Modernismo (teologia) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Na teologia católica, o modernismo é uma corrente heterogénea de pensamento que, basicamente, defende a evolução (e modificação ou transformação) do dogma e "uma reinterpretação da religião à luz do pensamento científico do século XIX"[1]. Apareceu nos finais do século XIX e atingiu o seu auge no início do século XX. Teve como principais defensores os teólogos Alfred Loisy, George Tyrell, Ernesto Buonaiuti, Dimnet e Albert Houtin [2].

Etimologia e principais ideias[editar | editar código-fonte]

O termo modernismo apareceu, pela primeira vez, na encíclica Pascendi Dominici Gregis (1907), escrito pelo Papa São Pio X. Este Papa usou este termo para designar todos aqueles que defendiam e ensinavam que "Deus não pode ser reconhecido por critérios objetivos racionais, mas apenas pelo sentimento subjetivo do homem"[2].

Consequentemente, os modernistas defendiam que os dogmas e "a verdade religiosa não seriam imutáveis, mas volúveis como o homem é mutável e volúvel; Cristo não teria ensinado um corpo de doutrinas válidas para todos os tempos, mas apenas teria dado início a um movimento religioso a ser adaptado aos diversos tempos da história". Por isso, eles alegam que "o Catolicismo contemporâneo não se poderia conciliar com a verdadeira ciência; para conseguir, deveria tornar-se não dogmático ou transformar-se em protestantismo liberal"[2].

Mas, é preciso diferenciar o conceito modernista de evolução do Dogma com o conceito de desenvolvimento do Dogma (ou Desenvolvimento da Doutrina), que é aceite pela Igreja Católica.

Condenação oficial[editar | editar código-fonte]

O Papa Pio X, que defendia intransigentemente a ortodoxia doutrinária, condenou fortemente o modernismo, que é encarado por ele como a "síntese de todas as heresias". Esta sua veemente condenação está expressa, por exemplo, nos documentos Lamentabili Sane Exitu (1907) e Pascendi Dominici Gregis (1907) [2]. Indo mais longe, este Papa formulou inclusivamente o "juramento anti-modernista", obrigatório para todos os padres, bispos, catequistas e seminaristas[1].

Concílio Vaticano II[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Concílio Vaticano II

Depois da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), os círculos católicos mais progressistas ou liberais, afirmando que o Concílio apresentou uma ruptura em relação à Tradição católica, propuseram por isso uma hermenêutica ou interpretação liberal dos documentos conciliares, levando ao extremo o aggiornamento proposto pelo Papa João XXIII. Esta corrente divergente, reinterpretando os documentos conciliares e a própria Tradição católica, afirma, por exemplo, que a missão da Igreja não devia ser a salvação eterna do homem, mas sim, que a sua missão haveria que ser de ordem preferencialmente temporal. Estes defensores da ruptura são muitas vezes designados por neomodernistas, nomeadamente nos círculos mais conservadores.

Estes neomodernistas chegam a ponto de afirmar "que os textos do Concílio como tais ainda não seriam a verdadeira expressão do espírito do Concílio", sendo por isso "preciso ir corajosamente para além dos textos, deixando espaço à novidade em que se expressaria a intenção mais profunda, embora ainda indistinta, do Concílio. Em síntese: seria necessário seguir não os textos do Concílio, mas o seu espírito", que cria assim um grande espaço de manobra, de incerteza e de inconstância. Isto dá um sentido diferenciado ao verdadeiro "espírito conciliar" proposto por João XXIII[3].

Estes liberais, ainda em nome de um pretenso "espírito conciliar", causaram no mundo eclesiástico católico uma crise de fundo "neomodernista" e de ruptura, com várias práticas contrárias à doutrina e à disciplina da Igreja, em desacordo com os documentos do próprio Concílio. Atualmente esta visão neomodernista perdeu influência dentro da igreja, com a hegemonia do grupo teológico ligado aos Papas João Paulo II e Bento XVI.

Actualidade[editar | editar código-fonte]

O "juramento antimodernista" só foi abolido em 1967, pela Congregação para a Doutrina da Fé com aprovação do Papa Paulo VI[4], que, tal como muitos prelados, deixaram de usar o termo modernismo, porque é demasiado ambíguo e pode ser confundido com o movimento artístico modernista. O Magistério da Igreja Católica preferiu, desde então, identificar de um modo mais preciso os erros modernistas com o seu próprio nome, como foi o caso do secularismo, laicismo, liberalismo, relativismo, subjectivismo e o cientificismo.

Mas, o termo modernismo voltou a ser cada vez mais usado nos círculos católicos tradicionalistas ou mais conservadores, para rotular os católicos mais progressistas ou até o próprio aggiornamento defendido pelo Concílio Vaticano II.

Não obstante o facto das sucessivas condenações dos Papas, algumas ideias modernistas, "com vocabulário próprio, reaparecem no modo de pensar de teólogos contemporâneos", nomeadamente dos defensores da teologia da libertação[2].

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

Ícone de esboço Este artigo sobre catolicismo é um esboço. Você pode ajudar a Wikipédia expandindo-o.