Naná Vasconcelos – Wikipédia, a enciclopédia livre

Naná Vasconcelos
Naná Vasconcelos
Naná Vasconcelos em 2012
Informação geral
Nome completo Juvenal de Holanda Vasconcelos
Nascimento 2 de agosto de 1944
Local de nascimento Recife, PE
Brasil
Morte 9 de março de 2016 (71 anos)
Local de morte Recife, PE
Brasil
Nacionalidade brasileiro
Gênero(s) World Music, jazz, Música Popular Brasileira
Ocupação(ões) Músico
Instrumento(s) percussão, bateria
Período em atividade Década de 1960 - 2016
Afiliação(ões) B. B. King, Jean-Luc Ponty, David Byrne, Jon Hassell, Egberto Gismonti, Pat Metheny, Björk, Evelyn Glennie, Jan Garbarek, Geraldo Azevedo, Hamilton de Holanda, Gil Jardim, Zeca Baleiro, Paulo Lepetit
Prêmios Lista

Juvenal de Holanda Vasconcelos, mais conhecido como Naná Vasconcelos (Recife, 2 de agosto de 1944 — Recife, 9 de março de 2016), foi um músico brasileiro.[1][2]

Eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista americana Down Beat (votação feita pelos críticos musicais da revista) e ganhador de oito prêmios Grammy (brasileiro com mais prêmios Grammy), era considerado uma autoridade mundial em percussão.[3][4][5] Não à toa figura na posição 62 da Lista dos 100 maiores artistas da música brasileira pela Rolling Stone Brasil[6].

Dotado de uma curiosidade intensa, indo da música erudita do brasileiro Heitor Villa-Lobos ao roqueiro Jimi Hendrix, Naná aprendeu a tocar praticamente todos os instrumentos de percussão, embora nos anos 60 tenha se especializado no berimbau.[7]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Juventude[editar | editar código-fonte]

O primeiro contato com instrumentos de percussão se deu cedo, aos 7 ou 8 anos, quando Naná foi admitido pelo próprio pai para tocar bongô e maracas em um conjunto do Recife.[7] Assim, ainda na infância, aprendeu a tocar sozinho, usando os penicos e as panelas de casa.[9]

Precoce, aos 12 anos já se apresentava com seu pai numa banda marcial em bares e participava de grupos de maracatu locais. Aprendeu primeiro a tocar bateria para então tocar berimbau.

Trajetória artística[editar | editar código-fonte]

Durante toda sua carreira sempre teve preferência por instrumentos de percussão e nos anos 60 se notabilizou por seu talento com o berimbau.

Em 1967 mudou-se para o Rio de Janeiro onde gravou dois LPs com Milton Nascimento. No ano seguinte, junto com Geraldo Azevedo, viajou para São Paulo para participar do Quarteto Livre, que acompanhou Geraldo Vandré no III Festival Internacional da Canção.

No início da década de 1970, formou o Trio do Bagaço, com Nélson Angelo e Maurício Maestro, apresentando-se, com o grupo, no México, a convite de Luis Eça. Foi nesta mesma época que Gato Barbieri, saxofonista argentino, o convidou para fazer parte do seu grupo, ajudando o percussionista a ganhar projeção internacional, começando uma longa carreira fora do Brasil. Com o músico argentino, ele se apresentou em Nova York e Europa, com destaque para o festival de Montreaux, na Suíça, onde o percussionista encantou público e crítica.[10]

Sua discografia é tão extensa quanto os projetos ligados à música nos quais ele esteve envolvido.[11] Ele atuou como percussionista ao lado de diversos artistas internacionais como B. B. King, Jean-Luc Ponty, David Byrne, Jon Hassell, Egberto Gismonti, Pat Metheny, Björk, Evelyn Glennie e Jan Garbarek. Formou, entre os anos de 1978 e 1982, ao lado de Don Cherry e Collin Walcott, o trio de jazz CoDoNa, com o qual lançou 3 álbuns, num estilo musical definido como world jazz. Em 1981, tocou no Woodstock Jazz Festival, em comemoração ao décimo aniversário do Creative Music Studio. Em 1998, Vasconcelos contribuiu com a música "Luz de Candeeiro" para o álbum Onda Sonora: Red Hot + Lisbon, compilação beneficente em prol do combate à AIDS, produzida pela Red Hot Organization.

Em 2013, o músico fez a trilha sonora da animação O Menino e o Mundo, que concorreu ao Oscar de melhor filme de animação em 2016.[12]

Em 2015, Naná lançou um projeto com o cantor Zeca Baleiro e Paulo Lepetit chamado "Projeto Café no Bule".[13]

No dia 9 de dezembro de 2015, Naná Vasconcelos recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) - sem nunca ter cursado nível superior. Esta honraria é concedida a pessoas que tenham se destacado em meios como artes, filosofia ou ciência, por exemplo.[14]

Naná Vasconcelos ganhou, por oito anos consecutivos (1983-1990), o prêmio de Melhor Percussionista do Ano da conceituada revista Down Beat, considerada a "bíblia do jazz".[15][16]

Com uma forte ligação com a cultura popular, nos seus últimos 15 anos de vida, Naná abriu o Carnaval do Recife, acompanhado pelo cortejo de nações de maracatu.[17]

Última composição e morte[editar | editar código-fonte]

Em julho de 2015, noticiou-se que Naná estava com um câncer de pulmão. Após o diagnóstico, Naná iniciou o tratamento e manteve-se em atividade. Em setembro de 2015, logo após iniciar as sessões de quimioterapia, gravou um vídeo recitando poesias e divulgou pelas redes sociais.[19]

No dia 29 de fevereiro de 2016, um dia depois de sentir-se mal após uma apresentação realizada em Salvador, Naná foi internado.[17]

Na manhã do dia 9 de março de 2016, Naná Vasconcelos veio a falecer, aos 71 anos de idade, após uma parada respiratória em decorrência de complicações da doença.[1] No dia de sua morte, o estado de Pernambuco declarou luto oficial de três dias em memória do artista.[20]

Ainda no leito do hospital em que estava internado, ele deixou uma obra concluída em seus últimos dias de vida. O material terá composições e arranjos de Naná, do pianista e violonista Egberto Gismonti e do maestro Gil Jardim[7] Seus restos mortais foram sepultados no Cemitério de Santo Amaro, em Recife.[21]

Legado[editar | editar código-fonte]

Segundo o site uol, "sua importância internacional (ao lado de Airto Moreira) foi ter bagunçado o coreto do jazz tradicional, que admitia até aquele momento apenas a percussão afro-cubana - que chegara aos Estados Unidos por intermédio de Dizzy Gillespie e outros exploradores".[23]

Além de dominar uma grande variedade de instrumentos de percussão, Naná Vasconcelos contribuiu para a divulgação internacional do berimbau.[24] O jornalista Ben-Hur Demeneck, assim descreveu o legado de Naná:[25]

Estilo[editar | editar código-fonte]

Autodidata, Naná inovou ao tirar diferentes sonoridades de instrumentos de percussão, sua especialidade.[9]

Considerado um virtuoso no berimbau, Naná era adepto de métricas pouco usuais no jazz - com levadas em 5/4 ou 7/4, mas que são muito tocados no nordeste brasileiro.[26]

Ao longo da carreira, uma das características da sua percussão era usar qualquer objeto que produzisse um som interessante para compor seus trabalhos.[18] Antes de Naná, a percussão limitava-se aos tocadores de pandeiros, tambores, tumbadores, maracás e bangôs. Naná percebeu as possibilidades do berimbau (instrumento até então usado apenas na capoeira) e empenhou-se em explorar todas as potencialidades do instrumento.[27]

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, "o músico usava de forma não convencional o berimbau, uma de suas marcas. Ele sobrepunha sua voz ao som da corda vibrante e conseguia efeitos surpreendentes".[7]

Hoto Júnior, percussionista brasileiro, acrescenta que "Naná usava muita percussão corporal, e isso pros gringos era uma coisa que não existia na década de 1970".[22]

Discografia[editar | editar código-fonte]

Participações especiais[editar | editar código-fonte]

Com Gato Barbieri

  • Fenix (Flying Dutchman, 1971)
  • El Pampero (Flying Dutchman, 1971)

Com Walter Bishop, Jr.

  • Illumination (1977)

Com Codona

Com Don Cherry

Com Pierre Favre

Com Jan Garbarek

Com Egberto Gismonti

Com Danny Gottlieb

Com Pat Metheny

Com Jim Pepper

Com Woody Shaw

Com Gary Thomas

Com Talking Heads

Com Jon Hassell

Com Ginger Baker

Com Paul Simon

Com B. B. King

Com Mauricio Maestro

  • Upside Down

Com Arto Lindsay

Com Milton Nascimento

  • Maria Maria/Último Trem (2005)
  • Melhor de Milton Nascimento (1999)
  • Angelus (1994)
  • Miltons (1989)
  • Journey to Dawn (1979)
  • Geraes (1976)
  • Milagre dos Peixes (1973)

Com Os Mutantes

Com Herb Alpert

Com Ron Carter

  • Patrao (1980)

Com Chaka Khan

Com Collin Walcott

  • Works (1980)

Com Sergio Mendes

Com Jack DeJohnette

  • Invisible Forces (1987)

Com Ambitious Lovers

Com Laurie Anderson

Com Caetano Veloso

Com Deborah Harry

Com Carly Simon

Com Ryuichi Sakamoto

Com Trilok Gurtu

  • Living Magic (1991)

Com Vienna Boys' Choir

  • Around the World: Where Jazz Meets World Music (1991)

Com David Sanborn

Com John Zorn

Com Penguin Cafe Orchestra

  • Union Café (1993)

Com vários artistas

Trilhas sonoras[editar | editar código-fonte]

Prêmios e indicações[editar | editar código-fonte]

Grammys e Grammys Latinos[editar | editar código-fonte]

seção ainda incompleta

Ano Prêmio Categoria Indicação Resultado Observações Ref.
1977 Grammy Award Melhor Disco Estrangeiro Dança das Cabeças Venceu álbum gravado em parceria com Egberto Gismonti [28]
1983 Grammy Award Melhor Performance de Jazz Fusion Offramp Venceu álbum do Pat Metheny Group, em que Naná foi o percussionista [29]
1984 Grammy Award Melhor Performance de Jazz Fusion Travels Venceu álbum do Pat Metheny Group, em que Naná foi o percussionista [30]
2007 Grammy Latino Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras Trilhas Indicado [31]
2011 Grammy Latino Melhor Álbum de Música Regional ou de Raízes Brasileiras – Regional Nativa Sinfonia & Batuques Venceu [32][33]

Outros prêmios[editar | editar código-fonte]

Ano Prêmio Categoria Indicação Resultado Ref.
2000 Grande Prêmio Brasil de Cinema Melhor Trilha Sonora Trilha sonora do filme "O Primeiro Dia" Indicado [34]
2000 Grande Prêmio Brasil de Cinema Melhor Trilha Sonora Trilha sonora do filme "Um Copo de Cólera" Indicado [34]
2004 Havana Film Festival Melhor Musica Música Almost Brothers - Filme Quase Dois Irmãos Venceu [34]
2005 Miami Brazilian Film Festival Melhor Som Música Almost Brothers - Filme Quase Dois Irmãos Venceu [34]
2005 Festival Nacional de Cinema do Ceará Best Original Score Entre Paredes Venceu [35]

Honrarias[editar | editar código-fonte]

Recordes[editar | editar código-fonte]

  • Único músico brasileiro a ganhar por 8 vezes o prêmio Grammy
  • Maior ganhador do prêmio de melhor percussionista do mundo pela revista americana Down Beat

Referências

  1. a b «Naná Vasconcelos morre aos 71 anos vítima de câncer, no Recife». G1. Consultado em 9 de março de 2016 
  2. Fundação Joaquim Nabuco. «Naná Vasconcelos» 
  3. Folha de S.Paulo. «De como Juvenal se tornou o fenômeno Naná Vasconcelos» 
  4. «O corpo é o melhor instrumento de percussão, diz Naná Vasconcelos» 
  5. «Naná Vasconcelos lança disco de inéditas em maio» 
  6. a b rollingstone.uol.com.br/ Os 100 Maiores Artistas da Música Brasileira
  7. a b c d parana-online.com.br/ Naná criou sua última obra no leito do hospital, ao lado de Gil Jardim
  8. epoca.globo.com/ Morre Naná Vasconcelos, ícone da percussão brasileira
  9. a b c pernambuco.com/ Naná Vasconcelos: cinco vídeos para entender a genialidade do músico, morto aos 71 anos
  10. Rocha, Camilo (16 de janeiro de 2019). «As iniciativas para manter vivo o legado de Naná Vasconcelos». Nexo Jornal. Consultado em 20 de janeiro de 2019 
  11. tvbrasil.ebc.com.br/ O som do percussionista Naná Vasconcelos
  12. «Naná Vasconcelos faz trilha para a animação "O Menino e o Mundo"». UOL. Consultado em 9 de março de 2016 
  13. diariodepernambuco.com.br/ Naná Vasconcelos: relembre as parcerias famosas do percussionista pernambucano
  14. G1 PE (9 de dezembro de 2015). «Naná Vasconcelos recebe título de doutor honoris causa da UFRPE». G1. Consultado em 9 de março de 2016 
  15. «DownBeat Readers Poll Archive» (em inglês). DownBeat Magazine. Consultado em 9 de março de 2016 
  16. «Downbeat, a "bíblia do jazz", celebra 80 anos». Jornal do Brasil. Consultado em 9 de março de 2016 
  17. a b virgula.uol.com.br/ Naná Vasconcelos recebe homenagem de cortejo de maracatus
  18. a b jb.com.br/ Batuque e tambor marcam velório de Naná Vasconcelos
  19. folhavitoria.com.br/ Percussionista de maior relevância do País morre aos 71 anos no Recife
  20. musica.terra.com.br/ Naná Vasconcelos é enterrado ao som de grupos de maracatu
  21. «Naná Vasconcelos é sepultado no Cemitério de Santo Amaro, no Recife». G1. 10 de março de 2016. Consultado em 25 de janeiro de 2019 
  22. a b opovo.com.br/ Naná Vasconcelos silencia seus tambores
  23. musica.uol.com.br/ Análise: Naná Vasconcelos foi um contrabandista da música brasileira
  24. cliquemusic.uol.com.br/ Naná Vasconcelos
  25. a b revistas.uepg.br/ Naná Vasconcelos - o berimbau global, por Ben-Hur Demeneck
  26. batera.com.br/ Biografia de Naná Vasconcelos
  27. basilio.fundaj.gov.br/ Naná Vasconcelos
  28. ultimosegundo.ig.com.br/ Naná Vasconcelos revisita parceria com Gismonti em São Paulo
  29. krossfingers.com/
  30. radioswissjazz.ch/
  31. musica.terra.com.br/ Confira a lista dos vencedores brasileiros do Grammy Latino de 2007
  32. g1.globo.com/ Álbum de Naná Vasconcelos vence Grammy Latino em Las Vegas
  33. jb.com.br/ Conheça o brasileiro ganhador do Grammy Latino 2011
  34. a b c d imdb.com/
  35. famousfix.com/
  36. psicodalia.mus.br/

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Naná Vasconcelos