Rainha de Maio – Wikipédia, a enciclopédia livre

Altar de Maio na Irlanda - Imagem religiosa de Maria como a Rainha de Maio, obra da artista Clare O Hagan

A Rainha de Maio (em inglês: May Queen ou Queen of May) é uma personificação do feriado do Dia de Maio, além da primavera e também do verão. Em Portugal há uma festividade equivalente, chamada Festa das Maias[1] ou simplesmente As Maias[2].

Festivais[editar | editar código-fonte]

Uma Rainha de Maio em New Westminster, na Colúmbia Britânica, Canadá de cerca de 1877.

Hoje, a Rainha de Maio é uma menina que deve cavalgar ou andar na frente de um desfile para as celebrações do Dia de Maio. Ela usa um vestido branco para simbolizar a pureza e, geralmente, uma tiara[desambiguação necessária] ou coroa.[desambiguação necessária] Seu dever é começar as celebrações do Dia de Maio. Ela é geralmente coroada com flores e faz um discurso antes da dança começar. Determinados grupos etários dançam em volta de um mastro enfeitado celebrando a juventude e o tempo de primavera.

Sir James George Frazer encontrou na figura da Rainha de Maio uma relíquia do culto da árvore:[3]

De acordo com o folclore, a tradição já teve um toque sinistro, em que a Rainha de Maio era condenada à morte uma vez que as festividades tivessem acabado.[carece de fontes?] A veracidade dessa crença é difícil de estabelecer; pode ser apenas uma memória popular dos antigos costumes pagãos. Ainda assim, as associações frequentes entre os rituais do Dia de Maio, o ocultismo e o sacrifício humano ainda estão sendo encontradas na cultura popular hoje. The Wicker Man, um filme de terror de culto estrelado por Christopher Lee, é um exemplo proeminente dessas associações.

História[editar | editar código-fonte]

Na época do antigo calendário juliano, durante a Alta Idade Média, na Inglaterra, a Rainha de Maio também era conhecida como a "Rainha do Verão". George Caspar Homans aponta: "O tempo desde o Hocktide, após a Semana Santa, até o Lammas (1º de agosto) era o verão (estas)."[4]

Em 1557, um diarista de Londres chamado Henry Machyn escreveu (em inglês antigo):

"The xxx day of May was a goly May-gam in Fanch-chyrchestrett with drumes and gunes and pykes, and ix wordes dyd ryd; and thay had speches evere man, and the morris dansse and the sauden, and an elevant with the castyll, and the sauden and yonge morens with targattes and darttes, and the lord and the lade of the Maye".

Em português: O trigésimo dia de Maio era um alegre jogo de Maio na Rua Fenchurch (em Londres) com tambores e armas e piques, os Nove da Fama cavalgaram; e todos eles tinham discursos, e a dança de Morris e o sultão e um elefante com um castelo e o sultão e jovens mouros com escudos e flechas, e o senhor e a senhora de Maio".[5]

Muitas áreas mantém viva essa tradição nos dias de hoje. A mais antiga tradição ininterrupta é a de Hayfield, Derbyshire[6] com base em uma feira de maio muito mais velha. Outro evento notável inclui o do subúrbio de Brentham Garden, na Inglaterra que ocorre anualmente.[7] Ele tem a segunda tradição mais antiga ininterrupta, embora a Rainha de Maio do All Festival de Londres na Hayes Common em Bromley é uma concorrente próxima. Um festival do Dia de Maio é realizado na vila verde de Aldborough, North Yorkshire em um lugar que remonta ao tempo dos romanos e à resolução de Isurium Brigantum. A Rainha de Maio é selecionada de um grupo de 13 meninas para cima pelos jovens bailarinos. Ela retorna no ano seguinte para coroar a nova Rainha de Maio e permanece na procissão. O maior evento nesta tradição na Grã-Bretanha moderna é o Festival de Fogo de Beltane em Edimburgo, na Escócia.

A celebração do Dia de Maio realizada anualmente desde 1870 em New Westminster, na Colúmbia Britânica, Canadá tem a distinção de ser a mais antiga celebração do Dia de Maio de seu tipo na Comunidade Britânica.[8]

Em Portugal[editar | editar código-fonte]

Maio numa casa em Braga

Em Portugal, a Festa das Maias celebra-se em algumas regiões no dia 1 de Maio, feriado nacional.[1] As portas e janelas das casas ou as grelhas dos automóveis são enfeitadas com ramos de giesta amarela ou com coroas de flores chamadas maia ou maio.[9][10][11][12] É um vestígio do Beltane, uma antiga festividade celta, que celebrava o início do Verão.[13]

Na festa do Maio fazem-se bonecos de palha de centeio, farelos e trapos, no tamanho normal de pessoas que se vestem e calçam com a roupa de adultos ou crianças, aos quais se dá, também, o nome de «Maia».[2][14][15] Esta boneca é disposta em locais de destaque, rodeada de flores, de modo a que a que seja vista por todas as pessoas que passam na rua.[16]

Uma Maia

Era costume as crianças irem de casa em casa a cantar e a pedir.[17]

Outro costume era vestir uma criança de «maia»[18] (o boneco de palha)[19], enfeitando-a ainda com giestas amarelas.[20][17] Toda de branco e coberta de flores, a criança ficava num tapete enquanto várias crianças cantavam e dançavam à volta dela. [21] Com efeito, esta tradição encontrava igual paralelo em Beja, tendo sido relatada por Teófilo Braga, na sua obra «O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições»[22][21]:

"as Maias em Beja: «Aqui, juntam-se as crianças de ambos os sexos, especialmente do feminino ; enfeitam uma rapariguinha mais pequena, vestida de branco, contorneam-lhe de flores a cabeça e o peito, assentam-na em uma cadeirinha, que collocam sobre uma meza egualmente ornada e deixam estar allí a pobre pequena toda a tarde emquanto outras sentadas em redor da meza cantam e tocam adofes.»"
Maios na Madeira

Em Óbidos na noite de 30 para 1 de Maio fazia-se uma pequena festa. Pedia-se um donativo às casas comerciais para comprar o bacalhau e azeite, que os rapazes e os homens da vila comiam pelas três ou quatro horas da madrugada, na longa noite dos Maios.

Os rapazes, tinham que ir aos campos acompanhados pelo som de instrumentos musicais, apanhar maios ou outras flores como madressilvas, giestas floridas, folhados, rosas silvestres, etc., para espalharem durante a madrugada por toda a vila. A população para evitar que o “maio os encontrasse na cama” e “ficassem amarelos o resto do ano”, levantava-se cedo para ver a vila 'maiada' com as aldrabas das portas e as janelas das habitações enfeitadas com flores e o adro da igreja também coberto de flores. Iam depois ouvir a música e ver os foguetes.[23][24][25][26]

Os Maios também são celebrados no Algarve, na região entre Loulé e Tavira, incluindo Faro (Estoi) e de Olhão, (Olhão, Moncarapacho, Quelfes), nos Açores (ilhas Terceira, Graciosa, …) e na Galiza.[27]

O «maio-pequenino»[20] ou «maio-moço»[28] era um rapaz que vestia-se de maio, tratava-se de uma figura folclórica que personifica a Primavera que já existe desde a era medieval em Portugal, encontrando alusão, inclusive na peça de teatro de Gil Vicente, o «Triunfo do Inverno»[29]. O Maio-moço andava com a roupa enfeitada de giestas, e trazia na cabeça giestas que formavam uma pirâmide.[30] O maio-moço saía pelas ruas com crianças a cantarem e a dançarem à volta dele.[20] Andava também pelos campos a esconjurar os maus espíritos para proteger as famílias e as colheitas.[31]

Designadas como "Cantigas das Maias", "Cantigas do Maio-moço", ou "cantar as Maias" consiste no cantar de músicas pelas ruas por grupos de pessoas no primeiro dia de Maio. O documento referido como a postura da Câmara de Lisboa de 1385 proibia que se cantassem as Maias ou que se cantasse a qualquer outro mês[32]:

"Outrossim estabelecem que daqui em diante nesta cidade e em seu termo não se cantem janeiras nem maias, nem a nenhum outro mês do ano,[…]"[33]


Referências

  1. a b Leite Vasconcellos, José (1938). Opúsculos, vol. V Etnologia (parte I). Coimbra: Coimbra editora. p. 509 
  2. a b Infopédia. «maia | Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa». Infopédia - Porto Editora. Consultado em 26 de abril de 2022 
  3. Frazer (1922), The Golden Bough, ch. 10 "Relics of tree worship in modern Europe" (em inglês); Frazer cita Mannhardt: "Os nomes Maio, Pai de Maio, Dama de Maio, e Rainha de Maio, pelo qual o espírito antropomórfico da vegetação é frequentemente denotado, mostram que a ideia do espírito da vegetação é misturada com uma personificação da época em que seus poderes são mais surpreendentemente manifestados."
  4. Homans, English Villagers of the Thirteenth Century, segunda edição 1991:354. (em inglês)
  5. Nichols, J. G. (ed). (1848). The Diary of Henry Machyn: Citizen and Merchant-Taylor of London (1550-1563). Consultado em 11 de fevereiro de 2007. (em inglês)
  6. Hayfield.uk.net Arquivado em 10 de julho de 2010, no Wayback Machine. (em inglês)
  7. «May Day» (em inglês). Consultado em 14 de novembro de 2014 
  8. New Westminster Hyack Festival Association (2004). «Hyack Festival Events» (em inglês). Consultado em 3 de janeiro de 2006. Arquivado do original em 25 de agosto de 2005 
  9. Aurélio Lopes. A Sagração da Primavera. Edições Cosmos
  10. António Cabral. Jogos populares portugueses de jovens e adultos
  11. Leite de Vasconcellos, José (1882). Tradições Populares de Portugal, vol. I. Porto: Livraria Portuense de Clavel & c.ª. p. 124. 320 páginas 
  12. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. p. 102;282 «No 1.° de Maio devem colocar nas portas e janellas flores de giesta, preservativo contra o Mal»; «Em 1835 escrevia o celebre antiquário João Pedro Ribeiro: «na cidade do Porto, no presente anno de 1835, ouvi ainda festejar as Janeiras, e no primeiro de Maio enramar as janellas com a flor de giesta amarella, que chamam Maias e nas aldeias não se faltou ao costume immemorial de as pôr nas cortes dos gados, nos Unhares e nos nabaes, etc. É natural que se não faltasse ao mesmo costume immemorial.»
  13. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 279–280. OCLC 656632756 
  14. «Folha Viva. Jornal dos clubes da floresta do projecto Prosepe. Floresta Convida. Nr35, ano IX, Abril/Junho de 2006» (PDF). Nicif.pt 
  15. «As «Maias» e os «Maios»». Cm-mirandela.pt. Consultado em 25 de junho de 2016. Arquivado do original em 21 de abril de 2016 
  16. Leite Vasconcellos, José (1938). Opúsculos, vol. V Etnologia (parte I). Coimbra: Coimbra editora. p. 513 
  17. a b Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 279–283. OCLC 656632756 
  18. S.A, Priberam Informática. «maia». Dicionário Priberam. Consultado em 26 de abril de 2022 
  19. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 279–283. OCLC 656632756 « Junto a Vizeu, vestem como Maias varias meninas á imitação de Anjos, com coroas de rosa na cabeça e azas de giestas como as Florálias romanas»
  20. a b c Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. 282 páginas. OCLC 656632756 «No seu primeiro dia, usam ainda agora entre nós os rapazes percorrer as ruas, festejando e acclamando uma criancinha enfeitada de flores, a que dão o nome de Maio pequenino»
  21. a b Leite Vasconcellos, José (1938). Opúsculos, vol. V Etnologia (parte I). Coimbra: Coimbra editora. p. 514 
  22. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. pp. 282–283. OCLC 656632756 «"as Maias em Beja: «Aqui, juntam-se as crianças de ambos os sexos, especialmente do feminino ; enfeitam uma rapariguinha mais pequena, vestida de branco, contorneam-lhe de flores a cabeça e o peito, assentam-na em uma cadeirinha, que collocam sobre uma meza egualmente ornada e deixam estar allí a pobre pequena toda a tarde emquanto outras sentadas em redor da meza cantam e tocam adofes.»"
  23. ««Maiando o Maio»: Vila de Óbidos recria tradição com mais de 2 mil anos». Metronews.com.pt 
  24. «Comemorações do 1º de Maio em Olhão. RADIX - Ministério da Cultura». Radix.cultalg.pt. Consultado em 25 de junho de 2016. Arquivado do original em 3 de novembro de 2013 
  25. «Bacalhau, febras e flores - Tradição dos Maios em Óbidos, Francisco Gomes, Edição de 29 de abril de 2003 do jornal Oeste Online». Oesteonline.pt. Consultado em 25 de junho de 2016. Arquivado do original em 4 de novembro de 2013 
  26. «Vila Verde - "Conhecer o lindo e terno costume de fazer os Maios", Terras do Homem». Terrasdohomem.com. 10 de maio de 2003 
  27. «Conhecer os Maios». Gilvicente.eu. Consultado em 25 de junho de 2016. Arquivado do original em 1 de julho de 2016 
  28. Coelho, Adolfo (1993). Obras etnográficas (I): Festas, costumes e outros materiais para uma Etnologia de Portugal. Lisboa: Etnográfica Press. pp. 498–499. doi:10.4000/books.etnograficapress.5446. o que ali realmente aparece nas festas da Primavera, pelo começo de Maio, é um rapaz vestido de ervas, a que chamam Maio-Moço 
  29. Braga, Teófilo (1885). O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. Porto: .Livraria Ferreira. 269 páginas. OCLC 656632756. Gil Vicente, no Triumpho do Inverno representou o inverno como a Velha, perseguida pelo Maio-moço. 
  30. Leite Vasconcellos, José (1938). Opúsculos, vol. V Etnologia (parte I). Coimbra: Coimbra editora. p. 512 
  31. «José Leite de Vasconcelos. OPÚSCULOS. Volume V. Etnologia (Parte I) Lisboa, Imprensa Nacional, 1938» (PDF). Instituto Camões. 1938. p. 511 [ligação inativa]
  32. Coelho, Adolfo (1993). Obras etnográficas (I): Festas, costumes e outros materiais para uma Etnologia de Portugal. Lisboa: Etnográfica Press. p. 294. doi:10.4000/books.etnograficapress.5446. 1. Postura da câmara de Lisboa de 1385 (...) 35) Outro sim estabellecem que daqui em diante em esta Cidade e em seu termo nom se cantem Janeiras nem Mayas, nem a outro nenhun Mez do anno, nem se lance cal ás portas sô titulo de Janeiro nem se furtem aguas nem se lancem sortes nem se britem aguas nem se faça alguma outra obra nem observância como se antes fazia qual se nom fazia nem faz em algum tempo do anno 
  33. «O panorama: jornal litterario e instructivo de Sociedade …, Volumes 3-4». Google (em inglês). Books.google.co.uk 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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