Jesus na corte de Herodes – Wikipédia, a enciclopédia livre

Jesus na corte de Herodes.
1308-11. Por Duccio, atualmente no Museo dell'Opera del Duomo, em Siena, na Itália.

Jesus na corte de Herodes é um episódio da vida de Jesus relatado apenas em Lucas 23:7–12[1][2][3][4]. Após ter sido julgado pelo Sinédrio, Jesus é enviado para o governador romano Pôncio Pilatos que, ao saber que ele era galileu, entendeu que o caso estaria sob a jurisdição de Herodes Antipas[5]. É um evento que é parte da chamada Corte de Pilatos.

Narrativa bíblica[editar | editar código-fonte]

No Evangelho de Lucas, após o julgamento no Sinédrio, os anciãos judeus pedem a Pilatos que julgue e condene Jesus, acusando-o de alegar falsamente ser o "rei dos judeus". Ao questionar o prisioneiro, ele percebe que Jesus era um galileu e entende que ele estaria sob a jurisdição de Herodes, que estava em Jerusalém na ocasião. Por isso, ele o envia para ele para ser julgado[5][6].

Herodes Antipas queria há muito se encontrar com Jesus, pois esperava poder testemunhar um de seus milagres[6]. Porém, Jesus não diz quase nada em resposta aos questionamentos do tetrarca e nem responde às veementes acusações dos sumo-sacerdotes e escribas. Por isso, ele é zombado por Herodes e por seus soldados, que colocam sobre ele um majestoso manto resplandecente e o enviam de volta a Pilatos[5].

Lucas não diz se Herodes condenou ou não Jesus e, ao invés disso, atribui a condenação a Pilatos que, então, reúne os anciãos judeus e diz[6]:

«Apresentastes-me este homem como agitador do povo e, eis que interrogando-o eu diante de vós, não achei nele nenhuma culpa das que o acusais. Nem tão pouco Herodes, pois no-lo tornou a enviar; nada tem feito ele digno de morte. Portanto, depois de o castigar, soltá-lo-ei.» (Lucas 23:14–15)

Após alguma discussão, se segue a flagelação de Jesus, a zombaria com Jesus e os episódios conhecidos como Ecce Homo e a Pilatos lavando as mãos.

Cristologia[editar | editar código-fonte]

Esta afirmação de Pilatos de que Herodes não encontrou culpa em Jesus é a segunda das três declarações que ele faz sobre a inocência de Jesus no Evangelho de Lucas (a primeira em Lucas 23:4 - Corte de Pilatos - e a segunda em 23 22: - quando Pilatos lava suas mãos) e é parte da chamada "Cristologia da inocência" presente neste evangelho[7][8][9]. Na narrativa que se segue a este episódio, outras pessoas além de Pilatos e Herodes também não encontram culpa em Jesus[8]. Em Lucas 23:41, já durante a crucificação, um dos dois ladrões crucificados ao lado de Jesus também atesta a sua inocência, e em Lucas 23:47, um centurião romano diz: "Realmente este homem era justo"[9][8]. A caracterização do centurião ilustra o foco de Lucas na inocência (que começa nas cortes de Pilatos e Herodes), em contraste com Mateus 27:54 e Marcos 15:39, no qual o centurião diz: "Verdadeiramente este homem era Filho de Deus", enfatizando muito mais a divindade de Jesus[9].

João Calvino considerava a falta de resposta de Jesus às perguntas de Herodes, seu silêncio frente às acusações dos ancião judeus e a mínima conversa travada com Pilatos antes de seu retorno da corte de Herodes como um elemento da "cristologia agente" da crucificação[10][11]. Calvino afirmava que Jesus poderia ter argumentado a sua inocência, mas preferiu ficar quieto e se submeter voluntariamente à sua crucificação em obediência à vontade do Pai, pois já sabia seu papel como "Cordeiro de Deus"[10][11]. A "cristologia agente" reforçada na corte de Herodes acrescenta ainda à profecia feita por Jesus em Lucas 18:32 de que ele seria "...entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado e cuspido"[9].

Portanto, na corte de Herodes, Lucas continua a enfatizar o papel de Jesus não como um "sacrifício involuntário", mas como um "agente e servo" de Deus que se submeteu à vontade do Pai[12][9].

Ver também[editar | editar código-fonte]

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Referências

  1. The Synoptics: Matthew, Mark, Luke by Ján Majerník, Joseph Ponessa 2005 ISBN 1-931018-31-6 page 181
  2. The Gospel according to Luke by Michael Patella 2005 ISBN 0-8146-2862-1 page 16
  3. Luke: The Gospel of Amazement by Michael Card 2011 ISBN 978-0-8308-3835-6 page 251
  4. «Bible Study Workshop - Lesson 228» (PDF). Consultado em 27 de março de 2012. Cópia arquivada (PDF) em 3 de março de 2016 
  5. a b c New Testament History by Richard L. Niswonger 1992 ISBN 0-310-31201-9 page 172
  6. a b c Pontius Pilate: portraits of a Roman governor by Warren Carter 2003 ISBN 978-0-8146-5113-1 pages 120-121
  7. The character and purpose of Luke's christology by Douglas Buckwalter 1996 ISBN 0-521-56180-9 pages 109-111
  8. a b c Early narrative Christology: the Lord in the Gospel of Luke by Christopher Kavin Rowe 2006 ISBN 3-11-018995-X page 183
  9. a b c d e Luke's presentation of Jesus: a christology by Robert F. O'Toole 2004 ISBN 88-7653-625-6 pages 96-101
  10. a b The Reading and Preaching of the Scriptures by Hughes Oliphant Old 2002 ISBN 0-8028-4775-7 page 125
  11. a b Calvin's Christology by Stephen Edmondson 2004 ISBN 0-521-54154-9 page 91
  12. Holiness and ecclesiology in the New Testament by Kent E. Brower, Andy Johnson 2007 ISBN 0-8028-4560-6 page 115