Discípulos de Emaús – Wikipédia, a enciclopédia livre

A Ceia em Emaús.
1601. Por Caravaggio, atualmente na National Gallery, em Londres.
Jantar em Emaús.
1618. Por Diego Velázquez, atualmente no Metropolitan Museum of Art, em Nova Iorque.

Discípulos de Emaús é uma das primeiras aparições de Jesus após a ressurreição, logo após a sua crucificação e à descoberta do túmulo vazio.[1][2] Tanto o "Encontro na estrada para Emaús" quanto o subsequente Jantar em Emaús, que relata uma refeição que Jesus teve com os dois discípulos após o encontro na estrada, se tornaram temas muito populares na arte. Adicionalmente, o evento se tornou um ponto de inspiração para batizar diversos movimentos religiosos, serviços e atividades cristãs.

O episódio está descrito em Lucas 24:13–35, onde se lê também a expressão “fica conosco, Senhor” (em latim: Mane nobiscum Domine), que inspirou diversos textos, orações e canções.

Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]

O Evangelho de Lucas descreve um encontro na estrada e uma refeição posterior, narrando como um discípulo de nome Cléopas estava viajando em direção a Emaús com um colega quando eles se encontraram com Jesus. A princípio, eles não o reconheceram e discutiram a tristeza que sentiam com os eventos recentes (a morte de Jesus). Eles o convenceram então a segui-los e a juntar-se a eles numa refeição, durante a qual eles o reconheceram.

Em Marcos 16:12–13 há um relato similar, que descreve a aparição de Jesus a dois discípulos enquanto eles estavam andando numa zona rural, quase que no mesmo ponto da narrativa evangélica,[3] embora Marcos não nos dê o nome e nem o destino destes discípulos:

«Depois disto manifestou-se sob outra forma a dois deles que iam a caminho para o campo. Eles foram anunciá-lo aos mais, mas nem a estes deram crédito.» (Marcos 16:12–13)

O Evangelho de Lucas afirma que Jesus ficou com os discípulos e jantou com eles após o encontro na estrada:

«Aproximando-se da aldeia para onde iam, deu ele a entender que ia para mais longe. Mas eles o constrangeram, dizendo: Fica em nossa companhia, porque é tarde e o dia já declinou. Ele entrou para ficar com eles.» (Lucas 24:28–29)
Estrada para Emaús.
1640. Por Jan Wildens, atualmente no Museu Hermitage, em São Petersburgo.

A narrativa detalhada deste episódio é geralmente considerada como uma das melhores narrativas de uma cena bíblica no Evangelho de Lucas.[4] No relato, quando Jesus apareceu a Cléopas e o outro discípulo, a princípio os "olhos deles não o puderam reconhecer". Posteriormente, quando Jesus, "estando com eles à mesa, tomando o pão, deu graças, e, partindo-o, dava-lhes", eles o reconheceram. B. P. Robinson argumenta que isto significa que o reconhecimento ocorreu durante a refeição,[5] mas Raymond Blacketer nota que "Muitos, talvez a maioria, comentaristas, antigos, modernos e entre eles, enxergaram na revelação da identidade de Jesus durante a quebra do pão como tendo alguma forma de referência ou implicação eucarística".[6]

Muitos dos gnósticos acreditavam que Jesus, não sendo de fato humano, seria capaz de mudar sua aparência à vontade e que estes relatos, juntamente com outros nos apócrifos gnósticos, suportam essa crença.[7]

Na arte[editar | editar código-fonte]

Tanto o encontro na estrada como o subsequente jantar foram representados na arte, mas este último recebeu mais atenção. A arte medieval tende a mostrar o momento antes do reconhecimento de Jesus; Cristo geralmente veste um grande e pomposo chapéu para ajudar a explicar a falha em reconhecê-lo dos discípulos. Este é em geral um grande chapéu de peregrino com um broche ou, mais raramente, um chapéu judeu.

A pintura do jantar de Rembrandt (1648), atualmente no Louvre,[8] se desenvolve sobre um rascunho que ele fez seis anos antes, no qual o discípulo a sua esquerda havia levantado com as mãos juntas em oração. Em ambas, os discípulos estão espantados, maravilhados, mas não com medo. O servo ignora completamente o momento teofânico que ali acontece.[9]

Ambas versões de Caravaggio, a de Londres[10] e a de Milão,[11] que têm seis anos de diferença entre si, imitam a cor natural muito bem, mas foram criticadas por falta de decoro. O pintor mostrou Jesus sem a barba e a pintura de Londres mostra frutas sobre a mesa que estariam fora de estação. Além disso, o estalajadeiro aparece servindo vestindo um chapéu.[12]

Entre outros artistas que pintaram o jantar estão Jacopo Bassano, Pontormo, Vittore Carpaccio, Philippe de Champaigne, Albrecht Dürer, Benedetto Gennari, Jacob Jordaens, Marco Marziale, Pedro Orrente, Tintoretto, Ticiano, Velázquez e Paolo Veronese. O jantar também foi tema escolhido por um dos mais bem-sucedidos falsários de Vermeer, Han van Meegeren.

Ver também[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Jantar em Emaús

Referências

  1. Luke by Fred B. Craddock 1991 ISBN 0-8042-3123-0 page 284
  2. Exploring the Gospel of Luke: an expository commentary by John Phillips 2005 ISBN 0-8254-3377-0 pages 297-230
  3. Catholic Comparative New Testament by Oxford University Press 2006 ISBN 0-19-528299-X page 589
  4. Luke for Everyone by Tom Wright, 2004 ISBN 0-664-22784-8 page 292
  5. B. P. Robinson, "The Place of the Emmaus Story in Luke-Acts," NTS 30 [1984], 484.
  6. Raymond A. Blacketer, "Word and Sacrament on the Road to Emmaus: Homiletical Reflections on Luke 24:13-35," CTJ 38 [2003], 323.
  7. Hoeller, pp. 64-65
  8. Ficheiro:Rembrandt Harmensz. van Rijn 023.jpg
  9. The Biblical Rembrandt by John I. Durham 2004 ISBN 0-86554-886-2 page 144
  10. Ficheiro:Michelangelo Caravaggio 011.jpg
  11. Ficheiro:Supper at Emmaus-Caravaggio (1606).jpg
  12. Art, creativity, and the sacred: an anthology in religion and art by Diane Apostolos-Cappadona 1995 ISBN 0-8264-0829-X page 64

Ligações externas[editar | editar código-fonte]