Desmembramento – Wikipédia, a enciclopédia livre

Gravura de Jan Luyken representando o esquartejamento de São Paio em Córdova, no ano de 925
O Martírio de Hipólito, de Dirck Bouts, mostra um desmembramento

Desmembramento é o ato que consiste em cortar um corpo em diversas partes. Ao longo da história, esse foi um método de execução da pena de morte ou punição aplicado por diversos meios, em especial ao regicídio, sendo também utilizado por assassinos. Também é conhecido como arrancamento ou esquartejamento.

O chamado "desmembramento a cavalo" era muito popular na Inglaterra e sobreviveu até 1814.[1] Especificamente, nesta versão, os quatro principais membros são arrancados do corpo: pernas e braços, sendo cada parte é amarrada a um cavalo. Era, segundo consta,[quem?] a forma preferida de Átila, o Huno para torturar e matar seus inimigos. Na França, sob o Antigo Regime, era a pena aplicada aos regicidas.

Vítimas notáveis[editar | editar código-fonte]

História[editar | editar código-fonte]

Durante a Conspiração da Pólvora os conspiradores católicos que colocaram explosivos debaixo da Câmara dos Lordes e pretendiam detoná-los durante a Abertura Estadual do Parlamento, foram descobertos, julgados e condenados a enforcamento, arrastamento e esquartejamento.

Francisco de Valois, delfim da França, delfim da França e duque da Bretanha após uma partida de tênis, pediu um copo d'água, o que lhe foi trazido por seu secretário, o Conde Montecuccoli. Depois de bebê-lo, Francisco adoeceu e morreu dias depois. (Montecuccoli, que fora trazido à corte por Catarina de Médici, foi acusado de ter sido pago por Carlos V, e quando seus aposentos foram vasculhados, um livro sobre tipos diferentes de veneno, foi encontrado). Sob tortura, Montecuccoli confessou o envenenamento do Delfim. Ele foi condenado ao esquartejamento, a punição tradicional para regicídio.

Na Tanzânia, uma criança albina foi esquartejada por praticantes de rituais macabros, tendo sido partes do seu corpo vendidas para esses rituais, por acreditarem que albinos eram de alguma forma, especiais para o ato. Números indicam que, desde 2006, pelo menos 75 albinos foram esquartejados naquele país, entre eles um bebê de sete meses.[2]

Na Inglaterra William Wallace foi enforcado até ficar quase inconsciente, e então, amarrado a uma mesa, estripado, e suas entranhas, queimadas, ainda presas a ele. Provavelmente foi também castrado e, então finalmente, foi libertado do seu sofrimento inimaginável, pela decapitação. Seu corpo foi esquartejado, e os pedaços, enviados para Newcastle upon Tyne, Berwick, Perth e Stirling. Sua cabeça foi colocada em um pique na Ponte de Londres, de modo que todos a vissem, como advertência para outros possíveis "traidores".

Brasil[editar | editar código-fonte]

Tiradentes Esquartejado, 1893, Museu Mariano Procópio

Em 1792 teve lugar em Minas Gerais a execução de Tiradentes, um dos conjurados de 1789 na luta pela Independência do Brasil. O suplício teve lugar no campo de São Domingos, da cidade do Rio de Janeiro, sendo primeiro enforcado e depois esquartejado, conforme a certidão da época:

Francisco Luiz Álvares da Rocha, desembargador dos agravos da relação desta cidade e escrivão da comissão expedida contra os réus da conjuração formada em Minas Gerais: Certifico que o réu Joaquim José da Silva Xavier foi levado ao lugar da forca levantada no campo de São Domingos e nela padeceu morte natural, e lhe foi cortada a cabeça e o corpo dividido em quatro partes; e, do como assim passou na verdade, lavrei a presente certidão, e dou a minha fé. Rio de Janeiro, 21 de abril de 1792. (Assinado - Francisco Luiz Álvares da Rocha)[3]

A execução inspirou os quadros Tiradentes Esquartejado, de Pedro Américo, e O esquartejamento de Tiradentes, de Cândido Portinari.[4]

A 9 de dezembro de 1835 o escravo Elesbão foi condenado ao enforcamento em Campinas, seguido de esquartejamento, consistindo na decapitação e no decepamento das mãos do escravo. A cabeça seria remetida à vila de Jundiaí, onde ficaria exposta em poste em lugar público, enquanto as mãos ficariam na vila de Campinas também em poste em local público.[5] No ofício que relata os custos do processo, é referido "um facão com grossura e tamanho suficientes para decepar cabeça e mãos".[6]

Virgulino Ferreira da Silva e seu grupo, tiveram suas cabeças arrancadas e os corpos esquartejado quando finalmente foram presos pela tropa do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva, abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa.

Na ditadura militar, diversos casos de desaparecimento de políticos foram apontados como esquartejados para facilitar o desaparecimento do cadáver.

Índia[editar | editar código-fonte]

Particularmente no Sudeste da Ásia, execução por elefantes treinados foi uma forma de pena capital praticada por vários séculos. As técnicas pelas quais o condenado foi realmente executado variaram amplamente, mas, na ocasião, incluíram o elefante desmembrando a vítima por meio de lâminas afiadas presas aos pés. O viajante muçulmano ibne Batuta, visitando Déli na década de 1330, deixou o seguinte relato de testemunhas oculares sobre esse tipo particular de execução por elefantes:[7]

Citação: Em um determinado dia, quando eu estava presente, alguns homens foram trazidos para fora, que foram acusados de ter tentado a vida do vizir. Eles foram ordenados, portanto, serem jogados para os elefantes, que tinham sido ensinaram a cortar suas vítimas em pedaços. Seus cascos estavam encaixados com instrumentos de ferro afiados, e as extremidades eram como facas. Em tais ocasiões, o elefante conduziu sobre eles; e, quando um homem foi jogado para eles, eles embrulhariam o tronco sobre ele e jogue-o, depois leve-o com os dentes e jogue-o entre seus pés dianteiros sobre o peito, e faça exatamente como o motorista deve oferecer-lhes, e de acordo com as ordens do Imperador. Se o pedido fosse para cortá-lo em pedaços, o elefante o faria com os ferros e depois jogaria as peças entre a multidão reunida; mas, se a ordem fosse deixá-lo, ficaria deitado de frente diante do imperador, até que a pele fosse retirada, e recheado com feno, e a carne dada aos cachorros.

Portugal[editar | editar código-fonte]

Usada em Portugal desde a Idade Média, essa forma de execução popularizou-se na Inquisição e foi aplicada sempre que houve motivo, do ponto de vista da coroa.[8]

Mascarenhas Barreto, na sua História da polícia em Portugal, refere a instauração pelo marquês de Pombal da tortura de esquartejamento, exemplificada na sentença: «(..) ali, vivo, lhe sejam cortadas as mãos e que, depois, seja tirado e desmembrado por 4 cavalos, sendo o seu corpo feito em pedaços».[9]

Em Portugal em Junho de 2009 foi registrado um crime no qual uma mãe foi assassinada e esquartejada pelo próprio filho.[10]

Outras mídias[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Tortura em tempos de Estado Islâmico e ao longo da história BOL Fotos. Com acesso em 27 de junho de 2018
  2. Trio que esquartejou albino condenado à forca na Tanzânia
  3. Paranhos Junior, José Maria da Silva [Barão do Rio Branco] (1938), Efemérides Brasileiras 2ª ed. , São Paulo: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, p. 294 
  4. «21 de Abril...Tiradentes». www.ihgrgs.org.br. Consultado em 8 de julho de 2010. Arquivado do original em 27 de novembro de 2010 
  5. Amaral Lapa 1996, p. 68
  6. Amaral Lapa 1996, p. 73
  7. Battuta, "The travels of Ibn Battuta", transl. Lee, S, London 1829, pp. 146-47
  8. «Suplício judiciário: A vingança de Portugal». Consultado em 23 de setembro de 2018. Arquivado do original em 8 de outubro de 2009 
  9. Pág. 75 da referida obra, publicada em 1979.
  10. Esquartejou e congelou corpo da mãe

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Amaral Lapa, José Roberto do (1996), A cidade: os cantos e os antros : Campinas, 1850-1900, ISBN 9788531403378, EdUSP, pp. 361 páginas