Manuel Butumita – Wikipédia, a enciclopédia livre

Manuel Butumita
Nacionalidade Império Bizantino
Ocupação General e embaixador
Religião Cristianismo

Manuel Butumita (em grego: Μανουὴλ Βουτουμίτης; romaniz.:Manouēl Boutoumites; fl. 1086-1112) foi um importante general e diplomata bizantino durante o reinado do imperador Aleixo I Comneno (r. 1081–1118), e um de seus assistentes mais confiáveis. Foi instrumental na reconquista de Niceia e Cilícia dos turcos seljúcidas e atuou como embaixador do imperador em várias missões para os príncipes cruzados.

História[editar | editar código-fonte]

Primeiras campanhas contra os turcos[editar | editar código-fonte]

Hipérpiro escifato de Aleixo I Comneno (r. 1081–1118)

Butumita aparece na A Alexíada de Ana Comnena em 1086, quando foi apontado como duque da frota bizantina por Aleixo, e enviado contra Abu Alcacim (r. 1084–1092), o governador seljúcida semi-independente de Niceia.[1] Abu Alcacim estava se preparando para lançar uma frota no mar de Mármara para enfrentar a marinha bizantina. Aleixo, determinado a evitar isso, enviou contra ele Butumita com a frota, enquanto Tatício se moveria contra sua base por terra. Os dois generais destruíram com sucesso a frota seljúcida e forçaram Abu Alcacim a retirar-se para Niceia, onde concluiu uma trégua com o império.[2][3]

Mais tarde, em 1092, após o mega-duque de Aleixo, João Ducas, derrotar o emir Tzacas de Esmirna, Butumita, junto com Alexandre Euforbeno, foram dados como reféns para o emir para garantir sua evacuação pacífica da ilha de Lesbos.[4] Logo depois, Ducas e Butumita foram enviados contra as rebeliões de Cálices em Creta e Rapsomata no Chipre. Depois de dominar a revolta de Cálices, se dirigiram para o Chipre, onde Cirênia caiu rapidamente. Rapsomata saiu para encontrá-los e ocupou as elevações acima da cidade, mas Butumita atraiu muitos de seus homens para o deserto, e os rebeldes fugiram da batalha. Butumita o perseguiu e capturou na igreja de Vera Cruz, onde o rebelde procurou refúgio. Prometendo poupar sua vida, Butumita capturou Rapsomata e levou-o para Ducas.[2][5] De acordo com a tradição, enquanto no Chipre, ele fundou o mosteiro de Cico.[6][7]

Primeira Cruzada e cerco de Niceia[editar | editar código-fonte]

Ver artigos principais: Primeira Cruzada e Cerco de Niceia
Cerco de Niceia

Butumita foi altamente considerado e confiado por Aleixo; Ana Comnena chama-o "único confidente de Aleixo". Por isso, ele desempenhou um importante papel nas relações delicadas com a Primeira Cruzada: em 1096, Butumita foi enviado para escoltar o navio naufragado de Hugo I de Vermandois de Dirráquio para Constantinopla, e em 1097, foi despachado como chefe de um pequeno destacamento para acompanhar o exército cruzado em sua marcha contra os turcos na Anatólia.[8][9]

O primeiro grande obstáculo no caminho dos cruzados era Niceia, a capital seljúcida, que eles começaram a cercar. Butumita tinha sido instruído por Aleixo para assegurar a rendição da cidade pelas forças imperiais, e não para os cruzados. Já desde o início do cerco, Butumita, através de numerosas cartas, tentou seduzir os seljúcidas a renderem-se a ele, seja por meio de promessas de anistia ou ameaças de um massacre se os cruzados capturassem a cidade pela força. Os turcos entraram em negociações, permitindo Butumita entrar na cidade. Dois dias depois, com a notícia da aproximação de uma força de alívio sob o sultão Quilije Arslã I (r. 1092–1107), eles o obrigaram a sair.[10][11][12][13] Depois da força de socorro ser derrotada pelos cruzados, contudo, e com um esquadrão imperial sob Butumita com o controle da rota de abastecimento através do lago Ascânio e 2000 bizantinos sob Tatício juntando-se aos cruzados no cerco, os habitantes da cidades estavam determinados a aceitar os termos do imperador: Butumita entrou em Niceia e mostrou-lhes então a bula dourada do imperador bizantino, oferecendo generosos termos e honra para a esposa e filha do sultão, que estavam na cidade. Ele, contudo, manteve o acordo em segredo, e organizou com Tatício um assalto renovado pelos cruzados e os homens de Tatício, em que a cidade ostensivamente seria capturada pelos bizantinos. O ardil funcionou: o dia do ataque final foi 19 de junho, mas quando o assalto começou na madrugada, os bizantinos entraram pelos portões virados para o lago, elevaram seus estandartes nas almeias, deixando os cruzados do lado de fora.[14][15][16][17]

Embora, no geral, os cruzados aceitaram o resultado, o evento amargou as relações. Os líderes cruzados sentiram-se enganados por terem sido deixados de fora após as baixas que sofreram para derrotar a força de alívio turca, mas o ressentimento foi maior entre as fileiras dos cruzados, que foram privados da possibilidade de saque e estavam indignados com o tratamento respeitoso dos bizantinos com os cativos muçulmanos.[18][19] No rescaldo da queda da cidade, Butumita foi nomeado por Aleixo como duque de Niceia. Foi bem sucedido em manter o posto e fila dos cruzados, ainda ansiosos para pilhar, em cheque - eles não estavam autorizados a entrar na cidade, exceto em grupos de 10 - e acalmou seus líderes através de presentes e garantiu a promessa de fidelidade deles à Aleixo. Também persuadiu alguns dos cruzados para se inscreverem no exército bizantino. Eles foram então utilizados para guarnecer Niceia e reparar seus muros.[20][21][22]

Embaixador e general contra Boemundo e Tancredo[editar | editar código-fonte]

Império Bizantino e Mediterrâneo Oriental após a Primeira Cruzada

Em 1099, foi enviado pelos comandantes bizantinos no Chipre como emissário de paz para Boemundo I de Antioquia, mas foi detido por ele durante uma quinzena antes de ser liberado, e as negociações não foram iniciadas.[22][23] Poucos anos depois (ca. 1103), Butumita foi colocado como chefe de um grande exército enviado para garantir a Cilícia contra Boemundo. Após tomar Ataleia, os bizantinos tomaram Germanícia e as regiões circundantes. Butumita deixou para trás uma grande força sob Monastras para guarnecer a província e retornou para Constantinopla.[1][24][25][26]

Em 1111/1112, foi enviado como um embaixador para o Reino de Jerusalém para assegurar ajuda contra Tancredo da Galileia, regente de Boemundo em Antioquia, que se recusou a cumprir o tratado de Devol de 1108, que transformava o Principado de Antioquia num Estado vassalo bizantino.[27][28] Do Chipre, Butumita primeiro rumou para Trípoli. De acordo com A Alexíada, o conde local, Bertrando de Toulouse, prontamente concordou em ajudar as forças imperiais contra Tancredo, e até mesmo a prestar homenagem a Aleixo, quando chegasse para sitiar Antioquia.[29][30] Em seguida, os enviados bizantinos prepararam-se para encontrar o rei de Jerusalém, Balduíno I (r. 1100–1118), que estava sitiando Tiro. Butumita tentou persuadir Balduíno oferecendo uma recompensa substancial em ouro, e fazendo várias afirmações exageradas, incluindo que Aleixo já estava supostamente a caminho e tinha alcançado Selêucia. Balduíno, contudo, ao saber da falsidade das alegações de Butumita, perdeu a confiança nele. Ele fingiu a vontade de atacar Tancredo desde que recebesse os subsídios prometidos anteriormente. Butumita, no entanto, percebeu as intenções do rei, e se recusou a fazê-lo. Assim, a missão terminou em fracasso, e Butumita deixou Jerusalém, retornando para Constantinopla via Trípoli.[31][32][33]

Referências

  1. a b Kazhdan 1991, p. 318.
  2. a b Skoulatos 1980, p. 181.
  3. Sewter 2003, p. 202–203.
  4. Sewter 2003, p. 270-271.
  5. Sewter 2003, p. 272-274.
  6. «Kykkos» (em inglês). Consultado em 12 de novembro de 2013 
  7. Sinkević 2000, p. 10.
  8. Sewter 2003, p. 315; 331.
  9. Runciman 1951, p. 144; 177.
  10. Sewter 2003, p. 331–334.
  11. Skoulatos 1980, p. 182.
  12. Setton 2006, p. 289.
  13. Runciman 1951, p. 179.
  14. Sewter 2003, p. 334–338.
  15. Skoulatos 1980, p. 182–183.
  16. Setton 2006, p. 290.
  17. Runciman 1951, p. 180.
  18. Setton 2006, p. 290–291.
  19. Runciman 1951, p. 180–181.
  20. Sewter 2003, p. 339–340.
  21. Runciman 1951, p. 184.
  22. a b Skoulatos 1980, p. 183.
  23. Sewter 2003, p. 362–363.
  24. Sewter 2003, p. 358–360.
  25. Skoulatos 1980, p. 183–184.
  26. Runciman 1951, p. 300–301.
  27. Kazhdan 1991, p. 302, 318, 617, 2009.
  28. Setton 2006, p. 400.
  29. Skoulatos 1980, p. 184.
  30. Sewter 2003, p. 440–441.
  31. Sewter 2003, p. 441–441.
  32. Skoulatos 1980, p. 184–185.
  33. Setton 2006, p. 400–401.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Kazhdan, Alexander Petrovich (1991). The Oxford Dictionary of Byzantium. Nova Iorque e Oxford: Oxford University Press. ISBN 0-19-504652-8 
  • Runciman, Steven (1951). A History of the Crusades, Volume 1: The First Crusade and the Foundation of the Kingdom of Jerusalem. Cambridge: Cambridge University Press. ISBN 978-0-521-34770-9 
  • Setton, Kenneth Meyer; Marshall W. Baldwin (2006). A History of the Crusades, Volume I: The First Hundred Years. Madison, Wisconsin: University of Wisconsin Press. ISBN 978-0-299-04834-1 
  • Sinkević, Ida (2000). The Church of St. Panteleimon at Nerezi: architecture, programme, patronage. Wiesbaden: Reichert. ISBN 3895001295 
  • Skoulatos, Basile (1980). Les Personnages Byzantins de I'Alexiade: Analyse Prosopographique et Synthese (em inglês). Louvain-la-Neuve: Nauwelaerts