Imigração italiana em São Paulo – Wikipédia, a enciclopédia livre

Imigrantes posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes, ca. 1890
O Museu da Imigração do Estado de São Paulo

A imigração italiana em São Paulo dá-se, em um primeiro momento, sem uma política definida, mediante iniciativas de fazendeiros de café do Oeste Paulista, que buscavam alternativas diante da escassez de mão de obra ligada à desagregação do escravagismo no Brasil. Surgem tentativas de apoiar a produção cafeeira na mão de obra livre, sem que todavia houvesse uma política imigratória definida. Entre 1885 e 1902, essas iniciativas ganham força e define-se afinal uma política de imigração, visando, em especial, os italianos, que, nessa época, sofriam os efeitos de uma crise econômica em seu país.[1] Por fim, entre 1902 e 1920, consolida-se a política imigratória promovida por São Paulo.[2]

Até 1920, o estado de São Paulo havia recebido aproximadamente 70% dos imigrantes italianos no Brasil, totalizando 1.078.437 italianos entrados no estado. O censo de 1920 registrou 398.797 italianos residentes em São Paulo,[3][4] representando 9% da população estadual.[5] A maior parte desse contingente, cuja viagem havia sido subsidiada por fazendeiros e pelo governo brasileiro, destinava-se ao trabalho nas fazendas de café.

São Paulo recebeu imigrantes de diversas regiões da Itália. Nos registros paroquiais de São Carlos, cidade produtora de café no interior de São Paulo, para o período compreendido entre 1880 e 1914, foi registrado que, dentre os italianos que ali se casaram, 29% dos homens e 31% das mulheres eram oriundos do Norte da Itália, sendo o Vêneto a região mais bem representada, com 20% dos homens e 22% das mulheres, seguida pela Lombardia, com 5% dos homens e 6% das mulheres. Os italianos do Sul também eram bastante numerosos, correspondendo a 20% dos homens e 15% das mulheres de nacionalidade italiana. Calábria, com 7% dos homens e 5% das mulheres e Campânia, com 6% dos homens e 5% das mulheres eram as regiões sulistas que mais contribuíram com imigrantes em São Carlos, que ficou conhecida no século XIX como Piccola Italia[6]

Em São Paulo, assim como no resto do Brasil, havia a tendência de os imigrantes do Norte da Itália rumarem para a zona rural, enquanto os do Sul preferiam se dedicar às ocupações urbanas. Isso explica o fato de, na cidade de São Paulo, os meridionais terem dominado bairros inteiros, como foi o caso do Bixiga, do Brás e da Mooca, habitados especialmente por imigrantes oriundos da Calábria e da Campânia.[3]

Núcleos coloniais[editar | editar código-fonte]

Escola de italianos no município de Campinas no início do século XX

Embora menos ambiciosa do que aquela implementada no Sul, houve também, em São Paulo, uma política de fixação dos imigrantes na terra, com base na venda de lotes nos chamados Núcleos Coloniais. Alguns dos núcleos que se destacaram na compra de lotes pelos italianos foram São Caetano (São Caetano do Sul), Quiririm (Taubaté), Santa Olímpia e Santana (Piracicaba),[7] Barão de Jundiaí (Jundiaí), Sabaúna (Mogi das Cruzes), Piaguí (Guaratinguetá), Cascalho (Cordeirópolis), Canas (Canas), Pariquera-Açú (Pariquera-Açú) e Antônio Prado (Ribeirão Preto).

O núcleo de São Caetano, na cidade de São Caetano do Sul, foi instalado em 1877, numa antiga fazenda pertencente aos beneditinos, próxima às linhas da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Era formado, inicialmente, por 28 famílias da região de Vittorio Veneto.[8]

O núcleo de Quiririm foi formado em 1890, por famílias vênetas, em uma região formada por várzeas, no município de Taubaté.[9] Em 1892, de acordo com o relatório do engenheiro Fernando Dupré ao secretário Jorge Tibiriçá, era composto por 424 pessoas, sendo 69 famílias italianas, num total de 193 colonos.[10] Os italianos se dedicavam principalmente ao plantio do arroz nas várzeas, atividade que muitos já exerciam na terra natal, também encorajados pelo governo como alternativa à cultura do café, já em decadência no município.[11] Na colônia funcionavam algumas associações mantidas pela comunidade italiana da cidade, mas o núcleo também contou com uma associação própria, a Societá Beneficente Unione de Quiririm, organizada pelo colono Manoel Rho. Os colonos também formaram seu próprio clube de futebol, o Quiririm Sport Club.[12]

Paróquia Nossa Senhora Achiropita, no Bixiga, em São Paulo, onde a Festa de Nossa Senhora Achiropita acontece desde 1926.

O núcleo de Canas foi o primeiro de caráter oficial no Vale do Paraíba, à época localizado entre Lorena e Cachoeira. Formado em 1885 por 309 pessoas, sendo 112 italianos, dedicava-se à produção de cana-de-açúcar para o Engenho Central de Lorena. Fica localizado, atualmente, no município de Canas.[13]

Em Guaratinguetá, no ano de 1892, foi implantado o núcleo do Piaguí, por iniciativa do então deputado Rodrigues Alves. Os primeiros colonos formavam 91 famílias, sendo 33 italianas.[14] Os colonos produziam, entre outras coisas, feijão, milho, batata doce e cana-de-açúcar.[15]

No sul do estado, em 1858, formou-se o núcleo de Pariquera-Açu, na cidade homônima. Embora de origem antiga, esta colônia só passou a receber imigrantes de forma considerável a partir da última década do século XIX. Segundo o Relatório da Secretaria de Agricultura de São Paulo para o ano de 1900, o núcleo contava com 1.771 colonos, sendo 390 italianos. Eles se dedicavam ao plantio agrícola, sobretudo de produtos como aguardente, milho, batata doce, batata inglesa e arroz.[16]

Em Mogi das Cruzes, no ano de 1889, uma família de tiroleses formou o núcleo de Sabaúna. Em 1900, o núcleo já contava com 1.337 pessoas, sendo os italianos, depois dos espanhóis, o segundo maior contingente de estrangeiros, contabilizando 112 colonos. Assim como a maioria dos núcleos coloniais, os colonos dedicavam-se a uma variedade de cultivos, como milho, arroz e batata doce.[16]

Embora os italianos fossem, em sua maioria, trabalhar nas fazendas de café da cidade de Ribeirão Preto, houve a implantação, em 1887, do núcleo Antônio Prado, o único na região. Mesmo tendo durado pouco (em 1893, o núcleo foi emancipado, sendo incorporado ao município), foi nele que se formaram alguns importantes bairros do município, como o Ipiranga e os Campos Elísios. Os italianos eram metade dos colonos requerendo seus lotes, sendo 96 de 183 pessoas. Dedicavam-se ao plantio de milho, arroz, feijão e também criavam animais.[17]

Na capital[editar | editar código-fonte]

O Edifício Itália, no centro de São Paulo, um dos símbolos da imigração italiana na cidade.
Cidade de São Paulo[18]
Ano Italianos Porcentagem da população da cidade
1886 5.717 13%
1893 45.457 35%
1900 75.000 31%
1910 130.000 33%
1916 187.540 37%

Ouve-se falar o italiano mais em São Paulo do que em Turim, em Milão e em Nápoles, porque, entre nós, falam-se os dialetos, e em São Paulo todos os dialetos se fundem sob o influxo dos vênetos e toscanos, que estão em maioria (Gina Lombroso, viajante italiana em São Paulo no início do século XX).[19]

(...) a impressão de espanto de um mineiro ao conhecer São Paulo em 1902:' Os meus ouvidos e os meus olhos guardaram cenas inesquecíveis. Não sei se a Itália o seria menos em São Paulo. No bonde, no teatro, na rua, na igreja, fala-se mais o idioma de Dante que o de Camões. Os maiores e mais numerosos comerciantes e industriais eram italianos'. Sousa Pinto, um jornalista português que esteve na Cidade na mesma época, não conseguiu se fazer entender por vários cocheiros de tílburi, todos falando dialetos peninsulares e gesticulando à napolitana. Escritas em italiano eram também as tabuletas de vários edifícios. 'Encontramo-nos a cogitar se, por um estranho fenômeno de letargia, em vez de descer em São Paulo teríamos ido parar à cidade do Vesúvio' (...) [20]:58-59.

Torcedores do Palmeiras no Estádio Palestra Itália. O clube foi fundado por imigrantes em 1914 como Palestra Italia

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. FORNER, Larissa A.; TOSI, Pedro G.. Imigrante italiano - De mão de obra para a lavoura ao acesso à propriedade: Um estudo dos núcleos coloniais(1880-1920). XVIII Encontro Regional (ANPUH-MG). Mariana, 2012.
  2. COLLAÇO, Janine Helfst Leicht Imigração e cozinha italiana na cidade de São Paulo: concepções de fartura e distinção. Anuário Antropológico. UnB, 2012 ; doi:10.4000/aa.327
  3. a b TRENTO, Angelo. Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, 1989.
  4. «O papel da migração internacional na evolução da população brasileira (1872 a 1972)». 2008. Consultado em 8 de julho de 2008 
  5. Herbert S. Klein. «A integração dos imigrantes italianos no Brasil, na Argentina e Estados Unidos» (PDF). p. 101. Consultado em 11 de abril de 2014. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016 
  6. «Cópia arquivada» (PDF). Consultado em 9 de fevereiro de 2015. Arquivado do original (PDF) em 3 de março de 2016 
  7. «Tiroleses comemoram 120 anos do bairro Santa Olímpia em Piracicaba». Portal G1. 24 de novembro de 2012 
  8. [1]
  9. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - p. 73. Versão digitalizada
  10. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - pp. 50 e 79.Versão digitalizada
  11. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - pp. 63 e 75.Versão digitalizada
  12. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - pp. 91 a 92, 95.Versão digitalizada
  13. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - p. 28.Versão digitalizada
  14. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - pp; 28 e 29.Versão digitalizada
  15. DI LORENZO, A.L. - "Italianos em Taubaté: O Núcleo Colonial do Quiririm, 1890/1920". 2002. 65 folhas. Dissertação (Mestrado em História Econômica) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. 2002 - p. 75.Versão digitalizada
  16. a b «Relatório da Agricultura - Estado de São Paulo - 1900». Páginas 138-139. Arquivo Público do Estado de São Paulo. Consultado em 9 de fevereiro de 2015. Arquivado do original em 10 de janeiro de 2014 
  17. MANHAS, Adriana C.B.S. Formação e desenvolvimento do Núcleo Colonial Antônio Prado em Ribeirão Preto (SP). UFAL, s/d
  18. Angelo Trento, Do outro lado do Atlântico: um século de imigração italiana no Brasil. Studio Nobel, 1989. ISBN 852130563X, 9788521305637.
  19. Franco Cenni (2003). Italianos no Brasil: "andiamo in 'Merica-". São Paulo: EdUSP. p. 327. ISBN 8531406714 
  20. BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São Paulo

Ligações externas[editar | editar código-fonte]