Ordem de Santiago – Wikipédia, a enciclopédia livre

 Nota: Não confundir com Imperial Ordem de Sant'Iago da Espada ou Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, ordem Portuguesa restabelecida em 1917.
Ordem de Santiago

Santa Sé
Status: extinta como ordem eclesiástica; ativa como ordem honorífica
Chefe: Felipe VI (Espanha)
Instituição: Castela, 15 de março de 1319
Fundador: Afonso VIII de Castela
Lema: Ciências, Letras e Artes
Classes: Grande-Colar (GColSE), Grã-Cruz (GCSE), Grande-Oficial (GOSE), Comendador (ComSE), Oficial (OSE) e Cavaleiro (CvSE) / Dama (DmSE)

A Ordem Militar de Santiago é uma ordem religiosa militar de origem castelhano-leonesa instituída por Afonso VIII de Castela e aprovada pelo Papa Alexandre III, mediante bula papal outorgada em 5 de julho de 1175. A Ordem foi fundada com o propósito de lutar contra os invasores muçulmanos na Hespanha, bem como proteger os peregrinos do Caminho de Santiago.[1]

História[editar | editar código-fonte]

A ordem foi fundada por volta de 1164, sob a denominação de Fratres de Cáceres,[carece de fontes?] tendo alterado para Ordem de Santiago em 1 de agosto de 1170,[2][não consta na fonte citada] quando, após encontro com o arcebispo de Santiago de Compostela, colocaram-se sob a vassalagem do Apóstolo Santiago.[3]

Embora tenha sido fundada no reino que veio a ser posteriormente Espanha, mais precisamente em Castela, mais tarde veio a ser desmembrada, a pedido do rei Dom Dinis em 1288, e atendido pelo papa Nicolau IV, para ser considerada como ordem portuguesa. Contudo, a bula do papa Nicolau IV obrigava os cavaleiros portugueses prestarem obediência ao mestrado de Castela. Em 1320, o papa João XXII determinou a separação definitiva da ramificação portuguesa da castelhana.[4]

Mosteiro de Uclés, primeira sede da Ordem

A milícia, então emergente, começou a ganhar adeptos, entre eles, Fernando II de Leão, que lhes concedeu a vila de Cáceres.[5] Em 3 de janeiro de 1174, o rei Afonso VIII deu a cidade castelhana de Uclés aos cavaleiros, onde estabeleceram seu principal mosteiro.[6]

A Ordem rapidamente chega a Portugal, por volta de 1172/1173, onde recebe a vila de Arruda, os castelos de Monsanto, Abrantes, seguindo-se a doação de Alcácer e Palmela.[7]

Os Cavaleiros de Santiago, chamados Santiaguistas ou Espatários (por ser o seu símbolo uma espada em forma crucífera – ou uma cruz de forma espatária, dependendo do ponto de vista), fizeram votos de pobreza, de obediência e "castidade conjugal". Seguindo a regra de Santo Agostinho ao invés da de Cister, os seus membros não eram obrigados ao voto de castidade de per se, e podiam como tal contrair matrimónio (alguns dos seus fundadores eram casados).[8]

Os Espatários participaram na reconquista de Teruel e Castellón e combateram na batalha de Navas de Tolosa (1212). Os monarcas, primeiro de Leão, depois de Castela, concederam-lhe inúmeros privilégios, para além de lhe darem a posse de extensas regiões, com o intuito de as repovoar, na Andaluzia e em Múrcia.

Convento santiaguista em Calera de León

Durante o século XV, a ordem transferiu o seu campo de actuação para a Serra Morena, e os seus mestres tomaram como residência a povoação de Llerena (Badajoz), proporcionando um grande crescimento na região. Por volta do ano 1493, a Ordem de Santiago possuía cerca 700 mil membros e uma renda anual de 60 mil ducados.[1]

Com o passar do tempo e o fim da Reconquista, a Ordem de Santiago viu-se implicada nas lutas internas de Castela. Ao mesmo tempo, devido aos seus inúmeros bens, teve que, por várias vezes, sustentar as pretensões da Coroa. Por outro lado, sendo o cargo de Grão-Mestre de tamanha importância, eram frequentes as lutas entre grandes famílias para alcançar essa dignidade.

Devido a todos estes problemas, após a morte do Grão-Mestre Alonso de Cárdenas em 1493, os Reis Católicos pediram à Santa Sé que providenciasse uma forma de acabar com os problemas na administração da ordem, reservando para si mesmos o mestrado da ordem – medida que era ao mesmo tempo uma necessidade e uma recompensa pelos serviços prestados pelos reis de Castela e Aragão ao serviço da fé católica (em 1492 fora conquistado o último reduto muçulmano da Península IbéricaGranada). Assim, por uma bula de 1493, o papa concedeu aquela dignidade aos Reis Católicos.

Após a morte de Fernando, o Católico, tornou-se grão-mestre da Ordem Carlos I de Espanha; volvidos sete anos, em 1523, o Papa Adriano VI uniu para sempre à coroa de Espanha os grão-mestrados das Ordens de Santiago, Calatrava e Alcântara, tornando-se este um mero título hereditário dos reis de Espanha. Até então, o Grão-Mestre de Santiago era eleito pelo Conselho dos Treze, assim chamado por estarem presentes treze cavaleiros designados de entre os governadores e comendadores provinciais da Ordem.

A Ordem em Portugal[editar | editar código-fonte]

Retrato de um cavaleiro da Ordem. Obra de António Mouro

Em Portugal, a ordem começou também a actuar logo desde os seus primórdios, ainda em reinado de Afonso Henriques, mas só teve maior visibilidade a partir do reinado de Afonso II, e sobretudo, Sancho II. Detiveram como sedes o castelo de Palmela e, depois, o de Alcácer do Sal, que se tornou sede da província espatária portuguesa.

Foi mestre comendatário da Ordem em Alcácer o grande Paio Peres Correia, que acabaria por chegar a Grão-Mestre da Ordem, em Uclés, mas não sem antes ter dado um valoroso contributo para a reconquista de Portugal – as suas forças, muitas das vezes lideradas por ele pessoalmente, conquistaram, entre 1234 e 1242, grande parte do Baixo Alentejo e do Algarve (Mértola, Beja, Aljustrel, Almodôvar, Tavira, Castro Marim, Cacela ou Silves); foi também com o auxílio desta Ordem que Afonso III consumou a conquista do Algarve, em 1249, tomando os derradeiros redutos muçulmanos de Faro, Loulé, Albufeira e Aljezur.

Como recompensa, a Ordem foi agraciada, em territórios portugueses, com várias dessas terras do Alentejo e do Algarve, com a missão de as povoar e defender. A isso não é alheio, ainda hoje, o facto de muitas delas terem por orago Santiago Maior, e de nas suas armas figurar a cruz espatária.

Chamada, mais tarde, Ordem de Santiago da Espada, constituiu-se em ordem honorífica em Portugal, da qual o chefe do Estado português se constitui o Grão-Mestre.

Grão-Mestres da Ordem de Santiago[editar | editar código-fonte]

D. Álvaro de Luna vestindo a capa da Ordem e com a cruz de Santiago ao peito, no retábulo de Sancho de Zamora na capela de Santiago na Catedral de Toledo. Foi Grão Mestre da Ordem entre 1445 e 1453.

Espanha[editar | editar código-fonte]

  1. Pedro Fernández de Castro "potestad" (1170-1184)
  2. Fernando Díaz (1184-1186)
  3. Sancho Fernández de Lemus (1186-1195). Falecido na batalha de Alarcos.
  4. Gonzalo Rodríguez (1195-1203)
  5. Gonzalo Ordóñez (1203-1204)
  6. Suero Rodríguez (1204-1205)
  7. Sancho Rodríguez (1205-1206)
  8. Fernando González de Marañón (1206-1210)
  9. Pedro Arias (1210-1212). Falecido na batalha das Navas de Tolosa.
  10. García González de Arauzo (1212-1217)
  11. Martín Peláez Barragán (1217-1221)
  12. García González de Candamio (1221-1224)
  13. Fernán Pérez Chacín (1224-1225)
  14. Pedro Afonso de Leão (1225-1226). Supõe-se ser filho ilegítimo de Afonso IX de Leão.
  15. Pedro González (1226-1237)
  16. Rodrigo Íñiguez (ou Yáñez) (1237-1242)
  17. Paio Peres Correia (1242-1275)
  18. Gonzalo Ruiz Girón (1275-1280). Faleceu como consequência das feridas recebidas no desastre de Moclín.
  19. Pedro Núñez (1280-1286)
  20. Gonzalo Martel (1286)
  21. Pedro Fernández Mata (1286-1293)
  22. Juan Osórez (1293-1311)
  23. Diego Muñiz (1311-1318)
  24. García Fernández (1318-1327)
  25. Vasco Rodríguez de Coronado (1327-1338)
  26. Vasco López (1338)
  27. Afonso Melendes de Gusmão (1338-1342)
  28. Frederico Afonso de Castela (1342-1358)
  29. Garci (ou García) Álvarez de Toledo (1359-1366)
  30. Gonzalo Mejía (1366-1371)
  31. Fernando Osórez (1371-1383)
  32. Pedro Fernández Cabeza de Vaca (1383-1384). Morto no cerco de Lisboa.
  33. Rodrigo González Mejía (1384). A sua eleição não foi canónica. Morreu no cerco de Lisboa.
  34. Pedro Muñiz de Godoy (1384-1385). Morto na batalha de Valverde.
  35. García Fernández de Villagarcía (1385-1387)
  36. Lorenzo Suárez de Figueroa (1387-1409)
  37. Enrique de Aragón (1409-1445)
  38. Álvaro de Luna (1445-1453)
  39. João II de Castela (1453) Administrador
  40. Henrique IV de Castela (1453-1462) Administrador
  41. Beltrán de la Cueva (1462-1463)
  42. Afonso de Castela (1463-1467)
  43. Juan Pacheco (1467-1474)
  44. Alonso de Cárdenas (1474-1476 en Leão) (primeira vez)
  45. Rodrigo Manrique (1474-1476 en Castela)
  46. Fernando o Católico (1476-1477) Administrador
  47. Alonso de Cárdenas (1477-1493) (segunda vez)
  48. Reis Católicos (1493-...) Administradores. Incorporação definitiva na Coroa de Espanha sob o reinado de Carlos I.
Medalha de condecoração da Ordem, com a Cruz de Santiago

Portugal[editar | editar código-fonte]

  1. D. ... (?-?)
  2. D. ... (?-?)
  3. D. ... (?-?)
  4. D. ... (?-?)
  5. D. ... (?-?)
  6. D. Paio Peres Correia, Mestre da Ordem de Santiago (1205-1275)
  7. D. Gil Fernandes de Carvalho, Senhor do Morgado de Carvalho (?-?)
  8. D. Fernando Afonso de Albuquerque, Alcaide-Mor da Guarda (?-1387)
  9. D. Mem Rodrigues de Vasconcelos (1387-?)
  10. D. João, Infante de Portugal, 1.º Senhor de Reguengos, Colares e Belas, 3.º Condestável de Portugal (1418-1442)
  11. D. Diogo, Infante de Portugal, 2.º Senhor de Reguengos, Colares e Belas, 4.º Condestável de Portugal (1442-1443)
  12. D. Fernando, Infante de Portugal,2.º Duque de Viseu, 2. º Senhor da Covilhã, 1.º Duque de Beja e 1.º Senhor de Serpa e Moura (23 de maio de 1444-18 de setembro de 1470
  13. D. João, 3.º Duque de Viseu, 3.º Senhor da Covilhã, 2.º Duque de Beja e 2.º Senhor de Moura (1470-1472)
  14. D. João II, rei de Portugal (1472-1491)
  15. D. Jorge de Lancastre, 2.º Duque de Coimbra (1491-1551)

Desde 1551, com a incorporação do mestrado da Ordem na Coroa Portuguesa que o cargo de Mestre é desempenhado pelo chefe de Estado Português.

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1. a b «Order of Santiago». Encylopædia Britannica (em inglês) 
  2. Teixidó, Antonio M. (2014). Operaciones militares de la Orden de Santiago en las Edades Media y Moderna. (PDF) (Tese de Doutorado) (em espanhol). Universidad Autónoma de Madrid 
  3. Fernandes, Maria C. R. S. (2002). A Ordem Militar de Santiago no século XIV. (PDF) (Tese de Mestrado). Universidade do Porto 
  4. Coimbra, Álvaro V. (1963). «Ordens militares de cavalaria de Portugal». Revista de História (USP). 26: 21-33. ISSN 2316-9141. doi:10.11606/issn.2316-9141.rh.1963.121849 
  5. Fernandes, 2002, p. 39.
  6. Teixidó, 2014, p. 34.
  7. Fernandes, 2002, p. 40.
  8. Blanco, Daniel R. (1985). «La organización institucional de la Orden de Santiago en la Edad Media». Historia. Instituciones. Documentos. 12: 167-192. ISSN 0210-7716 

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

Obra da Ordem de Santiago na Biblioteca Nacional Digital

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