Les Provinciales – Wikipédia, a enciclopédia livre

Lettres provinciales

Les Provinciales (em português As Provinciais) são um conjunto de 18 cartas da autoria de Blaise Pascal, escritas para defender o jansenista Antoine Arnauld, oponente dos jesuítas, que estava em julgamento pelos teólogos de Paris.

Origem e objetivo[editar | editar código-fonte]

Em 1656, no cerne da controvérsia motivada pelas condenações pontifícias ao Jansenismo e pela expulsão de Arnauld da Sorbonne, Pascal encontra-se com este em Port-Royal-des-Champs e aceita um convite para por o seu talento literário ao serviço da causa.

Assim, em 23 de Janeiro de 1656, surge a primeira das Provinciais, com o título Lettre écrite à un provincial par un de ses amis sur le sujet des disputes récentes de la Sorbonne. Aparecem sob a forma de cartas escritas primeiro por anónimo e depois assinadas com o pseudónimo de Louis de Montalte, dirigidas a um amigo morador na província, sobre os acontecimentos em Paris.

Pascal escreveu um total de 18 cartas Provinciais, sendo a última datada de 24 de Março de 1657. Podem dividir-se em dois grupos: as cartas 1-3 e 17-18 têm conteúdo dogmático e dirigem­‑se contra a Sorbonne e a condenação das cinco proposições; as restantes são de conteúdo moral e elegem como adversários os jesuítas.

Resumo[editar | editar código-fonte]

Nas três primeiras cartas, Pascal defende Arnauld, dizendo que era condenado por simples inveja.

As cartas seguintes dirigem-se para o campo moral, fazendo uma ataque cerrado e cheio de ironia e sarcasmo contra o laxismo, identificado com os jesuítas, expondo situações ridículas e clamorosas num estilo mordaz e que alcançou bastante sucesso. Pascal, na verdade, estava mais à vontade neste campo do que no dogmático, além de que essa temática era mais do alcance do grande público.

A quarta Provincial refere os pecados da ignorância e as culpas involuntárias, recordando que a ignorância não escusa de pecado.

Na quinta provincial encontramos a acusação aos jesuítas de terem propositadamente uma moral dúbia, ora rigorista, ora laxista, com o objectivo de agradarem a todos, e assim governarem todas as consciências.

Acusa-os ainda de reduzirem ao esquecimento os antigos Padres da Igreja para citarem, no seu governo das consciências, apenas os casuístas modernos, todos desde há 80 anos. E nesse momento desfia uma cómica ladainha de nomes de casuístas, hilariante pela sequência de nomes bizarros e estropiados, que formam uma sucessão rimada.

A sexta Provincial denuncia os artifícios dos jesuítas para reduzirem a nada a palavra da Escritura, dos concílios e dos papas, por meio de subtis artifícios de linguagem. Refere ainda os abusos das doutrinas probabilistas e da chamada “purificação da intenção”, destinada a justificar todos os crimes. Este tema é mais desenvolvido na sétima Provincial.

Na oitava destas cartas continua a escarnecer das conclusões dos casuístas.

A nona Provincial fala agora do uso jesuítico de prometer a salvação através duma falsa devoção à Virgem Maria, baseada em devoçõezinhas ingénuas. Reclama ainda contra outros usos jesuíticos, como o da “restrição mental”, que permitia mentir desde que se atribuísse um sentido dúbio ou equívoco àquilo que se dissesse.

A décima carta é dedicada a negar a suficiência da atrição na penitência, que dispensaria os homens de amar a Deus.

Nas cartas seguintes, Pascal defende-se de acusações diversas feitas pelos jesuítas e continua a denunciar os seus usos laxistas.

As cartas 17 e 18 voltam aos temas dogmáticos, e às cinco proposições jansenistas.

Nesse momento as Provinciais terminaram. Os motivos da sua suspensão terão sido talvez o cansaço de Pascal, magoado pelas invectivas dos adversários e ainda a perspectiva duma paz iminente, que Pascal não quis arruinar.

Crítica[editar | editar código-fonte]

As Provinciais são consideradas uma jóia da literatura francesa. Têm sido, ao longo dos tempos, admiradas pela sua mordacidade e vivo estilo. Contudo, encerram bastantes erros e exageros, intencionais ou não, com o fim de denegrir os jesuítas.

No entanto, na opinião avalizada de dois historiadores (ambos jesuítas…), Giacomo Martina e Ricardo García Villoslada, as Provinciais são as iniciadoras da legenda negra do jesuitismo e inspiradoras de boa parte do anticlericalismo dos sécs. XVIII e XIX. Mas é também inegável a parte de razão que lhe cabe na denúncia de muita moral laxista e permissiva que então se praticava, por jesuítas e não só.

As Provinciais foram colocadas no Índex em 1657. Contudo, como protesto da consciência cristã contra os abusos do laxismo, tiveram o seu resultado: O Santo Ofício, sob Alexandre VII, em 1665-1666, e sob Inocêncio XI, em 1679, condenou um total de 110 proposições laxistas, 57 das quais provinham indirectamente das Provinciais.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Les provinciales ou Lettres écrites par Louis de Montalte à un provincial de ses amis et aux RR. PP. Jésuites sur le sujet de la morale et de la politique de ces pères, édition annotée par Charles Louandre, Paris, Charpentier, 1862 (ler online (em francês))
  • Jean Lacouture, Jésuites, Seuil, 1991.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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