Manguebeat – Wikipédia, a enciclopédia livre

Manguebeat
Manguebeat
Origens estilísticas
Contexto cultural Década de 1990, Recife, Pernambuco
Instrumentos típicos
)
Popularidade Desde o final dos anos 1980, no Recife e no resto do mundo,[1] na década de 1990.[2] Em alta no início de década de 2000.
Formas derivadas
Subgêneros
Gêneros de fusão
Outros tópicos

Manguebeat (também grafado como manguebit ou mangue beat)[3] é um movimento de contracultura brasileiro.[4][5][6] Surgiu a partir de 1991, na cidade de Recife, e se destaca pela combinação original de diversos gêneros musicais, unindo ritmos regionais, como o maracatu, a rock, hip hop,[7] funk e música eletrônica.[8][9] O movimento preza pela valorização das culturas regionais nordestinas e desenvolvimento de um senso local de identidade própria, além de criticar as condições de vida da população e o estado de conservação do manguezal.[10] É representado por um caranguejo, animal típico dos mangues e fonte de alimentação para as comunidades locais, sendo o início do movimento marcado pelo manifesto Caranguejos com Cérebro.[11] Alcançou sucesso internacional com a banda Chico Science & Nação Zumbi.[12][13]

Origem do nome[editar | editar código-fonte]

Monumento Caranguejo com Cérebro (Manguebeat) está localizado na Rua da Aurora ponto turístico da cidade.

O termo “manguebeat” vem da junção da palavra "mangue" (manguezal), um ecossistema típico da costa do Nordeste brasileiro, com a palavra "beat", do inglês, que significa batida.[14] Segundo o grupo Nação Zumbi, um de seus criadores, o movimento foi pensado simplesmente como "mangue", tendo sido apelidado de manguebeat pela mídia à época.[10][15]

Visão geral[editar | editar código-fonte]

O movimento tem seu próprio manifesto, Caranguejos com Cérebro, escrito em 1991 pelo cantor Fred 04 e DJ Renato L (Renato Lin).[16] Seu título refere-se aos habitantes do Recife como caranguejos que vivem no ambiente de mangue da cidade. Um dos principais símbolos associados ao manguebeat é o de uma antena presa na lama recebendo sinais de todo o mundo.[17] O Mangue bit pode ser dividido em duas ondas distintas: a primeira no início dos anos 1990 liderada pelos grupos musicais Chico Science & Nação Zumbi e Mundo Livre S/A e a segunda na início dos anos 2000 liderados por Re:Combo (um movimento copyleft que carrega músicas meio sampleadas para download) e Cordel do Fogo Encantado (um grupo musical que começou como uma trupe de teatro itinerante com raízes em uma forma de literatura conhecida como literatura de cordel ( "literatura de barbante"). O movimento original se autodenominava mangue bit, mangue referindo-se aos manguezais do Recife e bit ao computador bit central para as influências da música eletrônica do movimento. Desde então, mangue bit tem sido comumente, embora erroneamente, referido como mangue beat.[16]

História[editar | editar código-fonte]

Origem[editar | editar código-fonte]

Monumento Caranguejo Elétrico da Rua da Aurora símbolo do movimento Manguebeat em abril de 2007.

Apesar de o estilo ter bases já na década de 1970 com o guitarrista Robertinho do Recife com os álbuns "Jardim da Infância" (1977), "Robertinho no Passo" (1978) e "E Agora pra Vocês... Suingues Tropicais" (1979), os principais idealizadores do movimento manguebeat foram Chico Science, Fred 04, Renato L, Mabuse e Héder Aragão, que idealizaram o rótulo manguebeat, divulgando ideias, ritmos e contestações.[18] Seguidos por artistas como: Jorge du Peixe, Lúcio Maia, Toca Ogan, Gilmar Bola 8, Gustavo da Lua, Otto, entre outros.[18]

O objetivo do movimento surgiu de uma metáfora idealizada por Fred 04 (vocalista da banda Mundo Livre S/A), ao trabalhar em vídeos ecológicos.[19] O ecossistema manguezal é chave na biodiversidade global,[20] sendo o autor do primeiro manifesto do manguebeat em 1992, intitulado "Caranguejos Com Cérebro", mas o movimento tem como ícone o músico Chico Science (falecido vocalista da banda Nação Zumbi).[21]

O Manguebeat precisava formar uma cena musical tão rica e diversificada como os manguezais.[22] Devido a principal bandeira do movimento ser a diversidade, a agitação na música contaminou outras formas de expressão culturais como o cinema, a moda e as artes plásticas, influenciando muitas bandas do Brasil, principalmente em Pernambuco. Com o surgimento de várias bandas no cenário local, gravadoras como Sony, Virgin e outras em destaque deram início a uma contratação dessas bandas.[23]

A base do Mangue começou no final da ditadura militar no Brasil, no início da década de 1980.[24] O relaxamento da censura aumentou a disponibilidade de música importada, especialmente dos Estados Unidos e do Reino Unido, levando a um aumento do rock brasileiro.[25] No Recife, universitários, entre eles alguns dos fundadores do movimento, DJ Renato L. e Fred 04, iniciaram um programa de rádio chamado Décadas, facilitando ainda mais a influência do rock, principalmente da música underground da Inglaterra, levando a um grande aumento em bandas de rock de Recife.[26] Fred 04 observa que quando a Mundo Livre S/A começou em 1984, as condições econômicas precárias e a falta de um circuito musical no Recife tornaram especialmente difícil para eles e grupos musicais semelhantes encontrar lugares para tocar.[27] No início dos anos 90, Paulo André Pires, que se tornaria o empresário da Nação Zumbi, começou a produzir shows em Recife e convidou bandas locais e internacionais para se apresentar.[28]

Apesar de serem citados como fundadores do movimento Mangue, Chico Science e Nação Zumbi (CSNZ) e Mundo Livre S/A têm influências e formações diferentes. Chico Science nasceu em uma família de classe média baixa no bairro do Rio Doce na cidade de Olinda.  Suas influências vieram da música que ouvia enquanto participava de festas de baile funk quando jovem e incluía rap, hip-hop, rock e soul, como James Brown, Curtis Mayfield, Funkadelic, Sugarhill Gang, Kurtis Blow e Grão-Mestre Flash.[29]  Tendo crescido rodeado de música folclórica regional, ele também foi fortemente influenciado pela música do Recife, como maracatu, ciranda, embolada e coco.  Chico com seu amigo, Jorge Du Peixe, integrou vários grupos; Legião Hip Hop, Orla Orbe, e Loustal, antes de encontrar e conhecer integrantes do Lamento Negro, bloco afro especializado em samba-reggae, em 1990 e formando o que seria o CSNZ.[26]

A Mundo Livre S/A tinha sede no bairro de Candeias, área nobre de Joboatão dos Guararapes, município localizado na Região Metropolina do Recife. Embora os próprios membros da banda não fossem ricos, todos eram firmemente de classe média, ao contrário de Chico Science e membros da Nação Zumbi.[26]  O vocalista Fred 04, descreveu a ideia da banda como "uma fusão, uma ponte entre John Lydon [da banda punk: The Sex Pistols] e Jorge Ben Jor [um músico pop brasileiro pioneiro que funde funk, soul, e samba] e Moreira da Silva [sambá dos anos 1930 e 1940], entendeu?.... Seria uma espécie de new wave mas bem brasileiro, bem brasileiro mesmo, que não se identificaria nem com rock nem com MPB [sigla para Música Popular Brasileira, "Música Popular Brasileira"].[26]

Ao ouvir Chico Science pela primeira vez em uma performance mashup de Loustal e Lamento Negro, ele pensou que a combinação da justaposição local/global, bem como a diferença de localização geográfica, poderia lançar o que viria a ser o movimento Mangue em algo que destacaria a diversidade do Recife.[26][30]

Manguebit
Manguebit (BRA)
 Brasil
26 de junho de 2022 •  
Idioma português

Manguebit: o filme[editar | editar código-fonte]

Manguebit é um documentário brasileiro de 26 de junho de 2022 produzido pela Jura Filmes com direção de Jura Capela.

O mangue beat, movimento musical e estético que nasceu em Pernambuco nos anos 1990, mudou a visibilidade das periferias e das manifestações culturais da Região Metropolitana do Recife e colocou o estado na rota do mercado musical mundial, após o lançamento de bandas como Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S.A.[31] O filme experimenta a liberdade do pensar do mangue por meio de uma linguagem multifacetada, que reúne ideias e ideais, refletindo a ousadia que deu vazão ao grande símbolo do movimento: uma antena parabólica enfiada na lama dos estuários. ​O formato do filme Manguebit[32] é convencional, mas se revela satisfatório porque a multiplicidade de opiniões e imagens realça o caráter coletivo do movimento gerado por jovens insatisfeitos com a falta de perspectiva social em um Recife enlameado e esfacelado por bolsões de pobreza e injustiça social.[33][34]

O documentário foi vencedor na categoria de melhor documentário no 14º In-Edit Brasil – Festival Internacional de Documentários Musicais e será exibido na edição 2022 do In-Edit Barcelona, ​​com a presença do diretor.[34][35][36]

Bandas[editar | editar código-fonte]

Notáveis bandas do gênero Manguebeat incluem Mundo Livre S/A, Chico Science & Nação Zumbi, Sheik Tosado, Mestre Ambrósio, DJ Dolores, Comadre Fulozinha, Jorge Cabeleira e o Dia em que Seremos Todos Inúteis, Eddie, Via Sat e Querosene Jacaré.[37]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Construções do tempo e do outro : representações e discursos midiáticos sobre a alteridade. João. Freire Filho, Paulo Vaz 1a ed ed. Rio de Janeiro: Mauad X. 2006. OCLC 123474531 
  2. Chico Science e a Nação Zumbi se Hospedavam na minha casa, YouTube, 9 de setembro de 2022, consultado em 20 de novembro de 2022 
  3. «Fenearte homenageia o movimento manguebeat e reúne cinco mil expositores este ano». G1. Consultado em 30 de junho de 2022 
  4. «Crítica: Livro faz um apanhado caudaloso do Nação Zumbi e do mangue beat». Folha de S.Paulo. 28 de setembro de 2019. Consultado em 30 de junho de 2022 
  5. «Fenearte 2022: feira pernambucana homenageia os 30 anos do Manguebeat. Confira detalhes». jc.ne10.uol.com.br. Consultado em 30 de junho de 2022 
  6. «O que foi o Movimento Manguebeat?». História do Mundo. Consultado em 16 de junho de 2022 
  7. Ferreira, Mauro (19 de junho de 2022). «Filme 'Manguebit' foca a revolução musical de Pernambuco como agudo estado de consciência social». G1 Pernambuco. Consultado em 30 de junho de 2022 
  8. «Folha de S.Paulo - Fred 04 exalta vida do manguebeat em manifesto - 13/02/97». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 30 de junho de 2022 
  9. Reinado Caruso. «Recife - O 'mangue beat'». Folha de S.Paulo 
  10. a b Chico Science, Um Caranguejo Elétrico - Documentário Nação Zumbi, consultado em 27 de outubro de 2021 
  11. «Chico Science 50 anos». EBC. Consultado em 27 de outubro de 2021 
  12. «Mangue Beat: o que foi, origem, representantes». Brasil Escola. Consultado em 16 de junho de 2022 
  13. «Mangue Beat: o que foi, contexto, origem do termo». Mundo Educação. Consultado em 16 de junho de 2022 
  14. «Completando 30 anos, o movimento Manguebeat segue influenciando a cena musical pernambucana». Brasil de Fato - Pernambuco. Consultado em 16 de junho de 2022 
  15. «G1 > Música - NOTÍCIAS - Leia o manifesto 'Caranguejos com cérebro'». g1.globo.com. Consultado em 30 de junho de 2022 
  16. a b Brazilian popular music & globalization. Charles A. Perrone, Christopher Dunn 1st Routledge pbk. ed ed. New York: Routledge. 2002. OCLC 46777407 
  17. Galinsky, Philip (2013). Maracatu Atomico : Tradition, Modernity, and Postmodernity in the Mangue Movement and the ""New Music Scene"" of Recife, Pernambuco, Brazil. Hoboken: Taylor and Francis. OCLC 866446413 
  18. a b Fernandes, Cláudio. «O que foi o Movimento Manguebeat?». Historia do Mundo - Curiosidades. Portal UOL. Consultado em 2 de fevereiro de 2017 
  19. «Jorge Du Peixe, Fred 04, Otto e Siba se reúnem em celebração aos 30 anos do Manguebeat». G1. Consultado em 30 de junho de 2022 
  20. Organización de las Naciones Unidas para la Alimentación y la Agricultura. «Estudio temático de FRA 2005 sobre manglares» 
  21. «Com homenagem ao Manguebeat, Fenearte reúne 5 mil expositores, oficinas e apresentações culturais». G1. Consultado em 30 de junho de 2022 
  22. «Manguebeat é base de peça que revive a ideia do 'caranguejo com cérebro' - 16/02/2016 - Ilustrada - Folha de S.Paulo». m.folha.uol.com.br. Consultado em 30 de junho de 2022 
  23. «30 anos do manifesto Manguebeat: A crise social é parecida com a da época, diz Fred Zero Quatro - CartaCapital». www.cartacapital.com.br. Consultado em 16 de junho de 2022 
  24. «Entenda como o manguebeat chacoalhou toda a música brasileira há três décadas». Folha de S.Paulo. 13 de novembro de 2022. Consultado em 21 de novembro de 2022 
  25. «Folha de S.Paulo - Fred 04 exalta vida do manguebeat em manifesto - 13/02/97». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 21 de novembro de 2022 
  26. a b c d e Galinsky, Philip (2013). Maracatu Atomico : Tradition, Modernity, and Postmodernity in the Mangue Movement and the "New Music Scene"of Recife, Pernambuco, Brazil. Hoboken: Taylor and Francis. OCLC 866446413 
  27. Galinsky, Philip (2002). "Maracatu atômico" : tradition, modernity, and postmodernity in the mangue movement of Recife, Brazil. New York: [s.n.] OCLC 865578698 
  28. From tejano to tango : Latin American popular music. Walter Aaron Clark. New York: Routledge. 2013. OCLC 827207112 
  29. Sneed, Paul Michael (setembro de 2019). «The Coexistentialism of Chico Science and Brazil's Manguebeat». Latin American Research Review (em inglês) (3): 651–664. ISSN 0023-8791. doi:10.25222/larr.451. Consultado em 25 de novembro de 2022 
  30. Sneed, Paul Michael (setembro de 2019). «The Coexistentialism of Chico Science and Brazil's Manguebeat». Latin American Research Review (em inglês) (3): 651–664. ISSN 0023-8791. doi:10.25222/larr.451. Consultado em 25 de novembro de 2022 
  31. Ferreira, Mauro. «Filme 'Manguebit' foca a revolução musical de Pernambuco como agudo estado de consciência social». G1. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  32. Rio, Festival do. «Manguebit». Festival do Rio. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  33. «Manguebit». IN-EDIT BRASIL | Festival Internacional do Documentário Musical. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  34. a b Bento, Emannuel (25 de junho de 2022). «Filme sobre manguebeat é o grande vencedor do 14° Festival Internacional do Documentário Musical». JC. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  35. «Filme pernambucano é o vencedor do 14º Festival Internacional do Documentário Musical». www.folhape.com.br. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  36. «Festival Internacional do Documentário Musical: In-Edit 2022 chega em cartaz». Sesc São Paulo. 11 de junho de 2022. Consultado em 22 de novembro de 2022 
  37. «Banda Combo X apresenta novo show no Capibar em comemoração aos 30 anos do Manguebeat». G1. Consultado em 30 de junho de 2022 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

João Freire Filho, Paulo Vaz (2006). Construções do tempo e do outro : representações e discursos midiáticos sobre a alteridade 1 ed. Rio de Janeiro: Mauad X. OCLC 123474531 

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Ligações externas[editar | editar código-fonte]


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