Nemesis (Roth) – Wikipédia, a enciclopédia livre

Nemesis
Némesis (PT)
Nêmesis (BR)
File:NemesisRoth.jpg
Autor(es) Philip Roth
Idioma Língua inglesa
País  Estados Unidos
Gênero Romance
Editora Houghton Mifflin Harcourt
Lançamento 2010
Páginas 280
ISBN 978-0-547-31835-6
Edição portuguesa
Editora Dom Quixote
Lançamento 10-2011
Páginas 208
ISBN 9789722048040
Edição brasileira
Tradução Jorio Dauster
Editora Companhia das Letras
ISBN 9788535919318
Cronologia
The Humbling

Nemesis (Brasil: Nêmesis / Portugal: Némesis) é um romance do escritor norte-americano Philip Roth publicado em 2010 pela editora Houghton Mifflin Harcourt.

Foi o 31º livro de Roth, uma obra de ficção que se passa no verão de 1944 e que narra os efeitos e a envolvência de um surto epidémico de poliomielite sobre uma comunidade intrincada de Newark e as suas crianças.[1]

Em 2012, Philip Roth disse a um entrevistador que Nemesis seria o seu último romance.[2]

Enredo[editar | editar código-fonte]

Nemesis explora o efeito de um surto epidémico de poliomielite, ocorrido em 1944 na cidade Newark (New Jersey), cidade de onde o escritor é originário, e os seus efeitos numa comunidade maioritariamente judaica do bairro de Weequahic. Quando ainda não se conhecia vacina para a doença, as crianças estavam ameaçadas de mutilação, paralisia, incapacidade para toda a vida e morte se atingidas por ela.[3]:Contracapa

A personagem principal é um jovem professor de educação física, Bucky Cantor, muito dedicado à sua ocupação, vigoroso, sendo um atleta pela sua compleição física, mas que sente culpa pela sua fraca visão (usa óculos) o ter excluído de ter sido alistado para combater na II Guerra Mundial ao lado dos seus amigos e conterrâneos.[3]:Contracapa

A história centra-se nos dilemas com que Cantor se confronta à medida que a poliomielite progride na cidade, no bairro e no campo de jogos da sua escola que ele dirige. Roth examina alguns dos temas que decorrem da doença contagiosa: medo, pânico, raiva, culpa, perplexidade, sofrimento e dor. Cantor também enfrenta uma crise espiritual, perguntando-se porque permite Deus que crianças inocentes morram ou fiquem fortemente incapacitadas pela doença.[3]:Contracapa

Ao mesmo temo, Cantor enfrenta uma crise romântica, pois a sua namorada que é monitora num acampamento de verão judaico nas montanhas, e temendo que Cantor apanhe a poliomielite se permanecer em Newark, pede-lhe para se juntar a ela no ambiente saudável livre de pólio. Ele quer estar com sua noiva, mas deixar as crianças de Newark aumentaria o seu sentimento de culpa.[3]:Contracapa

Com a inevitabilidade de uma tragédia grega, o próprio Cantor acaba por ser atingido pela polio, o que vai produzir uma profunda alteração da sua vida, responsabilizando-se, a partir de então, por ter transmitido a polio pelas crianças.[3]:Contracapa

A história termina cerca de trinta anos mais tarde, quando Cantor encontra uma das crianças que teve à sua guarda e que contraiu a doença tendo sobrevivido ainda que com grandes mazelas. Eles falam sobre o que passaram antes, tendo Cantor revelado o que se passou com a sua noiva, sendo o narrador do romance este seu antigo aluno a quem Cantor conta a história da sua vida.[3]:Contracapa

Questões[editar | editar código-fonte]

Numa época em que não se conhecia como o vírus da poliomielite se propagava, eram grandes as dúvidas sobre como proceder com as crianças. Mantê-las fechadas em casa, ou permitir que continuassem com a sua vida normal? Roth atribui a um personagem que é médico o seguinte conselho ao personagem principal:[3]:106

No parque de jogos tu ajudas a manter o pânico afastado ao mesmo tempo de acompanhas esses teus alunos que continuam a praticar os jogos que adoram. A alternativa não é mandá-los para um outro lugar qualquer, onde eles não terão o teu acompanhamento. A alternativa não é fechá-los em casa e enchê-los de receio. Eu sou contra assustar as crianças judias. Eu sou contra assustar os judeus, ponto final. Isso foi na Europa, e foi por isso que os judeus fugiram. Isto é a América. Quanto menos medo melhor. O medo torna-nos inumanos. O medo degrada-nos. Fazer com que haja menos medo - é esse o nosso trabalho.

Outra questão que perpassa pelo livro é a dúvida do personagem principal acerca da intervenção de Deus, do Deus dos judeus:[3]:125

Após este tempo todo, ocorreu de repente ao Sr. Cantor que Deus não tinha apenas deixado que a poliomielite se difundisse pelo bairro Weequahic, mas que vinte e três anos antes Deus tinha também deixado que a sua mãe, saida há apenas dois anos do ensino secundário, e então mais nova do que ele agora, morresse ao dar à luz.

E mais adiante ainda:[3]:171

Como pode um judeu rezar a um deus que tenha posto uma maldição como esta num bairro de milhares e milhares de judeus?

Outro dilema em que o escritor colocou o personagem foi o da oposição entre o bem estar próprio e o sentido do dever:[3]:174

Aqui ele tinha tudo o que Dave e Jake [que eram soldados na guerra] não tinham, e que os miúdos no parque de jogos da Chancellor não tinham e que toda a gente em Newark não tinha. Mas o que ele deixou de ter foi uma boa consciência com que pudesse viver.

Depois o incentivo dado por um personagem que conseguiu ultrapassar as enormes limitações da doença e que não compreendia a auto-acusação de Cantor:[3]:272

Não estejas contra ti próprio. Já há no mundo crueldade suficiente. Não tornes as coisas piores ao fazeres de ti o bode expiatório.

Finalmente, os pequenos prazeres a que, após se esfumar uma vida de grandes expectativas, o personagem recorria:[3]:269

Eu não sou muito de conviver. Vou ao cinema. Vou ao bairro Ironbound aos domingos para um bom almoço num restaurante português.[4] Gosto de me sentar no parque quando está agradável. Vejo a TV. Vejo as notícias.

Recepção[editar | editar código-fonte]

Nemesis ficou na lista final para o prémio literário Wellcome Trust Book, de 2011, prémio que homenageia "o melhor da medicina na literatura".[5][6]

Ligação externa[editar | editar código-fonte]

  • Josh Rosaler, Roth's Deadly Seriousness, crítica na revista The Oxonian Review, em 29 de Novembro de 2010, [3]

Referências[editar | editar código-fonte]

  • Este artigo foi inicialmente traduzido, total ou parcialmente, do artigo da Wikipédia em inglês cujo título é «Nemesis (Roth novel)».
  1. Dave Itzkoff, "Two New Philip Roth Novels Coming", The New York Times, [1]
  2. Hillel Italie, "Roth retires but Wolfe, Wouk among authors past 80", The Seattle Times, 20 de Novembro de 2012, [2]
  3. a b c d e f g h i j k l Philip Roth, Nemesis, Vintage, Nova Iorque, 2011, ISBN 978-0-307-74541-5
  4. Em Newark em geral, e neste bairro de Ironbound em particular, existe uma grande comunidade de portugueses e dos respectivos restaurantes típicos, e daí a referência de Roth.
  5. "Philip Roth's polio novel among six books shortlisted for UK medical literature prize.", The Canadian Press. 9 de Novembro de 2011; acessível em: Newspaper Source Plus, Ipswich, MA.
  6. Joanna Bourke (10 de outubro de 2011). «2011 Wellcome Trust Book Prize shortlist». The Lancet. Consultado em 19 de Setembro de 2017