Miguel Bombarda – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Se procura a rua homónima, no Porto, veja Rua de Miguel Bombarda.
Miguel Bombarda
Miguel Bombarda
Membro da Câmara dos Deputados por Aveiro
Período 30 de abril 1908 a
3 de outubro de 1910
Dados pessoais
Nome completo Miguel Augusto Bombarda
Nascimento 6 de março de 1851
Rio de Janeiro, Império do Brasil
Morte 3 de outubro de 1910 (59 anos)
Lisboa, Reino de Portugal
Profissão Médico, professor, político
Assinatura Assinatura de Miguel Bombarda

Miguel Augusto Bombarda (Rio de Janeiro, 6 de Março de 1851Lisboa, 3 de Outubro de 1910) foi um médico, cientista, professor e político republicano português, figura cimeira na sua época.

Biografia[editar | editar código-fonte]

Nascimento e formação[editar | editar código-fonte]

Nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1851, então capital do Império do Brasil.[1] Formou-se na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, tendo defendido uma tese sobre o "Delírio das Perseguições".[1]

Carreira profissional[editar | editar código-fonte]

Empregou-se como lente naquela instituição em 1880,[1] onde ocupou, por largos anos, a cadeira de Fisiologia e Histologia; em 1903, passou para a cadeira de Fisiologia Geral e Histologia.[1] Nestas funções, deu um importante contributo para a reforma dos estudos médicos.[1][2] Colaborou, igualmente, com esta instituição, tendo contribuído para a construção do seu edifício, e para a aquisição de material científico.[1]

Dedicou-se, especialmente, às enfermidades do sistema nervoso, tendo, por este motivo, sido convidado para dirigir o Hospital de Rilhafoles,[3] posição que começou a ocupar em 1892;[1] reorganizou e melhorou esta instituição, tendo iniciado um curso livre de psiquiatria em 1896,[3] e promovido o alargamento do Hospital, com a construção de notáveis edifícios: Pavilhão de Segurança (1892-1896) (precursor do modernismo e panóptico), Edifício de Enfermarias em Poste Telefónico (1885-1894) (primeiro edifício do mundo com esta tipologia), Edifício de Enfermarias em U (1900) (lajes em betão armado e sistema de ventilação inédito), dois enormes Telheiros (1894) para o passeio dos homens e das mulheres, Oficinas para Doentes (1894), nova Cozinha (1904), etc.[4]

Aí exerceu igualmente as funções de cirurgião hospitalar, e ao reorganizar a sua gestão acabou por o dirigir, desde 1892.[1] Foi, igualmente, médico no Hospital de São José.[1]

Fez parte de várias instituições nacionais e estrangeiras, como o Conselho Superior de Higiene, a Sociedade Portuguesa de Ciências Naturais, da qual foi presidente, e o Conselho de Medicina Legal; também exerceu a posição de secretário geral da Liga Nacional contra a Tuberculose, tendo organizado vários congressos.[1] Presidiu, igualmente, à Academia Real das Ciências Médicas de Lisboa.[1] Nas funções de secretário-geral, foi responsável por organizar o XV Congresso Internacional de Medicina, que se realizou na cidade de Lisboa, em 1906.[1]

Publicou várias dezenas de volumes e cerca de meio milhar de ensaios, a debruçar-se sobre os problemas clínicos terapêuticos e sanitários,[1] e sobre a Psiquiatria.[3] Defensor do anticlericalismo e do monismo naturalista e materialista, provocou polémica quando editou o livro, A Consciência e o Livre Arbítrio, em 1897, e realizou várias conferências, como a Ciência e Jesuitismo, e a Réplica a Um Padre Sábio.[5]

Miguel Bombarda em 1907.

Fundou, junto com Sousa Martins e Manuel Bento de Sousa, o jornal Medicina Contemporânea; dirigiu este periódico até à sua morte, e colaborou frequentemente, tendo publicado vários artigos sobre as ciências médicas.[1] Também colaborou na revista Brasil-Portugal.[6] (1899-1914)

Carreira política e morte[editar | editar código-fonte]

Iniciou a sua carreira na política em 1908, como deputado adjudicado a Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, então Presidente do Conselho; de tendências liberais e anticlericais, declarou-se abertamente como republicano, e dirigiu o Comité Civil do movimento para derrubar a Monarquia.[3] No entanto, na véspera do início, a 4 de Outubro, da Revolução Republicana em Portugal, vitoriosa no dia 5 de Outubro de 1910, foi assassinado no seu gabinete do Hospital de Rilhafoles, por um doente mental,[3] Aparício Rebelo dos Santos, nascido em Braga a 5 de Julho de 1878.[7]

Fundou, em 1901, a Junta Liberal, e foi um membro do Comité Revolucionário, em 1909.[3]

Fez também parte da Maçonaria, sendo iniciado em 1879 na Loja Pureza, com o nome simbólico de "D'Artagnan".[8]

Atualmente, o Museu Miguel Bombarda de Arte de Doentes e Ciência, instalado no antigo Hospital, integra o gabinete onde o Prof. Bombarda foi assassinado, bem como outros locais notáveis, e extenso acervo e arquivo, da primeira instituição psiquiátrica do país, fundada em 1848.

Obra[editar | editar código-fonte]

Deixou publicados vários escritos, entre os quais:[2]

  • Do Delírio das Perseguições (Tese) (1877)
  • Dos Hemisférios Cerebrais e Suas Funções Psíquicas (1877)
  • Das Distrofias por Lesão Nervosa (1880)
  • A Vacina da Raiva (1887)
  • Traços de Fisiologia Geral e de Anatomia dos Tecidos (1891)
  • Microcefalia (Conferência) (1892)
  • Trabalhos Clínicos e de Laboratório do Hospital de Rilhafoles - Contribuição para o Estuda dos Microcéfalos (1894)
  • O Hospital de Rilhafoles e os seus Serviços em 1892-1893 (1894)
  • Pasteur (1895)
  • Lições sobre a Epilepsia e as Pseudo-Epilepsias (1896)
  • O Delírio do Ciúme (1896)
  • Consciência e Livre Arbítrio (1896)
   A Sciencia e o Jesuitismo (1900),Parceria António Maria Pereira 

Foi o fundador da revista Medicina contemporânea. Foi o secretário-geral do "XVI Congresso Internacional de Medicina e Cirurgia" que se reuniu em Lisboa em 1906.

Homenagens[editar | editar código-fonte]

Uma das mais antigas ruas do Seixal denomina-se justamente de Dr. Miguel Bombarda, desde a implantação da república, que nesta cidade aconteceu a 4 de outubro de 1910. O mesmo nome é dado à rua principal do Barreiro.

Hoje, em Lisboa, o hospital que ele dirigiu presta-lhe homenagem ao ter recebido o seu nome para o baptizar de novo — Hospital Miguel Bombarda — e tem uma avenida também com o seu nome.

A Câmara Municipal de Lagos colocou o seu nome numa rua da Freguesia de Santa Maria.[3][9]

Também em Campo Maior (Portugal) existe uma rua denominada Dr. Miguel Bombarda.

Referências

  1. a b c d e f g h i j k l m n Ferro, 2002:58
  2. a b Dicionário da História de Portugal, Publicações Alfa
  3. a b c d e f g Ferro, 2002:59
  4. Freire, Vítor Albuquerque (2009). Panóptico, Vanguardista e Ignorado. O Pavilhão de Segurança do Hospital Miguel Bombarda. [S.l.]: Livros Horizonte 
  5. Ferro, 2002:58-59
  6. Rita Correia (29 de Abril de 2009). «Ficha histórica: Brasil-Portugal : revista quinzenal illustrada (1899-1914).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 26 de Junho de 2014 
  7. «Um bracarense "apressou" a República» 
  8. Ventura, António (2020). Uma História da Maçonaria em Portugal. Lisboa: Temas e Debates. p. 303 
  9. «Freguesia de Santa Maria» (PDF). Câmara Municipal de Lagos. Consultado em 5 de Janeiro de 2012 

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • FERRO, Silvestre Marchão (2002). Vultos na Toponímia de Lagos. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 358 páginas. ISBN 972-8773-00-5 
  • FREIRE, Vítor Albuquerque, Panóptico, Vanguardista e Ignorado. O Pavilhão de Segurança do Hospital Miguel Bombarda, Livros Horizonte, 2009.
  • Centenário do Hospital Miguel Bombarda antigo Hospital de Rilhafoles. (vários autores). 1948.