Filosofia cristã – Wikipédia, a enciclopédia livre

Filosofia cristã é o conjunto de ideias filosóficas iniciadas pelos seguidores de Jesus Cristo do século II aos dias de hoje.

Esta filosofia surgiu com o intuito de unir ciência e , partindo de explicações racionais naturais tendo o auxílio da revelação cristã. Vários pensadores acreditavam que havia uma relação harmoniosa entre a ciência e a fé, outros afirmavam que havia contradição e outros tentavam diferenciá-las. Esta mesma discussão era questionada nos campos da filosofia e da fé. Diversos filósofos relacionavam o pensamento grego com o pensamento cristão.

Há estudiosos que questionam a existência de uma filosofia cristã propriamente dita. Esses afirmam que não há originalidade no pensamento cristão e seus conceitos e ideias são herdadas da filosofia grega. Sendo assim, a filosofia cristã seria resguardadora do pensamento filosófico, que já estaria definitivamente elaborado pela filosofia grega, e defensora da fé.

No entanto, Boehner e Gilson afirmam que a filosofia cristã não é simples repetição da filosofia antiga, embora que devam à ciência grega os conhecimentos elaborados por Platão, Aristóteles e os Neo-platônicos. Chegam a afirmar que na filosofia cristã a cultura grega sobrevive em forma orgânica.[1] Os mestres gregos eram assim os pedagogos dos pensadores cristãos. A filosofia cristã não é um conjunto de escolas inúteis, pois tais preconceitos constituem radicalismos que desejam destruir o pensamento da tradição e reconstruir um edifício totalmente novo, negando o que se construiu no passado.

Aspectos Históricos da Filosofia cristã[editar | editar código-fonte]

A Filosofia cristã inicia-se por volta do século II. Ela surge através do movimento da comunidade cristã chamada Patrística, que tinha como principal objetivo a defesa da fé. É provável que a Patrística tenha finalizado por volta do século VIII.[2] Do século XI em diante a filosofia cristã manifestou-se através da Escolástica. Este é o período da filosofia medieval ou da Idade Medieval que estendeu-se até o século XV, como assinala T. Adão Lara. A partir do século XVI a filosofia cristã, com suas teorias, passa a conviver com teorias científicas e filosóficas independentes.

O desenvolvimento das ideias cristãs representa uma ruptura em relação a filosofia dos gregos, tendo em vista que o ponto de partida da filosofia cristã é a mensagem religiosa cristã. Jesus Cristo não se apresenta como um fundador de escola, que investiga e propõe seu sistema de ideias e explicação para o Universo a um grupo de iniciados; revela-se como Deus salvador que comunica a verdade em sua plenitude.[3] A actividade missionária dos apóstolos, seguidores de Jesus Cristo, contribuiu para a difusão da mensagem cristã, mesmo que no seu início o cristianismo tenha sido alvo de perseguições.

A partir do império de Constantino I, o Grande o cristianismo torna-se oficialmente reconhecido (ver: Édito de Milão). Este é momento histórico inicial da História Ocidental propriamente dita. A justiça romana, a cultura grega e o cristianismo ascendente imbricados, pode-se dizer até com alguns objectivos éticos comuns, estabelecem novos rumos para o pensamento cristão.

A estrutura da obra de T. Adão Lara nos indica uma importante divisão dos aspectos da filosofia cristã na Idade Média:

I. A filosofia medieval, em gestação: a Patrística (séc. II-VII);
II. A filosofia medieval, no período da constituição e de maior riqueza conceitual: a Escolástica (séc. IX-XIII)
III. A filosofia medieval em processo de mutação e superação: os Pré-modernos (séc. XIV-XV).[4]

Esta estrutura de Lara mostra a caracterização histórico-temática clara e sem preconceitos, o que efectivamente demonstra os aspectos históricos da filosofia cristã na era medieval.

Mas para se falar sobre isso seria preciso sentir Deus na sua vida, pois seria como a filosofia procurava a verdade.

Características da Filosofia Cristã[editar | editar código-fonte]

Demonstração natural[editar | editar código-fonte]

Suas proposições necessitam ser demonstradas de forma natural e utiliza-se de reflexões condicionadas pela experiência - com o uso da razão. O ponto de partida filosófica da filosofia cristã é a lógica, não excluindo as doutrinas teológicas cristãs.[5] Embora haja relação entre as doutrinas teológicas e a reflexão filosófica na filosofia cristã, as reflexões desta possui caracterização estritamente racional.

Justificação das verdades de fé[editar | editar código-fonte]

Não deve haver contrariedade entre a filosofia cristã e as verdades de fé. Em seus argumentos e proposições a filosofia cristã procurar aperfeiçoar-se, embora não gozando de total infalibilidade. Não há aberta oposição à doutrina da igreja, pois a filosofia que assim o fizer não pode ser chamada de filosofia cristã, mas filosofia padrão. A verdade revelada é benéfica porque evita erros em questões essenciais.

Fundamentalmente o ideal filosófico cristão é tornar evidente racionalmente, através da razão natural, as convicções religiosas. A atitude do filósofo cristão é determinada pela fé em questões referentes à cosmologia e o quotidiano. Diferente do filósofo, o filósofo cristão busca condições para a identificação da verdade eterna, sendo caracterizado pela religiosidade.[6]

Há críticas a essa filosofia pelo fato da religião cristã ser hegemônica desta época e centralizar a elaboração de todos os valores. Questiona-se a coexistência de filosofia e religião, pois a filosofia em si é crítica e a religião fundada na revelação e dogmas estabelecidos. Lara acredita que houve questionamento e escritos com características filosóficas no Medievo, embora tendo predominância da religião e da Teologia.[7] Desta forma era estabelecido pelos dogmas, em alguns aspectos, não impediram que houvesse construções filosóficas significativas.

A tradição[editar | editar código-fonte]

A filosofia cristã desenvolveu-se a partir de filosofias predecessoras. Justino fundamenta-se na filosofia grega, a escolástica em Agostinho e na Patrística. Está na tradição do pensamento filosófico cristão o Judaísmo, de quem foi herdado o Antigo Testamento e mais fundamentalmente a mensagem do Evangelho, que constitui o centro da mensagem defendida pelo cristianismo.

A concepção cristã européia em seu início, a Patrísitica, recebe influência tanto dos Judeus quanto dos Árabes. Esta Europa Cristã não permaneceu enclausurada em si mesma, mas sofreu fortes influências de outras culturas.[8]

Elucidação da fé[editar | editar código-fonte]

Clarificar a fé é um dos principais problemas investigados pela filosofia cristã.

Os problemas de base são: Imortalidade da alma, liberdade;

Os problemas imprescindíveis: questões lógicas e epistemológicas e divisão das ciências; Os não essenciais: a filosofia da natureza.[9]

Visão sistematizadora[editar | editar código-fonte]

Existe a tentativa de sistematizar de forma ampla e total os problemas da realidade num todo harmónico. Há carência de espírito criativo, o que é compensado com a visão de conjunto. A própria revelação proporciona ao cristão uma visão geral.[9]

A Sagrada Escritura[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Bíblia

O cristianismo surge como religião fundamentada em fatos históricos que envolvem Jesus de Nazaré e um pequeno grupo de galileus. Coube a estes o anúncio do aparecimento do Messias esperado pelos profetas do Antigo Testamento.

A filosofia procura interpretar racionalmente os fenómenos do mundo. Como religião, houve necessidade do cristianismo defrontar-se com a filosofia helénica por causa da posição religiosa dos gregos. As especulações gregas são questionadas tanto como fundamento da verdade absoluta dada pela revelação e a cura pela fé e pela Graça.

Filósofos cristãos[editar | editar código-fonte]

Idade Antiga[editar | editar código-fonte]

Idade Medieval[editar | editar código-fonte]

Renascença e início da Idade Moderna[editar | editar código-fonte]

Modernidade e Idade Contemporânea[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências[editar | editar código-fonte]

  1. Boehner, Philoteus. Gilson, Etienne. História da filosofia cristã: desde as origens até Nicolau de Cusa, 8a edição, Petrópolis, Vozes, 2003, pág 571.
  2. Franca, Leonel (1965). Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: AGIR. p. 75 
  3. Franca, Leonel (1965). Noções de História da Filosofia. Rio de Janeiro: AGIR. p. 73 
  4. Lara, pág 13.
  5. Boehner, pág. 10
  6. Boehner, pág. 10-11
  7. Lara, pág. 11
  8. Lara, pág. 13
  9. a b Boehner, pág. 12

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Boehner, Philoteus. Gilson, Etienne. História da filosofia cristã: desde as origens até Nicolau de Cusa, 8a edição, Petrópolis, Vozes, 2003.
  • Lara, Tiago Adão. Curso de história da filosofia: A filosofia nos tempos e contratempos da cristandade ocidental, Petrópolis, Vozes, 1999.
  • Störig, Hans Joachim. História Geral da Filosofia, Petrópolis, Vozes, 2008.
  • Villaça, Antonio Carlos (1981). O Pensamento Católico no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar Editores 
  • Boehner, Philotheus; Gilson, Etienne (2000). História da Filosofia Cristã - Desde Orígenes até Nicolau de Cusa. Petrópolis: Editora Vozes