Dan Mitrione – Wikipédia, a enciclopédia livre

Dan Mitrione
Nascimento Daniel Anthony Mitrioni
4 de agosto de 1920
Reino de Itália
Morte 10 de agosto de 1970
Montevidéu
Cidadania Estados Unidos, Itália, Reino de Itália
Ocupação torturador
Empregador(a) Central Intelligence Agency

Daniel Anthony Mitrione (4 de agosto de 1920 - 10 de agosto de 1970) foi um policial estadunidense, agente do FBI e conselheiro de governos da América Latina, onde atuou na década de 1960, colaborando com as ditaduras que governaram o Brasil e o Uruguai.

Em meados dos anos 1960, Mitrione foi contratado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) para treinar as polícias do Brasil e do Uruguai, ensinando métodos de tortura que se disseminaram no Brasil e no Uruguai, resultando em inúmeros casos de violações de direitos humanos e brutalidade policial naqueles países.[1][2][3]

Alguns documentos liberados pelo governo americano sobre as atividades de Mitrione na América do Sul estão arquivados no National Security Archive.[4]

Carreira[editar | editar código-fonte]

De 1960 a 1967, Mitrione trabalhou com as polícias brasileiras, primeiro em Belo Horizonte e depois no Rio de Janeiro. Documentos mostram que Mitrione ensinava como usar choques elétricos sem deixar marcas.[5] Em suas aulas de treinamento em tortura na polícia de Belo Horizonte, Mitrione dava demonstrações práticas de tortura, utilizando-se de presos, mendigos e indigentes. Mitrione insistia em utilizar-se dos manuais da CIA, os Manuais KUBARK, insistindo que eles refletiam o fato de que tortura eficaz é ciência (nas palavras de Mitrione em inglês: "effective torture was science"). Em 1969 Mitrione foi para o Uruguai onde continuou suas atividades em treinamento de tortura disfarçado de encarregado de negócios na embaixada americana.[6][7]

Mitrione disseminou as técnicas de tortura da CIA no Brasil e no Uruguai e formou centenas de discípulos. O jornal Clarín se referiu a ele como "El Maestro de La Tortura".[8][9][10][11]

Vida pessoal[editar | editar código-fonte]

Dan Mitrione era casado e tinha nove filhos.

Morte[editar | editar código-fonte]

Em 31 de julho de 1970, Mitrione foi sequestrado no Uruguai, por revolucionários Tupamaros, que visavam interrogá-lo acerca dos sistemas norte-americanos de ajuda às ditaduras da América Latina. Os revolucionários também pretendiam usar Mitrione como moeda de troca para a libertação de 150 presos políticos pelo regime autoritário uruguaio. Durante sua captura, Mitrione foi alvejado com um tiro no ombro. O ferimento recebeu cuidados durante seus dias de cativeiro, enquanto se iniciavam as negociações com o governo uruguaio e membros do governo norte-americano.

Paralelamente, alguns líderes tupamaros foram descobertos e presos (entre eles Raúl Sendic) naqueles dias. Existe a suposição de que, por esse motivo, além da recusa do governo uruguaio em libertar os presos políticos, os Tupamaros tenham decidido matar o prisioneiro, o que ocorreu no dia 10 de agosto de 1970. Mitrione foi encontrado dentro de um carro com dois tiros na cabeça.

Ao seu funeral Richard Nixon enviou seu genro, David Eisenhower, e seu Secretário de Estado, William Rogers.[12] Frank Sinatra e Jerry Lewis organizaram um espetáculo beneficente para a família de Mitrione em Richmond, Indiana.[13]

Bibliografia e filmografia[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. La Jornada: EU promovió amenazas contra tupamaros para rescatar a su agente Mitrione en 1970
  2. To Save Dan Mitrione Nixon Administration Urged Death Threats for Uruguayan Prisoners
  3. O professor de tortura Dan Mitrione e o chefe de polícia Etchegoyen. Por Luiza Villaméa. GGN, 23 de maio de 2016.
  4. To save Dan Mitrione, Nixon Administration urged death threats for Uruguayan prisoners (documentos revelados sobre Dan Mitrione)
  5. A.J. Langguth, Hidden Terrors. Pantheon Books, 1978, p. 40. ISBN 0394738020.
  6. Nixon: "Brazil Helped Rig the Uruguayan Elections", 1971, National Security Archive Electronic Briefing Book No. 71, June 20, 2002
  7. Excerto do livro Hidden Terrors - the truth about U.S. police operations in Latin America, de A.J. Langguth. Pantheon Books, 1978.
  8. Manuel Hevia Cosculluela, Pasaporte 11333: Ocho Años con la CIA, Havana, 1978, p. 286
  9. «Trecho do livro de Manuel Hevia Cosculluela». Consultado em 9 de abril de 2019. Arquivado do original em 5 de março de 2016 
  10. "Dan Mitrione, un maestro de la tortura", Clarín, 2 de setembro de 2001 (em castelhano)
  11. The CIA in the Southern Cone
  12. Forever Missing Part 2. Por Bob Norman. Miami New Times, 11 de agosto de 2005.
  13. Otterman, Michael: American Torture: From the Cold War to Abu Ghraib and Beyond. Melbourne Univ. Publishing, 2007, page 78. ISBN 0522853331

Ver também[editar | editar código-fonte]

Ligações externas[editar | editar código-fonte]