McDonnell Douglas A-12 Avenger II – Wikipédia, a enciclopédia livre

A-12 Avenger II
Bombardeiro
McDonnell Douglas A-12 Avenger II
Desenho artístico de um A-12 Avenger II
Descrição
Tipo / Missão Aeronave furtiva de bombardeamento[1]
País de origem  Estados Unidos
Fabricante McDonnell Douglas e General Dynamics
Período de produção 1 mockup
Custo unitário US$57 biliões (programa)[2]
Tripulação 2
Especificações (Modelo: Dados de Stealth Warplanes[3])
Dimensões
Comprimento 11,5 m (37,7 ft)
Envergadura 21,4 m (70,2 ft)
Altura 3,4 m (11,2 ft)
Área das asas 123,05  (1 320 ft²)
Alongamento 3.7
Peso(s)
Peso vazio 17 700 kg (39 000 lb)
Peso máx. de decolagem 36 300 kg (80 000 lb)
Propulsão
Motor(es) 2 × General Electric F404
Performance
Velocidade máxima 930 km/h (502 kn)
Alcance (MTOW) 1 480 km (920 mi)
Teto máximo 1 200 m (3 940 ft)
Razão de subida 25 m/s
Armamentos
Mísseis AIM-120 AMRAAM
AGM-88 HARM
Bombas Até 2300 kg

O McDonnell Douglas/General Dynamics A-12 Avenger II foi um projecto da McDonnell Douglas e da General Dynamics para uma aeronave de ataque e bombardeamento, a ser usada pela Marinha dos Estados Unidos. Seria uma asa voadora capaz de actuar em qualquer condição meteorológica e a partir de porta-aviões, e visava substituir o Grumman A-6 Intruder. O seu nome teve origem no Grumman TBF Avenger da Segunda Guerra Mundial.

O desenvolvimento desta aeronave sofreu vários problemas devido a custos imprevistos e vários atrasos na sua concepção, fazendo com que o programa não conseguisse cumprir as metas estabelecidas; estes problemas levaram ao encerramento do programa em 1991. O seu cancelamento foi contestado em processos judiciais até ser alcançado um acordo em Janeiro de 2014.

Design e desenvolvimento[editar | editar código-fonte]

Programa ATA[editar | editar código-fonte]

A Marinha dos Estados Unidos iniciou o programa ATA (em inglês: Advanced Tactical Aircraft) em 1983. Este programa tinha como objectivo desenvolver um substituto para o A-6 Intruder até 1994. A tecnologia furtiva desenvolvida para a Força Aérea dos Estados Unidos seria usada no programa.[4] Assim, foi aberto um concurso para as equipas aeronáuticas McDonnell Douglas/General Dynamics e Northrop/Grumman/Vought em Novembro de 1984; em 1986, foram adjudicados contratos a ambas as equipas para desenvolvimentos adicionais do conceito.[5]

A equipa McDonnell Douglas/General Dynamics foi seleccionada como a vencedora no dia 13 de Janeiro de 1988, sendo que a equipa rival não submeteu uma proposta final.[3] A McDonnell Douglas/General Dynamics recebeu assim o contrato de desenvolvimento e a aeronave foi designada A-12. O primeiro voo desta aeronave ficou planeado para Dezembro de 1990.[5] O A-12 foi baptizado de Avenger II em homenagem à famosa aeronave da Segunda Guerra Mundial Grumman TBF Avenger.[6]

A marinha inicialmente tinha intenções de comprar 620 aeronaves e o Corpo de Fuzileiros Navais dos Estados Unidos 238. Além disto, a força aérea norte-americana também pretendeu comprar 400 variantes, porém pouco tempo depois mudaram de ideias.[5][7] O A-12 havia sido proposto também como um possível substituto do General Dynamics F-111 Aardvark e do britânico Panavia Tornado.[8] Esta aeronave teria o design de uma asa voadora com o formato de um triângulo isósceles, com o cockpit situado no vértice do triângulo.[9] Isto deu à aeronave a alcunha de "Dorito Voador".[9]

Um desenho artístico de um A-12 Avenger II em pleno voo.

A aeronave seria alimentada por dois motores General Electric F404 e equipada com dois mísseis guiados ar-ar AIM-120 AMRAAM e dois mísseis ar-terra AGM-88 HARM, juntamente com a capacidade de carregar no seu compartimento de bombas uma série de bombas não guiadas ou de precisão. Dada as características da sua capacidade de armamento, é possível que o A-12 pudesse carregar também armamento nuclear.[10] A capacidade máxima de bombas que poderia carregar seria de 2300 kg.[11]

No início de 1990 a McDonnell Douglas e a General Dynamics revelaram vários atrasos e custos imprevistos que necessitariam um aumento do orçamento para o programa. Devido a várias complicações com o fabrico de materiais compostos para a aeronave, o peso da mesma aumento 30% acima do previsto; isto revelou-se um grave problema para uma aeronave que deveria operar eficientemente a partir de um porta-aviões.[7] Dificuldades técnicas com a complexidade do sistema de radar também causaram um aumento nos custos; um estudo estimava que o A-12 consumiria até 70% do orçamento da marinha para aeronaves.[7] Depois de vários atrasos, a revisão ao design acabou por acontecer em Outubro de 1990 e o primeiro voo foi remarcado para o início de 1992.[12] Em Dezembro de 1990 foram feitos planos para equipar 14 porta-aviões da marinha com esta nova aeronave; cada porta-aviões com uma asa de 20 A-12.[13]

Um relatório do governo em Novembro de 1990 apresentava sérios problemas no programa de desenvolvimento do A-12. Em Dezembro de 1990 o Secretario de Defesa Dick Cheney disse à Marinha para justificar o programa e apresentar razões para o mesmo não ser cancelado. A resposta dada pela Marinha e pelos fabricantes não conseguiu persuadir o Secretário de Defesa, e assim o programa foi cancelado no mês seguinte, a 7 de Janeiro de 1991, por quebra de contrato.[5][14]

O governo assumiu que os fabricantes não conseguiriam realizar o programa e notificou-os de que teriam que pagar mais de 2 biliões de dólares que haviam sido gastos no desenvolvimento do A-12. A McDonnell Douglas e a General Dynamics não concordaram e levaram o caso ao Tribunal de Reclamações Federais dos Estados Unidos.[15] As razões e as causas do cancelamento foram debatidas em tribunal e continuam a gerar controvérsia, havendo sugestões de esquemas e favorecimentos políticos por de trás da acção de cancelamento.[16]

Conclusão[editar | editar código-fonte]

O A-12 comparado com um F-14 e um A-6

Depois do cancelamento do A-12, a marinha decidiu comprar o Boeing F/A-18E/F Super Hornet, que veio a substituir o A-6 Intruder e o F-14 Tomcat. O Super Hornet usa o General Electric F414, que é uma variante do F404 desenvolvido para o A-12.[17] O modelo à escala real do A-12 foi revelado ao público na Base Aérea Naval de Fort Worth, em Junho de 1996.[18] O cancelamento do A-12 é visto como uma das grandes perdas dos anos 90 que contribuíram para a fusão da já fraca McDonnell Douglas com a rival Boeing, em 1997.[19] Depois de estar armazenado durante vários anos dentro de um armazém da Lockheed em Fort Worth, no Texas, o modelo foi transportado para o Museu de Aviação de Fort Worth em Junho de 2013.[20]

A maneira em como o programa foi cancelado criou um processo que se arrastou durante muitos anos em tribunal, entre os fabricantes e o Departamento de Defesa dos Estados Unidos. No dia 1 de Junho de 2009, o Tribunal de Apelação para o Circuito Federal dos Estados Unidos decidiu que o cancelamento do programa foi um acto justificado; a decisão também apontava que os dois fabricantes deveriam pagar ao governo norte-americano uma soma de 1,35 biliões de dólares, juntamente com uma soma de juros no valor de 1,45 biliões. A Boeing, que havia-se fundido com a McDonnell Douglas, e a General Dynamics contestaram a decisão e recorreram.[8] A 10 de Setembro de 2010 o Supremo Tribunal dos Estados Unidos comunicou que iria analisar os argumentos das duas companhias, de que o cancelamento do programa por parte do governo havia sido mal feito e que os segredos de estado por parte dos Estados Unidos haviam impedido que o programa se desenrolasse de maneira eficiente.[21] Em Maio de 2011, o Supremo Tribunal devolveu o caso ao Circuito Federal.[8] Em Janeiro de 2014, o caso foi encerrado com a Boeing e a General Dynamics a aceitarem pagar 200 milhões cada à Marinha dos Estados Unidos.[22]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. Stevenson 2001, p. 35.
  2. "Cheney Says No". Arquivado em 7 de janeiro de 2016, no Wayback Machine. The Victoria Advocate, 10 de Janeiro de 1991. Visitado: 09 de Dezembro de 2016.
  3. a b Richardson 2001, p. 110.
  4. "Advanced Tactical Aircraft (ATA) 1983–1991". Arquivado em 6 de setembro de 2016, no Wayback Machine. jsf.mil, Visitado: 09 de Dezembro de 2016.
  5. a b c d Jenkins 2002, p. 95.
  6. «McDonnell Douglas / General Dynamics A-12 Avenger II - Development and Operational History, Performance Specifications and Picture Gallery». Consultado em 9 de dezembro de 2016. Cópia arquivada em 18 de setembro de 2016 
  7. a b c Mahnken 2008, p. 166.
  8. a b c Petrescu, Relly Victoria (2013). The Aviation History (em inglês). [S.l.]: BoD – Books on Demand. pp. 117 – 118. ISBN 978-3-8482-6639-5 
  9. a b Jenkins 2002, pp. 96–97.
  10. Polmar and Norris 2009, p. 75.
  11. Thomason 2009, p. 184.
  12. Thomason 2009 1993, p. 185.
  13. Richeson 1990, pp. 15–16.
  14. Yenne 1993, p. 13.
  15. Jenkins 2002, pp. 95–96.
  16. Cohen, Eliot A. "Review of: 'The $5 Billion Misunderstanding: The Collapse of the Navy's A-12 Stealth Bomber Program'" Arquivado em 27 de setembro de 2012, no Wayback Machine.. Journal of Foreign Affairs. January/February 2002. Visitado: 09 de Dezembro de 2016.
  17. Senior 2003, p. 44.
  18. Jenkins 2002, p. 96.
  19. Boyne 2002, pp. 404–405.
  20. Bob Booth special. Fort Worth Star-Telegram, 28 de Junho de 2013.
  21. Liptak, Adam. "Supreme Court Takes Cases on Corporations' Rights" Arquivado em 5 de outubro de 2015, no Wayback Machine.. The New York Times, 28 de Setembro de 2010. Visitado: 09 de Dezembro de 2016.
  22. "UPDATE 1-Boeing, General Dynamics reach $400 mln A-12 settlement with U.S. Navy". Arquivado em 24 de setembro de 2015, no Wayback Machine. Reuters, 23 de Janeiro de 2014.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Boyne, Walter J. Air Warfare: An International Encyclopedia, Volume 1. Santa Barbara, Califórnia: ABC-CLIO, 2002. (em inglês) ISBN 978-1-57607-345-2.
  • Jenkins, Dennis R. Grumman A-6 Intruder – WarbirdTech Volume 33. North Branch, Minnesota: Specialty Press, 2002. (em inglês) ISBN 1-58007-050-7.
  • Mahnken, Thomas G. Technology and the American Way of War. Nova York: Columbia University Press, 2008. (em inglês) ISBN 978-0-231-12336-5.
  • Polmar, Norman., and Robert Stan Norris. The U.S. Nuclear Arsenal: A History of Weapons and Delivery Systems Since 1945. Annapolis, Maryland: Naval Institute Press, 2009. (em inglês) ISBN 978-1-55750-681-8.
  • Richardson, Doug. Stealth Warplanes. Salamander, 2001. (em inglês) ISBN 978-1-8406-5256-7.
  • Senior, Tim. The Air Forces Book of the F/A-18 Hornet. Osceola, Wisconsin: Zenith Imprint, 2003. (em inglês) ISBN 978-0-946219-69-8.
  • Stevenson, James P. The $5 Billion Misunderstanding: the Collapse of the Navy's A-12 Stealth Bomber Program. Annapolis, Maryland: Naval Institute Press, 2001. (em inglês) ISBN 978-1-55750-777-8.
  • Thomason, Tommy H. Strike from the Sea: U.S. Navy Attack Aircraft from Skyraider to Super Hornet, 1948 – present. North Branch, Minnesota: Specialty Press, 2009. (em inglês) ISBN 978-1-58007-132-1.
  • Yenne, Bill. Weapons of the 21st Century. Nova York; Avenel, Nova Jersey: Crescent Books, 1993. (em inglês) ISBN 978-0-517-06976-9.