Dasipodídeos – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Como ler uma infocaixa de taxonomiaDasipodídeos
Ocorrência: 58,7–0 Ma
Tatu-galinha (Dasypus novemcinticus)
Tatu-galinha (Dasypus novemcinticus)
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Infraclasse: Eutheria
Superordem: Xenartros
Ordem: Cingulata
Família: Dasipodídeos
Gray, 1821
Géneros
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Dasipodídeos,[1] popularmente conhecidos como tatu e armadilho (em Portugal), são uma família de mamíferos da ordem Cingulata. Caracteriza-se pela armadura que cobre o corpo. Nativos do continente americano, os tatus habitam as savanas, cerrados, matas ciliares e florestas molhadas. Têm importância para a medicina, uma vez que são os únicos animais, para além do homem, capazes de contrair lepra, sendo usados nos estudos dessa enfermidade.

A lepra pode ser transmitida pelo consumo da carne de tatu.[2]

Etimologia[editar | editar código-fonte]

"Tatu" é derivado do tupi ta'tu.[3] Do tupi Guarani ta – casca, couraça - e tu – encorpado, denso, o casco encorpado.[4]"Dasypodidae" veio da junção dos termos gregos δασύς (dasys): "piloso, peludo" e πούς, ποδός (pous, podos): "pé", significando, portanto, "pé peludo".

Questões ecológicas[editar | editar código-fonte]

Os tatus tem grande importância ecológica, pois são capazes de alimentar-se de insetos (são, portanto, animais insetívoros), contribuindo para um equilíbrio de populações de formigas e cupins. Na Universidade da Região da Campanha, em Alegrete, no Rio Grande do Sul, no Brasil, uma pesquisa sobre a dieta dos tatus revelou que um único exemplar de tatu-mulita (Dasypus hybridus) com 2,5 quilogramas de peso é capaz de consumir 8 855 invertebrados em uma única noite.

Quando estes animais são caçados pelo[5] seu valor cinegético (caça para alimento), acaba por se desequilibrar o ecossistema, pois se extermina um controlador natural de insetos,[6] favorecendo o aumento destes invertebrados e resultando em problemas econômicos para[7] a região.[8]

Classificação[editar | editar código-fonte]

Família dos dasipodídeos

Filogenia[editar | editar código-fonte]

Os dasipodídeos, como os clamiforídeos, é um clado basal dentro dos Cingulata, como mostrado abaixo. O Tatu-de-quinze-quilos (D. kappleri) é basal dentro dos dasipodídeos.

Cladograma do Cingulata[9][10][11]
 Cingulata 
Dasipodídeos
Dásipo
D. (Hyperoambon)

D. kappleri

D. (Dásipo)

D. septemcinctus

D. hybridus

D. yepesi

D. sabanicola

D. novemcinctus

D. pilosus

 Clamiforídeos 

Eufractíneos

Gliptodontíneos

Clamiforíneos

Tolipeutíneos


O tatu e os nativos do Novo Mundo[editar | editar código-fonte]

Usando fumaça para afugentar o tatu da toca

A maior parte dos nativos da América do Sul apreciavam a carne do tatu pura ou como ingrediente em outros pratos, bem como utilizavam sua carapaça, rabo e ossos para a confecção de utensílios.[12] Um dos mais conhecidos artefatos elaborados a partir da carapaça do tatu é o charango, instrumento cordófono de origem boliviana. O nome do instrumento em Quechua é quirquincho (kirkinchu), que quer dizer justamente "tatu". Atualmente, o instrumento é confeccionado totalmente em madeira.

Os Cinta Larga de Mato Grosso e Rondônia capturavam o tatu inserindo fumaça na sua toca.[13]

Aaru era um beiju feito com massa de mandioca e tatu moqueado pelos Nambiquara do Mato Grosso e Rondônia. Os Xicrin do Pará usavam o rabo de tatu para confeccionar flauta, com a qual anunciavam sua chegada a aldeia amiga e eram recebidos pelos habitantes com sons emitidos por instrumentos semelhantes.[14]

Cestos eram confeccionados com a carapaça do tatu.[15] Os Kaxinawá do Acre e Peru empregavam, muito antes do contato com os europeus, linha de envira e anzol confeccionado com a junção do cúbito e o rádio do tatu.[16] Moças menstruadas dos Uanana do Amazonas podiam se alimentar da formiga maniuara e do beiju. O peixe jeju ou carne de tatu eram os alimentos indicados após o rito de flagelação. Acreditavam que a carne do tatu era composta pelas carnes de todos os outros animais.[14]

Referências

  1. «Dasipodídeo». Michaelis. Consultado em 20 de julho de 2021 
  2. Saey, Tina Hesman (28 de junho de 2018). «Close contact with armadillos is linked to catching leprosy in Brazil». Science News (em inglês) 
  3. FERREIRA, A.B.H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986. p. 1 653
  4. Chiaradia, clóvis. Dicionário de Palavras Brasileiras de Origem Indígena. [S.l.: s.n.] 
  5. Zeraik, Maria Luiza; Queiroz, Emerson Ferreira; Marcourt, Laurence; Ciclet, Olivier; Castro-Gamboa, Ian; Silva, Dulce Helena Siqueira; Cuendet, Muriel; da Silva Bolzani, Vanderlan; Wolfender, Jean-Luc (março de 2016). «Antioxidants, quinone reductase inducers and acetylcholinesterase inhibitors from Spondias tuberosa fruits». Journal of Functional Foods. 21: 396–405. ISSN 1756-4646. doi:10.1016/j.jff.2015.12.009 
  6. DURIGAN, J.C.2 (2004). «CONTROLE QUÍMICO DA TIRIRICA (Cyperus rotundus), COM E SEM COBERTURA DO SOLO PELA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR 1» (PDF). Universidade Federal de Viçosa. Consultado em 1 de julho de 2018 
  7. «Antioxidants, quinone reductase inducers and acetylcholinesterase inhibitors from Spondias tuberosa fruits». Journal of Functional Foods (em inglês). 21: 396–405. 1 de março de 2016. ISSN 1756-4646. doi:10.1016/j.jff.2015.12.009 
  8. KUVA, MARCOS (1995). «EFEITOS DA SOLARIZAÇÃO DO SOLO ATRAVÉS DE PLÁSTICO TRANSPARENTE SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA TIRIRICA (Cyperus rotundus)». UNESP. Consultado em 1 de julho de 2018 
  9. Delsuc, F.; Gibb, G. C.; Kuch, M.; Billet, G.; Hautier, L.; Southon, J.; Rouillard, J.-M.; Fernicola, J. C.; Vizcaíno, S. F.; MacPhee, R. D.E.; Poinar, H. N. (22 de fevereiro de 2016). «The phylogenetic affinities of the extinct glyptodonts». Current Biology. 26 (4): R155–R156. PMID 26906483. doi:10.1016/j.cub.2016.01.039 
  10. Upham, Nathan S.; Esselstyn, Jacob A.; Jetz, Walter (2019). «Inferring the mammal tree: Species-level sets of phylogenies for questions in ecology, evolution and conservation». PLOS Biol. 17 (12): e3000494. PMC 6892540Acessível livremente. PMID 31800571. doi:10.1371/journal.pbio.3000494 
  11. Gibb, Gillian C.; Condamine, Fabien L.; Kuch, Melanie; Enk, Jacob; Moraes-Barros, Nadia; Superina, Mariella; Poinar, Hendrik N.; Delsuc, Frédéric (2015). «Shotgun Mitogenomics Provides a Reference PhyloGenetic Framework and Timescale for Living Xenarthrans». Molecular Biology and Evolution. 33 (3): 621–642. PMC 4760074Acessível livremente. PMID 26556496. doi:10.1093/molbev/msv250 
  12. CAVALCANTE, Messias S. Comidas dos Nativos do Novo Mundo. Barueri, SP. Sá Editora. 2014, 403p.ISBN 9788582020364
  13. SILVA, Alcionilio Bruzzi Alves da (1901-1987). A civilização indígena dos Uaupés. São Paulo, Linográfica Editora. 1962, 496 p.
  14. a b BASTOS, Abguar. A pantofagia ou as estranhas práticas alimentares da selva: Estudo na região amazônica. São Paulo, Editora Nacional; Brasília DF, INL. 1987, 153 p.
  15. LÉRY, Jean de (1534-1611). Viagem à terra do Brasil. Belo Horizonte, Edit. Itatiaia; São Paulo, Edit. da Universidade de São Paulo. 1980, 303 p.
  16. POVOS INDÍGENAS NO BRASIL (S/DATA). Kaxinawá. Atividades produtivas. Disponível em http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaxinawa/401 Consulta em 03/09/2012


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  • COSTA, R., FACCIN, José R.M. & OLIVEIRA, E. Distribuição e Dieta de Dasypus hybridus (Desmerest, 1804) No Oeste do Rio Grande do Sul in: Anais do XXIV Congresso Brasileiro de Zoologia. Univali, Itajaí – SC, 2002.
  • COSTA, R. G. A; COSTA, R. V.; FACCIN, J. R. M & OLIVEIRA, É. V. Impacto da Caça de Mamíferos Silvestres em Duas Macro Regiões do Rio Grande do Sul. In: II SALÃO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA INTERNACIONAL, 2002, Uruguaiana. Livro de Resumos. Uruguaiana: PUCRS – Campus II, 2002b. p. 20.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]