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Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
Capa do livro
Autor(es) Leandro Narloch
Idioma Português
País Brasil
Gênero Não-ficção
Editora LeYa
Formato Médio
Lançamento 2009
Páginas 304
ISBN 9788562936067

Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil é um livro do jornalista Leandro Narloch publicado em 2009.[1]

O livro é considerado como pseudo-histórico e negacionista,[2][3][4][5] apresentando uma visão conservadora da história do Brasil.[6] Afirma que Zumbi dos Palmares tinha escravos, que os portugueses ensinaram os índios brasileiros a preservar as florestas, dentre outras distorções.[7][8] Historiadores criticaram estes e outros aspectos abordados pelo livro, por distorcer fontes históricas, reforçar preconceitos e estereótipos contra populações marginalizadas e cometer erros grosseiros que reforçam e disseminam mitos históricos.[9][10]

Após a estreia da série televisiva homônima no History Channel, os historiadores Lira Neto e Lilia Schwarcz solicitaram a exclusão das entrevistas dadas a Felipe Castanhari porque não foram informados sobre a série e seu conteúdo.[11] Lira Neto afirmou que os produtores do programa foram eticamente deploráveis e intelectualmente desonestos.[12]

Repercussão e críticas[editar | editar código-fonte]

O historiador Lira Neto considerou que os livros da série representam um desserviço aos jovens, seu público-alvo, porque argumentam de forma simplória, utilizam as fontes de forma falaciosa, além de promoverem estereótipos e reforçarem preconceitos contra minorias marginalizadas historicamente.[12]

Filipe Figueiredo, historiador, em texto redigido no site de política Xadrez Verbal, criticou a análise sobre a escravidão negra no Brasil do livro. Segundo ele: "Ao contrário do que o Narloch dá a entender, essa relação entre o europeu e o príncipe africano não era simétrica. O dinheiro e o poder militar estavam na mão dos europeus; o Guia Politicamente Incorreto inclusive diz que a principal moeda de troca por africanos capturados eram armas de fogo, produto que não existia localmente na África e que mudava o rumo de uma guerra tribal local. É que Portugal nunca teve interesse ou músculo pra exercer uma dominação concreta na costa africana, então parece que era uma relação entre iguais. Quando França e Inglaterra entraram na brincadeira, a gente sabe o que aconteceu com esses chefes tribais".[13]

O arquivista Rodrigo Moura Visoni, em artigo publicado na Revista Brasileira de História da Ciência, criticou severamente o capítulo referente a Santos Dumont, afirmando que o autor "acabou cometendo erros grosseiros e, em vez de extinguir mitos, apenas contribuiu para a disseminação de novos absurdos".[14]

O historiador José Murilo de Carvalho, por outro lado, mostrou-se favorável ao revisionismo incitado pelo livro: "(...) Essa dinâmica é boa, porque cria o debate", disse à Folha de S.Paulo.[15]

Televisão[editar | editar código-fonte]

Em 2017 o livro foi adaptado para uma série documental chamada Guia Politicamente Incorreto, exibida pelo canal pago History Channel, com apresentação do youtuber Felipe Castanhari. A estreia foi em 21 de Outubro de 2017.[16] Os produtores entrevistaram os historiadores Lira Neto, Laurentino Gomes e Lilia Schwarcz, mas não os informaram sobre o programa. Após a estreia, os historiadores solicitaram que suas participações fossem removidas do programa.[11] Lira Neto afirmou que os produtores foram eticamente deploráveis e intelectualmente desonestos, pois não o informaram que seria entrevistado para um programa baseado no livro de Narloch.[12]

Em agosto de 2020, em entrevista à jornalista Nilce Moretto, do Cadê a Chave?, Felipe Castanhari afirmou que já havia posicionado-se publicamente contra o documentário, por sentir-se também enganado pelos diretores do programa. Afirmou, inclusive, que não faz divulgação deste conteúdo pelo "desserviço" que ele apresenta.[carece de fontes?]

Capítulos[editar | editar código-fonte]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Guiapoliticamenteincorreto.com. «Os autores». Consultado em 29 de maio de 2011 
  2. Venâncio, Renato (2018). «O Incorreto no "Guia politicamente incorreto da história do Brasil"». Magazine Humanidades em Rede. É preciso, portanto, que a comunidade acadêmica se manifeste mais incisivamente a respeito dos riscos desse tipo de pseudo-história 
  3. Rocha, Igor Tadeu Camilo (2019). «Entender ou defender o Santo Ofício? Negacionismo, apologética e usos da história inquisitorial em Para entender a Inquisição (2009), de Felipe Aquino». História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography. 12 (29). ISSN 1983-9928. doi:10.15848/hh.v12i29.1371. Para Venâncio, as revisões, negações e reelaborações do passado feitas no livro por Leandro Narloch sobre temas da colonização brasileira, como a afirmação da suposta culpa dos africanos na escravidão negra ou a dos indígenas na destruição da Mata Atlântica, minimizam violências históricas do processo colonial e se articulam com posições neoliberais, refratárias a conquistas de direitos por essas populações e seus descendentes. Uma conclusão parcial que se pode tirar desses apontamentos é de que há uma estrutura lógica no negacionismo histórico que é aplicável a várias realidades, não somente às recentes. 
  4. Jesus, Carlos Gustavo Nóbrega de; Gandra, Edgar Avila (16 de dezembro de 2020). «O negacionismo renovado e o ofício do Historiador». Estudos Ibero-Americanos (3): e38411–e38411. ISSN 1980-864X. doi:10.15448/1980-864X.2020.3.38411. Tais narrativas de fácil leitura logo cativaram o grande público, mas coube a Narloch com base em um sensacionalismo sem limites obter o maior sucesso no mercado. É notório na leitura de seus livros um ponto em comum, a radicalização da apropriação do passado a partir de valores conservadores e preconceituosos:... 
  5. Colombo, Sylvia (15 de fevereiro de 2011). «História com "h" minúsculo». Folha online. Consultado em 4 de janeiro de 2021. O momento mais delicado, obviamente, é aquele em que trata da ditadura. É cada vez mais comum que novos estudos promovam uma releitura menos ideologizada do período e que cada vez menos se fale em "mocinhos" e "bandidos", como sugere Narloch. Mas o rapaz toma tão claramente um só partido da dicotomia que diz tentar combater que fica até feio. Chega a dizer coisas duvidosas, que qualquer estudioso sério da ditadura ao menos relativizaria, do tipo: "Qualquer notícia de movimentação comunista era um motivo justo de preocupação. A experiência mostrava que poucos guerrilheiros, com a ajuda de partidários infiltrados nas estruturas do Estado, poderiam sim derrubar o governo." 
  6. Ogassawara, Juliana Sayuri; Borges, Viviane Trindade (2019). «O historiador e a mídia: diálogos e disputas na arena da história pública». Revista Brasileira de História. 39 (80): 37–59. ISSN 0102-0188. doi:10.1590/1806-93472019v39n80-02. Se no livro Narloch cita a historiografia disponível (seja para corroborar seus próprios argumentos, seja para criticá-la quando dela discorda), na série a narrativa é conduzida por outros elementos (artes gráficas e intervenções pretensamente cômicas do youtuber e do autor) que eclipsam os depoimentos fragmentados das fontes. No entanto, o tom é similar: sob o selo “politicamente incorreto”, o livro e a série trazem uma visão conservadora sobre a história do Brasil, disseminando preconceitos contra índios e negros, por exemplo, ao desengavetar uma interpretação retrógrada ao representar os colonizadores europeus como paladinos do processo civilizatório nas Américas. 
  7. Marton, Fábio. «O lado B da história do Brasil». Revista Galileu. Cópia arquivada em 4 de maio de 2019 
  8. Malerba, Jurandir (8 de maio de 2014). «Acadêmicos na berlinda ou como cada um escreve a História?: uma reflexão sobre o embate entre historiadores acadêmicos e não acadêmicos no Brasil à luz dos debates sobre Public History». História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography (15): 27–50. ISSN 1983-9928. doi:10.15848/hh.v0i15.692. Radicalizando e potencializando as características da escrita histórica feita por historiadores leigos no Brasil, em 2009 apareceu um livro que logo entrou para a lista de best-sellers, alcançando a marca de mais de 100 mil exemplares vendidos em poucas semanas. Trata-se do Guia politicamente incorreto da história do Brasil, de Leandro Narloch (2009). Do ponto de vista da produção da escrita histórica, o texto se apoia na historiografia disponível, ora para corroborar seus argumentos, ora para detratá-la quando dela discorda. Sob a bandeira do “politicamente correto”, mal se disfarça uma visão altamente conservadora, quando não reacionária, retrógrada, eurocêntrica e preconceituosa da/sobre a história do Brasil. Por exemplo, em relação a negros e índios, Narloch reproduz uma interpretação típica das classes senhoriais brasileiras do século XIX segundo a qual a construção do Brasil foi obra de europeus (portugueses) e o Brasil fez-se quase que apesar da existência de negros e índios. 
  9. ANPUH Brasil 2022 A noção de “verdade” histórica no livro "O Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. no YouTube
  10. Araujo, Valdei (14 de maio de 2021). «Narratives of Brazilian History: From Liberal to Politically Incorrect». In: Stefan Berger, Nicola Brauch, Chris Lorenz (eds.). Analysing Historical Narratives: On Academic, Popular and Educational Framings of the Past. Col: Making Sense of History. 40. New York: Berghahn Books. pp. 282–303. ISBN 978-1-80073-047-2. Despite the thematic emphasis and the personification, it is possible to highlight the structural narrative of Brazil’s history that organizes the book. The driving force of the process incorporated in the characters is a philosophy of evolutionary history, debtor of social Darwinist elements and cultural racism widespread in Brazilian society. The history of humanity would be a result of the competition between people and distinct cultures in which the stronger ones inherit and transmit the civilizational heritage – usually reduced to material and technological culture. 
  11. a b «"Guia Politicamente Incorreto" engana historiadores com malandragem editorial brazuca». Jornal GGN. 22 de outubro de 2017. Consultado em 23 de outubro de 2017. Cópia arquivada em 23 de outubro de 2017 
  12. a b c «Lira Neto: Produtora e History armaram truques para criar série sobre história do país». Folha de S.Paulo 
  13. Filipe Figueiredo. «Escravos Africanos e o Tráfico Atlântico: História "Politicamente Incorreto"». BR. Consultado em 20 de novembro de 2015 
  14. Visoni, Rodrigo Moura (2015). «Santos Dumont no Guia politicamente incorreto da História do Brasil». Revista Brasileira de História da Ciência. 8 (2): 44-56 
  15. «Folha de S.Paulo - História é coisa do passado - 30/08/2011». www1.folha.uol.com.br 
  16. Metrópoles (21 de outubro de 2017). «Felipe Castanhari comanda "Guia Politicamente Incorreto" na tevê». Consultado em 23 de outubro de 2017 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]