Guigó-de-coimbra-filho – Wikipédia, a enciclopédia livre

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Estado de conservação
Espécie em perigo
Em perigo (IUCN 3.1) [2]
Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Chordata
Classe: Mammalia
Ordem: Primates
Família: Pitheciidae
Género: Callicebus
Espécie: C. coimbrai
Nome binomial
Callicebus coimbrai
Kobayashi e Langguth, 1999
Distribuição geográfica
Área de distribuição
Área de distribuição

guigó-de-coimbra-filho (nome científico: Callicebus coimbrai),[3] também genericamente referido como guigó,[4] japuçá, saá, uaiapuçá, uapuçá, iapuçá, sauá, boca-d'água, zogó, zogue-zogue, sauá[5] e calicebo,[6] é um primata endêmico da Mata Atlântica da família dos piteciídeos (Pitheciidae) e da subfamília dos calicebíneos (Callicebinae). Foi descrito em 1999.[7] Vive em pequenos fragmentos florestais em Sergipe, à exemplo do Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco, localizado do Município de Capela, e no litoral norte da Bahia. Estima-se que não restem mais do que dois mil indivíduos. O Centro de Proteção de Primatas Brasileiros (CPB/ICMBio), a Universidade Federal de Sergipe, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis de Sergipe (IBAMA/SE), e a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Sergipe (SEMARH/SE) conduzem o Projeto Guigó para estudo e conservação desta espécie.

Etimologia[editar | editar código-fonte]

Guigó foi construído a partir de uma onomatopeia,[8] enquanto sauá advém do tupi sawá[5] ou sa'gwa, que por sua vez está ligado a sagwa'su, que significa literalmente "macaco grande".[9] A forma tupi ainda gerou as demais variantes iapuçá, japuçá, uaiapuçá, uapuçá.[10] Zogó e zogue-zogue têm origem obscura.[11]

Distribuição geográfica e habitat[editar | editar código-fonte]

Ocorre no limite norte das espécies do grupo personatus na Mata Atlântica: habita os estados de Sergipe e na Bahia, com o limite norte sendo o rio São Francisco e o sul, o rio Itapicuru, na Bahia. À oeste, parece ocorrer em alguns trechos de Caatinga, mas sua ocorrência é confirmada apenas nos fragmentos de florestas úmidas em Sergipe.[12] De fato, sua ocorrência foi confirmada em 70 fragmentos de Mata Atlântica, sendo que provavelmente ocorre em duas unidades de conservação apenas: Estação Ecológica do Raso da Catarina na Bahia e Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco em Sergipe.[13] É provável que a ocorrência na Caatinga esteja relacionada à sua ocorrência original, antes que o desmatamento desconectasse as florestas úmidas do litoral com as florestas secas do interior.[13]

Habita preferencialmente áreas densamente arborizadas, preferindo o bosque denso e o dossel inferior.[7] No entanto, ele é capaz de sobreviver em florestas degradadas ou fragmentadas, que atualmente compõem uma grande parte de seu alcance. Isto é devido a uma tolerância para áreas altamente degradadas, bem como a capacidade de sobreviver em áreas compostas principalmente de florestas de crescimento jovem ou secundário.[14]

Descrição[editar | editar código-fonte]

Distingue-se facilmente de outras formas do grupo Personatus que são o Guigó-mascarado (Callicebus personatus; É. Geoffroy, 1812), Callicebus nigrifrons (Spix, 1823), o Guigó-da-caatinga (Callicebus barbarabrownae; Hershkovitz, 1990) e Callicebus melanochir (Wied-Neuwied, 1820). As diferenças mais visíveis estão na coloração da pelagem, a testa, coroa, ouvido pretos, e ter um padrão listrado que lembra a de uma zebra na parte anterior das costas. Características distintas de sua morfologia dentária e craniometria também são descritas. Em comparação com outros membros do seu grupo, o crânio é menor, e em forma ligeiramente diferente. Os dentes são também mais em forma de U, em oposição aos outros em forma de V exibidos por outros membros do grupo Personatus. Também apresenta diferente superfície dentária no seu primeiro e segundo molares superiores, quando comparado com outros membros do grupo.[7]

Comportamento[editar | editar código-fonte]

O guigó-de-coimbra-filho, tem uma dieta que consiste principalmente de folhas, mas também inclui várias frutas.[12] Geralmente vive em pequenos grupos compostos por três a cinco membros. Esse grupo geralmente contém um casal reprodutor e seus descendentes diretos que ainda vão atingir a maturidade sexual.[15] No entanto, ao atingir a maturidade sexual os indivíduos deixam seus grupos natais, e muitas vezes emigram para novas áreas. O tamanho de sua ocorrência varia, com algumas ocorrências registradas de escalas tão pequenas quanto 2 hectares (4,9 acres), e outras maiores que 20 hectares (49 acres). Também apresenta comportamento territorial e defensivo extremo quando ameaçado.[12]

Conservação[editar | editar código-fonte]

O guigó-de-coimbra-filho é atualmente considerado como ameaçadas de extinção na Lista Vermelha da IUCN devido a uma variedade de ameaças, tanto naturais quanto humanas, incluindo a perda de habitat e sua consequente fragmentação, as opções reprodutivas limitadas, e aumento da predação. Outras ameaças incluem potenciais perigos de estradas e linhas de energia e de predação por animais domésticos. A pressão da caça precisa ser determinada, mas provavelmente é moderada devido ao tamanho reduzido do corpo. Durante extensas pesquisas, alguns indivíduos foram encontrados sendo mantidos como animais de estimação[2]

A ameaça biológica primária para ele vem a partir de o seu comportamento de acasalamento. Enquanto os membros juvenis das espécies permanecem em seus grupos natais, na maturidade sexual saem e vivem independentes. Juntamente com a fragmentação do habitat enfrentado pela espécie, este comportamento limita o número de indivíduos sexualmente maduros em cada fragmento da população, limitando as opções reprodutivas.[15]

A distribuição geográfica natural da espécie contribui também uma ameaça para a espécie. O guigó-de-coimbra-filho só ocorre naturalmente nas florestas costeiras no Nordeste do Brasil. Esta é uma área relativamente pequena nos estados de Sergipe e Bahia.[7][14] Devido a este pequeno intervalo, quaisquer perturbações a essas áreas representam uma ameaça maior do que o normal para a sobrevivência da espécie.[15]

Mais do que qualquer outra coisa no entanto, a interferência humana é a fonte de diversos problemas para ele. As áreas em torno e dentro de seu habitat estão sendo desenvolvidas, incluindo a pavimentação de estradas e na promoção do turismo. Da mesma forma, está enfrentando perda de habitat devido ao aumento da exploração madeireira na área. Áreas florestais habitadas pelo guigó-de-coimbra-filho também estão sendo rapidamente convertida em pastos para pecuária. Até o início de 1900, as florestas costeiras em Sergipe haviam sido reduzidas para menos de 40% do tamanho de sua cobertura original. Essa tendência continuou durante todo o século XX, e estas florestas costeiras agora cobrem menos de 1% de seu tamanho original.[15] Essas atividades estão levando a uma elevada fragmentação do habitat. Esta fragmentação limita o tamanho das populações reprodutivas, o que limita a diversidade genética. Essa fragmentação também aumenta o risco de predação, como os guigós são forçados a se deslocar de um fragmento para outro, expondo-os a um maior risco de predação.[14][15]

A partir de 2005, não foram feitas tentativas para iniciar um programa de reprodução em cativeiro para a espécie, apesar de uma população selvagem estimada em apenas 500 a 1000 indivíduos restantes.[15]

O guigó-de-coimbra-filho foi colocado na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção em 2003, gerido pela projeto Primatas do Norte da Mata Atlântica e Caatinga.[16] Esta organização é responsável por estudar a situação atual e as ameaças à espécie, bem como desenvolver e gerir um plano para a conservação dela.

Estudos recentes têm demonstrado que, devido ao número relativamente elevado de indivíduos, bem como a sua tolerância para perda e a fragmentação do habitat, a espécie tem uma projeção positiva. No entanto, devem ser tomadas medidas para evitar que a perda de habitat e a fragmentação ameaçe a espécie, bem como a implementação de planos para ajudar na sustentabilidade da espécie.[15]

Referências

  1. Groves, C. P. (2005). «Callicebus (Callicebus) coimbrai». In: Wilson, D. E.; Reeder, D. M. Mammal Species of the World: A Taxonomic and Geographic Reference 3.ª ed. Baltimore, Marilândia: Imprensa da Universidade Johns Hopkins. p. 142. ISBN 0-801-88221-4. OCLC 62265494 
  2. a b Jerusalinsky, L.; Souza-Alves, J.; Ferrari, S. (2020). «Coimbra-Filho's Titi Monkey - Callicebus coimbrai». Lista Vermelha da IUCN. União Internacional para Conservação da Natureza (UICN). p. e.T39954A17972422. doi:10.2305/IUCN.UK.2020-3.RLTS.T39954A17972422.en. Consultado em 17 de julho de 2021 
  3. «Mamíferos - Callicebus coimbrai - Guigó-de-coimbra-filho - Avaliação do Risco de Extinção de Callicebus coimbrai (Kobayashi & Langguth, 1999) no Brasil». Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Ministério do Meio Ambiente. Consultado em 16 de julho de 2021 
  4. «Macaco-guigó». Fauna. 30 de janeiro de 2015 
  5. a b «Sauá». Michaelis. Consultado em 16 de julho de 2021 
  6. «Calicebo». Michaelis. Consultado em 17 de julho de 2021 
  7. a b c d Kobayashi, S.; Langguth, A. (1999). «A new species of titi monkey, Callicebus Thomas, from north-eastern Brazil (Primates, Cebidae)» (PDF). Revista Brasileira de Zoologia. 16 (2): 531-551. ISSN 0101-8175. doi:10.1590/S0101-81751999000200018 
  8. «Guigó». Michaelis. Consultado em 16 de julho de 2021 
  9. Houaiss, verbete sauá
  10. Houaiss, verbete Iapuçá
  11. Houaiss, verbete Zogó e zogue-zogue
  12. a b c van Roosmalen, M.G.M.; van Roosmalen, T.; Mittermeier, R. (2002). «A taxonomic review of the titi monkeys, genus Callicebus Thomas, 1903, with the description of two new species, Callicebus bernhardi and Callicebus stephennashi, from Brazilian Amazonia» (PDF). Neotropical Primates. 10 (Suppl.): 1-52 
  13. a b de Sousa, M.C.; dos Santos, S.S.; Valente, M.C.M. (2008). «Distribuição e Variação na Pelagem de Callicebus Coimbrai (Primates, Pitheciidae) nos estados de Sergipe e Bahia, Brasil» (PDF). Neotropical Primates. 15 (2): 54-55 
  14. a b c de Sousa, M. C. (2000). «New Localities for Coimbra-Filho's Titi Monkey, Callicebus coimbrai, in north-east Brazil.» (PDF). Neotropical Primates. 8 (4): 151–152 
  15. a b c d e f g Jerusalinsky, Leandro (2006). «Preliminary Evaluation of the Conservation Status of Callicebus coimbrai Kobayashi & Langguth, 1999 in the Brazilian State of Sergipe» (PDF). Primate Conservation. 21: 25–32 
  16. Chiarello, A.G.; Aguiar, L.M.S., Cerqueira, R.; de Melo, F.R.; Rodrigues, F.H.G.; da Silva, V.M. (2008). «Mamíferos». In: Machado, A.B.M.; Drummond, G.M.; Paglia, A.P. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção - Volume 2 (PDF). Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente. pp. 680–883. ISBN 978-85-7738-102-9