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Máximo Gorki
Máximo Gorki
Nascimento 28 de março de 1868
Nijni Novgorod
Império Russo
Morte 18 de junho de 1936 (68 anos)
Moscou, RSFS da Rússia
União Soviética
Residência Cápri, Sorrento, Nijni Novgorod, São Petersburgo, Moscovo
Sepultamento necrópole da Muralha do Kremlin
Cidadania Império Russo, União Soviética
Cônjuge Yekaterina Peshkova, Maria Fyodorovna Andreyeva
Filho(a)(s) Maxim Peshkov
Ocupação escritor, romancista, dramaturgo, contista, ativista político
Prêmios
Empregador(a) Pushkin House
Obras destacadas Os Vagabundos
Escola/tradição realismo/naturalismo
Movimento estético realismo socialista
Religião ateísmo
Causa da morte pneumonia
Assinatura

Máximo Gorki (em russo: Максим Горький), pseudônimo de Alexei Maximovitch Peshkov (em russo: Алексей Максимович Пешков; Nijni Novgorod, 28 de março de 1868Moscovo, 18 de junho de 1936), foi um escritor, romancista, dramaturgo, contista e ativista político russo.[1]

Gorki foi escritor de escola naturalista que formou uma espécie de ponte entre as gerações de Anton Tchekhov e Liev Tolstói, e a nova geração de escritores soviéticos.

Foi também um dos principais teóricos da Construção de Deus.[2]

Os anos difíceis da infância em Nijni Nóvgorod[editar | editar código-fonte]

Gorki nasceu em um meio social pobre, em Nijni Novgorod, cidade que em 1932 passou a se chamar Gorki (em homenagem ao próprio escritor) por ordem de Stalin. O nome da cidade foi revertido para o nome original em 1991. Órfão de pai foi criado pelo avô materno que era tintureiro. Em 1878 quando sua mãe faleceu teve que deixar a casa do avô para ir trabalhar. Foi sapateiro, desenhista, lavador de pratos num navio que percorria o Volga, onde teve contato com alguns livros emprestados pelo cozinheiro, o que acabou despertando sua consciência política.

Os primeiros passos como escritor[editar | editar código-fonte]

Em 1883, com apenas 15 anos, publica dois romances, Romá Gordieiev e Os Três; aos 16 anos, muda-se para Kazan, onde tenta cursar gratuitamente a universidade, porém, não consegue e, frustrado, vai trabalhar como vigia num teatro para sobreviver. Mais tarde torna-se pescador no mar Cáspio e vendedor de frutas em Astrakan. Como a situação não melhorava, decide ir em busca de melhores oportunidades, e viaja para Odessa com um grupo de marginais nômades que iam de cidade em cidade à procura de emprego. Assim, ele exerce várias profissões, sofre com a miséria, a fome e o frio. Aos 19 anos volta a morar em Kazan, onde, desesperado com a situação e sem vontade de continuar vivendo, tenta o suicídio com um tiro, o qual atinge um dos pulmões, mas sobrevive e para piorar mais a situação, adquire tuberculose. Mas essa experiência fatídica resultará anos depois em dois escritos: Um incidente na vida de Makar, escrito em 1892, e, Como aprendi a escrever, publicado, muito mais tarde, em 1912.

A iniciação ao comunismo[editar | editar código-fonte]

A partir da frustrada tentativa contra sua vida, engaja-se na vida política, lê Marx e segue os passos de Lênin. Em 1890 é preso em Nijni-Nóvgorod, acusado de exercer atividades subversivas; pouco tempo depois, foi posto em liberdade e volta a viajar sem destino acompanhado de indigentes miseráveis.

Publica seu primeiro conto em 1892, intitulado Makar Tchudra, e, para desviar a atenção das autoridades, que o vigiavam, adota o pseudônimo Máximo Gorki, o que lhe facilitou um emprego no jornal de Samara, o Saramarskaia Gazieta. Assim, consegue grande alcance, tanto como jornalista quanto como escritor. Logo a seguir, Gorki aderiu novamente ao marxismo e militou em inúmeros grupos revolucionários, o que lhe resultou em mais uma temporada na prisão.

O primeiro grande sucesso[editar | editar código-fonte]

Após sair da prisão em 1901, começa a escrever para teatro. Em julho, escreve Ralé, peça em que a fala é menos pronunciável e os gestos reconstituídos que o intangível fluxo de almas humanas no interminável e escorregadio contato de uma com as outras. A peça reúne suas cambiantes sobre um foco definido e sua conclusão tem uma firmeza clássica.

Em 1902, escreve Pequenos Burgueses, peça teatral, a qual, segundo críticos atuais, se Gorki escrevesse hoje, não mudaria uma única palavra. A estreia de Pequenos Burgueses foi no Teatro de Arte de Moscou, e a peça obteve um grande sucesso, mesmo com os cortes impostos pela censura. O texto foi concebido em 1900, quando ainda se encontrava preso, e Gorki trabalhou algum tempo na peça, até que ela atingisse uma forma satisfatória. No início tinha o título de: Cenas em Casa dos Bessemov, Esboço Dramático em Quatro Atos. Na verdade, a peça não segue uma linha de ação única, mas é antes um mosaico de situações e personagens representativas da vida russa da época. As personagens de Pequenos Burgueses vivem num meio mesquinho, revelando-se quase sempre impotentes para vencer as barreiras desse meio. A impotência, em vários níveis, é o único elemento comum a todas elas. Cada um por seus motivos não consegue romper o asfixiante círculo familiar. A peça mostra o conflito entre os membros de uma família de comerciantes, dominada pela figura do pai autoritário que reprime os impulsos do filho intelectual e da filha deprimida. O único insurgente é o filho adotivo, o ferroviário Nill, que Gorki elege como uma espécie de operário do ano, isto é, um herói que vai conduzir a Rússia à revolução.

Novamente a prisão[editar | editar código-fonte]

Toma parte, em 1905, na primeira revolução que pretendia derrubar o Czar Nicolau II da Rússia, e após o fracasso da intentona, acabou preso por subversão na cadeia de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo. No ano seguinte, porém, com a ajuda de outros intelectuais e sob fortíssima pressão da comunidade internacional, as autoridades russas foram obrigadas a libertá-lo. Organiza, a seguir, o jornal Nóvaia Jizni (Vida Nova), mas é obrigado a abandonar a Rússia.

Anos de exílio[editar | editar código-fonte]

1906

Vai para os Estados Unidos, mas sua permanência é dificultada pelo embaixador russo, e, é vigiado pelo dono de um jornal de grande alcance, que o acusa de imoralidade pública já que ele se casara pela terceira vez. Juntamente com sua mulher Maria Budberg, se refugia em Staten Island, viaja então para a Itália e, em 1906 fixa sua residência em Capri, onde cria uma escola para imigrantes revolucionários que vai até 1914. Lá, escreve em 1906, Os Bárbaros, a peça de teatro, Os Inimigos, e o romance A Mãe em 1907.

Durante esse tempo de tranqüilidade em Capri escreve, Os Últimos em 1908, Gente Esquisita em 1910, Vassa Alheleznova em 1911, Os Kykov em 1912, e a trilogia autobiográfica: Infância', Ganhando meu pão e Minhas Universidades em 1912-13. Mas a sua obra-prima seria mesmo A Confissão, escrita em 1908.

A volta à Rússia[editar | editar código-fonte]

Com o início da Grande Guerra em 1914, Gorki retorna a Rússia, dirige um jornal mensal Liétopis (crônica). Acompanha a revolução sem entretanto ir ao front, e torna-se grande amigo de Lênin.

Em 1921 adoece gravemente dos pulmões e volta para a Itália, em busca de um clima melhor, permanecendo em Sorrento durante vários anos. Ali escreve Recordações sobre Lênin em 1924, Os Artamonov em 1925 e A vida de Klim Samgin em 1927-36. Apesar de sua amizade com Lênin, o escritor só retornou definitivamente à Rússia em 1928, quando então, Gorki decide estabelecer-se definitivamente na União Soviética, apesar de sua saúde precária, transformando-se de imediato na maior figura literária do regime comunista.

Escreve então Yegor Bolychov, retratando o fim da classe média por meio da história de um comerciante. Em 1933, funda com o apoio de Stálin, o Instituto de Literatura Máximo Gorki.

A colaboração com o regime totalitário soviético[editar | editar código-fonte]

O escritor Aleksandr Soljenítsyn, ganhador do prêmio Nobel de Literatura de 1970, relata um episódio desabonador que envolve o escritor Máximo Gorki. Ainda nos primórdios do regime soviético, alguns poucos prisioneiros do campo de concentração de Solovkí conseguiram fugir e divulgaram seus relatos sobre as atrocidades cometidas no Gulag. Então, começaram a ser publicados livros na Inglaterra denunciando os fatos criminosos e cruéis praticados contra os prisioneiros, os quais relatavam a prática sistemática de torturas e de execuções sumárias..

Diante da repercussão negativa no exterior, o regime soviético enviou o escritor Máximo Gorki para inspecionar aquele campo de concentração. Soljenítsyn conta que a visita de Gorki foi precedida de uma maquiagem promovida no campo de concentração, a qual visava a esconder as condições sub-humanas impostas aos prisioneiros. Diante da opressão gerada pelo terror ali praticado, nenhum prisioneiro ousou contar a Gorki o que efetivamente ocontecia.

Entretanto, um fato inusitado ocorreu. No dia 22 de junho de 1929, durante a visita à colônia infantil, também meticulosamente maquiada, Gorki foi abordado por um corajoso adolescente de 14 anos de idade. o qual afirmou que tudo o que ele estava vendo era mentira e perguntou-lhe se Gorki queria saber a verdade. Depois de ser dada ordem para que todos saíssem, Gorki passou uma hora e meia a sós com o garoto. Soljenítsyn afirma que Gorki saiu do barracão aos prantos e usa de ironia para referir-se ao fato de que o menininho teria tentado estragar a prosperidade de Gorki, obtida em troca de apoio ao regime. O heróico menino contou aos demais todos os fatos que havia denunciado a Gorki.

Soljenítsyn afirma que, no mesmo dia, o "Livro de referências" do campo de concentração registrou uma nota escrita por Gorki, na qual há um despudorado elogio aos guardiões da Revolução Russa. No dia seguinte, o corajoso menino, o qual ousou dizer a verdade, foi impiedosamente fuzilado. Ninguém sabe o seu nome, nenhuma estátua foi erigida em sua homenagem, mas a bravura do menininho amante da verdade foi registrada no livro "Arquipélago Gulag".[3]

Soljenítsyn conta que, logo depois, aquilo que ele chama de "grande imprensa livre" publicou a manifestação de Máximo Gorki no sentido de que as denúncias feitas a respeito das atrocidades praticadas no campo de concentração de Solovkí eram infundadas e de que os prisioneiros viviam ali de modo esplêndido.

O fim[editar | editar código-fonte]

Ainda estava escrevendo A vida de Klim Samgin, quando morreu de pneumonia, em 18 de junho de 1936. Foi sepultado com todas as honras oficiais e seu féretro acompanhado por Stálin e Molotov. Entretanto, em 1938, Leon Trótski tenta com o artigo Quatro médicos que sabiam demais, escrito para o New York Times, acusar Stálin de ter envenenado Gorki.

O legado de Gorki[editar | editar código-fonte]

Há em Gorki a força do natural e a beleza do espontâneo, que tanto fascinam, em nossa busca de legitimidade. Há também a transfiguração da realidade, o surrealismo da fuga ao legítimo, que é uma espécie de descanso do espírito, no seu enquadramento real.

O que a vida e a obra de Górki mostram não é o revolucionário perigoso que, segundo os seus adversários, teria envenenado o mundo através da literatura, mas o homem em que a memória, marcada pela lembrança das agruras sofridas e das injustiças presenciadas, anseia pela transfiguração do mundo.

A obra de Gorki centra-se no submundo russo. O ficcionista registrou com vigor e emoção personagens que integravam as classes excluídas: operários, vagabundos, prostitutas, gente humilde, homens e mulheres do povo. Autores realistas e naturalistas já tinham incorporado estes setores sociais à literatura, mas olhavam para os pobres de fora, apenas com piedade ou com frieza. Gorki, ao contrário, conhecia aquele universo por dentro – ele próprio era um desses desvalidos – e soube captar o que havia de mais profundo na alma do povo russo. Daí a impressão de autenticidade que suas obras nos transmitem.

Sem dúvida, ele foi o criador da chamada literatura proletária que teve seguidores no mundo inteiro em sua época. Mesmo que o mundo resolvesse suas diferenças e corrigisse as injustiças sociais, ainda assim faltaria o último toque, aquele toque que construiu o templo literário de Gorki, resistente às manobras ideológicas e imunes à ação do tempo.

Sua biografia está marcada pela colaboração com o regime totalitário soviético, comandado por Lênin e Stalin.

Obras destacadas[editar | editar código-fonte]

Tolstoy e Gorky em Tula, Rússia.
1900, Ialta, Rússia. Anton Chekhov e Gorky.
  • Makár Tchudrá (1892)
  • Chelkásh (1895)
  • A velha Izerguíl (1894-1895)
  • Malva (1897)
  • Os ex-hombres (1897)
  • Varenka Olessova (1898)
  • O canto do falcão (1899)
  • Tomás Gordéiev (1899)
  • Os três (1900)
  • Pequenos burgueses (1901)
  • O canto do petrel (1901)
  • O submundo (1902)
  • O homem (1903)
  • Os veraneantes (1904)
  • Os filhos do sol (1905)
  • Os bárbaros (1905)
  • Os inimigos (1906)
  • Três Vidas (1907)
  • A mãe (1906-1907)
  • Os últimos (1907-1908)
  • A vida de um homem desnecessário (1908)
  • A confissão (1908)
  • A cidade Okurov (1909)
  • A vida de Matvéi Kojemiákin (1909)
  • Vassa Jeleznova (1910)
  • Por Rússia (1912-1917), um ciclo de contos
  • Сontos da Itália (1913)
  • Infância (1913-1914)
  • Entre os homens (1915-1916)
  • Mis universidades (1923)
  • A casa dos Artamonov ou A família Artamanov (Portugal) (1925)
  • Quarenta anos. A vida de Klim Sanghin (1925-1936), tetralogía
  • En Guadia! (1931)
  • Yegor Bulychóv e os outros (1932)

Teatro[editar | editar código-fonte]

  • Albergue nocturno (1919) - em inglês é Night Lodging ou The Lower Depths. Apresentado no Teatro de Plymouth, a 22 de dezembro de 1919

Adaptações cinematográficas[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. «Máximo Gorki». Infopédia, Enciclopédia de Língua Portuguesa da Porto Editora. Consultado em 19 de setembro de 2023 
  2. Lippman, Erich (4 de setembro de 2020). «God-Seeking, God-Building, and the New Religious Consciousness». In: Emerson, Caryl; Pattison, George; Poole, Randall A. The Oxford Handbook of Russian Religious Thought (em inglês). [S.l.]: Oxford University Press 
  3. SOLJENÍTSYN, Aleksandr (2023). Arquipélago Gulag: um experimento de investigação artística (1918-1956). São Paulo: Carambaia. pp. 253–257. ISBN 978-65-5461-002-5 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • GASSNER, John. Mestres do Teatro II. Coleção Estudos Vol. 2. São Paulo. Editora Perspectiva. 1996. 2ª Edição.
  • CAMARGO, Joracy. O Teatro Soviético, Coleção Teatro no Mundo I, Rio de Janeiro, Editora Leitura. 1ª Edição.
  • EHRHARD, Macelle. A Literatura Russa, Coleção Saber Atual, Trad: J. Guinsburg. São Paulo, 1956.
  • SOLJENÍTSYN, Aleksandr (2023). Arquipélago Gulag: um experimento de investigação artística (1918-1956). São Paulo: Carambaia. pp. 253–257. ISBN 978-65-5461-002-5

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