Memórias do Cárcere (livro) – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Para outros significados de outras produções com mesmo nome, ou derivadas desta obra, veja Memórias do Cárcere.
Memórias do Cárcere
Memórias do Cárcere (livro)
Capa da 1a edição, Volume I Viagens, por Tomás Santa Rosa.
Autor(es) Graciliano Ramos
Idioma Português
País Brasil Brasil
Gênero Autobiografia
Editora José Olympio
Lançamento José Olympio (1a. edição)
Cronologia
Insônia
Viagem

Memórias do Cárcere é um livro de memórias de Graciliano Ramos, publicado postumamente, em setembro de 1953, em quatro volumes. O autor não chegou a concluir a obra, faltando o capítulo final. Graciliano havia sido preso em 1936 por conta de seu envolvimento político com a chamada Intentona Comunista, de 1935. A acusação formal nunca chegou a ser feita e Graciliano foi preso sem provas e sem processo.[1]

Enredo[editar | editar código-fonte]

No livro, Graciliano descreve a companhia dos mais variados tipos encontrados entre os presos políticos: descreve, entre outros acontecimentos, a entrega de Olga Benário para a Gestapo, insinua as sessões de tortura aplicadas a Rodolfo Ghioldi e relata um encontro com Epifrânio Guilhermino, único sujeito a assassinar um legalista no levante comunista do Rio Grande do Norte.

Durante a prisão, diversas vezes Graciliano destrói ou afirma destruir as anotações que poderiam lhe ajudar a compor uma obra mais ampla. Também dá importância ao sentimento de náusea causado pela imundície das cadeias, chegando a ficar sem alimentação por vários dias, em virtude do asco.

Da cadeia, Graciliano faz comentários sobre a feitura e a publicação de Angústia, uma de suas melhores obras.

Censura[editar | editar código-fonte]

Diz o crítico conservador Wilson Martins, a respeito da censura que o livro sofrera e que teria adulterado o original do autor para sempre:

Houve também na história dessas relações, a grande crise provocada por Memórias do Cárcere. Sabia-se que o PCB exerceu forte pressão sobre a família de Graciliano Ramos para impedir-lhe a publicação, acabando por aceitá-la à custa de cortes textuais e correções cuja verdadeira extensão jamais saberemos. Nas idas e vindas entre a família e os censores do Partido, resultaram, pelo menos, três “originais”, datilografados e redatilografados ao sabor das exigências impostas. Supõe-se que o último deles recebeu o imprimatur canônico, acontecendo, apenas, que, na confusão inevitável de tantos “originais”, as páginas escolhidas para ilustrar os volumes diferiam sensivelmente das impressas, suscitando dúvidas quanto à respectiva autenticidade.
— Wilson Martins, in: Gazeta do Povo

[2]

Ainda segundo o crítico de direita (célebre por sua crítica a toda literatura engajada de esquerda), fez publicar a denúncia no jornal O Estado de S. Paulo, recebendo então acerbas críticas do PCB, o que para ele era a comprovação da veracidade das alterações feitas na obra que, após reveladas, haviam incomodado o editor, José Olympio. No entanto, a viúva do escritor, Heloísa Ramos, e os filhos de Graciliano, Ricardo e Clara, mais tarde confirmaram a autenticidade do livro publicado com o texto original. [3]

Filme[editar | editar código-fonte]

Memórias do Cárcere também foi filmado por Nelson Pereira dos Santos em 1984. Graciliano é interpretado por Carlos Vereza, e sua mulher Heloísa (que lhe faz algumas visitas na prisão) é interpretada por Glória Pires.

Referências

  1. «A Intentona Comunista». Consultado em 23 de maio de 2017 
  2. Wilson Martins (20 de outubro de 2008). «Minhas Relações com José Olympio». Consultado em 6 de janeiro de 2010 
  3. "O velho Graça - uma biografia de Graciliano Ramos", de Dênis de Moraes,