Esta noite, à meia-noite – Wikipédia, a enciclopédia livre

"Esta noite, à meia-noite" é uma canção de Natal tradicional portuguesa originária de Coimbra.[1]

História[editar | editar código-fonte]

Antifonário no Mosteiro de Tibães. Esta canção foi influenciada pelo cantochão.

Esta canção de Natal foi coligida na cidade de Coimbra no ano de 1882 por Pedro Fernandes Tomás, contudo, só foi efetivamente publicada vários anos depois, em 1913, nas suas Velhas Canções e Romances Populares Portugueses.[1] Partindo desta publicação, foi harmonizada pelo compositor português Fernando Lopes-Graça que a incluiu como um dos andamentos da sua Primeira Cantata do Natal, terminada em 1950.[2]

O coletor Pedro Fernandes Tomás acrescenta também uma curta análise da obra; sobre a melodia refere:

"[Esta noite, à meia-noite] denota influências de cantochão, forma antiquada e estranha".[1]

Assim, dá a entender que esta canção de Natal popular exibe características que a aproximam do canto monofónico utilizado na liturgia católica que lhe dá, segundo Pedro Fernandes Tomás, uma aparência multissecular. Esta possível influência não gera surpresa, uma vez que o povo de Coimbra viveu desde o Medievo rodeado de importantes conventos e mosteiros como o Mosteiro de Santa Clara a que uma das quadras parece fazer referência.

Letra[editar | editar código-fonte]

Mestre dos Túmulos Reais: Virgem do Leite (1520-25) no Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra

A melodia admite uma infinidade de coplas tradicionais, todas ligadas à Natividade ou Infância de Jesus[1] mas sem evidente coerência. A versão de Fernando Lopes-Graça reduz significativamente o número de quadras, incluindo apenas a primeira e a quinta de todas as que foram transcritas por Pedro Fernandes Tomás.

(1)

Esta noite, à meia-noite,
Ouvi cantar ao divino;
Eram os anjos do Céu
A embalar o Menino.
(2)

Ó meu Menino Jesus,
Quem Vos deu, por que chorais?
Deu-me minha avó Sant’Ana
Por eu fugir a meus pais.
(3)

Ó meu Menino Jesus,
Quem Vos deu, por que chorais?
Deram-me as moças na fonte
Não volto lá nunca mais.
(4)

Ó meu Menino Jesus
Que é da Vossa cabeleira?
Deixei-a em Santa Clara
No regaço duma freira.
(5)

O Menino está na neve
O frio O faz tremer;
Ó meu Menino Jesus,
Quem Vos pudera valer.
(6)

Eu bem vi Nossa Senhora
No presépio de Belém
Com seu filhinho ao colo
Que lhe estava muito bem.
(7)

Ó meu rico São José
Pegai no vosso menino
Que entre folhas está deitado
A chorar, que é pequenino.[1]

Discografia[editar | editar código-fonte]

  • 1956Cantos Tradicionais Portugueses da Natividade. Coro de Câmara da Academia de Amadores de Música. Radertz. Faixa 12.
  • 1978Primeira Cantata do Natal. Grupo de Música Vocal Contemporânea. A Voz do Dono / Valentim de Carvalho. Faixa 12.
  • 1994Lopes Graça. Grupo de Música Vocal Contemporânea. EMI / Valentim de Carvalho. Faixa 12.
  • 20001ª Cantata do Natal Sobre Cantos Tradicionais Portugueses de Natividade. Coral Públia Hortênsia. Edição de autor. Faixa 12.
  • 2012Fernando Lopes-Graça - Obra Coral a capella - Volume II. Lisboa Cantat. Numérica. Faixa 15.
  • 2013Fernando Lopes-Graça - Primeira Cantata de Natal. Coro da Academia de Música de Viana do Castelo. Numérica. Faixa 12.[2]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b c d e Tomás, Pedro Fernandes (1913). Velhas Canções e Romances Populares Portuguêses 1 ed. Coimbra: França Amado, editor 
  2. a b Paula de Castro; Miguel Azguime, et al. «Primeira Cantata do Natal». Centro de Investigação & Informação da Música Portuguesa