Marxismo e religião – Wikipédia, a enciclopédia livre

O fundador do marxismo, o pensador alemão Karl Marx, tinha uma atitude crítica com religião. Por um lado, via a utilização dessa ideologia como "o ópio do povo", ou seja, instrumento usado pelas classes dominantes para dar à classe trabalhadora uma falsa esperança sobre a resolução dos problemas sociais apresentados. Em última instância, a superação da divisão entre pobres e ricos só pode ser superada no pós-morte, no paraíso. Por outro lado, acabava por reconhecer a religião como uma forma de protesto das classes trabalhadoras contra suas más condições econômicas.[1] Inclusive, em sua polêmica com os Bauer e os neohegelianos, quando vai escrever os Manuscritos Econômicos-Filosóficos de 1844, Marx vai defender a distinção entre o Estado e a religião - mas não a aniquilação da religiosidade como um todo, como Bauer defendia.[2]

Na interpretação do marxismo, com robusta filosofia materialista, distanciada da teologia, a religião é uma tema a ser tratado dentro do campo privado, totalmente diferenciado do campo da política estatal. Essa é a posição de Marx e posteriormente de Lenin, um dos líderes bolcheviques da revolução russa. Ou seja, a religião não é um tema do Estado e não cabe a ele o poder de decidir a crença individual das pessoas - que pode se reivindicar ateu ou teísta.[3] Entretanto, na prática, muitas vezes a religião é usada como apaziguador das lutas.

Marx e a religião[editar | editar código-fonte]

A miséria religiosa constitui ao mesmo tempo a expressão da miséria real e o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o ânimo de um mundo sem coração e a alma de situações sem alma. A religião é o ópio do povo. A abolição da religião, enquanto felicidade ilusória dos homens, é a exigência da sua felicidade real. O apelo para que abandonem as ilusões a respeito da sua condição é o apelo para abandonarem uma condição que precisa de ilusões. A crítica da religião é, pois, o germe da crítica do vale de lágrimas, do qual a religião é a auréola.

A crítica arrancou as flores imaginárias dos grilhões, não para que o homem os suporte sem fantasias ou consolo, mas para que lance fora os grilhões e a flor viva brote. A crítica da religião liberta o homem da ilusão, de modo que pense, atue e configure a sua realidade como homem que perdeu as ilusões e reconquistou a razão, a fim de que ele gire em torno de si mesmo e, assim, em volta do seu verdadeiro sol. A religião é apenas o sol ilusório que gira em volta do homem enquanto ele não circula em tomo de si mesmo.[4]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Raines, John. 2002. "Introduction". Marx on Religion (Marx, Karl). Philadelphia: Temple University Press. Page 05-06.
  2. Bento, Fábio Régio (21 de outubro de 2016). «Conexões entre Marxismo e religião». RELACult - Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade. pp. 07–25. doi:10.23899/relacult.v2i02.6. Consultado em 14 de dezembro de 2022 
  3. «O Socialismo e a Religião». www.marxists.org. Consultado em 14 de dezembro de 2022 
  4. Karl Marx (2005). Crítica da filosofia do direito de Hegel. [S.l.]: São Paulo: Boitempo Editorial. pp. 146/147. ISBN 85-7559-064-2