Fricativa velar surda – Wikipédia, a enciclopédia livre

Fricativa velar surda
x
IPA 140
Codificação
Entidade (decimal) x
Unicode (hex) U+0078
X-SAMPA x
Kirshenbaum x
Som

A fricativa velar surda é um tipo de fone consonantal empregado em alguns idiomas. O símbolo deste som tanto no alfabeto fonético internacional quanto no X-SAMPA é x. Este som ocorre na maioria dos dialetos do Sudeste e do Centro-Oeste do Brasil, dentro do português brasileiro, em palavras como "rio" e "erro". Ela também ocorre no alemão em palavras como "achtung", em castelhano (pronúncia de Castela-a-Velha) em palavras como "jamón", e em esperanto em palavras como "monaĥo"

Também é usado na transcrição ampla em vez do símbolo ⟨χ⟩, o chi grego, para a fricativa uvular surda.

Há também uma fricativa pós-velar surda (também chamada de pré-uvular) em algumas línguas.

Características[editar | editar código-fonte]

  • Sua forma de articulação é fricativa, ou seja, produzida pela constrição do fluxo de ar por um canal estreito no local da articulação, causando turbulência.
  • Seu local de articulação é velar, o que significa que se articula com a parte posterior da língua (dorso) no palato mole.
  • Sua fonação é surda, o que significa que é produzida sem vibrações das cordas vocais.
  • Em alguns idiomas, as cordas vocais estão ativamente separadas, por isso é sempre sem voz; em outras, as cordas são frouxas, de modo que pode assumir a abertura de sons adjacentes.
  • É uma consoante oral, o que significa que o ar só pode escapar pela boca.
  • É uma consoante central, o que significa que é produzida direcionando o fluxo de ar ao longo do centro da língua, em vez de para os lados.
  • O mecanismo da corrente de ar é pulmonar, o que significa que é articulado empurrando o ar apenas com os pulmões e o diafragma, como na maioria dos sons.

Variantes[editar | editar código-fonte]

IPA Description
x Plano
Labializado
Ejetivo
xʷʼ Labializado ejetivo
x̜ʷ Semi-labializado
x̹ʷ Fortemente labializado
Palatalizado
xʲʼ Ejetivo palatalizado

Ocorrência[editar | editar código-fonte]

A fricativa velar surda e sua variedade labializada são postuladas como tendo ocorrido em proto-germânico, o ancestral das línguas germânicas, como o reflexo das oclusivas velares palatais e velares surdas proto-indo-européias e a oclusiva velar surda labializada. Assim, *ḱr̥nom "chifre" proto-Indo-europeu e *kʷód "o que" se tornou *hurnan e *hwat protogermânico, onde *h e *hw eram provavelmente [x] e [xʷ]. Essa mudança de som faz parte da lei de Grimm.

No grego moderno, a fricativa velar surda (com sua consoante alófona a fricativa palatal surda [ç], ocorrendo antes das vogais anteriores) originou-se do stop aspirado surdo /kʰ/ do grego antigo em uma mudança de som que lenitava as paradas aspiradas gregas em fricativas.

Língua Palavra AFI Significado Notas
Abaza хьзы [xʲzə] Nome
Adigue хы [xəː] Seis
Albanês gjuha [ɟuxɑ] Língua Alofone de /h/.
Aleúte Dialeto atkan alax [ɑlɑx] Dois
Árabe Padrão moderno خضراء [xadˤraːʔ] Verde Pode ser velar, pós-velar ou uvular, dependendo do dialeto.[1]
Assamês মীয়া [ɔxɔmia] Assamês
Assírio neoramaico kha [xaː] Um
Avar чeхь / ҫeẋ [tʃex] Umbigo
Azerbaijani x / хош/خوش [xoʃ] Prazeroso
Basco Alguns falantes[2] jan [xän] Comer Velar ou pós-velar.[2] Para outros falantes é j ~ ʝ ~ ɟ.[3]
Bretão hor c'hib [or xiː] Nosso cachorro
Búlgaro тихо / tiho [ˈt̪ixo] Quietamente Descrito como tendo "apenas fraca fricção" ([x̞]).[4]
Chinês Mandarim / hé [xɤ˧˥] Rio
Tcheco chlap [xlap] Cara
Dinamarquês Sul da jutlândia kage [ˈkʰæːx] Bolo
Neerlandês Belga padrão[5][6] acht [ɑxt] Oito Pode ser pós-palatal /ç̠/ ao invés. Em dialetos falados acima dos rios Rhine, Meuse and Waal o som correspondente é um trinado fricativo pósvelar-uvular /ʀ̝̊˖/.[6]
Sul dos Países Baixos[6][7]
Inglês Escocês loch [ɫɔx] Loch Falantes mais jovens juntam esse som com /k/.[8][9]
Scouse[10] book [bʉːx] Livro Um alofone do final de sílabas de /k/ (lenição).
Esperanto monaĥo [monaxo] Monge
Eyak duxł [tʊxɬ] Armadilhas
Finlandês kahvi [ˈkɑxʋi] Café Alofone de /h/.
Francês jota [xɔta] Jota Aparece em palavras emprestadas (de espanhol, árabe, chinês, etc.).
Georgiano[11] ჯო / joxi [ˈdʒɔxi] Graveto
Alemão Buch [buːx] Livro
Grego τέχνη / ch [ˈte̞xni] 'art'
Hebraico מִיכָאֵל/micha'el [mixaʔel] Michael
Hindustâni Hindi ख़ुशी/khushii/khushī [xuʃiː] Felicidade
Urdu خوشی/khushii/khushī
Húngaro sahhal [ʃɒxːɒl] Com um
Islandês október [ˈɔxtoːupɛr̥] Outubro
Indonésio khas [xas] Típico Aparece em palavras emprestadas do árabe. Normalmente pronunciado como [h] ou [k] por alguns indonésios.
Irlandês deoch [dʲɔ̝̈x] Beber
Japonês 発表 / happyō [xa̠p̚ʲpʲo̞ː] Anúncio Alofone de /h/.
Cabardiano хы [xəː] Mar
Coreano 흥정 / heungjeong [xɯŋd͡ʑʌŋ] Barganha Alofone de /h/ antes /ɯ/.
Curdo xanî [xɑːˈniː] Casa
Limburguês[12][13] loch [lɔx] Ar A palavra de exemplo vem do dialeto maastrichtiano.
Lituano choras [ˈxɔrɐs̪] Coro Apenas em palavras emprestadas (normalmente palavras internacionais)
Lojban xatra [xatra] Carta
Macedônio Охрид / Ohrid [ˈɔxrit] Ohrid
Malaio akhir [a:xir] Fim Ocorre em empréstimos em árabe. Frequentemente pronunciado como [h] ou [k] por alguns malaios.
Manês aashagh [ˈɛːʒax] Fácil
Nepali आँखा [ä̃xä] Olho Alofone de /kʰ/.
Norueguês Urbano oriental[14] hat [xɑːt] Ódio Possível alofone de /h/ em vogais quase anterior; pode ser expresso [ɣ] entre dois sons sonoros.[14]
Persa دُختَر/dokhtar [dox'tær] Filha
Polonês[15] chleb [xlɛp] Pão Também (na grande maioria dos dialetos) representado ortograficamente por ⟨h⟩.
Português Fluminense arte [ˈaxtɕi] Arte Variação livre de [χ], [ʁ], [ħ] e [h] antes de consoantes surdas.
Brasileiro geral[16] arrasto [ɐ̞ˈxastu] Arrasto Alguns dialetos, corresponde a uma consoante rótica /ʁ/.
Punjabi Gurmukhi ਖ਼ਬਰ/khabar [xəbəɾ] Notícias
Shahmukhi خبر/khabar
Romeno hram [xräm] Festa patronal de uma igreja Alofone de /h/.
Russo[17] хороший / chorošij [xɐˈr̠ʷo̞ʂɨ̞j] Bom
Gaélico escocês[18] drochaid [ˈt̪ɾɔxɪtʲ] Ponte
Servo-Croata храст / hrast [xrâːst] Carvalho
Eslovaco chlap [xɫäp] Cara
Somali khad [xad] Tinta
Espanhol[19] Latino-americano[20] ojo [ˈo̞xo̞] Olho Pode ser glotal no lugar;[20] no norte e centro da Espanha é normalmente pós-velar[20][21][22] ou uvular /χ/|/h/.[22][23]
Sul da Espanha[20]
Sylheti ꠛꠞ/khabar [xɔ́bɔɾ] Notícias
Tagalo bakit [baxit] Porque Alofone de /k/ em posições intervocálicas.
Turco[24] ıhlamur [ɯxlamuɾ] Tília Alofone de /h/.[24]
Tyap kham [xam] 1. Cabaça; 2. Prostituta
Xhosa rhoxisa [xɔkǁiːsa] Cancelar
Ucraniano хлопець / chlopeć [ˈxɫɔ̝pɛt͡sʲ] Menino
Usbeque[25] xurma [xurma] Tamareira Pós-velar.[25] Ocorre em ambientes diferentes da palavra-inicial e pré-consonantal, caso contrário, é pré-velar.[25]
Vietnamita[26] không [xəwŋ͡m˧] Não, zero
Yagan xan [xan] Aqui
Yi / he [xɤ˧] Bom
Zapoteco Tilquiapano[27] mejor [mɘxoɾ] Melhor Usado na maior parte em palavras emprestadas do espanhol

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Watson (2002), pp. 17, 19–20, 35–36 and 38.
  2. a b Hualde & Ortiz de Urbina (2003), pp. 16 and 26.
  3. Hualde & Ortiz de Urbina (2003), p. 16.
  4. Ternes, Elmer; Vladimirova-Buhtz, Tatjana (1999). «Bulgarian». Handbook of the International Phonetic Association. [S.l.]: Cambridge University Press. 55 páginas. ISBN 978-0-521-63751-0 
  5. Verhoeven 2005, p. 243.
  6. a b c Collins & Mees 2003, p. 191.
  7. Gussenhoven 1999, p. 74.
  8. Annexe 4: Linguistic Variables
  9. «University of Essex :: Department of Language and Linguistics :: Welcome». Essex.ac.uk. Consultado em 1 de agosto de 2013 
  10. Wells (1982):373
  11. Shosted & Chikovani (2006), p. 255.
  12. Gussenhoven & Aarts 1999, p. 159.
  13. Peters 2006, p. 119.
  14. a b Vanvik 1979, p. 40.
  15. Jassem (2003), p. 103.
  16. Barbosa & Albano (2004), pp. 5–6.
  17. Padgett (2003), p. 42.
  18. Oftedal, M. (1956) The Gaelic of Leurbost. Oslo. Norsk Tidskrift for Sprogvidenskap.
  19. Martínez-Celdrán, Fernández-Planas & Carrera-Sabaté (2003), p. 255.
  20. a b c d Chen (2007), p. 13.
  21. Hamond 2001, p. ?, citado em Scipione : et al. 2005, p. 128
  22. a b Lyons (1981), p. 76.
  23. Harris & Vincent (1988), p. 83.
  24. a b Göksel & Kerslake 2005, p. 6.
  25. a b c Sjoberg (1963), pp. 11–12.
  26. Thompson (1959), pp. 458–461.
  27. Merrill (2008), p. 109.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]