Cultura Racional – Wikipédia, a enciclopédia livre

Cultura Racional é uma religião OVNI[1] brasileira derivada da Umbanda,[2] fundada em meados da década de 1930 na cidade do Rio de Janeiro pelo médium Manuel Jacinto Coelho[3]

A Cultura Racional tem como base uma série de livros denominada Universo em Desencanto,[4] obra que aborda uma grande variedade de temas que vão desde cosmologia, metafísica, ecologia, linguística, teologia, OVNIS e discos voadores.[1]

Origens[editar | editar código-fonte]

A Cultura Racional surgiu no dia 04 de outubro de 1935,[2] na “Tenda Espírita Francisco de Assis”,[5][2] na cidade do Rio de Janeiro, Rua Lopez da Cruz, Méier.[2]

Durante as primeiras décadas do século XX as perseguições às religiões afro-brasileiras aumentaram, sendo os praticantes desses segmentos religiosos perseguidos e vigiados pela polícia, principalmente entre os anos de 1930 e 1945.[6] Para fugir a essa perseguição e serem aceitos pela sociedade, notadamente a classe média urbana, algumas religiões afros passaram por um processo de desafricanização e branqueamento,[7] processo este em que buscavam se diferenciar do chamado baixo espiritismo, visto por esta sociedade como atrasado e rude, e ao mesmo tempo construir uma "legitimação racional”.[8] Para tanto, um grupo dos chamados “Intelectuais da Umbanda”[9] trabalhou intensamente para dotar a Umbanda de uma base doutrinária e de conhecimentos escritos, diferenciando-a assim das práticas do 'baixo espiritismo'.

Doutrina[editar | editar código-fonte]

A Cultura Racional é enfática ao apresentar como proposta de ter somente nos livros a fonte de seus ensinamentos e a leitura como o caminho para a “salvação”,[10] descrita em sua escrituração como a Imunização Racional, não havendo assim necessidade de outros métodos a não ser a leitura sequencial dos livros.

Religiosidade[editar | editar código-fonte]

Assim como o autor da Cultura Racional faz uma distinção no uso da palavra "espiritismo", separando-o em falso e verdadeiro, o mesmo é feito com a palavra "religião", diferenciando-a em sua obra, entre: verdadeira religião e falsa religião, ou, religião de cima e religião de baixo. Por isso a Cultura Racional nega, em primeiro momento, o seu caráter religioso, se dizendo apenas um conhecimento transcendental.[11]

Planos Astrais[editar | editar código-fonte]

Segundo a Cultura Racional o mundo é dividido em quatro planos: O Mundo Racional, Astral Superior, Astral Inferior e Astral Térreo.[12]

Mundo Racional[editar | editar código-fonte]

Habitado por seres racionais que sempre estiveram na condição de ser racional e leitores do Universo em Desencanto,[12] invisíveis e pelos planetas.[13] Seus habitantes seriam formados pela Energia Racional, uma energia pura, limpa e perfeita.[14] Localizado acima do Astral Superior.[15]

Astral Superior[editar | editar código-fonte]

Habitado por seres que não conseguiram desenvolver por completo o raciocínio,[12] que se manifestam como discos voadores.[15] O plano Astral Superior, localizado acima do Sol, acima das energias elétrica e magnética, seria formado por habitantes gerados pela Energia Mediadora.[15]

Astral inferior[editar | editar código-fonte]

Habitado pelos seres que não possuíam uma “conduta racional”.[16]

Astral Térreo[editar | editar código-fonte]

Habitado pelos orixás, “o povo do chão e o povo do ar”.[17]

Religiões[editar | editar código-fonte]

A Cultura Racional reconhece sete religiões principais (Animismo, Bramanismo, Budismo, Islamismo, Judaísmo, Espiritismo e Cristianismo) responsáveis pela “evolução confusa” e domesticação do homem. Os responsáveis pelas fundações dessas religiões não seriam Buda, Jeová ou Jesus Cristo, mas sim seres que habitam o astral inferior.[13]

Práticas[editar | editar código-fonte]

Cura[editar | editar código-fonte]

Adeptos a Cultura Racional praticam cura por meio do uso de ervas, óleos, incenso, velas, objetos simbólicos, leitura dos livros e cantos para chamar entidades do Astral Térreo.[18]

Quiromancia[editar | editar código-fonte]

Adeptos a Cultura Racional praticam quiromancia, a leitura de mãos.[19]

História[editar | editar código-fonte]

Após a publicação do livro Universo em Desencanto em meados da década de 1930, o movimento religioso persistiu nas décadas posteriores, tendo mudado sua sede, do Méier para Jacarepaguá, depois para Belford Roxo onde foi erguido o Palácio da Cultura Racional.[20]

Capa do álbum Tim Maia Racional, Vol. 1, com múltiplas faixas de promoção a Cultura Racional.

Na década de 1970 a Cultura Racional mudou-se para a atual sede, em Nova Iguaçu, onde se encontra até hoje. Nesse período, o movimento religioso começou a ser frequentado por alguns artistas, dentre os quais estava o músico Tim Maia, que deu grande visibilidade a seita, fazendo-a viver o seu auge.[21] Enquanto esteve na Cultura Racional, o cantor gravou dois álbuns que anos mais tarde se tornariam um grande sucesso de crítica chamados Tim Maia Racional, Vol. 1 e Tim Maia Racional, Vol. 2.[22] Em 2011, a Editora Abril lançou um terceiro álbum inédito gravado pelo cantor em 1976.[23] Após deixar a seita, o cantor declarou:[24]

Fui para essa seita, que prometia me preparar para entrar em contato com seres extraterrenos. [...] Quando cheguei lá, vi que o negócio era umbanda, candomblé, baixo espiritismo.

Jackson do Pandeiro foi outro artista que esteve ligado à Cultura Racional entre 1973 e 1978, gravando canções em homenagem ao grupo, como "Luz do Saber" gravada em 1978.[25]

O fundador da seita, Manuel Jacinto Coelho, morreu em 1991, e desde então a Cultura Racional é dirigida por uma de suas filhas.[26][27]

Relações com outras religiões[editar | editar código-fonte]

Espiritismo[editar | editar código-fonte]

A Cultura Racional ao falar sobre Espiritismo trata-o de duas formas: o verdadeiro espiritismo e o falso espiritismo. Segundo a Cultura Racional, o verdadeiro espiritismo encerrou seus trabalhos em 1935 e nega a legitimidade de médiuns espíritas a partir de então.[28]

Umbanda[editar | editar código-fonte]

Uma vez originada da Umbanda, a Cultura Racional continuou como vertente dela, embora com roupagem nova e linguagem alterada, mas com as mesmas práticas e costumes,[29] caracterizada pelo que ficou conhecido entre os membros da seita como a salinha, onde os médiuns incorporavam as entidades e davam consultas para as pessoas, membros ou não. Essas salinhas existiram em vários locais do país, funcionando como ponto aglutinador dos seguidores. Se apropria da cor das vestimentas da Umbanda (branca)[30] e da saudação aos exus nela usada.[31][32]

Reconhece orixás como “o povo do chão e o povo do ar”, habitantes do Astral Térreo.[17]

Banda[editar | editar código-fonte]

A Cultura Racional conta com uma série de bandas musicais espalhadas em 14 estados brasileiros. Elas são formadas pelos próprios integrantes do movimento e têm como objetivo principal a divulgação dos livros de Cultura Racional. Chamada de Banda Racional Universo em Desencanto – BRUD, ou Banda União Racional - BUR (quando unem-se todas as bandas), a banda surgiu em 1982, inicialmente no estilo fanfarra com percussão e alguns metais, com o tempo, tomou forma de banda marcial, incorporando instrumentos mais elaborados. A banda tem cobertura nacional e internacional, e no seu repertório, músicas populares, militares, hinos e músicas de autoria própria.[33]

Além da banda marcial a Cultura Racional possui uma banda de orquestra sinfônica, jazz sinfônica, chamada de Racional Jazz Band – RJB, criada no ano de 2016, contendo instrumentos de corda como: violinos, violoncelos, baixos e guitarras elétricas, instrumentos de teclas: piano e teclado, etc. e as madeiras, metais e percussão.[34]

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Em reconhecimento a suas iniciativas, foi instituído o Dia da Cultura Racional em mais de cento e quarenta e cinco cidades.[35]

Manuel Jacinto Coelho, o fundador da Cultura Racional, também recebeu homenagens em reconhecimento à sua obra. Possuidor de vários títulos, medalhas e condecorações nacionais e internacionais dos quais destacam-se: Medalha Tiradentes, Título de Benemérito do Estado do Rio de Janeiro, Medalha de Honra da Inconfidência, Comenda Hipólito José Costa, Placa de Prata do Dr. Newton Cardoso, título de cidadão iguaçuano, Título de Cidadão Friburguense, Praça Bosque da Paz no estado de Minas Gerais.[36][37]

Referências

  1. a b Silva, Chico (19 de março de 2003). «ETs, clones e gurus». ISTOÉ Independente. Consultado em 20 de junho de 2020 
  2. a b c d Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 14.
  3. Neumann, Ricardo (2008). “Cultura Racional: As leituras do ‘Maior Homem do Mundo’” (PDF) (Dissertação de Mestrado). Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina. Consultado em 16 de maio de 2022 
  4. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 13.
  5. Secretaria de Cultura, Secretaria de Comunicação (19 de novembro de 2019). «Mistérios da 'Cultura Racional' serão discutidos na Biblioteca Municipal». Prefeitura de Sorocaba. Consultado em 11 de setembro de 2020. Cópia arquivada em 11 de setembro de 2020 
  6. Sob o signo da ameaça: conflito, poder e feitiço nas religiões afro-brasileiras (Tese de pós-doutorado). PUC-SP. 1998 
  7. PRANDI, Reginaldo. Referências sociais das religiões afro-brasileiras: sincretismo, branqueamento, africanização - VII Jornadas sobre Alternativas Religiosas en Latinoamérica. 27 al 29 de Noviembre de 1997.
  8. ORTIZ, Renato. A morte branca do feiticeiro negro. Petrópolis: Vozes, 1978
  9. ISAIA, Artur C.. Ordenar progredindo: a obra dos intelectuais de Umbanda no Brasil da primeira metade do século XX. Anos Noventa. Porto Alegre: UFRGS, (11): 97-120, 1999.
  10. Neumann, Ricardo. A CULTURA RACIONAL E LETRAMENTO. XXIV Simpósio Nacional de História. Associação Nacional de História – ANPUH. São Leopoldo, 2007. Disponível na Internet em http://anpuh.org/anais/wp-content/uploads/mp/pdf/ANPUH.S24.0711.pdf
  11. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 67.
  12. a b c Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 17.
  13. a b Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 102.
  14. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 101.
  15. a b c Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 103.
  16. Cavalcante Modesto da Silva 2013, pp. 17-18.
  17. a b Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 18.
  18. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 129.
  19. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 93.
  20. ELIAS, Jorge. O Cavaleiro da Concórdia, O homem de outro mundo. 1º ed, Racional Gráfica Editora LTDA, 1988, Belford Roxo, RJ. Pp.116
  21. Nelson., Motta, (2007). Vale tudo : o som e a fúria de Tim Maia. [S.l.]: Objetiva. pp. 127–137. ISBN 9788539000807. OCLC 912769664 
  22. Os 100 maiores discos da Música Brasileira - Revista Rolling Stone, Outubro de 2007, edição nº 13, página 115
  23. «TIM MAIA volume 10 chega às bancas». Dinap. 27 de maio de 2011 
  24. «Tim Maia - Racional/Irracional». Folha de S.Paulo. 16 de junho de 1999. Consultado em 20 de junho de 2020 
  25. Moura, Fernando; Vicente, Antônio (2001). Jackson do Pandeiro: o rei do ritmo. São Paulo: Editora 34. pp. 340–342. ISBN 9788573262216 
  26. Neumann, Ricardo. A CULTURA RACIONAL E A CIRCULARIDADE CULTURAL. Tese de Mestrado. Florianópolis 2008. Disponível na Internet em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pdf/st8/Neumann,%20Ricardo.pdf. pp.1 Acesso em 26 de Março de 2013
  27. Pronunciamento da Sra. Atna Jacintho Coelho - http://racional.weebly.com/comunicados.html, acessado em 31 de Julho de 2014
  28. Cavalcante Modesto da Silva 2013, pp. 87-88.
  29. SUENAGA, Cláudio Tsuyoshi. Cultura Racional: O desencanto da seita. Revista UFO, Edição 49. https://www.ufo.com.br/artigos/cultura-racional-o-desencanto-da-seita Acessado em 20 de junho de 2014.
  30. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 123.
  31. Cavalcante Modesto da Silva 2013, p. 124.
  32. Guia de Referência - Exus e Pombas Giras. http://www.guia.heu.nom.br/exu_e_pombas_giras.htm Acessado em 20 de junho de 2014
  33. «Sobre a Banda Racional». Banda União Racional. Consultado em 25 de março de 2018 
  34. «Sobre a RJB». Racional Jazz Band. Consultado em 25 de março de 2018 
  35. «Biblioteca Pública realiza a VII Mostra de Cultura Racional». Rede Tiradentes de Rádio e Televisão. 3 de Outubro de 2016. Consultado em 8 de Novembro de 2018 
  36. ELIAS, Jorge. Cavaleiro da Concórdia, o homem do outro mundo. Belford Roxo - RJ: Racional Gráfica Editora. pp. 131–132 
  37. «Informativo - O Sr. Manoel Jacintho Coelho». Conferência Racional. Consultado em 8 de novembro de 2018 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]