 237 Povoamentos: 62166 ha, Mato: 64 071 ha
1990 10745 137 252 Povoamentos: 79 549 ha, Mato: 57 703 ha
1991 14327 182 486 Povoamentos: 125 488 ha, Mato: 56 998 ha
1992 14954 57 012 Povoamentos: 39 701 ha, Mato: 17 311 ha
1993 16101 49 963 Povoamentos: 23 839 ha, Mato: 26124 ha
1994 19983 77 323 Povoamentos: 13 487 ha, Mato: 63 836 ha
1995 34179 166 330 Povoamentos: 85 246 ha, Mato: 81 084 ha
1996 28626 83 045 Povoamentos: 10 574 ha, Mato: 72 471 ha
01.01.2004—10.07.2004 20 039
01.01.2005—10.07.2005 29 580

2013[editar | editar código-fonte]

A 8 de Julho de 2013, na aldeia de Cilhade, no concelho de Torre de Moncorvo, às 14:45 inicia-se um foco de incêndio que foi dominado, às 21:34.

A 9 de Julho de 2013, na aldeia de Picões, no concelho de Alfândega da Fé, às 13:47 o incêndio reacende, e de forma explosiva, passa o Rio Sabor, até ao concelho de Mogadouro, cercando várias aldeias, como na aldeia de Quintas das Quebradas onde se juntão duas frentes, e obrigando á evacuação de algumas casas na aldeia de Estevais (Mogadouro) e á evacuação total da aldeia de Minas de Fonte Santa (Freixo de Espada á Cinta). Esta frente continua entre os concelhos de Freixo de Espada á Cinta e Mogadouro, chega até ás arribas da Barragem de Aldeadávilla. O incêndio continua em Carviçais (Torre de Moncorvo) e às 7:00, já no dia 12 de Julho de 2013, o incêndio é dado como extinto em Mós (Torre de Moncorvo).[9]

As freguesias mais afectadas foram Meirinhos (Mogadouro) com 74.7% de área total ardida, Lagoaça (Freixo de Espada á Cinta) com 54.9% de área total ardida, Carviçais (Torre de Moncorvo) com 47.5% de área total ardida, Castelo Branco (Mogadouro) com 35.9% de área total ardida, Cerejais (Alfândega da Fé) com 33.5% de área total ardida, Ferradosa (Alfândega da Fé) com 32.5% de área total ardida, Parada (Alfândega da Fé) com 29.3% de área total ardida e Bruçó (Mogadouro) com 28.9% de área total ardida.

No total arderam 14 135,7 ha, dos quais 6 854,4 em Mogadouro, 3 752,1 em Torre de Moncorvo, 2 099,5 em Freixo de Espada á Cinta e 1 430 em Alfândega da Fé.

Este incêndio foi considerado o maior registado em Portugal, no ano de 2013, e o maior de sempre naquela região transmontana.

Para ajudar no combate estiveram mais de 700 bombeiros, quase 200 veículos e 9 meios aéreos, no terreno.[10]

2017[editar | editar código-fonte]

O Incêndio florestal de Pedrógão Grande em 17 de junho de 2017, causa 64 mortos e cerca de 200 desalojados.

Em 15 de Outubro de 2017 foram registados, num dia, 523 incêndios, que causaram 50 mortos[11] e cerca de 70 feridos. Este foi considerado o pior dia de incêndios de sempre em Portugal. Os piores fogos foram registados na região Centro e Norte, nomeadamente Viseu (distrito mais fustigado) e Coimbra, e entraram dentro de diversas cidades, vilas e aldeias acabando por destruir dezenas de casas e indústrias.

Os dados oficiais do ICNF indicam que até 30 de setembro havia 215 988 ha de área ardida.[12]

Entre o início do ano e o final de outubro, arderam em Portugal mais de 440 000 ha de floresta e povoamentos — o que corresponde a quatro vezes mais do que a média registada nos dez anos anteriores.

Ardeu mais 428% do que arde, por norma, em anos anteriores (mais 358 000 ha, totalizando um número superior à área total do distrito de Coimbra), o maior número registado desde 2006.[13]

2018[editar | editar código-fonte]

Em 3 de agosto deflagrou um incêndio na Serra de Monchique que durou até 17 de agosto, consumindo 27 000 ha de floresta.[14]

Referências[editar | editar código-fonte]

(*) Outra fonte, adaptação por confirmação pessoal, etc.
  1. Correio da Manhã, 17 de Julho de 2005
  2. Correio da Manhã, 6 de Agosto de 2005, situação às 21h30
  1. http://www.prociv.pt/pt-pt/Paginas/default.aspx
  2. Lourenço, Lucana (2012). Causas de incêndios florestais em Portugal continental. Coimbra: Universidade de Coimbra. 70 páginas 
  3. «75% dos incêndios florestais são de origem criminosa» 
  4. «Da tragédia de Sintra em 66, aos fogos na Madeira: os incêndios mais mortíferos» 
  5. «Investigador lança livro sobre incêndio de Armamar que matou 14 bombeiros» 
  6. «Lançamento de Livro sobre o acidente ocorrido em Águeda em 1986» 
  7. Decreto-Lei 124/2006
  8. Correio da Manhã (19 de Março de 2018). «Em 2017 arderam mais 100 mil hectares do que se pensava». 19 de Março de 2018. Consultado em 19 de Março de 2018 
  9. «RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS SOBRE ESPAÇOS FLORESTAIS, DECORRENTES DO INCÊNDIO FLORESTAL DE PICÕES (ALFÂNDEGA DA FÉ)» (PDF). 5 de agosto de 2013  line feed character character in |titulo= at position 27 (ajuda); |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  10. «Bombeiros dominaram incêndios em Trancoso e Bragança». Jornal Público 
  11. «Incêndios: Número de vítimas mortais dos fogos de outubro de 2017 sobe para 50» 
  12. Departamento de Gestão de Áreas Públicas e de Proteção Florestal (2 de outubro de 2017). 8º Relatório Provisório de Incêndios Florestais –2017 (PDF). 1 de janeiro a 30 de setembro. [S.l.]: Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas 
  13. «2017 foi o ano em que mais ardeu nos últimos dez anos — quatro vezes mais que o habitual» 
  14. «Cinco dias de fogo e muitas questões por responder em Monchique». Euronews. 7 de agosto de 2018. Consultado em 8 de agosto de 2018 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]