Lavadeiras de Almenara – Wikipédia, a enciclopédia livre

Lavadeiras de Almenara é um grupo de cantoras em formação desde 1991 em Minas Gerais, Brasil.[1]

Suas integrantes interpretam cantigas aprendidas nas margens do Rio Jequitinhonha, na cidade de Almenara, além de modinhas, sambas de roda e batuques. As canções também retratam o cotidiano das lavadeiras, o trabalho próprio, de ribeirinhos, canoeiros e as brincadeiras e também as relações entre índios, negros e portugueses durante a colonização em Minas Gerais.[1]

Realizando apresentações em todo o país, o coral já se apresentou também em Portugal e na Espanha e destacado em reportagens e documentários na TV Brasil[2] e na Rede Globo.[3]

O coral também vem sendo considerado parte integrante do patrimônio cultural imaterial da região do Vale do Jequitinhonha, uma vez que o coral das lavadeiras contribui para manter as tradições e valores simbólicos da região.[4]

Dentre os vários trabalhos produzidos pelas Lavadeiras de Almenara destacanm-se os CD-livros "Batukim Brasileiro" e "O canto das lavadeiras".[5]

História[editar | editar código-fonte]

O coral surgiu em 1991 após o cantor, compositor e pesquisador cultural Carlos Farias ter incentivado as lavadeiras de Almenara a formarem um grupo, pois, além das difíceis condições de vida das lavadeiras, antigas canções, inseridas no cotidiano das mulheres, poderiam desaparecer.[4]

A pesquisa de coleta de canções entoadas pelas mulheres surgiu em 1985 pelo próprio Carlos Farias.[6]

O trabalho teve aceitação, e elas começaram participaram de festivais no Vale do Jequitinhonha - o Festival da Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, em Minas Novas, e no 7º FESCAL – Festival da Canção de Almenara.[7]

Seu repertório inclui batuques, sambas, chorinhos, afoxés, frevos, cantigas de roda, modinhas, chulas de terreiro e toadas de origem desconhecida. A temática também envolve cânticos de trabalho, lúdicos e de louvação, de influência africana, indígena e portuguesa, uma mistura que revela a miscigenação que forma música brasileira.[4]

As apresentações passaram a ser acontecer em todo o território nacional, ou seja, o grupo "saiu da beira do rio para espalhar sua memória sonora pelos palcos" com o show Batendo roupa, cantando a vida[6], palestra Conversa de Lavadeira e a cerimônia de Bênção das Águas.[8] Nessa trajetória, o grupo já se apresentou com outros artistas como Milton Nascimento.[9]

De 1994 a 1998, o grupo foi coordenado por Tânia Grace Almeida.[10]

Em outubro de 1999 as lavadeiras fizeram parte da gravação de um CD coletivo em Teófilo Otoni, o Por Cima das Aroeiras, juntamente com outros grupos culturais do Vale do Jequitinhonha.[10]

Em março de 2002, o coral participou do 3º Festival de Arte, Criatividade e Recreação (FACR), na Ilha da Madeira, em Portugal.[4]

Em 2003, o grupo já registraria seu trabalho no CD-livro Batukim Brasileiro, formado por 13 canções e com recursos obtidos pelas leis estadual e federal de incentivo à cultura.[11]

Em 2005, foi lançado outro álbum, Aqua – A música das lavadeiras do Jequitinhonha, com encarte trilíngue e textos de Olavo Romano e Déa Trancoso. Também houve participações de Rubinho do Vale e Pereira da Viola. O álbum é formado por músicas entremeadas de histórias, casos, sentimentos e lembranças nem sempre boas ou líricas, a experiência e a poesia de suas vidas.[6]

Em 2009, representaram o Brasil no Festival Internacional de Folclore no Peru.[12]

Em 2010, o coral recebeu a Ordem do Mérito Cultural 2010, concedida pelo Ministério da Cultura (Minc) do governo brasileiro.[13] O ministro da Cultura, Juca Ferreira, justificou o prêmio ao dizer que "foram escolhidas pessoas que exprimem a nossa tradição, a nossa vanguarda, as diferentes correntes de criação cultural e artística do nosso povo".[13]

As lavadeiras são Adélia Barbosa da Silva, Ana Isabel da Conceição, Emília Maria de Jesus, Juracy Lima da Silva, Mirian Fernandes Pessoa, Santa de Lourdes Pereira, Sebastiana Dias Silva, Tereza Fernandes Souza Novais e Valdenice Ferreira dos Santos.[4]

Recepção crítica[editar | editar código-fonte]

Segundo a pesquisadora Samara Rodrigues de Ataíde em dissertação apresentada na Universidade Federal do Rio de Janeiro, as lavadeiras entoam os episódios do cotidiano por meio de um eu lírico, "uma voz feminina, que está lavando roupa, conversando com suas amigas, ou com sua mãe, a narrar diversas situações em que é protagonista".[7]

A pesquisadora concluiu que os versos destas canções permitem o diálogo com o sincretismo da religiosidade popular brasileira ao adotar elementos da diversidade e absorver a riqueza do folclore e da cultura da região onde as lavadeiras habitam.[7]

Ainda segundo a pesquisadora, as cantigas conservam traços autóctones "de uma identidade brasileira fragmentada e diluída em tempos de massificação cultural".[7]

Referências

  1. a b Agência Minas. (6 de junho de 2007). Coral das Lavadeiras de Almenara apresenta espetáculo, acesso em 11 de junho de 2010
  2. Universidade Federal de Minas Gerais. (7 de janeiro de 2004). Lavadeiras de Almenara na TV Brasil, acesso em 11 de junho de 2010
  3. Fantástico. (5 de fevereiro de 2006). O Fantástico Som da Rua: coral das lavadeiras, acesso em 11 de junho de 2010
  4. a b c d e Estado de Minas. (15 de julho de 2003). Giro pelo Estado - Projeto divulga canto das lavadeiras
  5. Nilza Maria Pacheco Borges, Nilza (10 de janeiro de 2014). «As imagens como diálogo na pesquisa: O canto das lavadeiras e o ritual de bençãos das águas em Almenara- por entre memorias e renovo.» (PDF). Consultado em 18 de janeiro de 2018 
  6. a b c Ferreira, Kiko. (7 de março de 2005). Memória feita de som. Jornal Estado de Minas, Caderno EM Cultura
  7. a b c d Ataíde, Samara Rodrigues de. Vozes femininas presentificadas em O canto das lavadeiras. Dissertação (Mestrado em Ciência da Literatura). UFRJ, Rio de Janeiro, 2009
  8. Mondo BHZ. (23 de abril de 2010). Carlos Farias e o Coral das Lavadeiras de Almenara se apresentam no Conexão Vivo, acesso em 11 de junho de 2010
  9. Dubra, Pedro Ivo. (23 de junho de 2002). Milton Nascimento faz show no Sesc Itaquera com Coral das Lavadeiras. Folha de S.Paulo, acesso em 17 de junho de 2010.
  10. a b Raiz Online. O Coral das Lavadeiras de Almenara, acesso em 11 de junho de 2010
  11. Estado de Minas. (21 de setembro de 2003). No Palco - Tesouro do Vale. Caderno EM Cultura
  12. In 360. (20 de agosto de 2009). Grupo Fitta de Montes Claros vai representar o Brasil no Peru, acesso em 17 de junho de 2010
  13. a b Gontijo, Luisana. Mérito Cultural. Estado de Minas, 9 de dezembro de 2010

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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