Diplomacia do panda – Wikipédia, a enciclopédia livre

Primeira-dama dos Estados Unidos Pat Nixon visitando a exibição de pandas do Zoológico de Pequim em fevereiro de 1972.
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Diplomacia do panda é a denominação para o uso pela China de pandas gigantes como um instrumento de política externa, oferecendo os animais a outras nações como presentes, e mais recente, como empréstimos.[1] A prática existe deste a Dinastia Tang,[2] quando a Imperatriz Wu Zetian enviou um par de pandas ao Imperador Tenmu do Japão em 685.[3] A designação "diplomacia do panda" foi cunhada na Guerra Fria.[4] Em 2016, eram 46 os pandas emprestados pela China, distribuídos entre 11 países.[5]

Pandas na política chinesa[editar | editar código-fonte]

Entre 1957 e 1983, 24 pandas foram presenteados a 9 diferentes nações pela República Popular da China como gestos de amizade. Essas nações incluíam a União Soviética, Coreia do Norte, Estados Unidos da América e o Reino Unido.[4] Quando o presidente norte-americano Richard Nixon visitou a China em 1972, Mao Tsé-Tung prometeu enviar dois pandas a um zoológico nos Estados Unidos. Em troca, Nixon presenteou dois bois-almiscarados aos chineses.[6]

Quando os pandas, de nome Ling-Ling (fêmea) e Hsing-Hsin (macho), aterrissaram no território americano, em abril de 1972, foram doados ao Smithsonian National Zoological Park, em Washington, pela Primeira-Dama Pat Nixon. Mais de 20 000 pessoas visitaram os pandas no primeiro dia de sua exibição, e estima-se que 1.1 milhão de pessoas tenham visitado os animais no primeiro ano deles nos Estados Unidos.[7]

Os pandas se tornaram muito populares, e o presente da China foi visto como um enorme sucesso diplomático, e uma demonstração da vontade chinesa em estabelecer relações oficiais com os Estados Unidos.[8] A popularidade dos pandas levou o Primeiro-Ministro britânico Edward Heath a pedir que o Reino Unido também fosse agraciado com os animais, durante uma visita a China em 1974. Dois pandas - Chia-Chia e Ching-Ching - foram oferecidos pelos chineses, desembarcando no Zoológico de Londres algumas semanas depois.[7] Os pandas presentados ao Reino Unido iriam mais tarde se tornar a inspiração para o logo da World Wildlife Fund.[4]

Em 1984, a política dos pandas foi modificada pelo líder político da China Deng Xiaoping, passando os animais a não serem mais cedidos, mas sim emprestados. No mesmo ano, durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1984, a China presenteou a cidade de Los Angeles dois pandas, pelo aluguel de $50,000 por mês por panda. Essa prática foi novamente modificada em 1991, favorecendo-se empréstimos a longo prazo,[9] de pelo menos dez anos. As cláusulas padrões dos empréstimos incluem uma taxa de até 1 milhão de dólares, e a previsão de que filhotes nascidos durante o empréstimo são de propriedade da China.

Após o terremoto em Sujuão em 2008 danificar diversas instalações, 60 pandas precisaram de novas moradias, e a maioria foi emprestada a nações com as quais a China tinha acordos comerciais, ou a países que forneciam à China recursos como urânio.[4]

Em 16 de abril de 2014, a China pretendia enviar um par de pandas chamados Fu Wa e Feng Yi para a Malásia para marcar os 40 anos de relações diplomáticas entre os países. O envio foi adiado em razão da tragédia envolvendo o voo Malaysia Airlines 370,[10] e os pandas chegaram ao Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur no dia 21 de maio de 2014, sendo transferidos ao Zoológico Nacional da Malásia.[11][12]

Dois pandas chamados Cai Tao e Hu Chun chegaram em Jacarta em 2017 para serem acomodados no Taman Safari em Bogor, como parte das celebrações dos 60 anos das relações entre China e Indonésia.[13] Em 2018, a Finlândia concordou em cuidar de dois pandas e apoiar a política de uma China.[14] O empréstimo mais recente de um panda se deu em 5 de junho de 2019, quando Xi Jinping ofereceu dois pandas-gigantes ao Zoológico de Moscou numa visita oficial ao país russo. O gesto foi descrito pelo presidente russo Vladimir Putin como "um sinal de confiança e respeito entre os dois países".[15] Os pandas - Ru Yi, macho de dois anos, e Ding Ding, fêmea de um ano - ficarão no zoológico de Moscou por 15 anos.[15][16]

Manutenção[editar | editar código-fonte]

Mei Xiang, uma panda que está em um zoológico americano. É o panda mais velho no país

Manter pandas é muito caro. Além dos custos relacionados ao "aluguel", a obtenção de bambu suficiente também é muito dispendiosa. Um panda normalmente só consome bambu fresco, comendo 40 kg todo dia.[17] Tais fatores levam o panda a ser o animal mais caro para se manter em um zoológico, custando cerca de cinco vezes mais que um elefante.[18] Segundo o jornal The Independent, o Zoológico de Edimburgo gastava $107 000 por ano para alimentar seus dois pandas.[19] Isso levou o zoológico a pedir por doações de bambu, bem como para que jardineiros locais começassem a plantar bambu.[20] Durante a pandemia de COVID-19, tornou-se mais difícil a obtenção da planta, em razão da diminuição do número de voos. Em razão disso, o zoológico de Calgary decidiu devolver os pandas antes do término do empréstimo.[17]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Alexandre, Schossler (6 de julho de 2007). «Zeitgeist: A China e a diplomacia do panda». DW. Consultado em 5 de agosto de 2020 
  2. «The giant panda is on a bit of a roll». The Economist (em inglês). 16 de setembro de 2017. Consultado em 13 de junho de 2019 
  3. «(em inglês) Official book tells untold stories of the giant panda». China Daily. Xinhua. 21 de fevereiro de 2019. Consultado em 13 de junho de 2019. Cópia arquivada em 4 de agosto de 2019 
  4. a b c d Buckingham, Kathleen Carmel; David, Jonathan Neil William; Jepson, Paul (setembro de 2013). «(em inglês) ENVIRONMENTAL REVIEWS AND CASE STUDIES: Diplomats and Refugees: Panda Diplomacy, Soft "Cuddly" Power, and the New Trajectory in Panda Conservation». Environmental Practice. 15 (3): 262–270. ISSN 1466-0466. doi:10.1017/S1466046613000185 
  5. Superinteressante (31 de outubro de 2016). «A diplomacia dos pandas». Consultado em 5 de agosto de 2020 
  6. Burns, Alexander (4 de fevereiro de 2016). «(em inglês) When Ling-Ling and Hsing Hsing Arrived in the U.S.». The New York Times. ISSN 0362-4331. Consultado em 22 de outubro de 2019 
  7. a b Magnier, Mark (21 de março de 2006). «(em inglês) Attack of the Pandas». Los Angeles Times. Consultado em 13 de junho de 2019 
  8. Byron, Jimmy (1 de fevereiro de 2011). «(em inglês) Pat Nixon and Panda Diplomacy». The Richard Nixon Foundation. Cópia arquivada em 20 de julho de 2011 
  9. Holland, Brynn. «(em inglês) Panda Diplomacy: The World's Cutest Ambassadors». HISTORY. Consultado em 29 de outubro de 2019 
  10. «(em inglês) China delays sending pandas to Malaysia out of respect for MH370 families». Associated Press. 11 de abril de 2014. Consultado em 13 de junho de 2019. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2019 – via Global News 
  11. «(em inglês) Pandas arrive in Malaysia after MH370 delay». News24. 21 de maio de 2014. Consultado em 13 de junho de 2019. Cópia arquivada em 23 de fevereiro de 2019 
  12. «(em inglês) Pandas arrive in Zoo Negara». The Star (Malásia). 21 de maio de 2014. Consultado em 13 de junho de 2019. Cópia arquivada em 7 de outubro de 2019 
  13. «(em inglês) Indonesian zoo welcomes new arrivals thanks to China's latest act of 'panda diplomacy'». South China Morning Post. Agence France-Presse. 28 de setembro de 2017. Consultado em 13 de junho de 2019. Cópia arquivada em 14 de setembro de 2019 
  14. «(em inglês) Panda-hosting Ähtäri Zoo losing money». Yle. 10 de maio de 2018. Consultado em 13 de junho de 2019 
  15. a b Reuters (6 de junho de 2019). «China faz 'diplomacia dos pandas' e empresta dois ursos a Moscou». Consultado em 8 de agosto de 2020 – via G1 
  16. «(em inglês) 'They make you smile': Putin & Xi go full panda diplomacy at Moscow Zoo (PHOTO, VIDEO)». RT. 5 de junho de 2019. Consultado em 13 de junho de 2019. Cópia arquivada em 10 de junho de 2019 
  17. a b Ward, Rachel (12 de maio de 2020). «(em inglês) Calgary Zoo to ship giant pandas back to China early due to difficulty getting bamboo during pandemic». Canadian Broadcasting Corporation. Consultado em 31 de maio de 2020. Cópia arquivada em 24 de maio de 2020 
  18. Ryan, Jillian; Litchfield, Carla (25 de junho de 2019). «Por que a China empresta e aluga pandas a zoológicos ao redor do mundo». BBC. Consultado em 8 de agosto de 2020 
  19. «(em inglês) Zoo orders Chinese food delivery from Holland». The Independent. 8 de novembro de 2011. Consultado em 22 de outubro de 2019. Cópia arquivada em 22 de outubro de 2019 
  20. Carswell, Clare (17 de janeiro de 2011). «(em inglês) Zoo to ask for bamboo donations». Deadline News. Consultado em 22 de outubro de 2019O 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]