Jafar ibne Dinar Alfaiate – Wikipédia, a enciclopédia livre

Jafar ibne Dinar ibne Abedalá Alfaiate[a] (em árabe: جعفر بن دينار بن عبد الله الخياط; romaniz.:Ja'far ibn Dinar ibn 'Abdallah al-Khayyat) foi um comandante militar e governador do Iêmem do século IX para o Califado Abássida.

Vida[editar | editar código-fonte]

Jafar foi provavelmente filho de Dinar ibne Abedalá, um comandante do exército e governador provincial que esteve ativo no reinado do califa Almamune (r. 813–833).[1] Jafar aparece pela primeira vez nos últimos anos do reinado de Almamune, quando participou na invasão califal de 830 à Anatólia bizantina e foi enviado com Ujaife ibne Ambaçá para receber a submissão do comandante da fortaleza de Sinã.[2][3]

Sua proeminência aumentou durante o reinado de Almotácime (r. 813–833), sucessor de Almamune, que colocou-o no comando de várias campanhas. Em 837, ele e Itaque foram enviados pelo califa para reforçar Alafexim contra o rebelde Pabeco no Azerbaijão e desempenhou um papel relevante no esforço para tomar a fortaleza de Pabeco em Albadede.[b] No ano seguinte, foi colocado no comando da ala esquerda do califa durante a campanha de Amório contra o Império Bizantino, e durante o assalto a Amório foi lhe foi designado um setor da cidade para atacar.[4][5] Em 839, recebeu o governo do Iêmem e nomeou governadores representantes para fazer cumprir seu governo na província, porém causou a ira do califa em 840 e foi demitido de sua posição e brevemente preso sob custódia de Axinas.[6][7][3]

Jafar foi nomeado governador do Iêmem uma segunda vez em 846, desta vez pelo califa Aluatique (r. 842–847), e recebeu a missão de lidar com a insurgência de longa data dos iufíridas. Após dar uma pausa para a realização duma peregrinação à Meca (haje), Jafar entrou no Iêmem com vários milhares de cavaleiros e infantes e avançou contra os rebeldes. Embora seu avançou inicial contra os iufíridas terminou sem sucesso, ele partiu numa segunda expedição logo depois e colocou a fortaleza deles sob cerco. Após saber da morte de Aluatique em 847, concluiu uma trégua com os iufíridas e retirou-se para Saná. Logo depois disso, decidiu retirar-se da província e retornou ao Iraque, deixando seu filho Maomé como representante até a chegada do novo governador, Himiar ibne Alharite.[c][8][9][3]

Durante o reinado de Mutavaquil (r. 847–861), Jafar supervisionou os eventos da estação do festival (mausim) durante as peregrinações anuais de 854 à 858, e foi novamente designado o supervisor da Estrada de Meca.[10][3] Sob Almostaim (r. 862–866), recebeu o comando da expedição de verão (saifá) de 863 e realizou um raide bem-sucedido contra os bizantinos, mas quando deu permissão para o governador de Melitene Omar Alacta (Ambros em grego) dar continuidade na invasão por conta própria, os bizantinos revidaram e mataram Omar na desastrosa Batalha de Lalacão.[11][12][3] Após a fuga de Almostaim para Bagdá em 865, Jafar foi um dos poucos oficiais que ficaram em Samarra, onde apoiou o califa rival Almutaz (r. 866–869). Ele é mencionado pela última vez em 866, quando Almutaz colocou-o no comando de sua guara (haras).[13][3]

O filho de Jafar, Almançor ibne Jafar Alfaiate, mais tarde ascendeu a certa proeminência, igualmente servindo como um comandante militar e governador até ser morto em batalha durante a Rebelião Zanje em 872.[14][3]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Precedido por
Hartama Xar Bamiã
Governador abássida do Iêmem
844–847
Sucedido por
Himiar ibne Alharite

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ Pelas inúmeras entradas presentes no Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa de Adalberto Alves nota-se que vale como regra a remoção do kh inicial dos antropônimos e/ou topônimos e sua substituição por "c", como no caso de Cadija,[15] bem como o acréscimo da letra "e" no final das palavras. No caso específico de "Caiate", quando antecedido pelo artigo definido "al-" (o/a) é possível a remoção do "c" e a realização duma aglutinação com a qual cria-se o termo lusófono de origem árabe "Alfaiate", aplicável não somente ao profissional que trabalha com a confecção de roupas, mas também a uma ave.[16]
[b] ^ Os nisbas de Jafar (Alfaiate) e Itaque (Tabaque, "cozinheiro") fizeram Pabeco alegar que o califa havia exaurido sua força militar e havia se rebaixado a enviar seu alfaiate e cozinheiro contra ele.[17]
[c] ^ al-Iacubi, contudo, relata que Jafar era governador do Iêmem quando Itaque partiu numa peregrinação em 849.[18]

Referências

  1. Elad 2013, p. 278-79.
  2. Atabari 1985–2007, v. 32: 186.
  3. a b c d e f g Northedge 2008, p. 115 n. 315.
  4. Atabari 1985–2007, v. 33: pp. 98, 100, 116.
  5. Almaçudi 1873, p. 135.
  6. Atabari 1985–2007, v. 33: pp. 174, 178.
  7. al-Madaje 1988, p. 215.
  8. al-Madaje 1988, p. 217.
  9. Atabari 1985–2007, p. v. 34: p. 36.
  10. Atabari 1985–2007, v. 34: pp. 129, 132, 145, 148, 150.
  11. Atabari 1985–2007, v. 35: p. 9.
  12. al-Iacubi 1883, p. 606.
  13. Atabari 1985–2007, v. 35: pp. 34, 39.
  14. Atabari 1985–2007, v. 36: pp. 120, 122, 123, 125, 137, 138.
  15. Alves 2014, p. 343.
  16. Alves 2014, p. 143.
  17. Atabari 1985–2007, v. 33: p. 94.
  18. al-Iacubi 1883, p. 593.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Alves, Adalberto (2014). Dicionário de Arabismos da Língua Portuguesa. Lisboa: Leya. ISBN 9722721798 
  • Elad, Amikam (2013). «Al-Ma'mun's Military Units and their Commanders Up to the End of the Siege of Bahgdad (195/810-198/813)». In: Bernards, Monique. Abbasid Studies IV: Occasional Papers of the School of Abbasid Studies, Leuven July 5–July 9, 2010. Cambridge: Gibb Memorial Trust. pp. 245–284. ISBN 978-0-906094-98-3 
  • Iacubi, Amade ibne Abu Iacube (1883). Houtsma, M. Th., ed. Historiae, Vol. 2. Leida: E. J. Brill. 
  • al-Madaje, Abedal Muçine Madaje M. (1988). The Yemen in Early Islam (9-233/630-847): A Political History. Londres: Ithaca Press. ISBN 0863721028 
  • Almaçudi, Ali ibne Huceine (1873). Meynard, Charles Barbier de; Courteille, Abel Pavet de, ed. Les Prairies D'Or, Tome Septieme. Paris: Imprenta Nacional 
  • Northedge, Alastair (2008). The Historical Topography of Samarra: Samarra Studies I. Londres: Escola Britânica de Arqueologia no Iraque. ISBN 9780903472227